Podcast #026 – Dr Souto Fala Sobre Emagrecimento, Hipotireoidismo E Queijos Na Low-Carb

Doutor Souto: inspiração, fonte de estudos, “muso”, “divo”, mestre, médico…

Muitos vocativos foram usados para se referir ao Doutor Souto quando avisamos nas nossas mídias sociais (Instagram e Facebook) que ele seria nosso convidado no Podcast.

Confesso que estávamos um pouco ansiosos antes de gravar.

Afinal, dentre uma miríade de assuntos que podíamos cobrir (inclusive com espaço para perguntas dos leitores e ouvintes), como extrair o melhor do precioso tempo do doutor Souto?

Felizmente, o episódio ficou melhor do que conseguiríamos imaginar.

Falamos de muitos tópicos, e ouvindo o episódio até o final você vai poder vê-lo “Soutando” o verbo sobre:

  • o começo do blog e a grande preocupação do Doutor Souto,
  • sua jornada pessoal com a low-carb,
  • gratidão e impacto positivo,
  • dieta low-carb e hipotireoidismo,
  • dieta hipocalórica e amenorréia (ausência de menstruação),
  • a relação do glúten e dos grãos com permeabilidade intestinal e doenças autoimunes,
  • o que fazer se sua low-carb “parou de funcionar”,
  • o cuidado a se tomar com os laticínios,
  • leite cru na dieta?
  • dieta saudável para crianças,
  • dieta low-carb em adolescentes,

e muito, muito mais!

O episódio está recheadíssimo e nós só temos a agradecer ao Doutor Souto pelo seu tempo – e a você por nos acompanhar.

Lembre-se de falar com o Souto em algum desses lugares:

E contar para ele que ouviu o Podcast com o Senhor Tanquinho!

O podcast segue abaixo – esperamos que você goste!

Ouça o podcast clicando no player abaixo:

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É uma maneira muito fácil de transformar sua jornada diária (caminhada, academia, ônibus, metrô, carro, etc) em um momento de aprendizado e lazer.

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Transcrição Completa Do Episódio

Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Eu sou o Guilherme.

Roney: E eu sou o Roney. E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.

Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha!

Bem-vindos a mais um episódio aqui do podcast!

Roney: E hoje nós trazemos o ilustríssimo Doutor Souto para falar com a gente!

Bom, Dr. Souto, tudo bem com você?

Dr. Souto: Tudo! Tudo! Prazer falar com vocês!

Guilherme: Em primeiro lugar, a gente imagina que grande parte da nossa audiência já conheça o seu trabalho…

Mas muitas vezes as pessoas não têm a noção exata de como você começou a gostar de low-carb e como surgiu e como foi essa trajetória para você.

Então nós queríamos saber um pouquinho mais sobre isso.

Muita gente sabe que você leu o livro do Gary Taubes e começou a se interessar por aí, mas como você chegou a essa leitura?

Como foi o ponto de partida para: “Vou aprender mais sobre isso”?

Dr. Souto: Pois então, eu comecei fazendo exatamente o que vocês ouvintes estão fazendo: escutando um podcast.

Eu estava escutando um podcast, que não tinha nada especificamente a ver com assunto de dieta, porque até então eu não tinha nenhum interesse específico nessa área.

Então é podcast que entrevista pessoas céticas, pessoas que questionam, chama skepticality.

E aí o entrevistado daquele dia, em 2011, era o Gary Taubes, que eu nunca tinha ouvido falar, que recém tinha lançado o livro “Por que engordamos?”, em inglês.

Ele estava dando essa entrevista no podcast e eu achei fascinante a forma como ele abordou o assunto. Eu disse: “Poxa vida, faz muito sentido”.

Nunca tinha ouvido falar naquela ideia e aí eu acho que é uma das coisas importantes das pessoas, todo mundo, levar em conta.

Porque tem duas formas de se abordar quando nós escutamos uma coisa que nós nunca pensamos antes, mas que faz sentido e é bem embasada:

A primeira é a gente ignorar, dizer que deveria ser bobagem e seguir com a vida.

E a outra é a gente baixar o livro no kindle e ler. Eu optei por essa segunda opção.

Eu terminei a entrevista e disse assim: “Eu tenho que ler esse livro!”.

Porque, claro, qualquer um pode dizer qualquer coisa, mas ele estava dizendo e embasando, e citando estudos científicos.

Então eu baixei o livro, comecei a ler o livro – e na segunda-feira eu já estava experimentando low-carb em mim mesmo.

Roney: Certo.

Nós sabemos que você é formado médico, especializado em Urologia. De onde veio, de um médico com essa especialização, ir para ideia do blog?

De criar o blog e difundir esse assunto que você começou a aprender a partir do Gary Taubes?

Dr. Souto: O impacto de testar em mim mesmo a estratégia foi um impacto muito forte, muito intenso porque eu tinha um sobrepeso – nunca fui obeso – mas eu tinha um IMC de 29, vamos dizer assim: Não era obeso por detalhe.

E aí fiz o teste da low-carb, não tanto porque eu estava buscando perder peso, mas só porque eu queria ver se aquilo ali tinha algum fundamento e eu perdi 15 quilos em questão de poucos meses, e depois mais 5 quilos.

Então aquilo me deixou tão fascinado: “Como era possível? Como eu nunca tinha ouvido falar isso na vida? Como na faculdade ninguém me falou?” e etc., que eu comecei a ler tudo o que eu podia achar sobre o assunto: livros, mais livros, artigos científicos… eu às vezes pegava os artigos que estava citados como referência nos livros.

E lá pelas tantas isso se tornou o foco central do meu interesse e aí eu ainda levei quase um ano para ganhar coragem, vamos dizer assim, para começar a escrever sobre o assunto.

Porque eu queria contar para o mundo – essa sensação que vocês conhecem bem – de a gente descobrir uma coisa legal e querer difundir.

