As pessoas estão com muito medo, se sentindo acuadas — como se estivessem indefesas perante este vírus, e perante outras situações.
Porém, nós não estamos indefesos: existe muito que nós podemos fazer na defesa das nossas fronteiras, e no fortalecimento do nosso sistema imunológico.”
Você já se sentiu desamparado, ansioso e com medo nesta pandemia?
Difícil é achar quem não se sentiu assim.
Por isso, convidamos a Dra. Denise De Carvalho para vir ao nosso podcast, explicar o que você pode fazer para blindar sua saúde.
E, surpreendentemente, a imunidade começa no intestino.
Então recomendo que escute este episódio atentamente para saber:
- Cansaço, divórcio, ganho de peso, distúrbio do sono: como essa tempestade de fatores levou a Dra. Denise de Carvalho a mudar sua visão da medicina tradicional para a integrativa,
- Como funciona a surpreendente relação entre sistema digestivo e imunidade,
- O que o “novo normal” pode trazer de consequências para a sua saúde,
- Quais são as atitudes e medidas simples que você pode adotar para aumentar a sua imunidade,
- Por que tomar líquidos junto às refeições pode diminuir seu bem estar, piorar sua digestão, e detonar sua sua imunidade,
- Como ativar um hormônio importante e anti inflamatório (de modo totalmente gratuito, e que vai te fazer se sentir melhor ao longo do dia também),
- Quais suplementos podem blindar sua saúde e te ajudar a aumentar a imunidade,
- Quais hábitos saudáveis a Dra. Denise De Carvalho adota — e onde ela admite que poderia melhorar,
- Como se aprofundar nos assuntos que abordamos hoje,
- A mensagem final da Dra. Denise De Carvalho para você,
E muito, muito mais.
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A Denise está presente em várias mídias sociais, você pode acompanhar
- No Instagram: https://www.instagram.com/dra.denise_decarvalho/
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- No seu podcast Medicina Descomplicada: https://open.spotify.com/show/3B7JkwayMWVv1TrIpFXn7T
Mencionamos os livros da Denise algumas vezes na entrevista — você pode garantir o seu exemplar nos seguintes endereços:
- Imunidade, intestinos e Covid19: O que fazer para preparar seu corpo para a próxima pandemia: https://amzn.to/3aXIuYQ
- Quebrando o círculo vicioso: https://amzn.to/2ZT6bvg
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Abaixo você encontra nosso agradecimento aos apoiadores que possibilitam este projeto ser um sucesso.
E também a transcrição completa do episódio.
Para ser avisado de novos episódios, lembre-se de nos seguir no email e no canal do Telegram.
Tem episódios novos todas às segundas e sextas-feiras.
Conteúdo do post:
Obrigado Aos Apoiadores Do Podcast
Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho.
Somos Guilherme e Roney, e aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
Antes de irmos ao episódio em si, queremos agradecer aos apoiadores que tornam este projeto possível.
Apoiador #1 — Loja Online Tudo Low-Carb
Este podcast é um oferecimento da loja online Tudo Low-Carb.
A Tudo Low-Carb é uma loja que vende somente produtos que se encaixam numa dieta low-carb e cetogênica.
Lá você vai comprar de tudo, desde farinhas low-carb até adoçantes como xilitol, eritritol, e estévia.
Além de temperos e produtos naturais, feitos com comida de verdade.
Nós conhecemos pessoalmente Eliana, fundadora da loja.
E ela nos garantiu que monitora constantemente os valores para que a Tudo Low-Carb tenha os melhores preços dos adoçantes xilitol, eritritol e da farinha de amêndoas.
Então, se esse é o seu caso, se você quer comprar ingredientes para receitas low-carb, recomendamos acessar a Tudo Low-Carb — porque lá é garantido que você vai encontrar.
Apoiador #2 — Medidor de cetonas Uaiketo
Esse podcast também é um oferecimento do Uaiketo — e o que é o Uaiketo?
O Uaiketo é um aparelhinho que serve para medir o seu nível de cetose através do hálito.
