Para alguém dizer que a pecuária está na Amazônia a pessoa tem que desconhecer sobre o Brasil: porque lá na Amazônia os solos não são bons.”
No nosso podcast, falamos muito sobre temas ligados à alimentação e qualidade de vida.
Nós já falamos sobre câncer, pressão alta, saúde do intestino, colesterol, como aumentar a imunidade, fisiculturismo, saúde da tireoide…
Enfim: os assuntos são inúmeros.
Mas, no episódio de hoje, vamos além da saúde do nosso corpo.
Pois trazemos a Doutora em Zootecnia Anna Flávia Araujo Fernandes para falar sobre agropecuária, criação de animais, meio ambiente… e o que o seu prato tem a ver com tudo isso.
Este episódio ficou riquíssimo — e, por vezes, vai contra o senso comum.
Mas está tudo bem: o senso comum tem esse nome porque é muito difundido — e não porque está certo.
Se estivesse correto, se chamaria “verdade”.
Então, escute o episódio completo para saber tudo sobre:
- Como é a criação dos animais que comemos no Brasil,
- Os animais sofrem na fazenda ou em sua criação?
- Por que um lacto-vegetariano pode incomodar mais a vaca do que um carnívoro,
- As diferenças na criação de porcos, galinhas, e bois,
- A verdade sobre a criação em confinamento (método usado em países de clima frio como os da Europa e os Estados Unidos),
- Comer animais destrói o meio ambiente? A verdade sobre CO2 e metano,
- A pecuária está invadindo a Amazônia? Não responda antes de ouvir esta entrevista,
- Como funciona a agropecuária regenerativa — uma possível solução para os problemas ambientais atuais,
- Qual é a dieta ideal para você — e para o mundo,
- Os hábitos saudáveis da dra. Anna Flávia,
E muito, muito mais.
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Abaixo você encontra nosso agradecimento aos apoiadores que possibilitam este projeto ser um sucesso.
E também a transcrição completa do episódio.
Para ser avisado de novos episódios, lembre-se de nos seguir no email e no canal do Telegram.
Tem episódios novos todas às segundas e sextas-feiras.
Conteúdo do post:
Obrigado Aos Apoiadores Do Podcast
Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho.
Somos Guilherme e Roney, e aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
Antes de irmos ao episódio em si, queremos agradecer aos apoiadores que tornam este projeto possível.
Apoiador #1 — Loja Online Tudo Low-Carb
Este podcast é um oferecimento da loja online Tudo Low-Carb.
A Tudo Low-Carb é uma loja que vende somente produtos que se encaixam numa dieta low-carb e cetogênica.
Lá você vai comprar de tudo, desde farinhas low-carb até adoçantes como xilitol, eritritol, e estévia.
Além de temperos e produtos naturais, feitos com comida de verdade.
Nós conhecemos pessoalmente Eliana, fundadora da loja.
E ela nos garantiu que monitora constantemente os valores para que a Tudo Low-Carb tenha os melhores preços dos adoçantes xilitol, eritritol e da farinha de amêndoas.
Então, se esse é o seu caso, se você quer comprar ingredientes para receitas low-carb, recomendamos acessar a Tudo Low-Carb — porque lá é garantido que você vai encontrar.
Apoiador #2 — Medidor de cetonas Uaiketo
Esse podcast também é um oferecimento do Uaiketo — e o que é o Uaiketo?
O Uaiketo é um aparelhinho que serve para medir o seu nível de cetose através do hálito.
A gente achou muito interessante esse aparelho porque você pode saber o seu nível de cetose sem ter que furar o seu dedo ou fazer um exame de sangue para isso.
É um aparelho realmente revolucionário no mercado — e o mais legal é que o Uaiketo é uma tecnologia 100% brasileira.
O Iago, criador deste aparelho, entrou em contato com a gente, e a gente achou super legal divulgar essa iniciativa — é por isso que hoje o Uaiketo é um dos patrocinadores aqui do podcast.
A gente recomenda que você conheça esse aparelho, se a sua intenção é saber o seu nível de corpos cetônicos. É só acessar uaiketo.com.br.
Apoiador #3 — Nossos alunos do Guia Dieta Cetogênica
Este podcast só existe graças aos alunos do nosso programa VIP Guia Dieta Cetogênica.
O Guia Dieta Cetogênica é um curso em vídeo com todas as informações, passo a passo, para você seguir uma dieta cetogênica de sucesso.
E como bônus para você que escuta os nossos podcasts, a gente colocou dentro do programa, na área de membros especiais, todos os nossos livros e manuais digitais já publicados até hoje.
Então, são centenas de receitas. Tem também o nosso livro de apoio, com 120 dúvidas sobre alimentação saudável respondidas, com prefácio do Dr. José Neto, um livro super elogiado por profissionais como o Dr. Rodrigo Bomeny, Danilo Balu e por vários e vários convidados que já passaram pelo nosso podcast.
E ainda tem tabelas, infográficos, textos explicativos, resumos em pdf, um grupo secreto no Facebook e muito, muito mais.
Então, convido você a conhecer o nosso programa Guia Dieta Cetogênica.
Transcrição Completa Do Episódio Com A Dra. Anna Flávia
Guilherme: Olá, Tanquinho. Olá, Tanquinha. Sejam muito bem-vindos e bem-vindas a mais um episódio do nosso podcast. E hoje temos como convidada a zootecnista Anna Flávia. Tudo bom com você, Anna?
Dra. Anna Flávia: Tudo bem.
Roney: Então, é um prazer ter você conosco, Anna. E vamos começar, então, te apresentando para a nossa audiência, quem é a Anna Flávia?
Dra. Anna Flávia: Primeiramente, antes de me formar, eu sou filha e neta de produtores rurais.
A minha paixão pelo campo, pelo agronegócio vem de berço, e aí eu resolvi seguir a minha carreira por influência da minha família, e principalmente do meu pai.
Daí eu me empolguei durante a faculdade e pensei, por que não seguir a carreira de pesquisadora, estudar um pouco mais, ter um pouquinho mais de trabalho na vida, a gente se empolga.
Aí eu fui pra São Paulo, fiz mestrado, fiz doutorado, voltei para Brasília, não satisfeita eu fiz pós doc.
Durante esse tempo, fui consultora, fui professora, trabalhei na granja, e esse ano de 2020, apesar do Corona ter deixado o ano meio atípico para todo mundo, mas infelizmente esse ano foi atípico para mim, porque no início do ano a gente descobriu um tumor no cérebro da minha mãe, e aí eu me mudei aqui pra casa dela, e desde então eu tô aqui cuidando dela.
