No nosso episódio de hoje, conversamos com a médica pediatra Teresinha Souto.
(Você já deve conhecer esse sobrenome de algum lugar, certo? ? )
A Teresinha confere pérolas e mais pérolas de sabedoria e dicas valiosas para pais e mães que se preocupam com a saúde de seus filhos.
Durante a entrevista, falamos sobre:
- a história da Teresinha,
- as crianças obesas e como lidar,
- papinhas industriais são uma boa?
- alimentação em família,
- por que comer comida de verdade é a melhor opção para crianças e adultos,
- a realidade da pediatria no Brasil,
e muito, muito mais!
Confira as mídias sociais do Teresinha, e suas informações de contato abaixo.
Aproveite e fale para ela que ouviu o podcast: ela vai adorar saber!
O melhor meio é via Instagram: @drateresinhasouto
Ela também atende em São Paulo, no bairro de Pinheiros (ligue para 3081-8133 para mais detalhes).
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Transcrição Completa
Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Eu sou o Guilherme.
Roney: E eu sou o Roney. E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha!
Bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast. Dessa vez nós estamos com a Teresinha Souto aqui.
Tudo bem, Teresinha?
Teresinha Souto: Tudo bem, tudo bem, Tanquinho.
Guilherme: Bom, se você acompanha o nosso trabalho, se você se interessa por alimentação Paleo / low-carb, com certeza você ouviu o nome Teresinha Souto e já se perguntou: “Mas ela é irmã do Doutor Souto, parente?”, então vamos começar tratando direto disso, Teresinha.
Teresinha Souto: É, então, eu sou irmã, sim. Eu sou irmã mais velha dele, bem mais velha. E eu fiz Medicina faz um bocado de tempo, há quase… já deu 30 anos, 32 anos atrás; só que eu vim para São Paulo e o meu irmão continuou em Porto Alegre… e eu sou Pediatra.
Antes de fazer Medicina eu cheguei a fazer dois anos de faculdade de Nutrição, o que é uma coisa interessante, porque com essa história da low-carb e tudo, eu sempre tive interesse em Nutrição. Na verdade acabei indo para Medicina, mas sempre tive um interesse em Nutrição, tanto que quase fui Nutricionista, só que eu resolvi que eu precisava estudar um pouco mais.
Eu achei que a Medicina ampliaria o meu leque de oportunidades e, enfim, acabei me tornando Pediatra, né?
Fiz Residência Médica em Pediatria no Rio Grande do Sul, acabei me mudando para São Paulo, por razões pessoais, e acabei trabalhando com Nutrição a vida inteira – porque Pediatra é um ser que trabalha muito com Nutrição.
Guilherme: Ah, imagino, e você deve ser bombardeada todos os dias com dúvidas de mães e pais aflitos sobre o que dar para a criança comer… deve ter um monte de dúvidas e a gente vai tratar algumas delas aqui no episódio.
Por que você se interessou em migrar da Nutrição, que era a sua área original, para a Pediatria? Porque muita gente, talvez, associasse “foi virar Médica e gostava de Nutrição = faria Nutrologia”, por exemplo. Então como foi essa decisão da Pediatria?
Teresinha Souto: A Nutrologia não existia quando eu me formei, então nem passava pela cabeça das pessoas fazer uma especialidade dessas.
Depois, já há bastante tempo em São Paulo, em 2006, eu fui fazer uma especialização da UNIFESP em Nutrologia.
Eu não sou uma Nutróloga porque eu não tenho título de Especialista em Nutrologia, então eu não me considero Nutróloga, mas digamos que com a experiência de Pediatra a gente acaba entendendo um pouquinho de Nutrição e tenta estudar o máximo possível.
Daí veio o interesse do meu irmão em 2011 pela alimentação – e eu confesso para vocês que eu resolvi prestar atenção nele porque é ele, né?
Porque se não fosse ele eu falaria assim… eu pensaria: “Nossa, mas o que um cara que não tem nada a ver com Nutrição está falando sobre Nutrição?”.