Hoje vocês estão fazendo isso com o podcast, eu também tenho lá o podcast com o Rodrigo

Relacionado: Veja o podcast em que nós falamos com o Rodrigo Polesso

Mas naquele momento uma grande amiga, Larissa, me disse assim: “Olha, não adianta ficar falando isso para mim. Eu já estou convencida. Tem que contar para o mundo! Faz o blog”.

E eu tinha receio do que os colegas médicos iriam pensar.

Então desde o início eu fiz o blog muito pautado em evidência, com muito estudo científico, sempre pensando assim: “Se alguém que me conhece ler aquilo ali, vai dizer: ‘Olha, tem um fundamento. O sujeito não está tirando isso da própria cabeça’.”. E isso tem pautado o blog desde o início.

Então não tem realmente nenhum parentesco com a minha especialidade médica, mas é um trabalho de paixão intelectual.

Guilherme: Entendi.

E quando você começou o blog já tinha algum tipo de audiência em mente?

Você mencionou o receio da recepção por parte de outros médicos. Como foi o seu processo para escrever os textos?

Dr. Souto: Foi um processo estranho porque, como eu disse, eu tinha esse receio, então eu não divulguei o meu próprio blog.

Eu comecei a escrever o blog e nunca eu coloquei, naqueles primeiros vários meses, um link para o blog no meu Facebook, por exemplo. Por quê? Porque no Facebook tinha um monte de gente que me seguia, que eu ficava pensando: “Puxa, o que os meus colegas vão pensar?”.

Eu acho que é válida até essa reflexão para alguns dos que estão nos ouvindo e ficam pensando assim: Por que o seu médico não sai fazendo propaganda de low-carb?.

Às vezes ele até acredita, até acha uma ideia boa, mas ele pode ter esse receio.

É natural – porque existe um preconceito com qualquer abordagem assim que não seja original.

Então eu fui escrevendo a coisa pensando muito, num primeiro momento, em fazer um resumo do livro do Taubes – “Por que engordamos?” – lembra que nós estamos em 2011 nessa história e o livro só foi traduzido, eu acho, em 2015 ou 2016, não me lembro.

Foi recente a tradução. De modo que naquele momento não existia nenhuma literatura em português. Eu resolvi fazer um resumo do livro.

As primeiras, sei lá, 20 postagens do blog basicamente são um resumo do livro para que, se eu fosse falar para algum paciente em consultório, eu pudesse dizer: “Olha, à propósito, tem esse blog aqui que eu escrevi, tem um resumo ali do livro, dá uma lida” porque para muita gente não é viável chegar e dizer: “Compra esse livro em inglês e vai ler” e o sujeito não sabe inglês.

Então era um objetivo muito modesto de início.

Nunca passou pela minha cabeça que ia ser um blog tão acessado e tão lido, que ia ter um impacto tão grande como teve porque efetivamente ele acabou dando um pontapé inicial num movimento no Brasil.

Roney: Com certeza a maioria dos entrevistados que nós tivemos aqui – médicos, nutricionistas, todos – vários deles falaram que suas trajetórias começaram lendo justamente o seu blog.

Que foi o primeiro – e durante um bom tempo, o único – com conteúdo de qualidade.

E depois, hoje em dia, num passado recente, uns três anos para cá, quatro, começaram a surgir vários blogs também, alguns outros de bastante qualidade também e muita gente já está ciente da low-carb, ?

A gente vê, nas mídias sociais, nos próprios comentários do blog, bastante gente que já conhece a low-carb e segue direititinho.

Mas ainda, por outro lado, tem muita resistência de várias pessoas, que não veem isso como uma estratégia válida e, principalmente, de muitos profissionais também; o que acaba justamente criando uma polarização.

Como o senhor, como o Doutor Souto vê, a alimentação daqui 20 anos?

Você acha que esse movimento low-carb está crescendo e vai conseguir realmente ser uma unanimidade ou, pelo menos, a maioria dos profissionais já vão aceitar isso?

Dr. Souto: Por unanimidade eu acho que eu nem torço. As unanimidades efetivamente tendem a ser burras.

Eu acho, eu tenho a esperança de que talvez mais cedo do que a gente imagine, low-carb venha a ser incorporado como uma opção, como uma alternativa aceita dentro de diretrizes.

Eu acho que é isso que nós, como profissionais de saúde, temos que lutar. Até porque eu realmente não penso que low-carb deva ser a única alternativa nutricional saudável para a população.

Guilherme: Com certeza.

Dr. Souto: Eu acho que a low-carb está muito bem posicionada para Diabetes, especialmente Diabetes tipo 2, para Síndrome Metabólica – que para quem está nos ouvindo e não sabe, é um conjunto de alterações que inclui:

A pessoa não precisa ter tudo isso. Tendo três dessas, já tem Síndrome Metabólica.

E a low-carb é especialmente eficiente para isso aí. E obesidade.

E infelizmente a gente vive uma situação na saúde do Brasil e do mundo onde a prevalência dessas três coisas que eu falei, é muito elevada.

E low-carb como sendo seguramente uma das estratégias eficazes – senão a mais eficaz – para essas coisas, o fato de ela não ser oferecida pelos profissionais de saúde, de não estar nas diretrizes, é uma coisa muito bizarra.

Bizarra por quê? Porque o acúmulo de evidências a que nós chegamos hoje em dia é tão grande, do ponto de vista científico…

A ponto de o leigo, o sujeito que não está envolvido com diretrizes, que não é de profissão da área médica, ele olhar e dizer assim: “Como é possível? Como é possível que isso ainda não esteja incorporado, já que as evidências são tão grandes?”.

Então eu estou na expectativa… na realidade pode ser um otimismo excessivo meu, vamos ver.