Guilherme: Com certeza, um ano atípico, estimo melhoras para a sua mãe.
E você mencionou, antes de começar a gravar, que estava preparando coração bovino, e acho que é uma coisa que surpreende muito as pessoas na sociedade hoje em dia, tanto porque a carne em si tende a ser muito temida, quanto até porque, esses outros usos, além da picanha e do contrafilé, as vísceras, os órgãos, os ossos para fazer caldo de ossos, enfim, têm sido cada vez menos frequentes na nossa sociedade.
E uma das desculpas que muitas pessoas falam é que não é para a gente, realmente, usar os coitados dos boizinhos para o nosso bel prazer.
Afinal de contas, eles sofrem tanto e não deviam passar por todo esse sofrimento, era melhor se todo mundo parasse de comer e de usar produtos vindos dos animais.
Então, eu acho que a gente pode começar endereçando esse ponto do sofrimento dos animais, como que é a vida dos animais, especialmente os bovinos, aqui no Brasil; como que eles têm esse sofrimento todo que a gente vê, às vezes, na Netflix, ou naquelas propagandas emocionadas que a gente vê por aí; como funciona isso?
Os Animais Da Pecuária Sofrem?
Dra. Anna Flávia: É pura balela isso daí.
Os bovinos, os ruminantes, na verdade, no Brasil, eles vivem vida livre, porque a nossa pecuária base é a pasto.
Só 18% de todo o nosso rebanho que é mandado pro abate, apenas 18% dos animais tiveram os últimos 90 ou 120 dias em sistema de confinamento, ou seja, a gente tem uma grande maioria aí dos animais brasileiros que passam 100% da vida deles no pasto.
Então, quer dizer, eles estão no ambiente natural deles, o que tá faltando?
Por que estão chamando isso de maus tratos e falta de bem estar? E o bem estar é uma coisa relativa…
Porque você diz assim, “ah, o animal tem que estar livre de sofrimento, dor, angústia”, só que o bovino, como todo herbívoro, é um animal que é predado, então que que acontece, mesmo em ambiente livre, na natureza, que é o pasto, ele tem sentimento de angústia, porque ele tá o tempo todo alerta.
No Brasil, por exemplo, no Pantanal, é o lugar onde a gente tem a maior predação dos bovinos por onças, e isso já é computado, que 10% da produção de bezerros é perdida por conta de onças.
Então, a gente alimenta os animais silvestres com os bovinos. Então, o que acontece?
Em vida livre, os animais têm angústia, têm dor, eles se machucam no pasto de uma forma ou de outra.
É impossível, é igual a gente: a gente tem dias bons e dias ruins.
Os animais não são maltratados.
Bovino de corte, ao contrário de bovino de leite, os animais que são criados para fins de carne, eles vão no curral poucas vezes.
O que que eu tô querendo dizer com isso?
Porque o gado de leite vai todos os dias, ele é “incomodado” para poder ser ordenhado, as vacas que são ordenhadas vão ao curral todos os dias.
O gado de corte não, ele vai, no máximo, uma vez por mês, por quê?
Para receber uma vermifugação, uma vacinação, ou então estação de monta, quer dizer, inseminação artificial.
Então, assim, são poucos momentos durante o ano que o gado passa ali no curral, que ele é incomodado, que ele tem que sair do ambiente natural dele.
Então, essa história aí de sofrimento de gado de corte é balela.
Se Você Bebe Leite, Incomoda Mais O Gado Do Que Se Comê-lo
Guilherme: Nesse aspecto, é até interessante pensar então que quem está consumindo, por exemplo, leite, por exemplo, um lactovegetariano, acaba incomodando mais o gado em seu ciclo de vida do que a pessoa que come a carne, apenas. Seria isso?
Dra. Anna Flávia: Exatamente, sim. Não tô dizendo que o gado de leite é maltratado, entende?
Ele é muito bem tratado, só que o animal fica ali próximo ao curral, próximo à sala de ordenha, próximo à indústria leiteira, e ele tem que ser o manejo, é assim que a gente fala, a gente mexe com os animais diariamente.
O gado de corte não, ele fica muito tempo no pasto, sozinho ali sossegado.
No máximo o peão arreia o cavalo, vai dar uma volta, porque semanalmente, no máximo, isso quando não é diário, o peão tem que dar uma volta nos piquetes para ver como que está o capim, para ver se não morreu nenhum animal, e aí tem que retirar aquela carcaça; para ver se não tem nenhum problema nos bebedouros dos animais.
No pasto, a gente tem o cocho para sal proteinado, ou alguma outra suplementação que os animais recebem, então, o funcionário, o peão vai lá ver se tá faltando alguma coisa.
Então, é uma vistoria que ele faz, mas o animal não sai do ambiente natural dele.
O gado de leite não: o gado de leite todo dia sai do pasto e vai para o curral, sai do pasto e vai para o curral.
Sobre Porcos, Galinhas, E Bois
Roney: Então, em termos comparativos entre o que seria um animal vivendo em vida livre e um animal vivendo num pasto, do jeito que é feito do Brasil (não estamos entrando no mérito das fábricas bovinas dos Estados Unidos, por exemplo)…
Nesse comparativo, resumindo, a vida no pasto é mais tranquila e mais estável do que seria a vida num ambiente livre, de natureza aberta.
E, queria ouvir você sobre isso e queria também perguntar a respeito dos frangos, galinhas e dos porcos — que são acho que as outras carnes mais consumidas aqui no Brasil.
Dra. Anna Flávia: Então, há uma grande diferença, só pra fechar, sobre os ruminantes.
Com certeza a gente pode dizer que no Brasil os ruminantes são mais felizes, digamos assim, do que nos outros países, porque o nosso clima, o clima tropical favorece o animal a ficar no pasto.
É caro para o produtor confinar um animal.
Não faz sentido econômico… e quem é que quer ter mais trabalho?
Ninguém quer ter mais trabalho.
Então, o produtor não quer confinar o animal, dá mais trabalho pra ele, ele teria que investir financeiramente para construir galpões para aqueles animais ficarem confinados ali, então, o gado no Brasil é feliz, de um modo geral.
Agora, os suínos e as aves. Desde que a avicultura e a suinocultura começaram a se intensificar, e começou a ser feito de uma forma mais tecnológica, mais padronizada, mais produtiva — isso eu tô falando em vários termos.
Melhorou-se a genética dos animais, o que é isso? Selecionou-se os animais.