A gente achou muito interessante esse aparelho porque você pode saber o seu nível de cetose sem ter que furar o seu dedo ou fazer um exame de sangue para isso.
É um aparelho realmente revolucionário no mercado — e o mais legal é que o Uaiketo é uma tecnologia 100% brasileira.
O Iago, criador deste aparelho, entrou em contato com a gente, e a gente achou super legal divulgar essa iniciativa — é por isso que hoje o Uaiketo é um dos patrocinadores aqui do podcast.
A gente recomenda que você conheça esse aparelho, se a sua intenção é saber o seu nível de corpos cetônicos. É só acessar o uaiketo.com.br.
Apoiador #3 — Nossos alunos do Guia Dieta Cetogênica
Este podcast só existe graças aos alunos do nosso programa VIP Guia Dieta Cetogênica.
O Guia Dieta Cetogênica é um curso em vídeo com todas as informações, passo a passo, para você seguir uma dieta cetogênica de sucesso.
E como bônus para você que escuta os nossos podcasts, a gente colocou dentro do programa, na área de membros especiais, todos os nossos livros e manuais digitais já publicados até hoje.
Então, são centenas de receitas. Tem também o nosso livro de apoio, com 120 dúvidas sobre alimentação saudável respondidas, com prefácio do Dr. José Neto, um livro super elogiado por profissionais como o Dr. Rodrigo Bomeny, Danilo Balu e por vários e vários convidados que já passaram pelo nosso podcast.
E ainda tem tabelas, infográficos, textos explicativos, resumos em pdf, um grupo secreto no Facebook e muito, muito mais.
Então, convido você a conhecer o nosso programa Guia Dieta Cetogênica.
Transcrição Completa Do Episódio
Guilherme: Olá Tanquinho, Olá Tanquinha, seja muito bem-vindo e bem-vinda a mais um episódio do nosso podcast. Hoje temos com a gente a médica Dra. Denise de Carvalho. Tudo bem, Denise?
Dra. Denise De Carvalho: Claro que tudo bem, estou vindo aqui! Obrigada por me receberem, e pelo convite.
Roney: Seja muito bem-vinda novamente, Denise. É um prazer tê-la conosco.
A Denise é médica há mais de 20 anos, e especialista em microbiota e medicina integrativa — mas ela nem sempre teve essa visão integrativa da medicina.
Então vamos começar perguntando: Denise, como foi que você mudou da medicina “tradicional” para essa nova visão?
A Tempestade De Problemas Que Mudou A Vida Da Dra. Denise
Dra. Denise De Carvalho: Realmente, não foi sempre assim. Eu sou cirurgiã, essa é minha primeira formação, há mais de 22 anos, como você falou.
E minha formação foi bem tradicional, bem dentro da caixinha, e exerci a medicina assim por mais de 10 anos.
Mas, entre 2010 e 2011, eu percebi que minha saúde estava mudando há algum tempo.
E eram sintomas totalmente inespecíficos: perda de energia, cansaço, acordava de manhã e parecia que não tinha dormido nada.
Eu andava o dia inteiro me arrastando, eu estava ganhando peso sem causa aparente… Eu não conseguia fazer exercício físico…
Eu sou mãe, naquela época tinha 2 crianças pequenas. Hoje elas têm uma 15 e outra 12 anos, mas naquela época eram bem pequenas.
E eu colocava todos esses sintomas na conta de gravidez, de trabalho, de cuidar das crianças…
E no começo de 2011 eu realmente vi minha saúde piorar muito, e eu comecei com um distúrbio mental.
Eu tive um quadro chamado de hipomania: eu tinha uma dificuldade muito grande de concentração, não conseguia dormir, uma velocidade de pensamento muito alta (taquipsiquismo): meu pensamento voava muito, eu não conseguia concluir nada.
Fui a um colega psiquiatra, ele me deu várias medicações na época. E eu estava num processo de divórcio, para piorar a situação.