Em 2020, faltam só dois anos, vai ter a revisão das diretrizes nutricionais americanas, que acabam influenciando, respingando no resto do mundo e algo me diz que talvez, pela primeira vez, o padrão low-carb esteja incluído como uma alternativa.

Eles atualmente têm, a dieta deles chama My plate, que é basicamente uma pirâmide alimentar, que era triangular e virou redonda.

Tem a opção vegetariana – que eles acham boa.

Tem a opção Mediterrânea e eu acho que tem um espacinho reservado em 2020 para a low-carb. Tudo bem que vai ser uma low-carb no estilo deles, uma low-carb com muitas restrições no que diz respeito, sei lá, a carne vermelha, esse tipo de coisa; mas ainda assim…

Eu acho que vai ficar constrangedor, vai ficar insustentável não haver esse avanço. Vamos ver se eu acerto. Em 2020 vocês me perguntam de novo.

Guilherme: certo.

Essa dúvida que a gente queria saber de como vê a alimentação daqui 20 anos e porquê talvez ela ainda enfrente alguma resistência foi uma dúvida que os leitores fizeram para a gente.

Eles colocaram essa dúvida no post (no nosso Instagram)que nós demos uma abertura para eles mandarem um input para esse podcast e nós queríamos tocar aqui em alguns outros tópicos que eles levantaram e que a gente julgou bastante relevantes.

Dr. Souto: Beleza.

Guilherme: Em primeiro lugar, o primeiro tópico que nós achamos importante mencionar é gratidão.

Muitas pessoas agradeceram muito pela sua disponibilidade em responder as perguntas deles, em escrever o blog e estar aqui com a gente no podcast.

Por exemplo, a NikisGaia (que segue a gente no Instagram) e a Júci (que é uma pessoa que é sempre ativa nos grupos de Facebook e tira a dúvida de muitos iniciantes) agradeceram.

E a gente queria fazer o nosso agradecimento formal agora também: muito obrigado, Dr. Souto, pelo blog e por estar aqui com a gente hoje, agora.

Dr. Souto: Bom, muito obrigado, pessoal, e obrigado a esses leitores / ouvintes aí que escreveram porque isso aí é muito gratificante.

De novo eu repito: eu nunca tive essa ambição de criar de criar uma coisa tão grande, que fosse ter um impacto tão grande.

Eu posso não conseguir responder individualmente para cada pessoa, mas sempre que eu leio eu fico muito feliz em ver o impacto positivo que isso está tendo na vida das pessoas e isso me faz muito bem.

Roney: Legal.

Bom, agora nós vamos para as dúvidas realmente que surgiram e se a sua dúvida não estiver aqui, não se preocupe, nós vamos tentar responder a todos depois.

Mas, claro, a gente teve que separar as mais relevantes e as que mais pessoas apresentaram dúvida.

E a Cláudia, a Tânia, a Fátima e muitas outras pessoas, tiveram dúvida com relação à low-carb e Hipotireoidismo.

É um assunto que você já tratou bastante até no blog e no podcast, , Dr. Souto?

Mas a dúvida foi especificamente se low-carb causa ou cura Hipotireoidismo e qual é a verdade sobre isso.

Guilherme: É engraçado porque isso surgiu tanto pessoas perguntando se causa ou se piora – e outras pessoas perguntando se cura.

Dr. Souto: Bom, é o seguinte: a maior causa de Hipotireoidismo na população não tem nada a ver com low-carb ou não low-carb.

É uma doença autoimune. Chama-se Tireoidite de Hashimoto.

É mais comum em mulheres, mais comum na meia idade e é uma inflamação da tireoide, de causa desconhecida porque é uma doença autoimune.

Então quando uma pessoa tem Hipotireoidismo causada por Hashimoto e ela adota uma dieta low-carb – bom, essa pessoa já estava fazendo reposição hormonal de hormônio da tireoide, porque ela já tinha Hipotireoidismo – e ela vai continuar fazendo reposição hormonal: porque ela vai continuar tendo Hipotireoidismo.

Relacionado: Conheça 10 sintomas comuns de hipotireoidismo.

Nós vamos conversar um pouquinho daqui a pouco da possibilidade de alguma eventual melhora, mas o fato é: quem tem Hipotireoidismo e repõe, vai continuar repondo e a low-carb não vai mudar isso.

Então é muito importante deixar claro o seguinte: uma pessoa não vai desenvolver essa doença, que eu acabei de falar, que é o Hashimoto, porque ela está fazendo low-carb.

A esmagadora maioria da população brasileira não faz low-carb e um número muito significativo de adultos têm Hashimoto. Então são coisas separadas: Hashimoto e low-carb.

É comum que haja alteração de alguns hormônios da Tireoide quando se faz especialmente uma dieta very low-carb: uma dieta Cetogênica, uma dieta de muito baixo carboidrato.

Porque normalmente esse tipo de dieta produz uma coisa que as pessoas estão buscando, que é a diminuição do apetite.

A pessoa come menos, a pessoa começa a perder peso.

A maioria das pessoas que fazem low-carb não mede quantas calorias está comendo – mas quando mede, se assusta.

Se assusta em descobrir que está fazendo uma dieta de 1000 calorias.

Então se tu fosse prescrever uma dieta de 1000 calorias para uma pessoa, essa pessoa iria querer matar o sujeito porque ia passar com fome, irritada, desesperada para comer o tempo todo.

No entanto uma pessoa faz uma cetogênica, come 1000 calorias, não sente fome, sente energia para ir para a academia, se sente maravilhosamente bem.

É muito interessante a diferença.

Não obstante, vamos levar em conta o fato de que, sim, existe uma restrição calórica ali.

Ela não é uma restrição calórica voluntária, mas ela é uma restrição calórica involuntária pela redução da fome.

E o corpo responde de forma adaptativa à restrição calórica.