Só que como eu conheço o meu irmão e ele é um cara muito estudioso, eu fui prestar atenção naquilo que ele estava falando e à princípio comecei a ler todos as informações do blog e cada vez que ele vinha para São Paulo a gente conversava muito…
E tudo bem, é uma orientação alimentar para adultos, mas assim, depois de ouvir bastante, de ler, a gente vê que as crianças também podem ser envolvidas nesse processo.
Roney: Esse, inclusive, era um tópico que a gente queria abordar, de como criar o seu filho com comida de verdade, mas ao mesmo tempo, que é difícil porque ele sempre vai ter contato os amiguinhos que vão estar tomando refrigerante, comendo bolacha e também não muito é bom criar uma neura no filho, nesse ponto.
Você tem algumas dicas ou o que você instrui os pais nesse aspecto?
Teresinha Souto: É, vamos começar do início…
Ao redor dos seis meses de idade, nós todos, Pediatras, começamos a orientar para iniciar a alimentação complementar e eu brinco que o Pediatra é um ser que pode ser definido como um ser low-carb – no sentido de que a gente é muito preocupado com que as crianças tenham uma alimentação bacana e que a gente está vendo os índices de obesidade aumentarem tremendamente nesses últimos anos.
Então quando eu me formei a gente se preocupava muito com desnutrição infantil, depois veio um período que a gente chama de Transição Alimentar e nós fomos vendo que cada vez mais os nossos pacientinhos estavam ficando com sobrepeso e obesidade.
Então eu acho que para o Pediatra é uma coisa que interessa muito, a alimentação, porque os pais nos perguntam demais. Então a gente está sempre orientando… é que nós não, digamos, não utilizávamos o termo “Vamos dar comida de verdade”, mas a gente sempre falou: “Vamos fazer a comidinha em casa, vamos usar produtos naturais, vamos tentar evitar os industrializados…”.
Sempre fez parte, pelo menos do meu discurso, e eu acredito que da maioria dos Pediatras também, para a gente tentar dar uma alimentação bem diversificada para as crianças.
Isso começando com seis meses de idade, que é quando eles já estão sentando, já estão aptos a receber um alimento diferente do aleitamento materno.
Guilherme: Sim. Essa é a chamada alimentação complementar, não é isso?
Teresinha Souto: Isso! Antigamente a gente chamava de sopinha, atualmente a gente chama de papa, né? Chama de papa principal, que é a comidinha.
Geralmente a gente começa pela hora do almoço, mas pode ser no jantar também… E assim, é um tratamento muito individualizado porque cada família tem os seus horários, tem horário para dormir, horário para comer e a gente tenta conversar na consulta, que a gente chama de Puericultura.
A Puericultura compreende uma série de outras ações do Médico Pediatra.
Além de ver se a criança está bem de saúde, nós temos que orientar sobre vacina, sobre desenvolvimento neuropsicomotor e sobre alimentação também. Então nós começamos a falar de alimentação, aliás, muito cedo.
Mesmo antes: num mundo ideal, a gente conversaria já com as gestantes.
Nós estaríamos conversando com as gestantes e às vezes eu atendo algumas gestantes no consultório – isso é bem raro – para a gente falar de alimentação da gestante, para depois falar de amamentação, que todo Pediatra vai sempre dar as orientações sobre a alimentação ao seio, exclusiva até o sexto mês, de preferência…
Então o Pediatra está sempre envolvido com alimentação e eu acho que quando eu fui fazer Medicina, eu não sabia que eu queria Pediatria, e isso é uma coisa que nós vamos resolvendo ao longo dos anos na faculdade. De repente você percebe que está ali e não tem jeito.
Eu adorava gestante e eu percebi que não era a gestante que eu gostava tanto. Eu gostava quando saía o bebê: “Opa, então é o bebê que eu queria!” e isso aconteceu lá pelo quinto ano da faculdade e não parou nunca mais.
Eu acho fascinante trabalhar com esse binômio mãe-nenê ou família-nenê, que tem todo o componente familiar que não é só mãe, pai. Tem as avós, enfim…
Guilherme: E um monte de gente para dar palpite também, né?