Falei “não, não dá para ficar tomando esses remédios, trabalhando, cuidando de 2 crianças, longe da minha família”… Eu vou ter que achar outra alternativa para melhorar minha saúde.
E foi aí que, apesar de todas as dificuldades de concentração, eu comecei a estudar quais eram as raízes dos problemas.
Eu sou cirurgiã do aparelho digestivo, então eu já tratava do aparelho digestivo dentro da minha prática.
Só que eu não tinha nenhuma ideia do poder que o meu sistema digestivo poderia ter sobre as minhas emoções, e sobre a minha saúde como um todo.
Foi no meio desse turbilhão que eu descobri uma outra forma de encarar o sistema digestivo — e usei essa forma para começar a me tratar.
Eu melhorei muito, fui melhorando, não larguei todos os remédios. Mas minha vida realmente mudou: tanto em termos de performance física, quanto performance mental, e performance emocional.
Foi um renascimento para mim.
Nessa época a gente não tinha um nome para isso.
E eu descobri que existia um instituto de medicina funcional, nos Estados Unidos, e fazia muito sentido com aquilo que eu estava estudando.
Aí eu comecei a entrar em contato com os trabalhos deles, os cursos deles, e realmente mergulhei nisso.
Nessa época eu era funcionária pública do governo federal, então eu nem atendia mais em consultório. Eu fazia um trabalho de perícia para o Governo Federal.
E nessa época eu só usava esse conhecimento para estudar para mim, para minha família. Mas decidi voltar a atender consultório.
E a partir do momento que isso foi crescendo, decidi pedir exoneração do cargo 6 anos depois, em 2017, e hoje eu trabalho dentro do pensamento funcional e fazendo essa intervenção entre microbiota, sistema digestivo, saúde mental, saúde da mulher, imunidade, doenças autoimunes, pele…
Então a gente tem várias interligações que se sabe, hoje, entre o sistema digestivo e os outros sistemas.
Sistema Digestivo E Imunidade
Guilherme: Com certeza, Denise. Isso é uma coisa que muita gente nem imagina: como o sistema digestivo e os intestinos têm a ver com o nosso corpo como um todo.
E uma outra questão ligada aos intestinos é a questão da imunidade.
Como isso se dá? Qual a relação entre esses dois sistemas que, na mente de muitas pessoas, parecem ser tão dissociados.
Dra. Denise De Carvalho: Eu vou te explicar isso da seguinte maneira, porque vai ajudar as pessoas a visualizarem.
Imagina que o nosso sistema digestivo é na verdade externo ao nosso corpo.
Isso acontece porque ele se liga ao meio externo pela boca e pelo ânus.
Então ele é uma fronteira para aquilo que realmente vai entrar.
Aquilo que deverá entrar a partir do sistema digestivo são nutrientes.
Então ele tem que ter uma permeabilidade, para deixar o nutriente entrar.
Só que, neste ambiente, existem muitos microrganismos.
Então essa permeabilidade não pode ser excessiva a ponto de deixar entrar uma bactéria, um vírus, um fungo, ou um parasita.
E é justamente por essa característica de grande fronteira corporal que existe no intestino a maior parte do sistema imunológico do nosso corpo.
Ele tem a função de controlar esta zona de fronteira.
Costumo usar a analogia de que é como se nós estivéssemos em nosso país, o Brasil (o nosso corpo), e o intestino fizesse a fronteira com os países vizinhos (o mundo externo).
É justamente porque o sistema digestivo tem tantos microrganismos e tantas estruturas alimentares ao mesmo tempo que esta polícia federal se desloca para esse setor de fronteira para proteger contra a entrada de coisas que não deveriam.
Sendo que hoje a gente fala de um número — e não é um número exato — mas estima-se que em torno de 80% do nosso sistema imunológico (nossa Polícia Federal, nosso Exército) está na fronteira do sistema digestivo, controlando a entrada de partículas que não deveriam entrar.
Então, quando a gente fala de sistema digestivo e imunidade, a função dessa imunidade no sistema digestivo é controlar essa barreira.
E algumas pessoas podem pensar da seguinte maneira.
