Podcast #035 – Caio Fleury Fala Sobre Dieta Cetogênica, Ganho De Massa, E Experimentos Com Cetose

O podcast de hoje conta com a presença do Caio Fleury.

O Caio é autor do blog Primal Brasil, e também conta com dois livros publicados sobre alimentação paleo e low-carb.

Nesta entrevista, vamos investigar um pouco mais sobre dieta cetogênica.

Era tanto assunto que a entrevista ficou um pouco sem estrutura fixa — mas acredito que você vai gostar muito, e aprender algumas coisas úteis ouvindo ou lendo até o final.

Pois nós falamos sobre:

  • a experiência do Caio com dieta paleo e dieta cetogênica,
  • como foi o experimento de 40 dias em cetose,
  • por que exercícios são importantes na dieta cetogênica,
  • por que é importante evitar a restrição calórica crônica,
  • o que é a cetogênica cíclica e sua relação com ganho de massa,
  • como a dieta cetogênica melhora a saúde cerebral e a cognição,

e muito, muito mais!

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(São muitas opções: só não pode ficar por fora!)

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Ele vai adorar que você o contate via:

E ainda preparamos juntos uma página para você: vários brindes do Senhor Tanquinho para você que ouvir essa entrevista.

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Tendo dito tudo isso, vamos à entrevista em si.

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Transcrição Completa Do Episódio

Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Eu sou o Guilherme.

Roney: E eu sou o Roney. E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.

Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha! Bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast.

E dessa vez, nós temos como convidado o Caio Fleury, que é um autor, não é, Caio? Tudo bom com você?

Caio Fleury: Isso aí, pessoal. Tudo ótimo.

Guilherme: O Caio é autor do blog Primal Brasil e também de dois livros publicados já.

O primeiro é sobre a dieta dos nossos ancestrais e o segundo agora é sobre low-carb.

E aí, Caio, qual é a diferença dos livros? Qual é o foco desse livro de low-carb e para quem ele é? Por que você escreveu esse livro?

(Aqui estão os links para saber mais sobre os livros.)

Caio Fleury: Oi, pessoal, primeiramente obrigado aí pelo convite de novo, é muito legal estar conversando com vocês novamente – porque não é a primeira vez, por sinal – e vamos lá.

A dieta low-carb é um pouco diferente da dieta dos nossos ancestrais porque a dieta dos nossos ancestrais inclui muitos outros alimentos que não são necessariamente low-carb: como tubérculos, frutas, essas coisas.

Mas existem paralelos muito bons entre essas duas dietas.

E como a dieta low-carb cresceu muito ultimamente, tem tanta gente falando sobre ela atualmente, desde 2014 para cá — acho que subiram exponencialmente as buscas no Google — as pessoas estão compreendendo melhor, elas estão entendendo… mas ao mesmo tempo tem muita gente falando besteira.

Então é importante nós estarmos aqui.

E, com esse livro que eu publiquei, a ideia é esclarecer mais, ajudando o público a entender o que é realmente low-carb.

Guilherme: Certo, certo.

Então é um livro mais para iniciantes, para quem quer entender como é a low-carb, ou para quem já faz também?

Caio Fleury: Ah, não, acho que serve para todo mundo.

Acho que é para iniciantes e para quem já está envolvido porque ele é muito rico em informação.

Tem a questão histórica do colesterol, tem a questão da história da low-carb, um pouco e dos ensaios clínicos, dos estudos…

Tem muitos estudos comparando a dieta low carb — a dieta baixa em carboidratos —  então é um trabalho muito bem elaborado.

E, com certeza serve para todo mundo — inclusive quem não segue a low-carb, inclusive quem segue a paleo um pouco mais liberal em carboidratos.

Mas eu, pessoalmente, falando um pouco da minha história, eu adaptei e modifiquei a minha abordagem ao longo dos últimos anos, mais especificamente nos últimos dois anos.

Só para ter um contexto pessoal da minha história, eu sigo a low-carb e a paleo já faz uns oito anos.

Mas era uma dieta paleo/low-carb mais liberal, com um pouco mais de carboidrato – eu diria que 100, 120 gramas de carboidratos por dia – porque eu também sempre fui um atleta, sempre fiz esporte toda hora.

Então eu tinha um pouco mais de tolerância de carboidrato, muita facilidade de manter um percentual de gordura corporal baixo.