Teresinha Souto: Muita gente para dar palpite! Eu acho que é uma profissão difícil. Isso talvez explique também o número decrescente de Pediatras no país, pelo menos fazendo consultório. Nós temos que ter bastante paciência, temos que ouvir o que todo mundo tem para dizer e tentar orientar na medida do possível essas famílias.
Eu sempre gostei de tratar a obesidade infantil. Quando eu fiz Nutrologia, esse estágio foi na especialização, depois eu fiz Mestrado nessa área, eu fugi um pouco dos obesinhos porque eu achava tão triste.
O resultado era tão ruim, tão difícil, que eu acabei fazendo mais o ambulatório da criança que não comia, criança que… não é criança que não come, é uma frase que a gente fala: “Criança come, mas come pouco, come menos do que a família gostaria”, mas existe, acho que até hoje, na UNIFESP, esse ambulatório: Criança que não come.
E na verdade são orientações que precisam ver, dos Médicos, da Nutricionista e da Psicóloga porque é uma coisa bem profunda.
E os obesinhos, eu sempre fiquei chateada porque a gente tenta, tenta… existe, assim, num mundo ideal existe um acompanhamento multidisciplinar. Não é só o Médico.
Não é só o Médico sozinho ou o Nutricionista sozinho que consegue porque você tem que ter todo um apoio da área de Saúde Mental, da Psicologia, Educador Físico… então serviços que tenham esse tipo de apoio as coisas funcionam muito melhor.
Guilherme: Entendi! Voltando um pouquinho na Alimentação Complementar, nós sabemos que muitas mães hoje em dia mal acabam de amamentar a criança, já têm que voltar para o trabalho e muitas vezes tem o apelo da indústria, daquelas papinhas industrializadas, até pela questão da praticidade.
Por que talvez não seja a melhor opção, para essas mães, comprar as papinhas industriais e como elas podem fazer em casa para fazer uma alimentação mais, digamos, caseira; mas também sem ter que ficar o dia inteiro fazendo isso?
Teresinha Souto: Eu acho assim: tem as mães cozinheiras e tem as mães não cozinheiras. Eu sou mãe de três e eu sempre fui uma não cozinheira.
Então a gente tem que tentar tornar essa vida o mais prática possível e também sem ser radical. Tudo o que muito radical é muito difícil de ser feito. Então se você chega e fala: “Não, não pode dar papinha nenhuma, de jeito nenhum”, você acaba gerando um estresse nessa mãe.
Eu acho que a papinha pode ser utilizada eventualmente, numa hora que você vai viajar, você não tem geladeira, você não tem como levar um alimento in natura, leva uma papinha e dá.
Na minha experiência, por exemplo, o meu mais velho comeu muita papinha quando ele tinha, sete meses de idade, oito meses; quando tinha que viajar. E o que eu percebi? Que quando eu dava a papinha depois ele não queria comer a comida que a gente fazia em casa e que estava uma delícia. A impressão que eu tenho é que também nas papinhas industrializadas, a papa é mais palatável.
Guilherme: Assim como num fast food adulto, né?
Teresinha Souto: É! Existem substâncias lá dentro que dão um sabor que a gente nunca vai conseguir mimetizar – e que não tem porquê mimetizar. Acho que a criança tem que acostumar com a alimentação de comida de verdade desde pequena.
Eu, inclusive muito antes dessa história de low-carb, sempre falei para os pais uma coisa que as mães, principalmente, estavam muito apavoradas, eu falava assim: “Dê suco” porque agora a gente manda não dar mais suco para os bebês, está certo? Por causa da prevenção de obesidade.
Mas a gente antigamente mandava dar suco. Eu falava assim: “Dê suco sem açúcar”. “Ah, claro – laranja sem açúcar” e eu falava assim: “Não, limão, maracujá…”, elas: “O quê?!”.