Bem, a imunidade está lá só controlando. Mas, se eu exijo desse exército em outro local, ele não vai se deslocar para lá?”
E a verdade é que, a princípio, não.
Porque tem outras células que vão nos ajudar em outras fronteiras, como a região orofaríngea, nas mucosas (a mucosa vaginal, nas mulheres; a mucosa uretral, na uretra); que também são zonas de interligação entre esses “países” — o meio interno e o meio externo.
Mas o local prioritário para esse sistema imunológico é o sistema digestivo.
E lá no sistema digestivo o sistema imunológico se organiza de várias formas.
Então a gente tem células dendríticas, que participam desse sistema imunológico; temos como se fossem “fortes” onde se concentram mais células — a gente chama esses fortes de placas de Peyer.
Essas placas, em conjunto, formam uma coisa que a gente chama de GALT — o tecido linfóide associado ao intestino (do inglês gut-associated lymphoid tissue) — que forma os 80% do sistema imunológico.
Então ele tem uma função muito importante que é nos proteger — e, justamente por isso, ele se concentra no intestino.
O “Novo Normal” E Suas Consequências Para A Saúde
Roney: Perfeito, Denise. Então, como deu para perceber, a imunidade está muito relacionada com o intestino.
A imunidade sempre foi importante para o ser humano — e agora, mais do que nunca, isso está em voga devido à pandemia.
Porém, se por um lado agora a imunidade deveria estar mais em alta… por outro, a pandemia também trouxe junto a ela muito stress, ansiedade, medo, receio de se contaminar, incertezas sobre o amanhã, menos convívio social…
Além de hábitos ruins, como pedir comida no aplicativo com mais frequência, ficar mais sedentário, não se expor ao sol, não ir à academia, não fazer caminhadas.
Enfim: várias consequências que vieram juntas.
Mas quais podem ser as consequências desse estilo de vida “novo normal” para a nossa saúde, nossa imunidade, e mesmo para a saúde intestinal?
Dra. Denise De Carvalho: Excelente pergunta.
O primeiro ponto quando falamos da pandemia é o efeito do stress sobre a atividade do sistema imunológico — e sobre a atividade do sistema digestivo também.
Quando a gente está passando por um momento de stress, é diferente o stress agudo do stress crônico.
Por exemplo: eu estou sendo assaltada.
É um stress agudo — porque eu estou tranquila e de repente esse stress acontece.
Existe todo um mecanismo hormonal — que envolve o cortisol, os neuro-hormônios adrenalina e noradrenalina — que tem como objetivo direcionar suas energias para a sua proteção em relação a esse stress.
Porque a princípio o corpo enxerga o stress como uma forma de agressão — uma ameaça a nossa vida.
Então nosso corpo se prepara para se defender: o cortisol mobiliza o sistema imunológico para as fronteiras, e a adrenalina e a noradrenalina fazem vasoconstrição (nos órgãos que vão trabalhar menos no processo de stress) e vasodilatação nos órgãos que vão trabalhar mais.
Por exemplo: na hora de um stress agudo, eu preciso de sangue no coração, nos pulmões, no cérebro… Porque eu preciso sair correndo para me defender, ou eu preciso lutar, ou pensar numa saída para esse stress.
Dentre os órgãos que são priorizados na resposta ao stress não está o sistema digestivo.
Porque, num momento de stress, de ameaça à vida, a gente não vai parar para comer: a gente vai fugir ou lutar.
Então, o corpo tira a energia do sistema digestivo.
Inclusive, eu diminuo a tensão de oxigênio nesse sistema. E isso não teria problema.
O grande problema é quando o processo de stress não é um processo agudo e auto-limitado.
O grande problema é quando esse processo se torna crônico: todos os dias, eu acordo sob o mesmo nível de stress.
Cada pessoa tem uma resiliência. E isso depende de questões físicas — idade, estado físico, o que ela come, como ela dorme, como ela se exercita. Tudo isso é importante.
