A Andrea Bisi é nutricionista, mora no Bahrein, e é a nossa convidada no episódio de hoje do podcast.
Juntos, vamos destruir alguns grandes mitos da nutrição.
Com a entrevista completa, você vai descobrir que muito do que já te falaram sobre alimentação, jejum, treino, fibras, câncer… era mentira.
E ainda vai descobrir como se livrar de gases, identificar alimentos que podem te fazer mal, e onde exatamente fica o exótico país chamado Bahrein.
Este é um episódio super completo, e com uma mensagem final de alto astral da Andrea também.
Por isso, recomendo que escute atentamente até o final, para saber exatamente:
- como a Andrea foi parar no Golfo Pérsico (num país chamado Bahrein)
- qual a sua história com a nutrição e a dieta low-carb,
- a verdade por trás das fibras alimentares: “quanto mais melhor?”,
- como remover as fibras pode ajudar a tratar o intestino preso,
- gases, cólica, diarreia: o curioso caso dos FODMAPs,
- alterações alimentares úteis para tratar problemas intestinais,
- como descobrir quais alimentos fazem mal a você,
- quão comum é ter sensibilidades alimentares?
- qual o pH correto do sangue — será que sua alimentação influencia nisso?
- “onde tem fumaça, tem fogo” — a história do câncer e do efeito Warburg,
- a verdade sobre os treinos em low-carb: devo esperar uma queda no desempenho?
- como fazer low-carb e jejum intermitente sem perder massa magra,
- os hábitos saudáveis da Andrea,
- o que a Andrea faz para evitar o Alzheimer, e atrair coisas boas para sua vida,
e muito, muito mais.
Tudo isso em cerca de 1h de muito conteúdo.
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A transcrição completa do episódio está disponível abaixo.
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Conteúdo do post:
Transcrição Completa Do Episódio De Podcast Com A Nutricionista Andrea Bisi
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Guilherme: Olá, tanquinho. Olá, tanquinha. Sejam bem vindos e bem vindas a mais um episódio do nosso podcast. E hoje temos conosco a nutri Andrea Bisi. Tudo bem, Andrea?
Nutricionista Andrea Bisi: Tudo bem, obrigada meninos pelo convite, adorei estar aqui, espero que seja bem produtivo.
Guilherme: Tenho certeza que vai ser. E, Andrea, antes de a gente entrar no tópico em si, conta uma coisa pra gente, de onde que você está falando no mundo agora?
Diretamente Do Golfo Pérsico: Andrea Bisi
Nutricionista Andrea Bisi: Meninos, estou morando no Bahrein, aqui é próximo de Dubai.
É um país novo, ele tem só 45 anos de existência, na verdade ele é uma ilha, é uma país muito pequeno, do tamanho de Salvador, e muito diferente, principalmente culturalmente falando é bem diferente do Brasil.
Porque aqui a maioria é de muçulmanos, eles têm a cultura deles — as mulheres andam com aquelas burcas. (Na verdade nem é esse nome, é abaya).
E os homens também têm aquelas roupas brancas, eles usam aqueles lenços quadriculados na cabeça, vermelho com branco, e é cheio de coisas diferentes. Eu to bem encantada.
Só que cheguei aqui recentemente, e logo um pouco depois — assim, um mês e pouco que eu tinha chegado — começou o lockdown, e nós estamos nesta fase.
Mas conheci um pouco da cultura, é bem legal, interessante, diferente.
Roney: Nossa, com certeza, imagino uma cultura totalmente diferente, religião, talvez clima, com certeza tá sendo uma experiência bacana.
E por que que você resolveu ir para o Bahrein?
Nutricionista Andrea Bisi: Então, recebi uma proposta aqui, eu já queria sair do Brasil e para conhecer outros países.
Eu adoro viajar, adoro conhecer outros lugares, sempre que tive a oportunidade, sempre viajei ou para algum lugar diferente da minha casa.
Adoro voltar pra casa também, mas assim, sempre gostei de viajar.
E aí, a gente tinha ideia de morar em outro país, só que a gente pesquisou vários lugares e a gente não via uma oportunidade, uma luz, de falar assim “aqui eu vou conseguir chegar e ter alguém para me ajudar, e eu trabalhar na minha área, fazer o que eu gosto”.
Sempre era um outro tipo de emprego que eu iria ter que atuar, e essas coisas assim — algumas dificuldades que a gente enfrentaria.
E aqui eu recebi uma proposta de emprego, de trabalhar como nutricionista numa academia só para ladys, só para mulheres (porque aqui é separado).
E recebi de uma conhecida minha, que é carioca, ela me convidou, disse: “vem, a oportunidade aqui é ótima, a moeda deles têm um valor muito mais alto do que o próprio dólar, e você vai estar muito bem aqui”.
A família gostou da ideia, e viemos. Vamos ver o que que vai dar.