Por quê? Porque eu fui acostumada assim quando criança. Não sei bem o porquê, mas eu fui acostumada assim e eu tenho a capacidade de tomar suco sem açúcar desde criança… Então por que não os nossos filhos e os nossos netos não vão poder?
Eu acho que se você acostumar sem açúcar fica muito mais fácil.
Então o nosso papel como Pediatra, é desde o início, como educador em saúde, tentar fazer com que as crianças se acostumem com esses alimentos menos doces porque obviamente as crianças conseguem ter, digamos, um amor maior pelo alimento mais doce porque o leite materno já é docinho. Tem a lactose do leite materno.
Então é mais fácil quando a gente inicia a introdução desses Alimentos Complementares, muitas vezes é mais fácil que eles aceitem a fruta do que a papa principal, que seria antigamente a papa salgada, que a gente falava. Sem sal, mas salgada.
Então como ajudar essas mães? Eu acho que elas têm que se organizar. Agora está tudo mais fácil, tem muita receita na internet, muita dica na internet. Você pode, por exemplo, já cozinhar um monte de franguinho e deixar tudo desfiadinho já em forminhas congeladas, sabe? Fazer os ingredientes já cozidos, congelar e depois misturar tudo junto.
Guilherme: É bem mais prático.
Teresinha Souto: Essa é uma das formas.
Eu recentemente comprei até um livro da Rita Lobo, aquela culinarista, chefe, que é sobre comida de verdade e está muito interessante. Uma comida de bebê. E eu estou adorando ler porque as dicas que ela dá são muito boas.
A gente tem que procurar informação e, na verdade, se as mães conversarem com as avós eu acho que é uma coisa muito legal com avós, bisavós que estavam mais acostumadas a cozinhar e utilizar esses conhecimentos.
Guilherme: De fato, não tinha muito para onde correr, né? Antigamente, há uns 100 anos atrás, não tinham as papinhas então as pessoas tinham que cozinhar.
Teresinha Souto: Exatamente. Como é que as pessoas faziam, né?
Os bebês eu acredito que ainda estejam um pouco mais protegidos da obesidade infantil. O problema maior são as crianças maiorzinhas, quando começam a ir para a escolinha (embora os bebês também vão para a escola cedo, né?).
Mas no momento em que eles entram na escola e estão expostos a um sem número de alimentos super palatáveis, muito industrializados… esses alimentos, sim, vão contribuir e muito para essas taxas de sobrepeso e obesidade que nós vemos atualmente e é muito difícil.
Não dá para dizer… se eu for falar para vocês: “Ah, é fácil!”. Não é fácil não. Tratar de obesidade infantil é muito difícil. Todo mundo dá palpite.
Guilherme: Uma coisa que eu quero pontuar é que até em idade escolar começam a entrar outros fatores como, por exemplo, a criança ver todos os amiguinhos dela comendo bolacha recheada no intervalo, mas ela que é gordinha não pode, tem que comer a fruta e tem toda essa questão social envolvida.
Teresinha Souto: Nossa, isso é muito difícil. É muito difícil porque o ideal seria que todos comessem a fruta e não a bolacha: que o gordinho não fosse ser o diferente.
Então quando nós tratamos de idade escolar a criança é muito pequena, ela quer ser igual aos amiguinhos… e eu acho que já melhoramos muito.
Acho que já melhoramos muito até em política de saúde nacional. Já foi muito pior, mas temos muito o que melhorar.
Eu não sei se vocês ouviram falar desse Guia Brasileiro de Alimentação que foi lançado em 2014 e ele está muito interessante. Eu sempre falo para os pais darem uma olhada porque ele é muito bem escrito…
Guilherme: Tem um foco na comida de verdade, né?
Teresinha Souto: É! Ele está com foco na comida de verdade que vale muito a pena. É que as pessoas falam: “Ah, não, dá trabalho. Cozinhar dá trabalho” e acabam comendo muita comida pronta.
A questão dos doces, do hábito de oferecerem sempre um docinho para a criança, começando pelos danoninhos da vida, eu acho que já foi uma época pior, a gente evoluiu bastante: as pessoas estão mais conscientes disso.