E também é importante a resiliência psicológica. Se a pessoa já vive um nível de stress muito grande, por outras razões, e de repente vem uma pandemia — em que ela vai se sentir acuada, dentro de casa, justamente tendo a sua vida ameaçada…
O sistema digestivo vai ficar inibido de uma forma muito mais prolongada.
E qual é o grande problema disso?
É que a gente continua comendo. Então, o alimento chega no sistema digestivo, sem a possibilidade total de digestão.
Pois, como o meu sistema digestivo está inibido, o alimento entra e ele não consegue ser quebrado totalmente.
Quando acontece isso, sobram proteínas e partículas alimentares — inclusive partículas muitas vezes microbianas — no sistema digestivo hiper estimulando o sistema imunológico intestinal.
Então eu estou num momento em que o sistema digestivo está funcionando menos. E o sistema imunológico está hiperestimulado. E eu tenho menos chance de recuperação de todas as estruturas do sistema digestivo, porque o oxigênio está diminuído nesta região.
O que vai acontecer com isso? Um processo inflamatório crônico, subclínico, ao qual damos o nome de disbiose — que é um hiper crescimento microbiano.
Aliado a toda essa questão que envolve o stress,
- se eu estiver comendo excesso de alimentos,
- se estiver comendo excesso de industrializados — que por si só já são um stress para o sistema digestivo,
- se eu não estiver mastigando adequadamente,
- se eu estiver comendo refeições muito grandes, que excedem a minha capacidade de digestão,
Há uma chance muito grande de sobra de alimentos, e há uma chance maior de hiperestímulo do sistema imune.
Então eu tenho stress por um lado, alimentação ruim pelo outro, e um sistema digestivo sobrando alimento. Eu vou lá e coloco bastante comida: sobra mais.
E eu estimulo mais esse sistema imunológico para tentar me defender das estruturas que estão sobrando.
Aí eu preciso ter um sistema imunológico dentro de um processo de pandemia funcionando na sua plenitude.
Mas, ao invés de ele cuidar da minha saúde como um todo, ele está preocupado em cuidar apenas do caos que foi gerado no sistema digestivo.
Em vez dele ele cuidar do que deveria, ele está distraído com o sistema digestivo.
Então esse combo: stress + alimentação ruim, de má qualidade + alimentação excessiva é um combo muito ruim para o sistema imunológico.
E vai sim causar uma sobrecarga sobre ele e uma diminuição da atividade do sistema imunológico em outros locais.
Atitudes Simples Para Aumentar Sua Imunidade
Guilherme: É quase que uma “tempestade perfeita” de coisas que vão se somando para causar impactos negativos na imunidade e no corpo como um todo — com vários sistemas sendo prejudicados.
Nesse sentido, o que as pessoas podem fazer para melhorar essa imunidade?
Que tipos de atitudes simples — alimentação, ou outras — que estão ao nosso alcance podem ser úteis para cuidarmos da nossa imunidade?
Dra. Denise De Carvalho: Perfeito, já que não adianta a gente mostrar um problema sem apontar a solução.
Foi esse o objetivo ao escrever o meu segundo livro (Imunidade, intestinos e Covid19: O que fazer para preparar seu corpo para a próxima pandemia).
As pessoas estão com muito medo, muito acuadas, e como se estivessem indefesas perante este vírus, e perante outras situações.
Porém, nós não estamos indefesos: existe muito que nós podemos fazer na defesa das nossas fronteiras, e no fortalecimento do nosso sistema imunológico.
No meu livro eu conto essa questão fisiológica de maneira mais aprofundada, e depois eu parto para algumas atitudes.
Primeira coisa — e é muito simples, que vocês podem e devem fazer em casa — e que acredito que a maioria das pessoas que estão nos ouvindo não fazem a contento: mastigar.
As pessoas se esquecem de mastigar, e tem um termo para isso em inglês, que é o mindful eating — o comer consciente.
Acontece que, na vida moderna, raramente temos uma refeição sem estar fazendo outra coisa ao mesmo tempo — conversando, falando com alguém no celular, assistindo à televisão…
Tudo isso distrai você do momento da refeição.