Roney: Aquelas coisas que aparecem na vida, oportunidade bem diferente mas que vale a pena testar né, ver o que acontece. Uma experiência única, com certeza.
Nutricionista Andrea Bisi: É, eu acho que vai ser bem produtivo.
Aqui o pessoal tá precisando demais de mim, sabe. Tem muitos casos de diabetes, muita gente com diabetes, pelo menos uma pessoa em cada família tem diabetes.
É muita gente.
A História da Andrea Bisi Com A Nutrição
Roney: Caramba. E, já que a gente tocou nesse assunto da nutrição, vamos começar por onde começou a sua história.
De onde surgiu esse seu interesse por nutrição, e num segundo momento, o interesse por low-carb?
Até porque, se a gente acessar o seu perfil lá do Instagram, a gente vai ver que você se descreve como uma especialista em dieta low-carb.
Nutricionista Andrea Bisi: Vou explicar por que eu escrevo “especialista”.
Então, eu comecei a minha história com a nutrição praticando dietas, mas não eram dietas para emagrecer, eu nunca tive sobrepeso, nunca fui obesa, nem nada disso.
Comecei a treinar muito cedo na minha vida, treinando musculação.
Cedo assim: com 19 anos já estava treinando sério, e uns três anos após eu estar treinando, eu comecei a competir.
E nisso que eu comecei a competir veio o meu histórico de dietas, comecei a fazer dieta para competição e tal.
Eu fui atleta de body fitness, uma das categorias dentro do fisiculturismo.
E aí eu me interessei demais por essa área, tanto pela educação física quanto pela nutrição.
Estudei os dois, e decidi pela nutrição: tocou mais o meu coração e eu comecei a fazer a graduação.
Durante a graduação eu competia, e gostei muito porque eu aprendia mais do que as outras pessoas: porque eu praticava muito o que eu estava estudando.
E eu ainda era olhada de forma meio avessa pelos professores porque mesmo sobre eu não sabendo sobre low-carb naquela época, as minhas ideias eram diferentes porque eu não pregava aquele tanto de carboidrato, eu achava que não ideal, que o foco não era esse na dieta das pessoas, que era a proteína.
Justamente por eu ser da área da musculação, da hipertrofia, preocupada com a massa muscular.
E então meu foco na faculdade toda foi em cima da atividade física… depois disso eu me especializei na nutrição esportiva, fiz na Gama Filho lá no Rio, e depois disso eu, por acaso, me encontrei com o Dr. Souto.
Foi assim uma entrevista que eu vi de uma nutricionista falando sobre alimentação e tal, e ela falando de bacon.
Na hora que ela falou do bacon, aquilo me tocou assim, eu me assustei — porque eu era totalmente avessa à gordura.
Imagina, atleta do “batata doce com frango”, não podia nem botar azeite na panela, era na água…
E aí de repente uma nutri, que era uma colega minha, falando de bacon na televisão.
Aí ela citou o nome do Dr. Souto.
E nisso eu já fui buscar informações na Internet, caí no blog dele, e aí do blog dele eu comecei a ler.
E logo na primeira página do blog dele tinha o livro do Gary Taubes, “Por que engordamos”.
Eu vi que tinha como comprar, e já comprei, ansiosa para que chegasse.
Quando chegou, eu devorei o livro, e daí foi um livro atrás do outro.
E fui conhecendo as pessoas, assim, pela Internet, graças a Deus a gente tem essa facilidade hoje, e fui estudando mais a fundo sobre cada coisa.
Depois descobri que o Dr. Souto estava num plano, que eu fui no Tribo Forte, nas palestras e tal.
Fiz a pós graduação, a minha especialização em low-carb na pós que o Dr. Souto, junto com a Cris Sampaio, que é a coordenadora lá na Univiçosa, em Minas, que criou esse curso.
E aí eu fiz o curso, e ainda fui convidada na época para dar aula.
Eu ministrei uma aula para meia turma sobre atividade física e alimentação.
Foi muito bacana, foi muito, muito legal, e de lá pra cá eu venho atuando em cima disso.
Daí criei grupos de emagrecimento, não atuava só em consultório, eu comecei a trabalhar também de forma online, que eu conseguia atender um público maior, e ter um resultado melhor.
Foi muito legal trabalhar em grupo, eu ganhei muita experiência.
A gente aprende muito com eles, eles aprendem com a gente, mas a gente aprende demais com as pessoas, com os pacientes, é muito legal, gosto muito.
A Verdade Por Trás Das Fibras Alimentares
Guilherme: Ah, que incrível, Andrea.
E, para quem não sabe, tanto a Cris quanto o Dr. Souto, eles já vieram aqui no nosso podcast, já gravamos entrevista com todas essas pessoas, então quem tá conhecendo o podcast agora, depois pode procurar nos nossos arquivos.