Por exemplo, você tem lá cem animais, nem todos aqueles vão ser os reprodutores, ou seja, vão ser pais das próximas gerações.
Só alguns que têm características que nos interessam, vão ser selecionados e vão entrar para a estação reprodutiva.
Então, o que acontece? Selecionou-se os melhores animais ao longo das gerações, melhorou-se a nutrição, por exemplo, a indústria evolui e aí consegue fabricar um suplemento que antes não era possível.
A indústria evolui e consegue fazer uma vacina, ou um medicamento que antes não existia, a gente tem várias doenças, por exemplo, na saúde humana que no Brasil estão erradicadas.
No caso dos animais também existem essas doenças que não existem mais: a peste suína, por exemplo, não existe mais aqui porque foi feito um controle sanitário muito eficiente.
Da mesma forma, o manejo dos animais.
Conheceu-se melhor as espécies, o que que cada categoria. Por exemplo, o animal que está em crescimento, o que que ele precisa, qual é o comportamento dele.
Tem animais que gostam mais de ambiente mais escurinho, outros precisam de luz para se reproduzir, como as aves.
As categorias que estão em fase de engorda — como tem que ser o galpão, as instalações?
A gente chama de enriquecimento ambiental, para os leitões, a gente coloca ali, sei lá, uns objetos que seriam para brincadeira.
Então assim, evoluiu genética, evoluiu nutrição, evoluiu a parte sanitária, evoluiu o manejo, evoluiu a forma de administrar.
Uma fazenda é uma empresa rural, não é urbana.
Você precisa calcular, ter todo aquele acompanhamento financeiro, de gerenciamento, que nem você tem numa empresa normal, na cidade, o ideal seria que o produtor também fizesse isso na fazenda dele, para ele ter lucro.
Então, assim, suínos e aves evoluíram confinados, desde o primeiro dia de vida até o último dia, a maior parte, digamos que um número mais do que 90% de suínos e aves no Brasil é confinado.
E ainda tem um detalhe, suínos e aves, diferentes dos ruminantes, a gente chama de integração.
É muito comum frango de corte e suíno, você tem empresas integradoras. Por exemplo, Sadia, Perdigão, que agora se juntaram, é a BRF, essas empresas, o produtor rural tem a terra dele, eles têm todas as condições ali.
Ele tem um galpão, ele quer criar animais, mas ele não tem condições de comprar, ele não sabe que genética comprar, ele não tem como fabricar uma ração.
Então, essa empresa integradora fornece uma genética, ou seja, ela dá o pintinho de um dia, ou o leitão para o produtor, dá assistência técnica, dá ração.
Muitas granjas fazem e fabricam a ração no próprio local, com ajuda da empresa integradora.
E qual é o papel do produtor? Simplesmente criar os animais, e aí é um contrato. Terminou aquele ciclo ali dos animais, o frango de corte, ali nos 42 dias; terminou a fase de engorda dos suínos, e aí o produtor recebe por quilo de peso vivo, aí tem todo um contrato, depende de empresa para empresa, depende que de mercado, se tá mandando, se você tá produzindo um animal que vai ser exportado, se não.
Então, o sistema de integração é muito comum em suínos e em aves.
São todos sistemas confinados, é um sistema de alta tecnologia, tem galpões de frango hoje que é tudo controlado.
O funcionário vai lá uma vez por dia, só dá uma olhada ali, uma conferida, mas é ração automática, água automática, ventilação automática, luminosidade automática.
Por exemplo, a salas de gestação de porcas, de suínos, é controlada igual um hospital, uma UTI neonatal, é uma coisa impressionante, a tecnologia de suínos e aves hoje atingiu um nível que a criação de bovinos tá muito longe de chegar.
Mas, é um animal confinado.
Aí você fala assim, ah, mas e a galinha caipirinha, ah, e o porquinho caipira.
Galinha caipira no Brasil, ainda, o último dado que eu vi, a produção é em torno de 5% do Brasil só produz ovo caipira, frango caipira, é muito pouco.
Aí a pessoa fala assim, “ah, eu tô consumindo galinha caipira porque eu compro da feira”.
Aham, a pessoa vai na feira, um cara que cria galinha no fundo do quintal dele, que não tem um planejamento sanitário, que aquela carne ali você não sabe se está em condições sanitárias para ser consumida; se aquele abate provavelmente foi ilegal, mas está lá na feira, e aí você acha lindo o fato de o cara estar falando para você que é frango caipira, entendeu?
Não tem o registro de inspeção sanitária. que eu sempre falo no meu Instagram, sempre falo para os meus seguidores, para o pessoal que me pergunta “ah, o que que é o mais importante na hora que for comprar uma carne?”
É você olhar se tem o carimbo ali do serviço de inspeção, pode ser federal, estadual ou municipal.
Agora tem o SISBI, que é para produtos de produção artesanal; tem o selo agora dos produtos artesanais, então tem uma série de carimbos nos rótulos que você consegue saber se aquele produto é um produto inspecionado, se aquela carne, aquele ovo ele foi produzido ali nas condições que não vai trazer risco para a sua saúde.
Os Animais São Criados Por Profissionais
Guilherme: Perfeito, perfeito, eu acho que você mostrou bons pontos aqui a respeito da criação dos animais, e eu ainda enfatizo que o que geralmente está mais no imaginário das pessoas é a vaquinha trancafiada, e está bem longe da realidade.
Na verdade, uma vaca criada para corte, o gado de corte é muito mais bem criado. Ele tem uma vida toda boa — e um dia muito ruim, que é o dia que ele é morto.
Enquanto na savana, na selva, onde quer que ele esteja na natureza, ele vai ter vários dias possivelmente ruins, ser atacado por predadores, pragas, parasitas, enfim, não vai ter nenhum cuidado se ele se machucar, qualquer coisa do tipo, não vai ter vacina, enfim, vai ser muito pior no geral.
E mesmo colocando em perspectiva com o gado de leite e com os outros bichinhos que são criados em confinamento, mas também não são maltratados.
Eu acho que muitas pessoas que fogem do consumo de produtos de origem animal, elas temem pelo bem estar dos animais, e você está falando aqui pra gente que eles são muito bem tratados, no caso.
Dra. Anna Flávia: São, independente, até os animais que estão em confinamento, como eu falei pra vocês, os suínos, por exemplo, têm a parte de enriquecimento ambiental do galpão, dos leitões, para que eles se sintam o melhor possível.