Então tanto faz se a pessoa fizer uma dieta da pirâmide alimentar comendo 1000 calorias por dia ou se ela fizer uma dieta Cetogênica comendo 1000 calorias por dia.

O corpo tende a diminuir um pouco o metabolismo basal como uma resposta evolutiva de autoproteção. O corpo não quer morrer de fome.

Então é natural nessas situações que haja uma certa elevação de TSH. Isso não acontece com todo mundo, mas vai acontecer em algumas pessoas.

E repito: tanto faz se é em low-carb ou não low-carb, desde que a restrição seja importante, ou seja, de que a pessoa realmente esteja fazendo uma dieta de baixa caloria.

Qual é a solução para isso? Bem, a solução para isso é comer mais…

Agora, depende dos objetivos.

Se a pessoa está:

  • se sentindo bem,
  • se a dieta está dando certo,
  • e ela está melhorando os seus exames:
    • a sua glicose que era meio alta, baixou;
    • os seus triglicerídeos baixaram;
    • ela já perdeu 10 centímetros de cintura

E aí ela vai fazer exames e o TSH aumentou… Deixa o TSH aumentar! A insulina também não baixou?

Quer dizer: é normal que os hormônios mudem quando a gente faz uma mudança muito significativa.

Eu sei se a pergunta que eu vou falar agora está entre as perguntas de vocês, mas eu vou pegar a carona e responder: alteração menstrual, por exemplo, é uma coisa relativamente comum nas mulheres – e o motivo é rigorosamente o mesmo.

A primeira vez que foi descrito o fato de que pode ocorrer uma amenorreia, ou seja, ausência de menstruação de causa hipotalâmica, por causa da glândula do hipotálamo, foi em atletas.

Especialmente as atletas muito magras, como são as maratonistas. Então há décadas se sabe que as maratonistas tendem a ter amenorreia. Elas tendem a não menstruar.

Qual é o motivo? É porque elas são muito magras. Elas têm um percentual de gordura corporal muito baixo.

E nós evoluímos, durante o período paleolítico, numa situação em que nem sempre tinha comida sobrando.

Agora imagina que houvesse mulheres que geneticamente estivesse programas para serem férteis, não importa o quão magra.

O que ia acontecer? Esses genes não passam para a frente.

Eles são eliminados do pool genético – porque uma mulher extremamente magra que está passando fome no paleolítico e mesmo assim engravida vai acabar morrendo (tanto ela quanto a criança).

(É também por isso que não é recomendado seguir uma dieta cetogênica se você estiver grávida.)

Então existe uma inteligência da seleção natural que faz com que a mulher precise ter um percentual mínimo de gordura e um aporte calórico mínimo para ser fértil.

De modo que nossos antepassados, vamos dizer, as mulheres lá do período paleolítico eram férteis quando elas tinham uma chance maior de sobreviver à gravidez e de que a criança sobrevivesse e passasse os genes adiante.

Então mais uma vez: se nós temos uma mulher fazendo uma dieta Cetogênica, feliz da vida, se sentindo bem, não está passando fome…

Mas ela está comendo 1200 calorias por dia – porque ela simplesmente não sente fome.

Ela já perdeu alguns quilos e daqui a pouco começa a desregular a menstruação ou eventualmente cessa a menstruação.

Bom, se ela estivesse fazendo uma dieta que não fosse low-carb, mas que fosse igualmente hipocalórica, ou se ela fosse uma atleta de alta performance, dessas que gastam 2000, 3000 calorias por dia, treinando; também aconteceria a mesma coisa.

Então isso, pessoal, em resumo, não é específico de low-carb.

É específico de qualquer intervenção de alta intensidade no sentido calórico.

Guilherme: Perfeito.

E eu queria complementar, nesse ponto da Tireoidite de Hashimoto.

Que, por ela ser autoimune, com certeza não haverá  malefícios de você tirar alimentos como, por exemplo, o trigo; que vai ser praticamente banido numa dieta low-carb ou Paleo.

Dr. Souto: Então, isso aí é bem interessante que você lembrou: na realidade, lá no blog, como a gente estava falando, eu faço questão muito de enfatizar os níveis de evidência.

Então nós não temos ainda hoje um nível de evidência elevado no que diz respeito ao efeito da dieta sobre doenças autoimunes.

Dito isso, eu acredito, agora estou falando numa crença minha, que a retirada total dos grãos, especialmente os grãos contendo glúten, é uma peça chave em diminuir a permeabilidade da barreira intestinal e, com isso, diminuir o ataque autoimune aos diferentes órgãos.

Então assim, anedoticamente falando, todo mundo que trabalha com isso já viu pacientes de consultório nos quais os níveis de anticorpos antitireoide, antiTPO – quando o paciente tem Hashimoto, a gente consegue medir no sangue os anticorpos que atacam a tireoide – diminuem.

Nós vemos cair o nível de anticorpos quando a pessoa adota uma dieta e aí não é questão de ser low-carb ou não.

É questão de ser uma Paleo, vamos dizer assim, de não ter produtos processados e especialmente de não ter grãos.

Guilherme: Sim, correto.

A teoria por trás disso seria a permeabilidade intestinal mesmo.

Dr. Souto: Exatamente.

Então, vamos dizer, o aumento da permeabilidade intestinal provocada pelo consumo de grãos não é teórico. Isso é real e isso ocorre em todas as pessoas independente delas serem celíacas ou não.

O que ainda não está comprovado completamente na literatura médica é o link causal, dizer que uma coisa causa a outra.

Isto é dizer que a permeabilidade intestinal causa doença autoimune e de que a retirada dos grãos produz remissão de doença autoimune.

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Embora, repito, todo mundo que trabalha com isso no consultório já provavelmente viu isso várias vezes, a melhora ou a remissão de doenças autoimunes com a retirada dos grãos.

Tipo, se vocês me perguntarem o que eu acredito, eu acredito que tem tudo a ver – mas eu sempre gosto de deixar claro o que é crença e o que é evidência.