Nos últimos dois anos, eu comecei a seguir a low-carb mais restrita, porém, com ciclos de cetose nutricional.

Mas foi só quando eu li o livro do Keto Reset Diet, do Mark Sisson… vocês conhecem esse livro?

Guilherme e Roney: Sim, sim.

Caio Fleury: Então, um livro fenomenal, fantástico, que mostra passo a passo como entrar em cetose e é um programa de 40 dias de cetose nutricional, mas como eu já estava cetoadaptado a uma dieta low-carb, para mim foi muito fácil.

Então eu já fiquei esses 40 dias todos comendo praticamente zero de carboidrato.

Então eu fui muito além do que eu costumava ir, atingi meu estado máximo de cetoadaptação de um modo que realmente foi novo para mim.

Em primeiro lugar, como eu havia dito, eu nunca fiquei 40 dias em cetose.

Fui muito disciplinado, mas ao mesmo tempo, eu digo para vocês, foi muito fácil.

Muito, muito fácil mesmo porque, vocês sabem, uma vez que você começa a low-carb, você exclui os alimentos ricos em carboidrato, já fica tudo automático.

E os hormônios da fome e da saciedade tomam conta da situação.

Então você não precisa ficar se controlando muito — a não ser que aconteça alguma coisa que deixou estressado, alguma notícia ruim que você acaba descontando na comida — mas a dieta faz de tudo para você sentir saciedade.

Então eu fiquei com essa abordagem mais transitória da dieta cetogênica por uns dois anos, fazendo ciclo de cetose, mas aí eu fazia um carb refeed a cada cinco, sete dias, ficava em cetose; aí fazia dois dias de carb refeed estilo carb nite do John Kiefer. Vocês conhecem?

Guilherme: Sim, sim.

Carb nite do John Kiefer, e também aquela pegada da dieta metabólica do Mauro di Pasquale.

Caio Fleury: Pode crer, exatamente, exatamente.

Aí eu estava mais ou menos nessa porque como eu fazia musculação, fazia muito exercício aeróbico, eu precisava de um refeed.

Mas eu falei: “, quer saber? Vou tentar sem o refeed agora. Vou ficar em cetogênica total, o tempo todo”.

O livro do Mark Sisson me animou muito, vocês sabem que eu gosto muito do Mark Sisson, eu adoro ele.

Então eu comecei a fazer cetose, comer, tipo, zero de carboidrato líquido, eu diria, porque eu comia uns 40 gramas de carboidrato, mas como esses carboidratos vinham com fibra, uns 40, 50 gramas de fibras por dia.

É muito pouco o que você está absorvendo de carboidrato.

A minha glicose sanguínea ficava em torno de 85 o dia inteiro. Eu media quinhentas mil vezes. Até não medir mais.

Mas assim, muita fibra, muito psyllium husk, bicarbonato de sódio também porque tem a questão da constipação — que é um motivo de eu não ter começado a cetogênica mais definitiva antes.

Porque eu sempre tive um pouco de constipação com a cetogênica.

Mas também foi tudo questão de eu me adaptar e achar essas fontes de fibra, tentar encaixar certinho na minha rotina e todos os horários, para não ter erro e o intestino funcionar todo dia, facinho, tranquilamente.

Então foi assim, zero de constipação, eu me sentia excelente, sem nenhum efeito colateral, realmente efeito colateral nenhum, dormindo nove horas por dia, sal —  outra coisa maravilhosa que foi sal na minha rotina — e foi só alegria.

Roney: Legal, Caio! Muito bacana saber da sua experiência. E já vamos falar mais sobre ela então.

Só uma coisa… vamos antes contextualizar um pouco para o pessoal respondendo duas coisas então.

A primeira, é que você falou bastante em dieta cetogênica, a gente sabe que é uma coisa que você gosta de falar até no seu blog e nós no Senhor Tanquinho também falamos bastante.

E nós queríamos saber se no seu livro sobre a dieta low-carb — seu livro mais recente — se você chega a abordar esse ponto da dieta cetogênica.

E também se você explica isso para o pessoal lá, o que é dieta cetogênica, pelo menos por cima.

E de toda a forma, acho que nós podemos definir aqui também o que é dieta cetogênica, ?

Pelo menos falar para o pessoal que não conhece ainda se situar um pouco, saber a questão dos macronutrientes, falar que a maior parte das calorias é das gorduras.