Claro, você pode ter sistemas semiabertos, com acesso ali a uma área externa, pode, mas é menos comum.
Mas achar que o animal sofre é desacreditar que existe uma gama de profissionais de ciências agrárias — zootecnistas, veterinários, agrônomos, tem até biólogo que às vezes trabalha no campo, enfim, engenheiro florestal também entra nessa história para poder trabalhar com sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, que é a segunda revolução agrícola que a gente tem.
Primeiro a revolução verde, e aí agora a segunda é com esse sistema de integração que é maravilhoso, além de lucrativo, o bem estar animal, nossa, é tão bom que o animal tem um rendimento muito maior do que no sistema tradicional.
Então, assim, existe uma série de profissionais, de profissões que estudam os animais, que trabalham, porque o que as pessoas não entendem é que o animal maltratado, ele não produz, o animal que tá estressado ele não come, o animal não é igual o ser humano, “ah, eu tô triste, eu vou encher, vou comprar um pote de sorvete e vou tomar todo, vou comer uma caixa de chocolate“.
O animal não pensa. O animal que está sob estresse, ele para de comer, ele fica em alerta, ele nem bebe.
Então, assim, além de não comer e perder peso, ele se desidrata porque ele não toma água, ele fica em alerta o tempo todo.
Então, o bem estar animal é interessante para o produtor, para os técnicos.
É interessante porque o animal tem um desempenho muito melhor quando ele está super tranquilo.
A Verdade Sobre A Criação Em Confinamento
Roney: Perfeito, perfeito, Anna.
Eu acho que, talvez, as pessoas desconheçam essa questão de que no Brasil a maior dos ruminantes, como você estava falando, são criados soltos.
Em comparação com outros países, como a gente citou aqui, os Estados Unidos, onde a maior parte é criada em confinamento, em condições talvez não tão boas.
Então, você poderia comentar um pouco sobre como é essa criação em confinamento?
Dra. Anna Flávia: Você fala de ruminantes ou de monogástricos?
Roney: De ruminantes.
Dra. Anna Flávia: É o seguinte: os países de clima temperado, Estados Unidos, todo mundo que está pra cima, para o Norte, Europa, Estados Unidos, Canadá, esse pessoal passa seis meses do ano de agricultura ruim.
Do que que a planta precisa para poder crescer — e por que que eu tô falando da planta? porque os animais comem plantas.
O bovino é um herbívoro, a galinha é onívora, o porco é onívoro, então a base da alimentação deles é a planta.
Então o que acontece?
No período de inverno, mesmo que você não tenha neve, as plantas param de crescer, e os períodos que tem neve nesses países, simplesmente não existe planta, entende?
A planta meio que morre, não tem praga agrícola, eles têm muito menos problemas com pragas agrícolas do que nós.
Quando eu digo praga eu tô envolvendo não só pragas nas plantas, mas também falando de parasitas dos animais.
Então, assim, eles, pelo fato de o clima ser menos propício à criação de insetos, por exemplo, eles têm menor necessidade de colocar agrotóxico nas plantas, menor necessidade de certos medicamentos nos animais, por exemplo, carrapato, praticamente não tem carrapato nesses lugares, porque o carrapato ele quer um ambiente úmido e quente, que é o que a gente tem.
Então, assim, eles precisam ter instalações, galpões que comportem esses animais durante esse período de inverno, durante esse período frio e aí eles têm estratégias.
Por exemplo, eles fazem a silagem, que é um capim fermentado, ou eles fazem o feno, que é o capim desidratado.
Então, eles fazem essas conservações de plantas forrageiras para ter no inverno, nesses períodos que os animais ficam confinados.
Só que tem gente que confina o animal durante um período ali, e aí já manda para o abate direto.
O animal acaba nem, dependendo lógico da espécie, do mercado que vai se vender aquele produto, o animal nem chega a ir ao pasto, no caso dos Estados Unidos e Europa, né, diferente do Brasil, que nasce no pasto.
Guilherme: É verdade, aqui no Brasil uma simples viagem de carro — a gente é de São Paulo, tanto o Roney quanto eu — para o interior de São Paulo, ou para Minas Gerais, por exemplo. Você vai andando de carro pelas estradas e você vai vendo aquele monte de boizinho naqueles pastos enormes.
Às vezes tem uns lugares que não parece que daria muito mais coisa além da grama que já tá lá, então é interessante a gente observar como a ocupação é baixa, relativamente, né.
Você não tem aquele monte de bois amontoados, assim, você tem pastos e pastos e pastos, e uns bois de maneira até que esparsa, pelo que parece ao nosso olho.
Dra. Anna Flávia: Sim, aí, assim, eu acho que surgiu esse mito de que os animais no Brasil também são confinados porque quem espalhou esse mito é gente que não faz o que você faz, que é viajar de carro: é gente que só viaja de avião.
Qualquer pessoa que viajar de carro, qualquer lugar do Brasil, qualquer estrada que você vá, você vê pelo menos uma fazenda com gado.
Precisa desconhecer demais do próprio país para falar um negócio desse.
Guilherme: Com certeza. E você viajando de carro, por exemplo, em Portugal, você não vê tantos bois soltos, mas você vê outros bichos, como ovinos: você vê ovelha, cabra, você vê outros bichinhos que estão ali compondo o que o país come, o que faz parte da cultura e da população local.
Dra. Anna Flávia: Uhum. Uma vez eu cruzei a Alemanha, de Berlim até Frankfurt, e eu vi uma fazenda só com gado.
Eu fiquei impressionada, eu falei, gente, cadê os bichos desse país pelo amor de deus, não tem. Aqui é o que você mais vê.
Comer Animais Destrói O Meio Ambiente?
Guilherme: Verdade. Então, Anna, você mencionou justamente as pessoas que viajam de avião e não viajam de carro, e uma coisa que a gente sabe é que viajar de avião faz é emitir um monte de CO2, tem aquela questão toda do meio ambiente…
E esse é outro dos argumentos que as pessoas muitas vezes falam contra o consumo de animais, que seria muito mais danoso contra o nosso meio ambiente consumir animais porque a gente cria animais para consumi-los, e isso esgota a água dos oceanos, e isso enfim, polui a nossa atmosfera, cria o efeito estufa.
Eu queria ouvir você falar um pouquinho sobre isso, por favor.
Dra. Anna Flávia: Sobre os gases.
Bom, CO2 é um gás da vida, se não tiver CO2, não tem crescimento de plantas. Então, a pessoa que é contra a produção animal, se ela for ser contra o bovino por conta de aumento de CO2, ela está indo contra o que ela come.