Guilherme: Excelente. Perfeita a resposta.

Roney: Acho que ficou super completo esse tópico – claro, na medida do possível.

Porque a gente poderia falar de qualquer assunto aqui por muito e muito tempo, mas eu acho que nós podemos passar para a próxima pergunta então.

Foi uma dúvida que surgiu bastante, apesar de ser uma dúvida que nós já abordamos diversas vezes e acredito que você também, que é a seguinte pergunta:

“A low-carb parou de funcionar? Eu parei de perder peso. O que devo fazer?

Guilherme: Acho que tem até a ver com a anterior em termos de adaptação do metabolismo à ingestão da dieta, mas nós queríamos ouvir o seu take nisso, por favor.

Dr. Souto: Então, toda dieta para de funcionar em algum momento, o que é um mecanismo de proteção do organismo. Você captou bem.

Eu gosto de analogias, vamos para uma aqui. Suponhamos que eu tenha uma pessoa com febre. Ela está com 39º de febre. Significa que o set point de temperatura dela está alto, ou seja, o corpo “quer estar em 39º”.

Então a pessoa vai sentir frio, ela vai ter tremores, ela, como está com frio, vai colocar casacos, e a temperatura corporal dela vai subir.

Na hora que eu dou um antitérmico para essa pessoa, se eu der uma aspirina ou coisa assim, o set point dela vai baixar e aí o corpo começa a se comportar ao contrário: começa a suar, a ficar com calor, a tirar o casaco e a temperatura corporal vai baixar, baixar, baixar, lá para 36.

Mas aí eu pergunto: “E se eu continuar dando aspirina, vai baixar pra 35?” vai abaixar pra 34, para 33?

Não, ?! Chega um momento em que os mecanismos contra regulatórios entram em atuação e impedem que essa temperatura baixe abaixo de um ponto que o corpo considere ideal ou seguro.

Então, embora a aspirina tenha funcionado quando a pessoa estava com febre, a mesma aspirina ou uma dose maior de aspirina não vai fazer baixar mais do que um certo ponto.

E o nosso dilema é o seguinte: muitas vezes esse novo set point que o corpo atinge com low-carb não é o que a pessoa queria.

A pessoa, vamos dizer, perdeu 10 quilos – mas ela deveria perder mais cinco ou mais 10, para ficar dentro daquilo que ela considera ideal, em geral do ponto de vista estético. Só que o corpo não concorda.

Para ele o set point foi atingido.

E agora aquele corpo que estava colaborando quando a pessoa tinha bastante sobrepeso; que nem na febre, quando ela está alta, ela baixa rápido no início.

Quando a pessoa tem bastante sobrepeso, são aquelas situações: começa com low-carb, perde cinco quilos no primeiro mês, mas depois vai desacelerando e chega um momento em que simplesmente fazer mais low-carb – “Bom, então agora eu vou tirar completamente os carboidratos. Eu vou comer só carne e alface” – às vezes não é bem esse o caminho.

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Então são situações em que a Leptina, que é um hormônio importante nesse processo, também baixou porque a pessoa emagreceu.

São situações em que a taxa metabólica da pessoa reduziu.

A gente pesava 90 quilos e agora o sujeito pesa 70, o corpo dele gasta menos calorias em repouso agora do que gastava antes.

Têm essas alterações contra regulatórias dos hormônios, da tireoide, por exemplo.

Então eu diria o seguinte: low-carb em determinado momento deixa de funcionar – como qualquer estratégia em determinado momento deixa de funcionar.

E aí são aquelas situações em que às vezes a pessoa tem que conversar com o profissional, ir num nutricionista, com experiência em low-carb, para eventualmente fazer algumas dessas abordagens, inclusive tradicionais de controle de porções.

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Uma das coisas que a gente vê em consultório é assim: a pessoa chega obesa, começa a fazer low-carb, tira um monte de lixo da dieta, mas um monte – tomava refri com açúcar, comia açúcar e farinha o dia inteiro, vivia à base de churros – aí a pessoa limpa a dieta e mesmo comendo bastante gordura, comendo bastante nata, queijo, mesmo comendo bastante castanhas; está lá, perdendo peso.

Só que agora a pessoa chega num outro set point, para de perder peso e aí às vezes a gente vai ver e tem um excesso dessas coisas, muito laticínio gordo, tipo queijo, tipo creme de leite, tipo cream cheese e aí a pessoa olha para ti e diz: “Mas é low-carb!”.

Eu sei que é low-carb, mas está um pouco fora daquela coisa de bicho e planta, que é a base de uma low-carb bem formulada para perda de peso.

Por quê?

Porque a gente não vai comer ovo demais. Não tem esse risco. O cara come dois, três ovos, é difícil comer o quarto ovo.

Tu não quer mais saber de ovo depois dos três primeiros. Já com o queijo não.

Um queijo colonial, gostoso, é fácil de comer aquele queijo inteiro numa sentada. E a pessoa diz assim: “Mas é low-carb!”, então queijo às vezes é um problema.

(Falamos sobre isso no nosso texto completo sobre os queijos e laticínios na dieta low-carb.)

Da mesma forma as nuts, ?

Castanhas, nozes, amêndoas… Tudo isso é muito gostoso, tudo isso é low-carb e muito saudável. Agora, às vezes as pessoas simplesmente se passam nessas coisas.

Então fica o alerta aí para o pessoal: normalmente quando dá uma travada, a primeira coisa que eu penso é que o pessoal está levando a parte High Fat da coisa, longe demais. O Ted Naiman, que é uma das pessoas que eu gosto, admiro, sigo no Twitter, tem uma frase sensacional que diz assim:

O teu corpo já é High Fat. O que você precisa é low-carb”.

Então não precisa aumentar de propósito a gordura da dieta.