Então, se você puder começar falando se fala da dieta cetogênica lá no seu livro e depois definir dieta cetogênica, vai ser acho que interessante para o pessoal se situar.

Caio Fleury: Então, da dieta cetogênica eu falo várias vezes. Mas eu falo mais da low-carb em contexto geral, não necessariamente cetogênica.

Mas eu realmente falo bastante no que diz respeito ao tratamento de câncer, que é um campo de estudo novo.

Então eu citei alguns estudos, dediquei um capítulo a isso, ao tratamento de câncer; como a glicose fomenta o câncer e o efeito Warburg; que vocês conhecem — da utilização da glicose como energia para o câncer, para a células cancerígenas —  como a cetose reduz a glicose e, portanto, em vários fatores de crescimento do corpo, favorecendo a diminuição do câncer

E também a prevenção. Eu falo muito da prevenção das doenças cardíacas e das patologias que acometem o homem moderno.

Então eu falo da cetogênica, sim, mas mais no contexto da low-carb.

Qual foi a outra pergunta que vocês perguntaram?

Roney: Era para a gente falar rapidinho o que é dieta cetogênica para o pessoal que ainda não sabe — às vezes é o primeiro contato com a low-carb que eles estão tendo — para dar uma definição rápida sobre o que é dieta cetogênica.

Caio Fleury: Cetogênica é basicamente uma dieta low-carb mais restrita.

Menos de 40 gramas de carboidratos por dia, às vezes menos de 30 gramas e também uma moderação de proteínas.

Moderação de proteínas pode variar muito de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem comer 80, 70 gramas de proteína; já outras podem comer 100, 120 e não entrar em cetose.

Por sinal, o programa do Mark Sisson, dieta cetogênica para atletas, envolve o consumo de mais ou menos 120 gramas de proteína por dia, de 100 a 120, dependendo do seu percentual de massa corporal e do quão vigorosa que é a sua rotina de exercício.

Então tudo depende na questão da proteína e também dos outros macros. A gordura também é muito variável.

É uma dieta alta em gordura por definição, mas sempre tem o caso daquelas pessoas com resistência à insulina, resistência metabólica, metabolismo muito lento, que vão ter que moderar as gorduras também. Então eu diria que não é uma dieta alta em gordura para todo, não é verdade?

E outra coisa também sobre a cetogênica, muito importante: que a cetose, além de você reduzir o carboidrato, você vai reduzir a fome e tal – como vocês já sabem – mas se você reduzir as calorias por muito tempo, você pode ter uma baixa no seu metabolismo e encontrar problemas a longo prazo.

Então aí que está a questão de fazer a dieta cíclica, no caso, porque nenhuma dieta funciona eternamente.

Se você fizer uma cetose muito restrita em calorias, a longo prazo ela pode ser prejudicial, então é ideal que a gente do estilo de vida paleo, os seguidores da low-carb que a gente costuma promover um consumo calórico saudável a longo prazo — mesmo que custe isso levantar um pouco o metabolismo através de exercícios, incluir exercícios primal na rotina, aqueles que eram praticados por nossos ancestrais, exercícios funcionais e tudo mais.

E não ficar super reduzido em calorias o tempo todo porque senão você vai ficar preso nesse ciclo vicioso de comer pouco.

E metabolismo baixo pode ter hipotireoidismo, entendeu?

E até um fato verídico é o fato de as pessoas desenvolverem resistência à insulina a longo prazo em uma dieta baixa em calorias.

Por exemplo, um estudo mostra que 40% das pessoas desenvolvem resistência à insulina com a restrição calórica a longo prazo.

Eu costumo falar isso toda hora porque é muito importante as pessoas entenderem a importância de fazer exercício para subir o metabolismo e a importância também de comer proteínas em quantidades adequadas — porque proteína muito baixa também pode reduzir o metabolismo e favorecer a resistência à insulina.

Então é realmente uma abordagem bem holística de estilo de vida que não envolve só dieta.

Mas certamente a dieta é um ponto central determinante no sucesso da perda de peso, na saúde, enfim.

Guilherme: Nessa pergunta da resistência à insulina que as pessoas desenvolvem a longo prazo com uma restrição calórica — esse é o mesmo tipo de resistência à insulina que elas desenvolver por ter, por exemplo, a glicose no sangue cronicamente elevada… ou é diferente, outra manifestação desse mesmo fenômeno?