Porque a planta precisa mais de CO2 do que o gado, o gado não precisa, a gente respira O2, não CO2.
Então, é o alimento deles que precisa de CO.
É muito estranho, é como eu falei, é desconhecimento demais, é muito mito por um desconhecimento. E você queria que eu falasse sobre a questão do metano, por exemplo?
Guilherme: Acho que isso é interessante sim.
Dra. Anna Flávia: Tá, então, o metano, eu também, no Instagram, já fiz alguns posts falando sobre isso.
Como que o metano é produzido? É a partir de fermentação de matéria orgânica.
Os pântanos, no mundo inteiro, qualquer lugar do mundo que tiver pântano, é onde mais tem a produção de metano.
Outro lugar que também tem muita produção de metano é o esgoto.
Tem muito mais produção de metano numa cidade, num esgoto em decomposição, a matéria orgânica em decomposição do que o gado.
E outra coisa, o metano do gado, ele pode ser manejado.
Não é pum, para início de conversa, é arroto em um processo que a gente chama de eructação.
Se o gado come um capim muito passado, o capim tá seco demais, por exemplo, na época seca, aqui no Centro Oeste a gente tem ali os períodos de agosto e setembro, o pasto está extremamente esturricado, você que o pasto fica até amarelo.
Aquele pasto ruim ele acidifica o rúmen, então o mecanismo que o rúmen tem, que o animal tem para neutralizar essa acidificação, para retirar esse H+ que tá sendo produzido em excesso, sai na forma de metano, junta com outros elementos químicos e sai na forma de metano no arroto. Por quê?
Porque o gado ele consome o alimento, mastiga, vai pro rúmen.
Aí esse alimento dá uma revolvida lá, volta para a boca para ser remastigado, misturado com a saliva, que tem bicarbonato, que vai controlar esse pH, e aí engole de novo.
Então, nesse processo do alimento ir e voltar, saem os gases para neutralizar essa acidez.
Então, se você fornece um capim bom, ou se na época seca do ano você fornece, como eu falei pra você, a silagem ou o feno ou alimento, ali, concentrado, que tenha um aporte proteico maior, um alimento melhor, de melhor digestibilidade do que só o capim seco, você tá propiciando uma produção menor de metano.
E se a gente for comparar, é como eu falei, os pântanos e os esgotos da cidade produzem mais metano do que o gado.
Você Está Produzindo Metano
Guilherme: Eu acho que isso que você falou de comparar com outros ambientes é bem interessante, inclusive porque a gente tem que comparar a alternativa que temos, como seres humanos, de comer carne com a alternativa, que seria a gente se abster totalmente disso.
E a verdade é que tanto a pecuária quanto a agricultura vão ter um impacto no ambiente, não é mesmo?
Não é que se você deixar de comer carne, enfim, comer apenas os frutos, os produtos da agricultura, não vai ter impacto nenhum, isso também tem um impacto ambiental, não é isso?
Dra. Anna Flávia: Sim. E também tem um outro detalhe, tem um trabalho, eu tô aqui tentando achar ele aqui para falar o nome do autor para vocês, é um trabalho que, na verdade, ele é uma revisão de literatura, ele foi publicado numa revista muito boa, acho que ele é de 2015, se não me engano.
E ele mostra que todos os animais, na verdade, os eucariotos, não só os animais, os eucariotos, aí incluindo fungos, plantas, ou seja, os eucariotos que estão sob estresse, o estresse oxidativo das células, ele causa a produção de metano.
Nós produzimos metano sob estresse, então, se você tem uma má alimentação, se você não faz uma atividade física, se você expõe o seu corpo ao estresse diariamente, não cuida do estresse, você vive estressado, dorme mal, você está propiciando o seu corpo a produzir metano.
A Verdade Sobre A Pecuária E O Desmatamento
Roney: Perfeito, Anna. E, eu acho que uma outra alegação, assim, contra a pecuária seria a de possíveis desmatamentos que acontecem por conta da pecuária, para você abrir espaço para o gado, e bom, eu queria saber a sua opinião sobre isso, se isso realmente acontece, e a comparação, também, com a outra opção, que seria não consumir o gado, mas aí teria que consumir outros tipos de alimentos.
Dra. Anna Flávia: Então, na verdade, o que que aconteceu, vamos voltar lá para a história do Brasil e lembrar.
Desde o descobrimento do Brasil, as florestas começaram a ser desmatadas, a Mata Atlântica foi a primeira, e hoje ela é das que estão mais em estado crítico, porque está no litoral do Brasil, ela segue do Sudeste até o Nordeste, pega um pouquinho do Sul também, essa é Mata Atlântica.
Então, o que acontece? A cana de açúcar, inicialmente, depois o café, foram as culturas responsáveis pelo desmatamento.
E à medida que o desenvolvimento do Brasil foi avançando do litoral para o interior do Brasil, a agricultura foi desmatando.
Só que teve períodos em que a agricultura… a agricultura e a pecuária elas sempre têm uma oscilação, tem períodos que são mais lucrativos do que outros,, em função de vários fatores.
Então, nesses períodos em que a agricultura esteve ruim, que o mercado de grãos estava ruim, o produtor optava por colocar um animal ali no espaço.
O espaço ali que ele colheu, por exemplo, a lavoura.
Ele fez a lavoura ali, colheu os grãos e em vez daquela área ficar desocupada sem nada, colocava o gado ali e depois voltava com a lavoura.
Então, assim, quem desmatou foi a agricultura, o gado só entra depois que a agricultura não tem mais o que fazer ali naquela área.
E dizer que a pecuária está na Amazônia, novamente, é desconhecer sobre o Brasil, porque lá na Amazônia os solos não são bons.
A gente faz pecuária onde tem a possibilidade do produtor comprar um suplemento para o animal, comprar a vacina, tem que ter disponibilidade de recursos.
A fazenda não pode ser no meio do nada, longe de absolutamente tudo, porque se a fazenda for longe de tudo, eu vou mandar o meu animal para o abate, aí ele tem que andar 800 km, 900 km para ir a um frigorífico, ele vai chegar num frigorífico mal.
A gente quer reduzir o distanciamento entre a fazenda e o frigorífico.
Então o que que acontece, lá na região Norte, com exceção da região Sul, ali, do Pará, que tem uma pecuária muito forte e é ambiente amazônico, o restante da região Norte você não tem essa pecuária tão forte assim, porque não tem recurso.