E é bem louco quando acontece esse momento nas nossas vidas quando a gente descobre que pode comer bacon, que algumas das coisas que a gente mais tinha medo — como a gordura natural dos alimentos, o azeite de oliva, a gema do ovo, — não são necessariamente motivo de preocupação.
Enquanto outros nutrientes que a gente muitas vezes tem a noção de que “quanto mais melhor”, na verdade, nem sempre é assim.
Esse é o caso, muitas vezes, com as fibras.
E a gente queria ouvir um pouquinho você falar sobre isso, se elas são essenciais, se “quanto mais melhor”.
Como que isso veio a surgir? E qual que é a verdade por trás das fibras?
Nutricionista Andrea Bisi: Então, na faculdade, a gente aprende que tem que dar foco nas fibras, carboidratos são muito importantes por conta também das fibras que estão presentes neles.
E que, quanto mais a gente comer integrais, mais saudável a gente fica.
Só que a gente descobre depois que não é bem por aí.
Na verdade, as fibras nem são nutrientes.
Nutriente, que a gente sabe, é o carboidrato absorvido, a gordura absorvida a e proteína absorvida.
A fibra nem é absorvida…
Então, falando a grosso modo, seria o lixo da nossa refeição: é o que vai embora nas fezes, são coisas que o nosso corpo não aproveita.
O ser humano não tem capacidade de absorver as fibras, porque ele não tem enzimas capazes de fazer a digestão das fibras.
E o que seriam essas fibras?
Seriam as paredes celulares que dão estrutura às plantas, então estão presentes nos vegetais, principalmente nos folhosos, nas frutas, em vários tipos de verduras e leguminosas, nos cereais (como trigo e aveia)… todos eles têm fibras, desde que sejam íntegros.
Quando a gente começa a processar muito, a gente acaba retirando essas fibras também.
Mas, assim, não são essenciais para a vida humana.
O ser humano consegue viver sem fibra alguma.
Na verdade, sem carboidrato algum, tanto que nas recomendações dietéticas de ingestão de alimentos — de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras e carboidratos — tem uma página lá (eu não tenho agora o número), falando que a necessidade de ingestão de carboidrato pelo ser humano é zero.
Mas o carboidrato não é importante?
É, super importante!
Ele é tão importante que a gente produz: o nosso corpo, através da gliconeogênese, que é um processo que ocorre no nosso fígado, através de outros substratos, produz glicose, que é um carboidrato.
Então, é essencial para o ser humano, mas não é essencial a ingestão, entende?
E aí as fibras têm essa falácia, de que seriam importantes.
Por que que veio essa história de que fibra é importante?
Porque, antigamente,todo mundo comia comida “integral” né, comida de verdade, com o mínimo processamento possível — o que plantava, o que colhia, de forma mais bruta.
Quando a gente começou com o processo de refinamento, que a gente foi tirando as fibras das coisas e comendo aquela amido puro, a nossa ingestão de carboidratos aumentou demais.
E a gente começou a comparar que pessoas que comiam daquela forma antiga, com mais alimentos íntegros, menos refinados, elas tinham uma saúde melhor e menos desfechos de doenças, e mortes através dessas doenças, do que o pessoal que tava consumindo os refinados.
Então concluímos que “comer fibras é importante”.
Lógico, comparando esses dois grupos, sim, entende?
Que é um pessoal que tá comendo uma coisa que nem é interessante: já não tinha muita nutrição, né, e piorou ao retirar as fibras.
Porque, se você foca muito a dieta só em carboidratos, a parte mais densa em nutriente, que seriam as fontes animais, elas ficam reduzidas.
E aí essa proporção não fica interessante em termos de densidade nutricional, para adequação de uma alimentação saudável.
E acaba que a dieta fica pobre em nutrientes, se você foca em carboidratos demais.
Então comparando duas dietas com muitos carboidratos, que já não são tão interessantes, em termos de densidade nutricional, a que tem menos fibras é lógico que vai ter um desfecho pior.
Então por isso que é tão pregado que a fibra é importante.
Uma coisa é essa, outra é porque eles têm aquela história de que se você comer mais fibras, as fibras elas podem englobar e levar embora, através das fezes, diminuir a absorção do colesterol, que seria uma coisa ruim para o nosso organismo e tal.
Aquela história do colesterol que a gente sabe, que tem um monte de viés e que a gente precisa diminuir o colesterol da dieta.
Consegue diminuir o colesterol da dieta com o consumo de fibras?
Sim, mas diminuir o colesterol da dieta é o que menos importa.
A gente já sabe através de várias pesquisas que esse não é o principal, que você tem que olhar todo uma gama de parâmetros na saúde do indivíduo, para você falar se aquele colesterol está ou não influenciando negativamente no desfecho de doença, ou de piorar a qualidade de vida dessa pessoa.