Quando a gente diz low-carb/High Fat – e eu tenho preferido a leitura de low-carb/Healthy Fat, justamente para tirar esse “High” do High Fat – a gente quer dizer assim: é alta gordura em comparação com a dieta tradicional das pessoas, que é uma dieta onde as pessoas evitam ativamente a gordura, têm pânico da gordura.

Mas não significa que tenha que ficar botando meio tablete de manteiga no café. Você quer queimar a sua gordura, não a do boi.

Guilherme: É verdade! Perfeito!

Nessa questão do set point, eu acho legal a comparação com a febre, que você fez. A comparação com um termostato, eu acho que vi a primeira vez no livro do Jason Fung e penso que ela que se aplica muito bem nesse ponto. A questão de Leptina e Insulina controlarem como se fosse um termostato. O seu corpo querer chegar em determinado set point.

Dr. Souto: O Fung copiou de mim essa! Eu escrevi antes dele!

Risos.

A gente chega a ideias parecidas.

Guilherme: É verdade.

E um ponto mencionado foi dos laticínios, que também é um ponto de muita dúvida entre os leitores.

O Erasmo acha os laticínios ok e quer saber se leite cru também entra numa proposta Paleo/low-carb.

Já a Bárbara está preocupada com o efeito inflamatório dos laticínios ou efeito deles sobre a insulina.

Dr. Souto: É, dá pano para a manga.

Vou tentar ser sucinto. Eu não costumo ser sucinto. Mas vamos lá.

Existe a dieta Paleolítica e existe a dieta low-carb. Existe uma sobreposição entre elas. Elas não são a mesma coisa.

Então a dieta Paleolítica, acho que a maioria que está nos escutando sabe, mas é uma dieta baseada naquilo que teoricamente estaria disponível quando o ser humano estava evoluindo no período pré-agricultura.

Então claro que leite não tinha.

Só tinha leite materno – e o ser humano depois do desmame não consumia mais leite.

Então se você quer emular uma dieta Paleolítica, os laticínios estão fora.

No entanto, eu tenho esse “cacoete” aí da evidência e o fato é que as evidências disponíveis apontam para o benefício, de uma forma geral, do consumo de laticínios.

Tudo bem, são estudos epidemiológicos – e eu sou o primeiro a criticar os estudos epidemiológicos porque a gente não pode extrair relações de causa e efeito ali.

Mas vamos explicar da seguinte forma: se laticínios realmente tivessem envolvidos com a gênese de uma série de doenças ruins – como a obesidade, com Diabetes (e inflamação é indissociável dessas duas coisas) – a gente esperaria que nos estudos observacionais houvesse uma correlação entre o consumo de laticínios e o desenvolvimento dessas doenças.

No entanto, a esmagadora maioria dos estudos observacionais mostra uma relação inversa.

As pessoas que consomem laticínios – e olha que interessante, especialmente os laticínios gordos – têm um risco menor de desenvolver Diabetes, um risco menor de serem obesas.

Então o fato de haver uma relação inversa no estudo observacional praticamente exclui a causalidade.

Eu não posso aceitar que os laticínios causam essas coisas, mas que no estudo observacional eles estão inversamente relacionados.

Então a minha leitura da evidência é que, pelo menos, não fazem mal. Talvez, inclusive, façam bem. E são gostosos.

Eu acho que dentro de uma low-carb, ter essa alternativa de comer um queijinho, de usar um creme de leite ali para fazer um estrogonofe, de poder botar uma colherinha de chá de nata no café… Poxa vida, isso aí é uma coisa que enriquece no ponto de vista de sabor.

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Eu não tenho absolutamente nada contra a pessoa fazer, optar por uma low-carb sem laticínios.

Eu acho que é uma opção. Mas na minha visão, não tem problema consumi-los.

A questão inflamatória do leite é dessas que, assim, nem mesmo o glúten está comprovado. Eu falei para vocês.

Eu acho que o glúten tem muito mais evidência, mas ainda assim não está comprovado.

Eu acho que o nível de evidência no que diz respeito aos laticínios é ainda menor.

Então eu aceito a ideia de que se alguém tem uma doença autoimune grave ou algo realmente muito incômodo e a pessoa quiser fazer uma abordagem completamente Paleo no início do tipo Whole30..

E com isso excluir não só todos os grãos e todas as leguminosas, mas inclusive todos os laticínios e adoçantes e tudo por 30 dias e ver se melhora, e depois fazer um teste de reintrodução seletiva; eu acho que é uma alternativa.

Para algumas pessoas também parece haver mais uma intolerância à Caseína do leite bovino, que tem uma estrutura diferente – se não me engano é A2, e não é A1 – da Caseína de outros rebanhos como o ovino, de cabra, de búfalo, etc.

Então algumas pessoas optam por consumir leite de cabra e muçarela de búfala.

Claro que isso encarece um pouco a dieta, mas obviamente a pessoa, se quiser, não precisa consumir laticínio nenhum.

Então o resumo da ópera é o seguinte: eu não vejo problema.

Quando eu oriento meus pacientes, eu coloco os laticínios.

Apenas alerto para isso que eu falei para vocês, que os laticínios às vezes podem ter o problema da hiperpalatabilidade, ou seja: cara, é tão gostoso e caloricamente concentrado, que às vezes gera descontrole.

Guilherme: É o efeito dominó, ?

Você come o primeiro pedaço e vai comendo depois.

Dr. Souto: É.

Então, por exemplo, de vez em quando, quando eu vou a Minas Gerais o pessoal me dá aqueles queijos meia cura.

Assim: eu não tenho maturidade para aquilo! Eu como de forma compulsiva, só que eu não estou precisando perder peso.

Talvez para uma pessoa que, poxa vida… perder peso não é uma coisa fácil e para algumas pessoas é muito mais difícil do que para outras.