Então, é muito desconhecimento. Então, assim, você vai deixar de tomar café porque eu acabei de te contar que o café foi um dos responsáveis pelo desmatamento da Mata Atlântica?
Eu não vou deixar de tomar café, entendeu?
Mas é uma história do Brasil, faz parte.
Aí agora eu vou deixar de comer carne?
E, assim, sobre o desmatamento hoje, nós temos estatística. É só entrar no site do Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Há um comércio ilegal de madeiras muito grande. O Brasil tem dificuldade, porque o Brasil é muito grande, então o Governo, nosso Governo já não é lá essa coca cola, a nossa política já não funciona muito bem, aí a gente tem dificuldade, dado o tamanho do país, de controlar esses desmatamentos, esse comércio ilegal de madeira. Aí derruba para comércio ilegal.
Aí depois aquela área fica ali sem ter o que fazer, aí por um acaso alguém vai, compra aquela área ali e começa a criar um gado, aí a culpa é de quem? A culpa é do gado.
Não, a culpa não é do gado, aquela área ficou devastada; aquela área foi, anteriormente, acabada por conta de um comércio ilegal. O gado está ali para renovar o lugar, entendeu? E não para desmatar.
A Agropecuária Regenerativa
Guilherme: Com certeza. E quando a gente fala também desse aspecto ambiental do solo e tal, a gente tem que explorar novamente a alternativa, que seria você se abster completamente dos produtos de origem animal, também dos produtos de origem vegetal, e você simplesmente morrer, e aí você deixa a natureza tomar o seu curso… porque o ser humano, feliz ou infelizmente, para o bem ou para o mal, está nesse planeta há alguns milhões de anos, sempre alterando o ambiente ao seu redor.
E, quando a gente fala de todos esses pontos, sempre que a gente tenta atacar apenas uma das partes como causa do problema, apenas a criação de animais, por exemplo, como causa do desmatamento; como causa da morte de animais, sendo que você fazendo uma agricultura também vai matar os animais, você vai matar ali insetos, roedores, pássaros, que estão ali atacando o seu campo de trigo, arroz, soja, enfim. Tudo isso vai ter um impacto causado pelo ser humano, é impossível a gente negar que ele existe.
E, existe uma abordagem mais equilibrada para unir agricultura e pecuária de uma maneira que seja, digamos, menos agressiva ao planeta, que seja mais regenerativa? Como funciona isso?
Dra. Anna Flávia: É o que eu falei pra vocês, são os sistemas integrados.
Olha só, vamos só combater um mito aqui, que eu vejo um pessoal, nosso pessoal ali da low-carb, cetogênica, carnívora, o pessoal fala assim, “ah, lavoura mata os animais, roedores, blá blá blá”, vamos lembrar que pastagem é planta.
Para formar uma área de pastagem, o jeito que eu vou formar uma área de pastagem, o preparo do solo é a mesma coisa que o preparo de uma lavoura.
Então, eu já vi gente publicar no Instagram o vídeo do trator passando, revolvendo o solo e aí, tipo assim, tem um passarinho ali e aí a pessoa fala que a agricultura está detonando, matando os passarinhos e tal.
Ué, pra gente formar pastagem, pra gente estabelecer aquela área ali que vai ser pastagem, é a mesma coisa.
Então, se você fala mal da agricultura, nesse sentido, você também está falando mal da pecuária. A mesma coisa a história do combustível, de recursos fósseis.
Se você fala mal do trator, como é que você anda de carro?
Só que o trator é utilizado para a lavoura, e ele também é utilizado para a lavoura, e ele também é utilizado para formar área de pastagem.
O trator ele também é utilizado para, por exemplo, fazer uma área de capineira, que é uma área de um capim grande que a gente corta e fornece ali fresquinho pro gado.
O trator também é utilizado para preparar a silagem, o feno.
Então, a mecanização agrícola ela está tanto na pecuária quanto na agricultura.
A diferença é que, para uma pastagem, você pode formar um pasto ali, preparar aquela área.
Se você fizer bem formado e se você manter o seu pasto com adubações anuais, fazer um manejo de pastagem correto, o pasto pode durar até 12 ou 15 anos sem você ter que plantar novamente.
Agora, a agricultura não. Por ano, você tem até três safras, três colheitas de lavoura.
Então, o trato passa na área de lavoura muito mais do que ele passa na área de pastagem, mas, continua sendo utilizado para pecuária também.
Aí, o que acontece?
Por que eu falei dos sistemas integrados?
Antigamente, preparava-se o solo, revolvia-se o solo ali, com gradagem.
Por que que era feito esse procedimento? Isso é uma técnica que veio de países temperados, porque nos países de clima frio, depois que passa a neve, o solo fica ali todo molhado, e aí não dá para o pessoal plantar.
Então eles têm que misturar aquele gelo com o solo, dar aquela mexida ali para poder passar a semente, os fertilizantes e tal.
Aqui no Brasil não precisa disso, a gente não tem neve, a gente não tem por que fazer essa preparação do solo dessa mesma maneira.
Então, já tem um tempo já, umas duas ou três décadas que já está sendo feito o plantio direto. O que é isso?
Não se revolve mais o solo, planta-se direto.
Lógico, a mecanização mudou: os tratores antes não faziam esse plantio direto, tinham um equipamento específico. Agora a gente tem esse implemento (é assim que a gente chama) para poder fazer o plantio direto.
E aí, você pode plantar uma linha de, vamos supor, milho, e a outra linha, ao mesmo tempo, como se você tivesse fazendo dois riscos no solo, e uma outra linha de uma pastagem, no caso, a braquiária.
O milho cresce e aí ele vai sombrear a pastagem.
Esse milho pode ser pro gado, a planta inteira, não só grão, eu posso utilizar a planta inteira para poder fazer silagem, que é uma forma de armazenar alimento para períodos ruins, como a seca.
Por exemplo, o milho cresce e sombreia a pastagem.
Então, a pastagem não vai crescer tanto.
Quando a gente colher o milho, aí a pastagem tá pronta, aí ela revigora, aí ela cresce aquela beleza.
E aí depois que você colheu o milho, você bota o gado ali naquela área.
Então, assim, você pode fazer integração da pastagem com a leguminosa, e aí, agora, tem mais duas integrações: você pode colocar a lavoura junto com a pastagem, e você pode colocar floresta.
Ou você pode ter só floresta e pasto, também tem essa possibilidade, que é a integração floresta-pecuária, pecuária-floresta.