A gente sabe já que colesterol LDL não é totalmente ruim, que tem padrão A, padrão B.
Então, diminuir o colesterol não vai melhorar desfecho, a gente já sabe disso.
E, outra história é que diminuiria a velocidade de absorção dos carboidratos que estão juntos.
Lógico, se você comer açúcar, farinha pura, farinha branca, e uma farinha com um pouco de farelo, lógico que vai diminuir a absorção, comparando uma com a outra.
Um vai dar mais pico de glicose e o outro um menor pico de glicose.
Mas isso continua sendo muito carboidrato, sendo ele mais lento ou mais rápido de ser absorvido.
Então, é outra coisa que não está tão vantajosa, entende?
Então, a história do colesterol, a história da velocidade de absorção, e a saciedade: “ah, é que se você comer com mais fibras vai te ajudar na saciedade”. Ok.
Mas se você comer mais proteínas, proteínas íntegras, com as gorduras presentes nela, que a gente sabe que na natureza a proteína ela não é isolada né, ela tem a gordura junto.
Se você comer a proteína, as fontes de proteínas de formas naturais, você também vai aumentar a saciedade e vai ter uma densidade nutricional muito maior, inclusive, em termos absortivos, de biodisponibilidade, e em termos de concentração.
Então, não tem porque essa fibra, entende?
As três coisas não são justificáveis, que são as desculpas para você consumir mais fibras.
Intestino Preso: Remover Fibras Pode Ajudar?
Roney: Perfeita a resposta, Andrea, achei que foi super completo, e eu queria abordar um outro lado dessa questão das fibras, fazer uma pergunta, que é que muita gente acha que “quanto mais fibra melhor”. Ainda tem essa visão, e acaba comendo muita fibra, e isso às vezes não resolve os problemas de idas ao banheiro.
Por outro lado, a gente sabe que tem pessoas que ingerem super pouca fibra, ou quase nada, como por exemplo pessoas que seguem a dieta carnívora, e o Guilherme é até um bom exemplo disso, e que não tem problemas de constipação.
Então, será que às vezes, se você tá comendo fibras em excesso, remover um pouco dessas fibras, pode ajudar?
Nutricionista Andrea Bisi: Inclusive tem uma pesquisa que saiu no World Journal of Gastroenterology, de 2012 essa pesquisa, que é “parar ou reduzir a ingestão de fibra dietética, reduz a constipação e os sintomas associados a ela.” [1]
Então, nessa pesquisa eles pegaram 63 pessoas, em mais ou menos 47 anos, que estavam fazendo, elas tinham problemas de funcionamento intestinal.
Ou elas tinham muitos sintomas de, tipo, inchaço, constipação, gases, dores abdominais, e também na frequência de idas ao banheiro.
Todas essas pessoas que foram chamadas para fazer essa pesquisa tinham problemas desse tipo.
E elas já faziam consumo de fibras, elas ingeriam fibras tanto suplementando, quanto aumentando a ingestão através da alimentação.
E aí eles pediram para essas pessoas ficarem duas semanas sem fibra alguma, e depois disso elas ficaram seis meses, continuando com a dieta, rica, com suplemento e suplementando com quantidade alta de fibra. E também um grupo de pessoas que iam reduzir essa quantidade, para botar a fibra mais baixa, e pessoas sem fibra alguma.
O grupo de pacientes que ficou sem fibra alguma, eles melhoraram: de 4 idas por semana ao banheiro, eles passaram a ir todos os dias.
O grupo que tava indo ao banheiro 3 vezes, que reduziu as fibras, que eles iam mais ou menos 3 vezes por semana, eles passaram a ir 2 vezes por semana.
E o rico em fibras, que iam uma vez por semana, eles continuaram com uma vez por semana. Então assim, não melhorou a frequência de quem continuou comendo alta fibra.
E além disso o inchaço não melhorou nesse grupo que ficou com alta fibra.
A distensão abdominal não melhorou, 100% deles continuaram com dores abdominais, desconforto, distensão, inchaço e com frequência piorada, no grupo high fibra.
O que baixou a fibra teve uma melhora no inchaço de 30%, e melhorou a frequência de idas ao banheiro, conforme falei.
A distensão abdominal melhorou em 44%, e a parte de dor abdominal ficou igual do que tava antes.
E o pessoal que ficou sem fibra? Como que esse povo saiu nessa?
Então, além de ter melhorado a frequência e estarem indo ao banheiro todos os dias, que era uma coisa que eles nem imaginavam que fosse acontecer, eles tiveram 0% de inchaço, 0% de distensão, e 0% de pessoas que continuaram com algum sintoma de funcionamento intestinal ruim.
Quer dizer, todo mundo melhorou, até pessoas que tinham às vezes sangramento ao defecar.