E essa distração faz com que você não consiga prestar atenção de que é preciso deixar o alimento uma “pasta” na boca antes de engolir. E a maioria das pessoas nem percebe.
Isso é muito importante para que eu tenha a digestão adequada.
Tendo a digestão adequada, duas coisas vão acontecer.
Em primeiro lugar, eu vou ter os nutrientes da alimentação prontos para serem as armas do meu sistema imunológico.
Só que, para que os nutrientes entram, eles precisam estar digeridos. Então, eu mastigando e melhorando a digestão, vou ter mais nutrientes.
Em segundo lugar, eu vou ter menos material para os microrganismos fermentarem.
Porque a gente tem um ramo da química chamado de cinética química que avalia a velocidade das reações químicas.
E a digestão é uma reação química.
Mas essa velocidade é proporcional à área de contato entre o substrato e a enzima.
E esta área será maior se a gente mastigar.
Então, mastigue.
Não tem um número mágico, mas é importante mastigar.
Se eu estou comendo uma coisa molinha, como um purê, nem precisa mastigar direito.
Mas se eu estou comendo um pedaço de carne, preciso mastigar bem para transformar numa pasta antes de engolir.
Então, preste atenção na hora da refeição, no ato de se alimentar. Corte todas as distrações na hora de comer.
Em segundo lugar, evite tomar líquidos junto à refeição, para que não haja a diluição das enzimas digestivas que a gente produz dentro do estômago e do duodeno — pois são elas que vão fazer a digestão.
Além disso, escolha bem os seus alimentos.
Não existe uma dieta que sirva para “todo mundo” — nem uma dieta que não sirva para ninguém.
Mas o que sabemos, de um ponto de vista geral, é o seguinte.
Uma dieta pobre em produtos alimentícios, é uma dieta muito mais saudável.”
Ou seja, comer comida de verdade.
Comer: Frutas, legumes, verduras, carnes, tudo bem mastigado.
Evitar: industrializados, que vêm em saquinhos, com corantes, aromatizantes, conservantes.
Evitar refrigerantes.
Evitar bebida alcoólica — sendo que, durante a pandemia, houve um aumento significativo do consumo de bebidas alcoólicas.
Até porque as pessoas estão em casa, sabem que não vão precisar sair dirigindo, então elas acabam bebendo em casa mesmo.
Tudo isso gera um stress a mais para o sistema digestivo.
Além disso, cuidar do stress, dominar os pensamentos negativos, ter um pouco mais de fé na vida…
Manobras de diminuição do stress como meditação, yoga, exercícios respiratórios são muito importantes.
Eu normalmente falo nas minhas redes o seguinte.
Separe um minuto por hora para respirar. Faça em média 7 respirações por minuto. Neste minuto. Respira fundo, solta.”
Isso ajuda a melhorar a sintonia do sistema nervoso parassimpático — que é o sistema nervoso autônomo que comanda o processo digestivo.
Ele também comanda pressão, e o próprio stress: quando a gente está estressado, temos uma hiperatividade simpática.
Também é importante observar o sono.
A gente não valoriza o sono na nossa sociedade, porque sono não remunera ninguém.”
Mas o sono é essencial para uma boa sintonia imunológica. O ideal é dormir cedo e acordar cedo, dentro do nosso relógio biológico.
A gente tem uma ciência, relativamente nova, que se chama cronobiologia, que estuda o nosso relógio biológico durante o dia.
E, como nós somos animais diurnos, dormir cedo e acordar cedo costuma ser melhor para a maior parte das pessoas.
Isso envolve desligar celulares, televisão, luzes de características frias — especialmente após as 20h.
Porque tudo isso é muito estimulante da retina, e faz com que você tenha dificuldade de ter um sono de qualidade.
Consumir alimentos ricos no aminoácido triptofano (como algumas castanhas, cereja, ou até aveia) ajudam a aumentar a formação do hormônio melatonina — que hoje a gente sabe que tem efeito anti inflamatório.