Aí, o que acontece? Essas integrações são ótimas, porque o produtor tem mais de um produto para vender, nos períodos de oscilação onde um produto que ele vende tá ruim, mas o outro pode estar bom.
No caso da integração floresta e pecuária, o capim que tá embaixo ali dos eucaliptos, por exemplo, que foram plantados, que estão fazendo sombra para o gado, que o gado tá ali numa boa na sombrinha, aquela pastagem que está ali embaixo, está mais proteica.
Ela não tá crescendo tanto quanto uma pastagem que está sob o sol, mas pelo fato de ela crescer menos, ela concentrou ali uma quantidade de proteína.
Então, o gado engorda porque o pasto tá bom, e ele engorda porque ele está num bem estar, numa sombra, no ambiente natural dele, então o futuro da agricultura, e tá cada vez crescendo mais, o futuro da nossa agricultura é a integração de agricultura com pecuária. E floresta, no caso, as florestas plantadas.
A Dieta Ideal Para Você E O Mundo
Roney: Certo, Anna, então a gente falou agora um pouco a respeito do plantio e da criação de animais e o plantio de vegetais para a alimentação, só que, agora, eu queria fazer essa pergunta um pouquinho diferente, que a gente sabe que tem o pessoal que defende uma dieta baseada, principalmente, ou somente em carnes.
Tem o pessoal que defende uma dieta baseada, principalmente, ou somente em alimentos de origem vegetal.
E a gente aqui, durante esse podcast de hoje, mostrou que consumir carne, talvez, provavelmente não é tão ruim assim para os animais, provavelmente não é tão ruim assim para o meio ambiente.
E isso dá uma segunda visão para todo mundo.
E, agora, eu queria te perguntar a respeito desses dois tipos de abordagens alimentares — dieta carnívora e dieta vegana — e por um lado, como que você acha que seria o mais sustentável para o planeta, ainda mais sabendo que a gente tá com a nossa população crescendo cada vez mais, provavelmente vai demorar mais um pouquinho pra estabilizar, então vai crescer ainda mais, mais alguns bilhões de pessoas.
Como seria possível manter todo mundo bem alimentado? Daria pra ser uma dieta só com carnes? Daria pra ser uma dieta só com vegetais? E como fica toda a questão ambiental, também, relacionada a isso tudo?
E, claro, talvez tenham que haver alguns sacrifícios em algumas coisas porque também não dá pra ficar comportando mais gente só com a estrutura que temos atualmente.
Dra. Anna Flávia: Bom, primeiro eu quero, não sei se essa informação vai ser… bom, ela pode ser boa para alguns e não tão boa para outros.
Esse ano eu tive a oportunidade de fazer um curso com um cara que é fantástico, ele trabalha aí há 20 ou 30 anos com comércio internacional de proteína animal, e aí ele falou que a tendência — isso é uma estatística que ele apresentou durante o curso — que a tendência é que aumente o consumo de produtos de origem animal, e não que aumente o veganismo e o vegetarianismo. Por quê? Porque a comunidade que mais cresce no mundo são os muçulmanos.
A comunidade árabe come carne, pra eles é cultural, é uma questão religiosa, a carne faz parte dos hábitos religiosos deles, então, assim, a produção animal nunca vai deixar de existir, por mais que as pessoas queiram, por mais que os veganos e os vegetarianos lutem contra.
Eles não têm como lutar contra essa tendência mundial que, antes dessa modinha, digamos assim, existiam desde sempre as culturas, os hábitos religiosos das pessoas, e isso não vai deixar de existir.
Então, esse é o primeiro ponto; o segundo ponto, eu acho assim, tanto a agricultura quanto a pecuária, a gente tem cada vez mais maior produtividade por área. O que isso quer dizer?
Numa mesma área, a gente não precisa mais hoje desmatar, nem no Brasil e nem em nenhum canto do mundo há necessidade de desmatar a floresta.
A gente tem técnicas suficientes, o Brasil tá muito avançado nisso, para poder conseguir produzir naquela mesma área uma maior quantidade de carne, uma maior produção de leite, que aí vai pra lácteos, para quem não pode consumir o leite em si, ou não quer, por algum motivo; e também a maior produtividade de vegetal, a gente não tem como produzir os animais sem produzir os vegetais.
E não tem como a gente, também, por exemplo, o pessoal da low-carb, por mais que a gente não consuma grãos, suínos e aves é a base de grãos.
Não importa se é galinha caipira, se é suíno caipira, a dieta deles é baseada em grãos, sem as lavouras a gente não produz ovo, a gente não produz carne de porco, não produz o bacon, não produz o peru de Natal.
Então, assim, a agricultura e a pecuária estão muito evoluídas e a gente tem sim técnica, área e condições para alimentar o mundo e para continuar alimentando a nossa produtividade.
Com relação à dieta das pessoas, eu acho que a gente tem que se conhecer, cada um sabe de si.
Esse ano, por exemplo, no início do ano, eu fui diagnosticada com síndrome do intestino irritável.
Eu já faço low carb desde 2015, mas o meu corpo chegou num ponto em que eu descobri que meu corpo não gosta de vegetais, eu sempre gostei muito de frutas, mas o meu corpo não tolera.
Eu não sabia, que por exemplo, eu não posso comer nuts (oleaginosas), de jeito nenhum.
Eu fazia tanto pãozinho low-carb com farinha de amêndoas, e tinha muita dor de cabeça e não sabia de onde vinha.
Então, assim, tem alimentos que são bons para algumas pessoas e não são bons para outras.
Isso não é uma receita de bolo, cada um tem que se descobrir.
Hoje eu faço a dieta carnívora, não vou dizer para vocês que eu nunca mais consumi um vegetal, eu acho que as pessoas que falam que fazem dieta carnívora, que são “ah, eu não como vegetais, eu como 100% de produto de origem animal”, isso é balela, isso é, sabe, no mínimo bobo, porque se você vai no restaurante, se você vai na casa de alguém, o tempero é o que?
O tempero é vegetal: cebola, alho, alecrim, páprica, orégano, salsinha, cebolinha, pimenta.
Eu vejo vários carnívoros mostrarem lá as suas carnes com pimenta, tudo isso é vegetal.
Então, por mais que você seja carnívoro, alguma porcentagem de vegetal você consome.
Ninguém consome churrasco todos os dias para colocar só sal na carne, entendeu?
É muito difícil. Pode ter alguém que faça isso?
Pode, mas será que 100% do tempo? É complicado, eu não consigo.