Você imagina isso: a pessoa tem dificuldade de ir ao banheiro às vezes, não é porque ela não tem bolo para ser formado, tá formando o bolo, só que a hora que ela vai, tá dor ao defecar.
Às vezes o volume das fezes tá muito grande e ela sangra até.
Imagina se uma pessoa dessa colocar mais fibras, você vai formar um bolo mais volumoso, você vai piorar muito mais a situação para essa pessoa.
Às vezes mais não significa que seja melhor.
Então, a maioria dessas pessoas, nessa pesquisa, teve melhora reduzindo — e, retirando então, tiveram melhoras mais significativas ainda.
E a gente vê aí hoje no mundo carnívoro, que tem um monte, a comunidade só cresce né, um monte de gente praticando a carnívora, por N motivos que a gente vai continuar conversando aqui, vocês vão entender porque que as pessoas têm preferido comer sem vegetais, é que os desfechos são excelentes, em vários setores de saúde, não só na parte intestinal, né, de bactérias intestinais também.
De dores articulares, de qualidade de sono, de disposição, de enxaqueca, de um monte de problema de saúde.
Síndrome do intestino irritável, pessoas que têm problemas, às vezes, de doenças autoimunes.
Então a gente tem melhoras aí no quadro dessa galera toda que tá fazendo uma dieta baixa em vegetais, né, ou zero vegetais.
Muito Além Das Fibras: O Curioso Caso dos FODMAPs
Guilherme: Excelente, Andrea.
E isso é uma coisa que eu verifiquei na prática, porque eu há várias semanas — acho que uns três meses ou um pouquinho mais — estou fazendo uma dieta exclusivamente carnívora, e não tive nenhum tipo de problema para ir ao banheiro.
Eu já vinha de uma dieta cetogênica, então não era uma dieta cheia de carboidratos, mas ainda ingeria vegetais numa base diária.
E aí a adaptação para a carnívora foi super, super tranquila.
Agora, tem várias pessoas que também adotam a carnívora por causa de outro componente dos vegetais que pode causar distensão abdominal, azia, cólicas e todo tipo de desconforto gastrointestinal para essas pessoas também… que é o caso dos FODMAPs.
Para quem não está familiarizado com esse grupo de nutrientes, com esse tipo de carboidratos específicos, você poderia explicar, por favor, o que são os FODMAPs, e por que eles podem fazer mal para algumas pessoas?
Nutricionista Andrea Bisi: Então, os FODMAPs é uma sigla, na verdade, em inglês, que fala de tipos de carboidratos presentes nos vegetais.
São oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis, que são fermentáveis.
Então, eles estão presentes nesses alimentos que a gente ingere, a gente mastiga, ingere, não absorve, vai para o nosso intestino, e lá a microbiota acaba fermentando.
Muitos deles irritam a nossa mucosa, muitos dessas substâncias desses carboidratos acabam proliferando um grupo de bactérias que não é tão benéfico.
Algumas bactérias que não são favoráveis para o equilíbrio da microbiota, causando disbiose.
E isso pode alterar até a parte de absorção mesmo, causar o tal do leaky gut, que é a alta permeabilidade do intestino.
Porque o nosso intestino é altamente seletivo.
Tudo que a gente ingere, desde que entra na nossa boca, passa por todo esse tubo que a gente tem, que é todo nosso trato gastrointestinal.
O alimento que ingerimos vai passando por processos para minimizar e transformá-lo nas menor partícula possível de nutrientes (macro e micro nutrientes) que vão ser digeridos em partículas pequenininhas para serem absorvidos, para ir para o nosso sangue, e aí distribuídos para nutrir o corpo, porque são essenciais para a nossa vida, e para todas as reações que ocorrem dentro do nosso organismo.
Então, como o intestino é muito seletivo, só quem deveria passar para dentro do corpo o que é importante e bom para nós.
Porém, quando essa permeabilidade, essa permissividade é alterada, ele acaba deixando, por conta dessa irritação, ou mesmo a destruição de ligações entre as células, que passem moléculas que não são tão bem-vindas, causando doenças autoimunes, ou outros problemas de infecções e inflamações no nosso organismo.
Então, sintomas muito comuns que os FODMAPs acabam ocasionando no nosso organismo, são gases, distensão abdominal, cólica, refluxo, constipação, ou até mesmo diarreia.
Às vezes ele pode, dependendo da pessoa, ou do tipo de FODMAPs presentes no que ela tá ingerindo, causar uma coisa ou outra.
Porque vai para o intestino grosso, e ali ele é fermentado pela nossa microbiota, e o produto final da digestão da microbiota é formação de gases, e esses gases acabam como muita coisa para ser fermentada e muita bactéria fermentando, então forma muitos gases.
E eles também podem atrair água, por osmose, causando a atração de líquidos, causando diarreia ou às vezes líquido até na parte da camadinha das células, causando uma distensão ali na região.