(Inclusive temos vários estudos feitos durante a pandemia mostrando isso.)
Mas, para isso, a gente precisa dormir bem: dormir cedo e acordar cedo é o ideal.
E, durante o dia, é importante se expor à luz, principalmente à luz solar — especialmente nas primeiras horas do dia.
Isso ajuda a sintonizar este relógio biológico.
Além de tudo isso, fazer atividade física — pelo menos 30 minutos de atividade física por dia.
Não precisa ser uma atividade física extenuante: cada um faz dentro de sua possibilidade, e de sua capacidade cardiovascular.
Você pode inclusive fazer isso dentro de casa. Dá para agachar com cabo de vassoura nas costas, levantando balde de água como se fosse um halter… existem muitas alternativas, inclusive dentro de casa.
O ideal é sempre a gente sair, fazer uma atividade física no meio externo, aproveitando o sol, o ar puro… Mas quem não pode, ou que está em alguma cidade em que há restrição a sair de casa, faz em casa mesmo.
Ande em volta da mesa, afaste todos os móveis, faça abdominal…
A gente tem muitos conteúdos, aplicativos, pessoas nas redes sociais, fazendo treinos totalmente gratuitos.
Então isso é muito importante para o equilíbrio do cortisol, e do sistema imunológico também.
E depois de tudo isso, existem alguns suplementos também que podem ser usados.
Mas suplemento, como a própria palavra diz, suplementa: ele não substitui um estilo de vida fora dos padrões de saúde.
Os suplementos mais importantes, aliados à saúde intestinal e imunidade, são:
- vitamina C,
- vitamina D,
- ômega-3,
- resveratrol (presente na uva e nos vinhos),
- zinco (presente nas carnes e frutos do mar — que ajuda inclusive na testosterona), e
- beta-glucanas (são fibras que encontramos em alguns alimento, como na aveia — mas para ter alguma quantidade de beta-glucana teria que se comer muita aveia, então optamos pelo suplemento).
Com certeza, se você adotar os hábitos de estilo de vida, e aliar os suplementos, você vai estar em melhores condições para deixar seu sistema intestinal trabalhar adequadamente e enfrentar o desafio que é uma COVID-19.
Os Hábitos Saudáveis Da Dra. Denise De Carvalho
Roney: Muito completo, Denise! Você abordou desde as coisas mais simples — dormir bem, evitar ficar muito estressado, se movimentar, respirar ar puro, mastigar… até a parte dos suplementos.
Todos esses eram pontos que a gente teria perguntado se você já não tivesse falado.
E isso serve para mostrar que sempre tem onde melhorar: se você já está cuidando bem da parte dos exercícios, talvez dormir melhor. Se você já está comendo bem, talvez meditar…
Então são muitas coisas acionáveis, e sempre temos algo a melhorar: porque é muito difícil alguém estar com todas essas áreas cobertas.
Aproveitando, Denise, quais são os seus hábitos saudáveis — e onde você acredita que pode melhorar?
Dra. Denise De Carvalho: Eu sou uma pessoa muito regrada, e acho que isso me dá uma certa segurança.
O meu tempo é muito planejado, então eu sou muito organizada comigo e algumas coisas eu não abro mão — como o meu horário de dormir. Hoje, já consigo priorizar mais.
Agora, acho que preciso melhorar no gerenciamento do stress.
Porque, como médica, existe uma demanda muito grande agora na pandemia, por conhecimentos novos.
Eu gosto muito de estudar, e até por isso que eu escrevi o livro em um tempo recorde, de 3 meses e meio, e li mais de 300 artigos nesse meio tempo.
Então eu gosto muito de estudar, mas acho que eu precisaria melhorar um pouquinho essa questão do gerenciamento do stress — e já estou melhorando.
Mas provavelmente todo mundo poderia melhorar um pouco nesse quesito — ainda mais agora.
Aprenda Mais: Conheça Os Livros Da Dra. Denise De Carvalho
Guilherme: Com certeza, Denise.