E, assim, eu no início do ano, eu achei muito bom, eu vi no site de vocês uma tabela de low FODMAPs, eu botei no meu celular, quando eu ia no supermercado, eu olhava aquela tabela porque hoje eu não posso mais consumir cebola e alho, são dois vegetais que me causam muita dor abdominal, me causam desconforto, assim, terrível.
Descobrir e retirá-los da minha vida foi a melhor coisa que eu fiz, assim como retirar as nuts da minha vida, também foi a melhor coisa que eu fiz.
Então, assim, vez ou outra bate aquela saudade, por exemplo, quem não gosta de uma batatinha; sei lá, de vez em quando eu experimento uma fruta, tudo sem sucesso, eu sempre passo mal.
Então, assim, mas dizer que a gente não consome vegetais… o vegetal é o tempero da nossa carne, pelo menos.
Guilherme: Com certeza, Anna, e achei muito legal o que você falou porque é uma abordagem muito mais sensata essa de que cada um vai experimentar e descobrir o que funciona para si.
Eu fiz alguns meses de dieta carnívora este ano, fiz um experimento de mais de três meses consumindo, basicamente, produtos de origem animal.
Mas é o que você falou, eu não me sentia mal por tomar café todos os dias, eu não me sentia mal por temperar com um pouquinho de limão, com pimenta, não fazia sentido pra mim excluir essas coisas, até porque os vegetais não me fazem mal a esse ponto.
Eu quis fazer como experimento para descobrir como era, a gente havia escrito um livro sobre dieta carnívora no começo do ano, junto com a Jade, então tava com aquilo muito na minha cabeça e quis fazer o experimento por algum tempo seguido.
Mas, depois, não senti necessidade de continuar e voltei a comer as coisas que eu comia, que tende a ser uma dieta cetogênica, então consumo coco, abacate, um chocolate 95% cacau, e essas coisas não me fazem mal, também.
Mas é muito importante levar isso pro lado individual em vez de tentar prescrever para todas as pessoas uma dieta ainda mais tão extrema quanto estritamente carnívora, ou estritamente vegetariana. Eu achei muito sensato o seu comentário.
Dra. Anna Flávia: É o que eu falei, você só consegue ser 100% carnívoro se você nunca comer fora da sua casa, e você viver de carne com sal, fora isso, desculpa, você não é carnívoro restrito, né.
Guilherme: Exato, e eu ainda tomava uma taça de vinho de vez em quando [risos].
Então, você mencionou a questão da dieta este ano, que você alterou bastante, viu melhorias. Quais são os seus outros hábitos saudáveis que você possui para viver uma vida realmente saudável?
Os Hábitos Saudáveis Da Dra. Anna Flávia
Dra. Anna Flávia: Olha, eu sempre prezei muito pelo meu sono, eu sou uma pessoa… como o meu pai é produtor, eu sempre tive contato com fazenda, e em fazenda é assim, você dorme e acorda com as galinhas, então meus pais sempre tiveram o hábito de dormir cedo, então eu durmo às dez horas da noite e seis e pouco da manhã eu estou acordando.
Então, as minhas oito horas de sono são sagradas, eu sempre dormi muito bem.
Eu tento, esse é um aspecto que eu ainda tenho que melhorar muito na minha vida, a minha parte de atividade física, eu preciso melhorar, mas eu tento me movimentar o máximo possível.
O gerenciamento do estresse é uma coisa complicada, porque esse ano pra mim foi muito difícil, a família toda se modificou por conta da doença da minha mãe, então assim, o gerenciamento de estresse você tem que estar em constante esforço, digamos assim.
Eu sempre fui uma pessoa ativa, no sentido de que sempre gostei de dançar, eu nunca gostei de fazer coisas muito paradas.
Por exemplo, o meu esposo é da área de TI, e passa o dia inteiro na frente de um computador, e eu não dou conta, sabe.
Eu gosto de coisas ao ar livre, gosto de me movimentar, não necessariamente sou rata de academia, não.
Mas, eu tento movimentar o meu corpo.
E, assim, independente da dieta carnívora, eu acho que eu tô há cinco anos com comida de verdade, sabe.
É muito importante, a comida de verdade é o que mais importa, não é se você está escolhendo uma dieta X ou Y.
Roney: Com certeza, Anna, com certeza. É muito mais importante a qualidade dos alimentos do que se é só carne, por exemplo; se todos os seus alimentos forem de boa origem, comida de verdade, como a gente falou, e não um monte de coisa processada, porque, também comer só salame talvez fosse carnívoro, só que ia ser uma porcaria, um monte de coisa adicionada, um monte de sódio que não dá pra você consumir isso 24 horas por dia.
Dra. Anna Flávia: Com certeza.
Acompanhe A Dra. Anna Flávia
Roney: E, Anna, a gente tá chegando aqui na parte final da nossa entrevista, a gente gostaria que você deixasse os seus contatos, as suas mídias sociais para o pessoal poder acompanhar mais do seu trabalho.
Dra. Anna Flávia: Meu Instagram é @dra_annaflavia.
Eu tento fazer do meu Instagram um ambiente que o pessoal possa ter um contato maior com essa parte de pecuária e meio ambiente, eu sei que tem muita gente, muitos perfis aí que falam sobre carne, sobre dieta carnívora, mas eu tento trazer mais pelo perfil ambiental, assim, da coisa, mostrar para as pessoas quais são as técnicas sustentáveis que estão sendo feitas no Brasil.
Então, o meu Instagram é liberado, é aberto para quem quiser seguir.
Eu sou integrante da equipe do Dieta Carnívora Brasil, se vocês também quiserem ir lá no perfil do Dieta Carnívora Brasil, eu escrevo vários posts para a equipe.
Tem o canal do YouTube, do Dieta Carnívora, tem o nosso site, tem meu e-mail, se alguém quiser me escrever é [email protected].
Pode me escrever, mandar as suas dúvidas.
Roney: Perfeito, então. A gente vai deixar todos esses contatos linkados na transcrição completa que está no site também, e a gente queria te agradecer, Anna. Muito obrigado pelo seu tempo, pela entrevista, pelo conhecimento maravilhoso que você compartilhou conosco hoje.
Dra. Anna Flávia: Eu que agradeço.
Roney: Muito obrigado, Anna, e muito obrigado a todo mundo que nos escutou até aqui.
Se você gosta dos nossos podcasts, então, deixa a sua avaliação positiva e siga a gente.
A gente tá por todos os players do mercado e soltamos podcasts novos todas às segundas e sextas-feiras.
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Então, a gente se fala num próximo episódio. Um forte abraço.