Mas ainda temos o hábito de falar que o doce é uma coisa que está relacionado com amor, então você tem que dar um docinho…
Quando tem os gordinhos no consultório, dizem “ah, mas a vó traz, o vô traz!”.
A questão é que a gente tem que trazer a família para junto, e não brigar com a família – porque eu só consigo mudar se os adultos compreenderem o mal todo que eles vão fazer para essa criança.
Enquanto eu não tiver os adultos do meu lado o menino vai ser gordinho mesmo. Não tem solução.
Eu preciso dos pais porque sempre que eu vou conversar com os pais de criança de cinco, seis, sete anos: “Ai, doutora, mas é ele quem come”, eu falo assim: “Mas é ele quem compra? Ele que tem dinheiro e vai comprar todos os alimentos industrializados e cheios de açúcar? Deixa para a criança comer no final de semana”.
Então assim, a nossa missão é bem difícil, mas é nessa criação de falar assim: “Não, não quer dizer que, poxa vida, ele está com excesso de peso, então ‘Não pode comer isso, não pode comer aquilo’. Ele pode comer, mas a gente tem que limitar esses alimentos e transformar outros alimentos muito gostosos…”. A minha ideia é assim: Levem lanchinhos saudáveis para a escola, tipo queijinho, tomatinho…
A mãe pode fazer bolinhos em casa sem farinha.
Tem tanta receita na internet e que aquele alimento que a criança está levando é que vai ser o diferente.
Talvez ele consiga fazer com que o amiguinho se interesse por aquele alimento que só ele está levando.
É difícil, mas a gente tenta!
Roney: E à partir do momento em que a criança já está com um quadro de obesidade ou claramente se encaminhando para isso, qual é a recomendação que você passa para os pais?
Chega a ter uma recomendação de restringir os carboidratos ou simplesmente voltar para a comida de verdade já é uma boa solução?
Teresinha Souto: Já é uma boa solução – e voltando para a comida de verdade a gente acaba restringindo os carboidratos, não tem dúvida. Agora, eu não posso chegar e também tirar tudo e ser radical porque não vai dar certo, mas uma criança com obesidade, principalmente com uma obesidade importante, eu tenho que diminuir esses carboidratos.
Só que eu tenho que conversar com os pais e pedir para eles lerem, lerem muito, se atualizarem e fazer, juntos, essa modificação de hábito alimentar porque não adianta querer que eles façam para a criança se eles não estiverem engajados e querendo mudar e sentindo… geralmente os pais (também) têm excesso de peso, né?
Guilherme: Sim. Aí não vai dar certo se para a criança você dá salada enquanto os pais estiverem comendo pizza na frente dela.
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Teresinha Souto: Não, não vai dar certo nunca!
Mas nós temos alguns exemplos interessantes de famílias que aderiram, mas só dá certo quando a família adere. No caso das crianças, quando a família, de modo geral, a família inteira não adere, adere só um componente da família, dois; eu consigo alguns resultados bacanas depois dos 10, 11 anos de idade, quando a criança mesma consegue se interessar pelo o que ela está comendo e tal.
Antes disso é bem difícil porque eles não têm consciência, eles são pequenos, eles querem fazer o que todo amiguinho faz. Se o amiguinho magrinho come um monte de tranqueira e não engorda, por que ele tem que fazer diferente?
Roney: Exatamente.
Guilherme: Eu sei. Eu era uma criança gordinha e não foi só uma vez que eu tentei e tentaram me emagrecer, né?
E tem essa questão toda de que as pessoas ao redor estão de olho: um parente que não vê a cada tempo, olha para você e fala “Puxa, como está gordo!”…
Teresinha Souto: É triste isso, né?
Guilherme: É muito chato, é triste.
Teresinha Souto: O gordinho sofre. Eu nunca fui gordinha, assim, mas eu sempre tive sobrepeso, então eu lembro de ir ao médico desde os 12 anos de idade e fazer dieta. É um negócio chato porque… As avós naquela época achavam bonito menina gorda, então falavam: “Ah, minha filha, você está tão bem! Tão gorda!” e eu falava: “Não!”. Fala isso para uma adolescente!