O Que Fazer Se Você Tem Esses Sintomas?
Roney: Exatamente, Andrea, e como que as pessoas podem saber se elas têm essa intolerância aos FODMAPs? Claro, além dos sintomas.
E como começar a diminuir esses sintomas?
Nutricionista Andrea Bisi: A forma mais prática que dá para a população em geral tentar fazer é se observar.
Se a pessoa tá tendo muita distensão abdominal, essas coisas…
Assim, eu acho que a coisa mais certa é a pessoa suspender tudo — passar aí, por exemplo, uma semana numa dieta carnívora.
Porque ela vai ter melhora desses sintomas, ela vai perceber que não tem nada, porque é uma dieta mais seletiva, você está selecionando somente alimentos que não têm a presença de FODMAPs.
Ou ela pode ir na lista de FODMAPs e olhar lá o que ela vem consumindo e tentar tirar tudo o que possivelmente pode estar influenciando.
Eu vou continuar essa da carnívora já.
Ela pega a tabela e olha e evita aqueles alimentos, e ela vai perceber que teve melhoras, ou ela pega, faz essa seleção, limpa a dieta, deixa ela somente sem nada de FODMAPs, nada de vegetais, nenhuma fibra nem nada.
E aí ela volta introduzindo um por um de cada desses alimentos durante dois ou três dias, e vai se observando para que ela perceba os sintomas, se eles estão voltando ou não.
E ela vai fazendo a exclusão: “olha eu introduzi tem três dias tal coisa, e percebi que eu comecei a ter aqueles sintomas novamente, então tal coisa eu não devo consumir”.
E aí ela vai fazendo as observações delas, todas as anotações referentes a ela mesma, e vai criando o próprio protocolo de alimentação, com essa reintrodução.
Agora, não adianta ela suspender, limpar, melhorar esse intestino e, de repente, voltar a consumir um monte de coisa ao mesmo tempo.
Porque ela não vai conseguir detectar qual das coisas que estão causando os sintomas
Porque, se ela gosta muito de vegetais e tal (já que também não é obrigatório comer vegetais), se ela quer fazer o consumo, ela precisa fazer essa seleção.
Como Descobrir Quais Alimentos Fazem Mal Para Você
Guilherme: Excelente, então uma alternativa seria eliminar, primeiro para descobrir se realmente é um problema, ou se a pessoa se sente imediatamente melhor.
(Ensinamos como fazer um diário alimentar e uma ferramenta como estas em nosso Treinamento de Refeições Low-Carb.)
E, depois, ela pode ir reintroduzindo de uma maneira até “científica”, para você não tirar tudo de uma vez e introduzir tudo de uma vez, se não você nunca vai saber quem são os verdadeiros culpados, os alimentos específicos que fazem mais mal para o seu caso, não é isso?
Nutricionista Andrea Bisi: Isso na Internet, ela pode achar se ela procurar sobre os FODMAPs, protocolos de FODMAPs, que a gente hoje acha tudo na Internet.
E aí ela vai achar lá uma tabelinha dos que têm a quantidade maior, os que têm uma quantidade média, os que são livres de FODMAPs, e aí ela vai eliminando.
Tem alguns alimentos que são bem característicos, a gente já sabe que para a maioria das pessoas, eles têm efeitos colaterais.
Como o feijão: ele é um muito falado, que tem essas formações de gases, irritação, distensão abdominal, muita gente tem problema com feijão.
Tem formas de melhorar alguns alimentos, diminuindo um pouco esses fatores, às vezes fermentando, às vezes no próprio preparo e tal, mas se a pessoa tiver com o intestino muito irritado, ela precisa dar um tempo e deixar ele se curar durante um período para ela poder, depois, reintroduzir.
Quão Prevalentes São As Intolerâncias Alimentares?
Roney: Andrea, então já que a gente abordou isso de FODMAPs, uma outra questão é se você, na sua prática clínica, percebe muitos casos de intolerâncias a FODMAPs, ou se é uma questão um pouco mais difícil de aparecer?
Nutricionista Andrea Bisi: Olha, é uma coisa bem comum. Não exatamente em específico esses alimentos do FODMAPs, porque tem os fatores antinutricionais presentes nos vegetais, e a parte de absorção reduzida.
E a pessoa que chega com sobrepeso ou obesidade, a gente sabe que não foram vegetais, que não foram saladas e essas coisas que causaram todo aquele problema que ela tem hoje, que causaram os problemas que ela tem hoje: a inflamação, o intestino dela não está legal, não tá aceitando quase nenhum alimento.
Não foram alimentos naturais que fizeram isso com essa pessoa.
A gente já sabe que o consumo de industrializados e essas coisas tem causado a obesidade, sobrepeso, diabetes, todas as doenças crônicas, um monte de problemas intestinais que as pessoas têm hoje, síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, etc.