Caio Fleury: É um pouco diferente, porque é uma adaptação fisiológica.

E, por sinal, 40% das pessoas que têm resistência à insulina, também tem hipotireoidismo, então está muito relacionado.

Isso mostra que a resistência à insulina vem também através do consumo de calorias muito baixo.

Vocês sabem que o hipotireoidismo pode ser decorrente de distúrbios metabólicos do excesso de comida, excesso de glicose, resistência à insulina, síndrome metabólica e tal.

E pode ser decorrente também do consumo calórico reduzido por muito tempo.

Então eu acho que são os dois, respondendo a sua pergunta, mas por isso que a natureza cíclica, a natureza intermitente da dieta é muito importante — porque o corpo também tende a se adaptar a uma dieta específica.

Então o que funciona para você agora pode não funcionar a longo prazo.

Guilherme: Perfeito.

Realmente nós não podemos ficar comendo cada vez menos.

Isso vai levar a uma adaptação, uma desaceleração do metabolismo, tanto que até estratégias como, por exemplo, um jejum de dias alternados já parece melhor do que uma restrição calórica crônica continuada, no sentido de diminuir um pouco essas adaptações.

Caio Fleury: Eu quero falar de um estudo que o jejum intermitente funciona, em ratos, por exemplo, melhor do que restrição calórica, caloria por caloria.

Eles colocaram os ratos em uma dieta com jejum e com uma leve restrição calórica, mas os ratos acabaram vivendo 30% mais, mesmo não tendo a restrição calórica tão alta para causar esse aumento da longevidade.

Porque vocês sabem que a restrição calórica aumenta a expectativa de vida dos ratos. Aumenta em 20, 30, 40 e até mesmo 50%, dependendo do quão intensa for.

Mas em humanos isso tem sérias consequências.

Pode ter problema no pulmão, problema na enzima AMPK, em várias vias metabólicas… o corpo pode ficar fraco, para resumir, para não falar muito dessa questão específica.

Então os ratos conseguem ter uma expectativa de vida maior mesmo sem restringir tantas calorias, contanto que eles façam jejum.

É isso que eu ia falar. Achei muito interessante esse estudo.

Guilherme: É bem bacana mesmo. Sei que estudo você está falando e foi legal pontuar.

E voltando para a cetogênica, você falou da cíclica e tal, que é uma abordagem usada, às vezes, até para quem deseja aumentar massa magra; por exemplo, quem tem treinos mais intensos na academia, comparado com a cetogênica continuada.

Como funciona essa cetogênica cíclica? Que tipo de diretrizes, guidelines as pessoas que estão ouvindo a gente têm que ter na cabeça para entender o que é uma cetogênica cíclica?

Como é o refeed? Como é a semana? Para quem é, e para quem não é?

Se puder falar um pouquinho disso acho que vai ajudar bastante gente que está nos ouvindo agora.

Caio Fleury: A cetose aumenta a expectativa de vida em ratos, ela tem uma série de benefícios…

A questão do ganho de massa magra, ela tem uma série de benefícios que eu acho que é mais importante até do que o ganho de massa magra em si.

Mas a princípio, para o ganho de massa magra ela funciona bem, contanto que você tenha proteínas suficientes.

Porque otimiza o anabolismo, a síntese de proteína com o quê?

Mais ou menos 1,5 grama de proteína por quilograma de peso corporal.

Então digamos que você pese 70 quilos. Você otimiza isso com 105 gramas de proteína por dia, mais ou menos.

A não ser que você seja muito marombado, que você esteja com um treino muito sinistro na academia, que você está crescendo muito e talvez você precise de mais 1,5 grama de proteína.

Mas a princípio é isso que você precisa.

Mas, no entanto, têm aquelas pessoas que são os hardgainers, as pessoas que têm muita dificuldade de ganhar massa muscular e dificuldade de comer, inclusive.

Então eu diria que a cetogênica, embora ela funcione muito bem para muita gente, e com certeza ela funciona para o anabolismo se você fizer do jeito certo, consumindo proteína suficiente, tal.

Se você aumentar para 2 gramas de proteína por quilograma de peso, com certeza você vai ganhar músculo, sem sombra de dúvida.

A questão está: como é que você vai comer tudo isso de proteína e você vai conseguir adaptar isso na sua dieta comendo tanta proteína assim.

Eu, particularmente, não consigo.