Guilherme: Que horror, né?
Na minha família todo mundo era acima do peso, mas ninguém da família por parte de pai era chamado de gordo. Todo mundo era “forte”! Era o que eles falavam: “Ele está bem, ele está forte!”, mas eu era gordo, né? Porque eles achavam bonito também estar acima do peso: “Ele está tão bem, está tão forte!”. Aí na família da minha mãe: “Nossa, está gordo mesmo”.
Teresinha Souto: É, chegar nesse meio termo é muito difícil, entre não deixar a criança tão triste de ter chamado de gorda, mas ao mesmo tempo de cuidar para que ela não fique mais gordinha, é muito difícil. É muito difícil.
Mas, assim, pelo menos fazendo esses cuidados de diminuir esses carboidratos todos, sabendo que a criança pode comer bem e feliz, sem grandes restrições, dá um alento para a gente, entendeu?
Guilherme: Ah, sim, imagino.
E antes você tinha mencionado até que gostaria de começar a trabalhar com as mães antes de elas serem mães, durante a gravidez, por exemplo, na gestação.
Que tipo de cuidados que as futuras mamães têm que ter já na gestação, seja com alimentação delas, seja em termos de estudo para criar, quando o filho dela nascer, um ambiente mais favorável?
Porque nós sabemos que muita gente tem dois extremos, que a gente recebe de e-mail, tanto as pessoas que falam: “Ah, engravidei, então agora eu vou comer tudo o que eu sempre quis! Vou comer por dois!”, enquanto outras falam: “Não, engravidei e quero continuar seguindo a dieta Cetogênica”…
Então qual é o meio termo, qual é a abordagem mais sensata?
Teresinha Souto: Eu fui daquelas mães que comeu tudo o que queria porque nunca podia comer nada e na gravidez eu falei assim: “Agora vou comer tudo o que eu queria!” e assim, engordei muito, tive um bebê muito grande.
Não tive Diabetes Gestacional, mas meu primeiro filho foi bem pesado – 4,200 quilos – enfim…
Chegar no meio termo é sempre mais difícil. Eu diria que a gente tem que comer bem durante a gestação, comer um pouco de tudo, mas evitar o excesso de carboidratos, não tem dúvida; o excesso de produtos processados… usar o bom senso, gente.
E quando o médico que você está indo todo mês falar: “Olha, você engordou muito”, parar e pensar: “O que eu estou podendo fazer de mal para o meu filho? Eu posso ter uma Diabetes Gestacional, vou ter um bebê mais pesado, um bebê que vai ter, talvez, no futuro, problemas com obesidade…”. Então não dá para a gente chegar e chutar o balde: “Agora estou grávida!”.
E também, sobre fazer cetogênica…
Olha, eu acho que a pessoa tem que comer muito bem e sem nenhum extremo porque fazer uma Cetogênica durante uma gestação só se realmente tiver uma indicação médica importante:
Eu não tenho experiência com gestante fazendo Cetogênica e acho bastante perigoso. Você tem que ter um acompanhamento com algum médico com bastante experiência nisso.”
Guilherme: Perfeito.
Nós até quisemos colocar isso como exemplo porque é o caso de se precisar de acompanhamento.
E além disso, existe a questão de se perguntar: “Por que a pessoa quer seguir uma alimentação tão restrita durante esse período de gravidez, de gestação?” onde ela vai estar precisando de mais nutrientes e talvez, se ela fizer isso sem acompanhamento não seja a melhor maneira de garantir que ela está obtendo todos os nutrientes que ela necessita.
Teresinha Souto: É. Você também tem que ter um pouco de bom senso. Não é o melhor momento para você fazer uma dieta, no sentido de dieta tipo “não engordar”. Você vai engordar pelo menos uns seis, sete quilos, sem exageros.