A pessoa já está tendo uma certa dificuldade e tudo o que ela não precisa é um queijo divino que ela possa ir comendo que ela possa ir cortando com a faca enquanto assiste Netflix.

Roney: A questão do leite cru você acha que se enquadra nesse ponto também de ser muito fácil a pessoa consumir muito ou realmente é bom evitar de toda forma?

Guilherme: Tem uma concentração de Lactose superior, por exemplo… quais problemas ou pontos a considerar no leite cru?

Dr. Souto: O leite é assim: tem Lactose? Claro, ou seja, ele tem uma certa quantidade de açúcar.

Lactose, pessoal, é um dissacarídeo feito de dois açúcares: um deles é a Glicose e o outro é a Galactose.

A Glicose vai para o sangue, vai produzir uma elevação da glicemia. A Galactose tem um impacto glicêmico mínimo.

Ela vai para o fígado, é metabolizada no fígado, e lá ela lentamente é convertida em Glicose.

Então uma pequena quantidade de leite, normalmente, é bem tolerada pela maioria das pessoas, no que diz respeito à glicemia.

Então mesmo alguns pacientes diabéticos às vezes dizem assim: “Olha, eu não faço questão de tomar leite, mas eu queria uma meia xícara de leite no café da manhã” e eu digo para a pessoa: “Olha, mede a glicemia antes e depois. Se o impacto for pouco, está bem”.

Tem um livro muito interessante que eu gostaria de recomendar a todo mundo que nos escuta. Eu acho que já está nas livrarias. Tenho quase certeza.

É do Robb Wolf, o título em inglês Wired to Eat, eu acho que é português é “Programado para Comer”.

É um livro espetacular, muito bem escrito e o que ele propõe no livro é justamente que as pessoas façam um teste com o glicosímetro. O glicosímetro você compra na farmácia aí por 50, 60 reais; é baratinho. E teste o impacto de diferentes alimentos na sua glicemia.

Pode ser que na glicemia do João da Silva o leite acabe tendo muito carboidrato, enquanto que do Fulano Ciclano a mesma quantidade de leite pode ter um impacto mínimo na glicemia da pessoa e não ter problema.

Então eu acho que o consumo de pequenas quantidades de leite… não vejo problema.

Roney: Perfeitamente, Doutor!

Bom, então eu acho que podemos ir para a última pergunta que nós separamos aqui.

Essa é uma pergunta que provavelmente se encaixaria melhor para a sua irmã (a médica pediatra Teresinha Souto, que já entrevistamos no podcast) porque é mais relacionada às crianças, mas acho que uma visão geral nós podemos abordar, ?

As pessoas tiveram dúvidas se uma abordagem “mais comida de verdade” para as crianças é válido e também, aprofundando um pouquinho, uma abordagem low-carb.

Guilherme: Acho que o caso mais específico é para as crianças com sobrepeso.

Uma mulher estava com medo porque o filho dela comia, se não me engano, quatro frutas como sobremesa. Aí outra queria saber: “Meu filho é obeso. Tem que tirar mais coisas além dos farináceos?”.

Acho que foi por aí – para dar o teor da pergunta.

Dr. Souto: Bom, de fato é uma coisa que seria mais fácil para a Terezinha, minha irmã, responder. Até porque ela trata, no seu dia a dia, crianças e adolescentes em São Paulo.

Mas vamos começar por aquilo que não é controverso: retirar o açúcar da dieta.

Isso não é controverso. Isso é uma posição oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria. Então isso não nem opinião minha. É uma coisa oficial.

Sucos de fruta entram nisso e também é uma posição oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Suco de fruta não é uma coisa saudável para a criança.

“Mas como não é saudável, se é fruta?”. Não é saudável porque é suco!

Isso significa que a pessoa ao tomar um copo de suco de laranja, é como se tivesse consumindo açúcar de quatro laranjas sem a fibra, sem o bagaço, sem o efeito saciante daquilo ali. E um copo é pouco, ? A pessoa vai tomar dois e vai estar consumindo o açúcar de oito laranjas.

E como eu sempre digo:

O pâncreas, que é o nosso órgão aí que secreta a Insulina, é agnóstico no que diz respeito à origem do açúcar.”

Ele não está querendo saber se é algodão doce ou suco de laranja.

O que entra na corrente sanguínea é açúcar, é Glicose. Então retirar suco de fruta, especialmente suco de caixinha, açúcar… isso aí é absolutamente incontroverso.

Eu acho que não haveria nenhum Pediatra que trata de crianças ou adolescentes com sobrepeso, que discordaria do que eu vou dizer agora.

Que é a ideia de reduzir alimentos processados e farináceos, ou seja, tirar biscoito recheado, tirar excesso de pão bisnaguinha, esse tipo de coisa, da dieta.

Eu não consigo imaginar isso como uma coisa controversa. Então, até aí, não há controvérsia nenhuma.

Comida de verdade para crianças? Bom, isso está no Guia Alimentar Brasileiro para criança e para qualquer ser humano.

O ser humano deveria estar comendo comida de verdade, alimentos minimamente processados.

Então, a questão de low-carb para crianças, eu acho que é uma coisa que tem ser individualizada, tem que ser feito pelo profissional, conduzido pelo Nutricionista, com orientação do Médico.

Eu penso que, obviamente, ninguém pode orientar via internet uma conduta para ninguém específico, então o que eu vou falar é em geral.

Se uma criança está obesa, e isso é fator de risco de uma série de doenças na adolescência depois da fase adulta; tentar combater isso é obrigação do profissional da saúde.

A gente sabe que a restrição de carboidrato é eficiente.

Essa restrição normalmente não precisa ser tão severa na criança e no adolescente, como no adulto.