Eu não gosto de comer tanta proteína assim… por isso que, inclusive, voltando lá para o começo da nossa conversa, eu voltei a comer carboidratos; eu sai dos 40 dias em cetose porque eu estou aumentando o meu treino.

Então eu tinha estabilizado ele, fiquei na academia fazendo praticamente seis dias na semana, um treino de 35, 40 minutos — não vou entrar em detalhes — mas agora eu estou fazendo mais.

Eu estou fazendo uma hora de academia por dia e sete dias na semana, por enquanto.

Eu sei que é muito, mas eu estou fazendo um treino ABCD, tem mais de quatro dias para descansar entre um grupo muscular e outro, então eu acho que está bom por enquanto.

Mas para sustentar essa demanda aí dos músculos, eu aumentei os carboidratos também porque eu acho mais fácil do que comer 150, 200 gramas de proteína por dia.

Mas é possível conseguir através das proteínas apenas.

Guilherme: Aí entra uma questão bem bacana que é a preferência de cada pessoa. Você preferiu aumentar os carboidratos, tem gente que gosta mais de comer proteína.

É legal a dieta low-carb porque ela permite várias configurações.

Tem gente que gosta mais de comer bastante gordura, tem gente que gosta de comer três vezes ao dia, tem gente que gosta uma só.

Eu acho muito legal essa experiência pessoal de cada um, de como cada uma adapta para funcionar melhor para a sua própria realidade.

Caio Fleury: Uhum.

Eu simplesmente não conseguia ganhar mais peso.

Eu sou magro naturalmente, ? Eu sou magro e estava comendo 3.000 calorias por dia.

Eu estava comendo muito! E ainda estava pesando 76kg! Estava estacionado.

Chegou um ponto que eu falei: “, eu só vou crescer mais agora se eu comer: ou mais proteína, ou mais carboidrato”.

Mas como eu já estava enjoado de comer tanta proteína assim, eu falei: “Não, deixa eu botar um pouquinho de carboidrato de uma forma que vai ser mais… vai potencializar o anabolismo e ao mesmo tempo não vai ser ruim para o corpo”.

Vou tentar fazer na janela das duas horas antes ou depois do treino, na verdade, e até umas duas, três horas depois do treino eu tento incluir os carboidratos e o resto do dia eu fico low-carb.

Guilherme: E por que você escolheu esse horário ao redor do treino para ingerir os carboidratos? Você pode explicar para quem está ouvindo a gente agora?

Caio Fleury: Eu acho que… eu treino antes do almoço, certo?

Então eu estou almoçando 13h00, 13h30 e treino antes.

É o horário que eu tenho mais vontade de treinar porque de manhã eu gosto de acordar e ler, estudar, trabalhar.

Eu não gosto de fazer exercício de manhã, eu já perdi esse hábito de caminhar de manhã, sabe?

Então eu deixei para o almoço e aproveito e como o que tem aqui em casa.

Eu estou na casa dos meus pais e tem feijão, tem arroz, batata, enfim, o que tiver eu como — e nem tão preocupado muito com a quantidade.

Se eu for ver a minha glicose sanguínea no medidor de glicose, quando eu faço academia e como carboidrato depois, minha glicose não passa de 100, mesmo eu comendo uma quantidade bem alta.

Claro que carboidratos de baixo índice glicêmico.

Eu não como pão, não como açúcar, nada disso. No máximo um arroz branco, que é de mais índice glicêmico, mas beleza, está sendo direcionado para o músculo porque está nessa janela aí.

Então eu acho que está valendo sim, minha glicose não está subindo muito, não está impactando o meu corpo, o meu metabolismo de maneira negativa.

Se você está treinando, tem que comer. Não tem jeito.

Guilherme: Isso é verdade, especialmente quem deseja hipertrofia muscular precisa comer mais calorias e, claro, toda essa questão dos carboidratos.

Você consegue comer esses carboidratos e ficar bem porque não tem resistência à insulina, porque você treina pesado, porque tem baixa gordura corporal já há tempos.

Então para quem está ouvindo a gente e está começando agora, está começando com uma caminhada de 15 minutos, não quer dizer que você tem que chegar em casa e comer um prato de arroz com feijão porque talvez, provavelmente, essa não é a melhor estratégia para a sua perda de peso, , Caio?

Caio Fleury: Exato.

Contexto é tudo na Nutrição e eu repito isso toda hora: contexto é tudo na Nutrição. O que funciona para uma pessoa não funciona para outra.