Você mencionou algumas vezes sobre seu livro, fala para as pessoas como elas podem encontrar — eu vi que tem na Amazon, por exemplo — e se aprofundar nesse assunto.
Fale também do seu primeiro livro, cujo assunto é o intestino e a integração de todos esses sistemas.
Dra. Denise De Carvalho: Exatamente, o primeiro livro foi publicado em 2019, e se chama Quebrando O Círculo Vicioso.
Nele, eu conto um pouco da minha história: essa migração da medicina tradicional para uma medicina mais holística e integrativa, que enxerga o ser humano como um todo, em vez de um conjunto de sistemas em separado.
Então eu explico como foi minha transição, e explico como o sistema digestivo se interrelaciona com todos os outros sistemas.
Algumas das dicas de que falamos hoje já são abordadas nesse primeiro livro.
O segundo livro publiquei agora em dezembro de 2020, e ele se chama Imunidade, Intestinos e Covid19: O que fazer para preparar seu corpo para a próxima pandemia.
Ele foi publicado dia 05/12 e, em pouco mais de 2 meses, já foi para a segunda edição.
E este livro foi realmente para aprofundar essa questão de imunidade e intestinos, e quais são as atitudes que podem ser adotadas por nós para a modulação dessa imunidade também a partir do sistema digestivo.
Eu estou agora escrevendo um terceiro livro, que vai ser a ligação entre o sistema digestivo e o cérebro — a questão mental, psiquiátrica.
Este terceiro livro deve ser publicado ainda em 2021.
O Que Você Não Deve Jamais Esquecer
Roney: Muito bom, Denise, vamos deixar os links dos livros para quem quiser saber mais.
Por fim, antes de encerrarmos a entrevista, a gente queria saber se, na sua opinião, faltou abordarmos algum assunto que você considere relevante.
Dra. Denise De Carvalho: Não, acho que não faltou nada.
É importante as pessoas terem em mente que há muito que elas podem fazer por si próprias.
Que elas não estão à mercê de um vírus (este ou qualquer outro) com característica de se espalhar rapidamente pelo ar — como é o caso do vírus da Sars-CoV-2.
E que elas podem ficar um pouco mais tranquilas.
A minha missão é justamente essa: dar poder para as pessoas comuns. Para que elas consigam tomar a própria saúde em suas mãos.”
Acompanhe O Trabalho Da Dra. Denise De Carvalho
Roney: Perfeito, Denise. E agora a gente queria que você deixasse suas mídias sociais, seus contatos, para quem quiser acompanhar mais do seu trabalho. Com certeza vão querer, depois desta entrevista maravilhosa.
Dra. Denise De Carvalho: Ah, obrigada!
O meu Instagram é @dra.denise_decarvalho.
Eu tenho um canal no Telegram, que se chama Medicina Descomplicada.
Eu tenho um podcast também — ainda não um sucesso como o de vocês — e que se chama Medicina Descomplicada. Está nas plataformas (iTunes, Spotify).
Eu ainda atendo em consultório, embora quase não tenha mais condições de atender novos pacientes.
Também sou coordenadora de uma pós-graduação em Gastroenterologia Funcional, no instituto Plenitude Educação.
Atualmente estamos fazendo online essa pós-graduação, e vamos começar a segunda turma em março.
Então, os profissionais de saúde que acompanham vocês estão convidados a conhecer.
Roney: Vamos deixar os links para tudo isso, para o pessoal clicar e conhecer.
E muito obrigado pela sua presença, pelo seu conhecimento, pelo seu tempo.
Realmente foi uma entrevista muito boa, objetiva e completa.
Muito obrigado.
Dra. Denise De Carvalho: Eu que agradeço a oportunidade de vocês compartilharem comigo a audiência de vocês. Um abraço.
Roney: Nós que agradecemos — um abraço para você, Denise.
E também queremos agradecer a todos os Tanquinhos e Tanquinhas que nos escutaram até aqui.
Muito obrigado pela sua audiência!
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A gente se fala num próximo episódio. Um forte abraço.