Mas a gente tem medo de acontecer um Retardo de Crescimento Intrauterino, que a gente chama, são crianças muito pequenas, que não se desenvolveram adequadamente, que é mais comum em mães com pressão alta, mães fumantes e também mães que fazem uma restrição alimentar importante. Isso pode acontecer, então acho que sem exageros nem para um lado e nem para o outro.
Guilherme: Perfeito.
Acho que essa questão de bom senso sempre volta, não importa quem nós estamos entrevistando, a maioria dos Médicos e Nutricionistas sempre voltam: “Olha, também é para ter um bom senso” porque a pessoa tem a vida inteira para perder peso e agora vai fazer dieta logo quando está grávida, né?
Teresinha Souto: É! Durante a amamentação também dá fome, a gente come bem durante, a gente come bem enquanto está amamentando, dá sede, dá fome, a gente tem que cuidar para não comer demais.
Às vezes as mães perguntam, mães que não estão fazendo low-carb ne, nada disso: “Ah, posso tomar refrigerante enquanto eu estou amamentando?”. Eu pergunto assim para elas: “Exatamente por que? Você quer engordar?”. Não é o refrigerante que vai fazer mal para o bebê. Vai fazer mal para a mãe! Vai fazer mal indiretamente porque ele vai estar recebendo muito açúcar, enfim… não tem necessidade, né?
Você falou das perguntas comuns.
Vamos, lá, das gestantes, daí a gestante começa a amamentar e tem uma série de perguntas: “Ah, isso pode? Isso não pode durante a amamentação?”. O que nós temos que orientar? Coma de tudo um pouco, sem exagero.
Na amamentação as mães têm muita preocupação de fazer uma alimentação que não dê cólicas no seu bebê e, assim, o que a gente mais tem de problemas de refluxo de bebês são relacionados à alergia à proteína do leite de vaca, então muitas mães a gente acaba orientando, mas isso assim, é cada caso é um caso, tá, gente?
Algumas mães nós vamos pedir para que retire o leite de vaca e derivados da sua alimentação, outras a gente não vai ter esse tipo de problema, mas assim, outros alimentos que deem alergia enquanto a mãe está amamentando, que deem cólica, não tem nada realmente comprovado, tá? Isso aí é bem incomum.
Então eu só falo para as mães se alimentarem bem e tentarem não ficar engordando durante a amamentação. Não precisa comer por dois também,. Não precisa ficar comendo demais porque está amamentando.
Voltamos ao bom senso!
Guilherme: Sim!
E nesse tópico da amamentação, eu acredito que hoje em dia já tenha uma consciência mais pública por parte das pessoas. Uma consciência maior sobre a necessidade de se amamentar; mas eu sei que pelo menos quando eu era um bebê eu sei (porque minha mãe conta) que tinha muita gente que acreditava que substituir o leite por alguma fórmula, ou alguma outra coisa, ou complementar a alimentação muito cedo do bebê…
Que tipo de risco pode vir desses comportamentos?
Teresinha Souto: Um bebê desmamado tem mais chance de ter doenças porque ele não está recebendo os anticorpos que a mãe está transmitindo para ele.
Também quando você vai manusear uma mamadeira, você tem mais chances de contaminar essa fórmula. E o peito está ali, né, tudo super estéril, tranquilo, limpo… talvez não estéril porque também tem micro-organismos benéficos no leite materno, já andaram descobrindo isso.
Guilherme: Inclusive, tem muita gente hoje em dia que associa a formação de uma flora intestinal positiva com a amamentação, né?
Teresinha Souto: Exatamente!
Guilherme: Então você privar a criança disso, tem mais esse risco ainda…
Teresinha Souto: É. Eu acho que a gente já melhorou bastante nesse quesito, de que as pessoas não parecem mais ter essa dúvida de que a amamentação exclusiva é muito benéfica e muito superior à fórmula.
Têm casos que, infelizmente, a pessoa não consegue amamentar, enfim, mas nós fazemos de tudo e a consulta ao Pediatra logo nos primeiros dias de vida é super importante.
Porque os problemas, as dificuldades para amamentar, acontecem nesses primeiros dias.