Mas uma curiosidade é que a minha glicose sanguínea, mesmo com esse consumo mais alto de carboidratos, que ainda é baixa, ainda é umas 100, 130 gramas de carboidratos por dia que eu estou comendo agora, a minha hemoglobina glicada é 5.0. É super baixa. E a glicose fica por volta de 85, 90 o dia todo. A noite também está por volta de 85.

Então é super baixa. A insulina talvez não tão baixa assim agora, como antes, mas historicamente também sempre foi baixa.

E a questão da cetogênica, eu acho que nós já falamos bastante da cetogênica no que diz respeito ao ganho de massa muscular porque a síntese de aminoácidos é mais importante do que a insulina para o ganho de massa magra.

Pelo menos isso é o que os pesquisadores estão dizendo mais recentemente: que você não precisa comer carboidratos.

Mas, por outro lado, eu me deparei com alguns estudos que mostram que uma dieta, vai, com 200 gramas de carboidratos geram algum benefício maior do que uma dieta low-carb para hipertrofia.

(É parecido com a abordagem que a Nutri Fernanda Macuco contou para a gente no podcast.)

Então eu vi alguns estudos com conflitos de resultados, mas a diferença não foi muito grande, foi estatisticamente significante, mas não foi enorme.

Foi uma diferença de 12% de hipertrofia no grupo que comeu 200 gramas de carboidrato versus o grupo low-carb.

E também, é claro, tem que levar em consideração a questão da cetoadaptação, que eu acho que não foi abordado no estudo.

Então certamente as pessoas não vão ter desempenho atlético tão bom quando elas não estão adaptadas à queima de gordura, que é um processo que leva semanas na low-carb, pelo menos.

Roney: Perfeito, Caio.

Então, voltando ao ponto da cetogênica cíclica e do seu experimento, vamos explicar para o pessoal primeiro o que é cetogênica cíclica, como ela funciona; e depois a gente queria saber quais foram os seus resultados durante esse experimento, se houve ganho de massa magra, ganho de performance, se piorou…

Enfim, eu que aconteceu com você depois dos 40 dias.

Caio Fleury: Maravilha.

O que aconteceu é que a minha performance continuou igual.

Então eu estava fazendo academia, não era uma rotina tremenda de exercícios.

Era uma rotina de 40 minutos, como eu havia dito, e estava fazendo exercícios aeróbicos, duas vezes na semana.

Então eu estava surfando e quem me conhece sabe que eu entro na água e não fico menos de três horas — eu fico lá até o limite sempre.

Então eu fazia muito exercício aeróbico e, ah, mas por sinal isso foi a vida inteira.

A vida inteira eu surfo, pego onda e já peguei muita onda em cetose… já há uns oito anos já eu venho experimentando com a cetose.

Então, nenhuma novidade aí. Mas no que diz respeito aos meus exames, eu sempre meço os meus hormônios, tireoide, colesterol total, frações, etc, etc.

Colesterol, o LDL subiu um pouco porque como eu estava comendo 3.000 calorias, eu subi meu consumo calórico para compensar a falta de carboidratos.

Então eu subi mais gordura, aumentou um pouco o meu LDL, mas isso não significa que seja ruim.

Triglicérides continua igual, continua na faixa de 45, 50 mg/dl… o que mais?

Meu sistema imune; hemograma; tudo normal; tireoide também, deu uma baixada na tireoide, mas não chegou a ser hipotireoidismo subclínico ainda, nada disso, só deu uma baixada; contagem dos glóbulos vermelhos reduziu um pouquinho, mas também dentro da faixa de referência.

E uma coisa comum que acontece quando você faz jejum e cetose muito tempo e, aliás, eu fiz essa cetose com jejum de 15, 16 horas por dia. Eu também fui além disso aí — estágio de cetoadaptação máximo, que o Mark Sisson fala no livro dele.

Eu comecei a treinar em jejum meio-dia, sem comer nada, já há 15, 16 horas de jejum.

Não era todos os dias, mas o jejum eu estava fazendo todo dia. Eu fiz todo dia jejum por 40 dias. Foi ótimo.

E agora, como eu estou voltando a ganhar um treino mais forte, mais pesado, então eu não estou fazendo 16 horas de jejum por dia.

Eu estou fazendo 14 horas só porque senão eu não consigo compensar o que eu não comi depois. Então eu preciso fazer um pouco menos de jejum.