Porque é que nem carro novo, , pessoal? Carro novo funciona bem. Então criança e o adolescente, melhorando um pouco a qualidade da dieta, já tendem a perder peso, já tendem a ter uma bela resposta; basicamente com a retirada do açúcar e dos farináceos, mesmo que continuem comendo arroz, feijão, batata e frutas.

Obviamente, dependendo da severidade do caso, daqui a pouco uma Síndrome Metabólica plenamente instalada, uma coisa triste que a gente às vezes vê hoje em dia, é que a Diabetes tipo 2 em criança…

Eu quando estudei na faculdade nos anos 80, 90, Diabetes tipo 2 não tinha esse nome.

A gente chamava de Diabetes Juvenil – Diabetes tipo 1 – e Diabetes do Adulto – o Diabetes tipo 2.

Hoje em dia mudou a nomenclatura e tu tem criança com Diabetes tipo 2, que é uma coisa que não se via – porque é uma doença de estilo de vida, de obesidade, de sedentarismo e de comer coisa errada.

Então, aí eu acho que num caso desses a introdução de uma low-carb formal mesmo, realmente low-carb, com orientação do Pediatra e do Nutricionista, estaria indicado.

Mas para a maioria das crianças e dos adolescentes com sobrepeso, eu repito: se continuar comendo feijão com arroz, batata doce e frutas, mas tirar açúcar, refrigerante, biscoito recheado, pão bisnaguinha, salgadinho… porcaria, enfim, já tem efeito, já perde peso.

Guilherme: Perfeito!

E acho que tem dois pontos importantes, só para complementar o que você falou.

O primeiro é que uma criança ou adolescente com sobrepeso e talvez até obesidade tem muito mais chance de se tornar um adulto com sobrepeso e obesidade também.

É mais fácil consertar o carro novo, seguindo essa analogia.

Dr. Souto: É claro!

Tira a porcaria enquanto é menor, para não ter que fazer uma low-carb radical quando for mais velho.

Guilherme: Com certeza!

E tem bastante estudo já em adolescentes com low-carb.

Eu, pessoalmente, não sei de nenhum com crianças, mas com adolescentes em low-carb tem mostrado resultados promissores.

E claro que é tudo individualizado, como você falou: aqui não é nada prescritivo, é apenas informando as pessoas de que existem esses estudos, que está sendo estudado essa abordagem.

Dr. Souto: É, estudos existem!

Isso não é que nem a coisa que nós estávamos falando do Hashimoto: “Olha, quem sabe a retirada do glúten vai ajudar no Hashimoto”. Talvez!

Não têm estudos mostrando isso, mas a eficácia de low-carb, e aí low-carb mesmo em adolescentes obesos, está comprovada e publicada na literatura. Isso não é nada experimental.

Mas claro, , tem que cuidar quando a gente fala isso, porque daqui a pouco alguém pinça essa fala e diz assim: “Olha, o sujeito está lá na internet dizendo que tem que fazer dieta Cetogênica em crianças”. [risos]

Então não, pessoal, não é isso que eu estou dizendo! Vai no seu Médico, vai no seu Nutricionista.

Mas assim, a literatura contempla essa hipótese e as pessoas têm que pensar mesmo é nos riscos de não fazer nada, que eu acho uma negligência quase criminosa.

Guilherme: Com certeza.

Roney: Bom, Doutor, assim chegamos ao fim da nossa entrevista, das perguntas que nós tínhamos separado, mas a gente queria duas coisinhas antes de finalizar.

A primeira coisa é que você deixasse o seu contato, falasse do seu blog, claro que nós vamos deixar o link aqui embaixo –  mas onde que as pessoas podem acompanhar o seu trabalho depois de terminar esse podcast.

Dr. Souto: Então, o blog, para quem ainda não conhece, basta botar “blog Souto dieta” no Google, que vocês vão me encontrar facilmente. Mais fácil do que ficar escrevendo www.

(Mas como você leu até aqui, o endereço é www.lowcarb-paleo.com.br.)

Eu estou desde o ano passado postando algumas coisinhas no Instagram @jcsouto.

Os meus contatos estão na biografia do Instagram, vocês encontram lá em @jcsouto.

Então basicamente nesses dois locais é fácil de interagir – e quem é da área da saúde especialmente e quiser seguir a parte científica, em tempo real, várias vezes por dia, me siga no Twitter em @jcsouto.

Roney: E a última coisa é saber se você tem uma mensagem final para deixar para os nossos ouvintes.

Dr. Souto: Olha, eu acho que a mensagem é no sentido de que a gente nunca sabe o impacto que vai ter na vida dos outros, então se você tem uma ideia: “Quero começar a escrever alguma coisa, quero começar a fazer um blog, quero começar a fazer uma conta no Instagram para contar a minha mensagem pessoal, que eu gostaria de dividir com os outros”, faça isso!

Você nunca tem a menor noção do impacto que isso pode ter na vida dos outros. Eu sou testemunha disso.

Guilherme: Perfeito!

Bom, com essa mensagem, lembrando todo mundo de que a ação é melhor que a inatividade – e de que você não tem como medir os impactos de uma ação positiva no mundo… a gente queria se despedir de todo mundo, agradecer novamente ao senhor, Doutor, por ter participado com a gente no podcast.

E para os ouvintes lembrarem que nós nos veremos todas as semanas, no podcast do Senhor Tanquinho.

Roney: E se você gostou desse episódio do podcast, por favor deixe sua avaliação cinco estrelas lá no ITunes, porque isso é super rápido e muito importante para a gente.

Guilherme: Muito obrigado, Doutor Souto! Um abração!

Dr. Souto: Obrigado! Obrigado vocês! Um abraço aí para os ouvintes.

Roney: Até um próximo episódio. Um forte abraço do Senhor Tanquinho.

Guilherme: Você acabou de ouvir mais um episódio do podcast do Senhor Tanquinho.

Roney: Inscreva-se para não perder nenhum episódio com os maiores especialistas para a sua saúde.

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