E quando a mãe vai consultar com alguém muito tempo depois (como 15 dias depois), as dificuldades para amamentar já aconteceram, ela já desmamou e isso é muito triste.
A amamentação também, entre inúmeras outras coisas bacanas, protege contra a obesidade no futuro, então a gente insiste muito.
O Pediatra, de modo geral, insiste muito em amamentação e não é fácil, não é todo mundo que sai amamentando tranquilo.
Tem que ter uma boa dose de desprendimento, de sacrifício… é um momento difícil e todo o apoio que a mãe puder ter de amigas, de mãe, da própria mãe dela, do marido, etc., é fundamental.
Roney: Legal, então, Teresinha.
Acho que com essa pergunta nós encerramos bem o podcast.
Agora a gente, se você puder deixar os seus contatos, mídias sociais para o pessoal poder te seguir…
Guilherme: Ou mesmo onde você atende, onde o pessoal e as futuras mamães e papais (ou presentes mamães e papais) podem entrar em contato com você, marcar uma consulta, acompanhar mais o seu trabalho, enfim…
Teresinha Souto: Ah, tá bom!
Eu esqueci de falar também que eu trabalho em Posto de Saúde há mais de 20 anos e é um trabalho que eu adoro, que infelizmente eu vou me aposentar da Prefeitura durante esse ano, mas a gente trabalhando com diferentes públicos – o do Consultório, o do Posto e mesmo do Pronto Atendimento – a gente acaba tendo mais jogo de cintura para falar com todo mundo e tirar dúvidas, enfim, e aprender também porque a gente aprende muito com as mães.
Guilherme: Que legal.
Teresinha Souto: Bom, onde eu atendo… quer que eu fale?
Guilherme: Pode falar!
Teresinha Souto: Eu atendo aqui em São Paulo, na Rua Teodoro Sampaio, 1020, conjunto 305; em Pinheiros. O telefone é 3081-8133.
E atendo no Posto de Saúde, mas desse eu já estou saindo, aqui na Lapa.
Mídias sociais? Mídias sociais eu tenho um grande problema, Tanquinhos.
Eu estou tentando escrever alguma coisa no meu Instagram… mas eu esqueço, eu tenho uma dificuldade com internet e afins, e enfim, eu tenho um Instagram que está no meu nome, é @drateresinhasouto, por enquanto é esse. E tem o Facebook também, mas que nem sei porque faz um tempão que eu não uso o Facebook.
E eu não tenho blog. Não tenho essa habilidade de ficar escrevendo. Eu gosto mais de falar e, assim, junto com a pessoa, sabe? De falar para a mãe, pessoalmente, para a família e eu acho que eu tenho mais essa habilidade de falar do que de escrever.
Guilherme: Entendi. E essa habilidade é super bacana também!
Nós percebemos, conversando agora, que você tem o gosto de falar sobre esses assuntos, que você estuda, que você gosta, e isso impacta diretamente a qualidade da vida das pessoas, dos seus pacientes e até de quem está ouvindo a gente agora, então obrigado por ter separado esse tempinho para falar com a gente, com o nosso público.
Obrigadão mesmo!
Teresinha Souto: Nossa, eu que agradeço, meninos, pela oportunidade, tá bom?
A gente trabalha muito, não costuma parar nem para conversar com a gente mesmo, mas está ótimo, muito obrigada, tá?
Roney: Muito obrigado!
Teresinha Souto: Um beijão!
Roney: Um beijo.
Guilherme: Beijo, até a próxima!
Roney: Então esse foi mais um episódio do nosso podcast. A gente espera que vocês tenham gostado muito que nem nós gostamos de conversar com a Teresinha e a gente se vê num próximo episódio.
Guilherme: E se você gostou desse episódio, lembre-se de ir lá no iTunes e deixar a sua avaliação cinco no nosso podcast. Ajuda a gente a crescer e a continuar trazendo episódios para você todas as segundas-feiras.
(Você também pode seguir a gente no SoundCloud também.)
Guilherme e Roney: Um forte abraço do Senhor Tanquinho.