Eu pretendo voltar a fazer o jejum de 18 horas, 20 horas uma vez na semana e manter essas 14 horas de intervalo diariamente — que não é nem jejum, é intervalo restrito de alimentação que eles chamam.

Eu posso falar da cetogênica, dos ratos, porque eu me deparei com uma meia dúzia de estudos da cetogênica com ratos e isso aí me estimulou muito também a ter começado a cetogênica, li muitos livros sobre a cetose, muitos estudos e me empolguei muito.

Sempre fui fascinado pela cetose, mas fiquei mais fascinado ainda e tem a Megan Roberts, que eu escutei o podcast dela, depois eu li os estudos que ela conduziu.

A Megan Roberts conduziu experimentos com ratos na dieta cetogênica que eles viveram simplesmente 14% a mais, que é o equivalente a dez anos do ser humano, com a dieta cetogênica.

Muito incrível esse estudo, que também é compatível com outros estudos também, falando sobre a cetogênica cíclica.

A cetogênica cíclica, depois eles fizeram um estudo, para ver se já ia ser o suficiente, se não precisava ficar em cetose o tempo todo, e também bateu a marca de 14% maior a expectativa de vida.

Então é muito interessante isso.

Ah, e outro fato interessante demais, é a questão do câncer, porque o câncer representa, no ser humano moderno, 1/3 das mortes, e nesses ratos – dois e três ratos em cada dez morreram de câncer com a dieta cetogênica. 2,5; na verdade. 2,5 em cada dez, repetindo.

E sem a dieta cetogênica, lembrando, o mesmo consumo calórico porque quando eles fazem estudos, eles comparam cetogênica com outra e o mesmo consumo calórico.

Então a dieta isocalórica, equilibrada em calorias, os ratos da cetogênica morreram 2,5 em cada dez de câncer; enquanto os ratos que não seguiram a cetose, que estava em uma dieta mista, morreram sete a oito ratos em cada dez.

Quer dizer, quase três vezes mais, duas vezes, estou fazendo a conta agora, mais mortes de câncer com a dieta mista do que a dieta cetogênica.

Relacionado: a dieta cetogênica é para todos? 8 cuidados que você tem que ter.

Roney: Caramba, muito interessante mesmo esse estudo, hein? Até mesmo em ratos que, na natureza, não têm uma alimentação cetogênica na maioria das vezes, ?

Caio Fleury: É! Os ratos são mais difíceis de entrar na cetose.

Eles têm que restringir as proteínas para menos de 5%. É incrível, não é? O que mostra também que o ser humano é mais propenso, mais adaptado à cetose porque ele entra com muito mais facilidade do que os ratos.

No entanto, eles conseguiram aí essa tremenda marca de 14% a mais por quê?

Porque a cetose causa modificações no corpo a nível celular muito profundas, ? Ele aumenta os processos antioxidantes naturais do corpo, porque é um estresse.

A dieta cetogênica restringe os carboidratos e é um estresse para o ser humano, para o rato, mas é um estresse bom, aquele estresse que a gente chama de hormese. Então a hormese causa adaptações profundas na longevidade.

Inclusive a sauna. A sauna é um mecanismo também, que a sauna aumenta a longevidade de animais, de worms, de minhocas e tal. E o ser humano também. têm muitos estudos com a sauna e o ser humano porque eles causam hormese — tem esse estresse no corpo, adaptativo.

Muito, muito interessante.

A cetose age de maneira incrível também para o cérebro, neurogênese, BDNF – que é Brain Derived Neurotrophic Factor – que é o Fator de Crescimento Neural; que é o mesmo induzido pela atividade física.

E olha que interessante, a atividade física causa uma neurogênese, um aumento dos neurônios, um crescimento no hipocampo, na parte do cérebro, da memória, a cabeça das pessoas funciona melhor com exercício físico.

Mas o que eles descobriram recentemente é que a BDNF, essa neurogênese, acontece na cetogênica também.

A neurogênese também é induzida pelo exercício, entendeu?

Então eles estão achando agora que o que está induzindo o crescimento neural é a dieta cetogênica, que acontece quando você fica um pouco em cetose, e quando você faz exercício.

Muito interessante.

Guilherme: Show de bola, hein?