E as pessoas precisam fazer o quê?
Elas têm que dar uma limpada na dieta, primeiro, observar se vai ter melhoras ou não.
E aí o que eu faço com os pacientes que chegam pra mim, e dizem “ah, eu não consigo comer carne”.
Tem gente que fala que não consegue digerir carne, coisa que é tão natural para o ser humano, fazer a digestão da carne.
Tem gente que fala que tem problemas com alimentos que tem uma digestibilidade muito facilitada.
Mas é porque esse organismo ele tá agredido, ele tá precisando ser curado, tratado para aí ele melhorar toda a parte de eficiência que ele tem, a parte digestiva, absortiva, nutritiva.
Então, às vezes a gente quer começar lá na frente, e a gente tem que começar do básico, primeiro.
Um paciente que chega com problemas assim, a gente primeiro limpa a dieta e observa durante um período se há melhoras, se ainda continuar com algum tipo de irritação, intolerância e gases, inchaços, problemas para ir ao banheiro, aí a começa a pesquisar mais sobre o assunto.
Ah, vamos tentar um FODMAPs, e aí a gente faz o protocolo sim.
Como Manter Seu Sangue Alcalino — Qual O pH Correto Do Sangue?
Guilherme: Excelente, Andrea, acho que ficou bem clara então essa questão dos FODMAPs.
E mais um outro assunto também que fica interessante a gente notar, é como que as pessoas alegam ter essas dificuldades de digerir alimentos naturais para a gente, como a carne.
Muitas vezes as pessoas passaram muito tempo sem comer carne, algumas pessoas testaram vegetarianismo por amor aos animais, ou alguma questão ambiental, ou alguma questão ética — ou enfim, elas muitas vezes são motivadas por questões ideológicas que acho que não tá no escopo desse episódio de hoje a gente discutir.
Agora, tem pessoas que evitam a carne, gostando da carne e, na verdade elas evitam porque elas têm medo de que a carne vai “acidificar” o sangue delas, ou alguma outra coisa assim, causar câncer ou apodrecer no intestino, alguma coisa nessa linha.
E eu queria tratar um pouquinho aqui, justamente sobre essa primeira parte, a questão de acidificar o sangue.
O que são esses alimentos ácidos, e você precisa manter o seu pH básico e não ácido, porque aí a sua imunidade aumenta.
As pessoas falam muito disso por aí. Existe algum fundamento nisso, Andrea? Qual que que é a verdade sobre isso?
Nutricionista Andrea Bisi: Então, na verdade, o nosso corpo ele tem um sistema tampão, ou seja, de equilíbrio desse pH, muito, muito refinado.
Então, se entra alguma coisa que é ácida, ele joga uma base ou um alcalino para diminuir esse pH, ou seja alguma coisa muito alcalina e faz esse equilíbrio.
Então, a gente tem esse sistema de equilíbrio do pH muito, muito refinado.
Não existe um alimento que vai fazer o sangue ficar mais alcalino ou mais ácido, ele varia de forma controlada e muito rígida entre 7.35 e 7.45.
Esse é o pH do nosso sangue, e ele não tem nada que a gente ingere que vá alterar isso.
Só se a pessoa estiver com uma insuficiência renal ou respiratória, aí ela pode ter uma mudança nesse pH.
Mas a pessoa que é normal, que não tem nenhuma dessas duas doenças, o pH no sangue dela é normal.
É esse valor de 7.35 até 7.45.
Existem alguns alimentos que eles são mais ácidos, outros alimentos que são mais alcalinos, e isso pode alterar a urina — mas não o sangue.
O corpo ele deixa que a urina ela fique mais ácida para controlar o sangue, para controlar o pH do sangue, que às vezes a pessoa consome algo mais ácido, e o próprio rim faz essa filtração, liberando mais ácido na urina e devolvendo para o sangue mais bicarbonato, para efeito tampão para que continue equilibrado o nosso sangue.
Então, você pode até consumir coisas que vão alterar o pH da sua urina, mas não do seu corpo em si, do seu sangue.
Guilherme: Esse caso me lembrou bastante mesmo a questão da glicose, que a gente falou um pouquinho lá trás: que a glicose é tão importante que nosso corpo mesmo regula isso, fabrica na forma da gliconeogênese.
E a questão do pH do sangue é tão importante que o nosso próprio corpo regula esse sistema com a solução tampão, é isso?
Nutricionista Andrea Bisi: Isso, ele tem um sistema de regulação do pH, para poder manter ele sempre no ideal, não existe em nosso corpo o sangue estar mais ácido ou mais básico, não tem isso.
A gente regula muito bem isso, de forma muito, muito refinada e controlada.