Várias perspectivas novas que a ciência está descobrindo a respeito da cetose, do nosso metabolismo e da nossa própria plasticidade cerebral e flexibilidade metabólica com diferentes tipos de alimentação  — e de não-alimentação (como no caso do jejum).

Realmente a gente tem muito o que avançar em estudos com humanos.

E, Caio, curtimos para caramba o papo, para quem ouviu até aqui e gostou de você e quer seguir você nas mídias sociais e conhece o seu site, fala para o pessoal como eles podem acompanhar mais do seu trabalho, por favor.

Caio Fleury: Tá bom.

Vocês podem começar pelo site primalbrasil.com.br, vocês podem entrar no YouTube também no canal que é Caio Fleury.

Eu estou fazendo mais podcasts ultimamente, então eu estou falando sobre todos os estudos que eu mencionei agora — sobre nutrientes específicos, alimentos específicos, alimentos funcionais, etc, etc.

Tem muito conteúdo que eu estou colocando aí no YouTube ultimamente, pretendo continuar e no blog.

O blog faz oito anos. Vale a pena ver também.

E tem o livro, é claro.

Acho que o livro é mais importante ainda para quem quer começar: porque o conhecimento está todo condensado lá em 260 páginas.

Eu acho que tem muito material aí para o pessoal estar lendo.

Roney: Perfeito.

Com certeza nós vamos deixar o link para o livro aqui embaixo também para o pessoal poder clicar e acessar rapidamente, o link para o seu site e para as suas mídias sociais.

Até porque lá o pessoal vai poder saber mais sobre a sua vida, sobre a dieta cetogênica, dieta low-carb, primal, jejum e material bom é o que não falta lá no blog do Caio.

Caio Fleury: Show de bola! Maravilha, pessoal!

Obrigado mesmo e nós vamos continuar conversando mais para a frente, com certeza.

Roney: Com certeza — nós precisamos falar em um próximo episódio sobre longevidade, que nós começamos a falar, mas é um assunto bem extenso e, com certeza, caberia um episódio só focado nesse assunto.

Caio Fleury: Maravilha, pessoal.

Muito obrigado mesmo. Valeu mesmo por estar aqui falando com vocês.

Guilherme: Caio, obrigadão pela presença, obrigado por essa conversa… e a gente já deixa aqui aberto o convite para uma segunda rodada para falar de longevidade, para falar das dúvidas das pessoas.

Então você que ouviu até aqui, se tiver dúvidas, deixa um comentário, sugestão de convidado, feedback positivo, críticas construtivas também, deixa tudo na seção de comentários no site, manda e-mail para a gente que nós lemos tudo e tentamos responder quase tudo também.

E, também, é claro, se você puder, deixa a sua avaliação no ITunes, que ajuda para caramba nosso podcast a crescer.

Caio, muito obrigado novamente. Nós vamos nos falando. Obrigadão pela presença e muito sucesso aí com o novo livro.

Caio Fleury: Obrigado!

Abraço, pessoal! Valeu!

Roney: E você que ouviu a gente até aqui, não deixe de se inscrever no podcast.

Nós publicamos podcasts novos todas as segundas-feiras.

Um forte abraço

Roney e Guilherme: Do Senhor Tanquinho

Guilherme: Você acabou de ouvir mais um episódio do podcast do Senhor Tanquinho.

Roney: Não deixe de se inscrever para não perder nenhum episódio com os maiores especialistas para a sua saúde.

Referências

Aqui estão algumas referências que o Caio gostaria que você visse.

Um estudo fascinante, Sleiman et al., mostrou que as enzimas HDACs inibem a produção de BDNF (crescimento e diferenciação de novos neurônios).

O beta-hidroxibutirato (cetona principal) inibe as HDACs, aumentando indiretamente o BDNF.

E acontece que esse é um mecanismo dos exercícios no cérebro.

  1. Os exercícios causam a melhora da função mental em parte devido produção de cetose: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27253067
  2. Estudo sobre a restrição calórica e resistência à insulina:
  3. Dieta cetogênica aumenta a longevidade dos ratos: https://doi.org/10.1016/j.cmet.2017.08.005
  4. Dieta cetogênica e cetogênica cíclica prolonga vida dos ratos: http://www.sandiegouniontribune.com/business/biotech/sd-me-ketogenic-health-20170905-story.html

2 comentários em “Podcast #035 – Caio Fleury Fala Sobre Dieta Cetogênica, Ganho De Massa, E Experimentos Com Cetose”

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