E tem alguns alimentos que têm carga ácida, que podem acidificar porque eles acabam aumentando a quantidade de ácido na urina, mas foi o que eu falei: o rim devolve esse bicarbonato mantendo o sangue.
E quais seriam esses alimentos?
Alguns grãos, às vezes são alimentos de origem animal, mas aí vai mexer só com a parte da urina, e isso não quer dizer que seja ruim.
Não quer dizer que está agredindo o teu organismo por conta disso.
De Onde Surgiu O Mito Do pH Sanguíneo
Roney: Certo, Andrea. E, por curiosidade, você tem ideia de onde surgiu esse mito do pH sanguíneo, e que até originou “a dieta do pH”, e de que ter o pH mais elevado ou mais baixo vai causar câncer, ou dar determinada doença, ou evitar determinada doença?
Nutricionista Andrea Bisi: Então, a história do câncer — eu não sei assim a origem em si — mas a história do câncer é o seguinte.
Eles descobriram que onde o tumor, onde ele é localizado, ao redor dele, todo o ambiente é ácido.
Então eles falaram que o tumor se desenvolve se estiver num ambiente ácido, então a gente não pode o nosso corpo ficar ácido.
Mas, na verdade, não é o ácido que fez com que aparecesse um tumor ali — na verdade, a pessoa já está com câncer e tem um tumor, e o tumor produz ácido.
Porque, assim, o metabolismo do câncer, da célula tumoral, ela metaboliza glicose.
Só que, mesmo na presença de oxigênio, ela faz uma glicose anaeróbia, produzindo ácido lático.
Aí essa quantidade de ácido lático produzida — porque são células que estão ali funcionando a todo vapor — elas acabam aumentando a acidez ao redor daquele tumor.
E aí que eles até chamam de efeito Warburg, que é esse das células cancerígenas: elas fazem fermentação anaeróbia, mesmo na presença de oxigênio, produzindo ácido lático.
Aí ao redor do tumor, esse ácido foi descoberto… igual o músculo, às vezes o músculo produz ácido lático.
Quem estuda a parte de fisiologia, a gente sabe disso, quem estuda na musculação, o pessoal da hipertrofia aí, adora ler sobre essas coisas.
E a gente já viu que o músculo quando está fadigando é porque está produzindo ácido lático.
Ele também produz, só que assim, por pouco tempo, e sem a presença do oxigênio.
Porque a gente sabe que a atividade da musculação é uma atividade anaeróbia, então sem a presença de oxigênio momentaneamente.
Mas, no tumor, com o oxigênio presente, ele continua produzindo ácido lático.
Ele faz a fermentação anaeróbia, e as pessoas acabam falando que é o contrário, que ele só cresceria num ambiente que tivesse ácido, esse tumor.
Mas na verdade é que o próprio câncer causa o ambiente ácido. É o contrário.
Onde Tem Fumaça, Tem Fogo. Mas Não Foi A Fumaça Que Causou O Fogo
Guilherme: Entendi. Duas coisinhas interessantes nesse aspecto.
A primeira é que é uma confusão, basicamente, do que que é fumaça e do que é fogo nessa questão.
O câncer causa o ácido lático, e a pessoa pensa, “não, o ácido lático causaria o câncer”.
É tipo a fumaça e o fogo, o fogo faz surgir a fumaça — e não que a fumaça faz surgir o fogo.
Nutricionista Andrea Bisi: Exato. E as pessoas acham que se elas tornarem o corpo um ambiente mais alcalino, não vai desenvolver tumor.
Mas nenhuma célula se desenvolve num ambiente alcalino, nem as nossas células normais, então não existe isso.
Então, a gente não cura o câncer bebendo limão e nem tomando bicarbonato.
A gente não vai conseguir controlar o pH do nosso corpo dessa forma.
E também não é que o ambiente cause o câncer, é isso.
Guilherme: Excelente. E para quem quiser se aprofundar um pouquinho mais sobre essa questão do câncer, e mesmo de como a dieta cetogênica pode ser utilizada como um tratamento adjuvante disso.
A gente fez um podcast com a Dra. Janaína Koenen só sobre isso (é o episódio 55), ela explicou inclusive em detalhes a mecânica toda do efeito Warburg e contou um pouquinho da história, também, de toda a briga política que houve naquela época.
Essa história também é relatada num livro muito bacana, que chama “Tripping Over The Truth”.
A gente vai deixar o link dele na transcrição desse episódio aqui no site, junto com um monte de outros links úteis, porque se não não dá para falar de todos esses assuntos, se a gente for descrever tudo do começo ao fim.
Nutricionista Andrea Bisi: Exato, e a Dra, Janaína é maravilhosa, né.
Ela deu aula para mim lá na pós, nossa, maravilhosa. A aula dela foi sobre isso, muito interessante.
A Verdade Sobre Treinar Em Low-Carb
Guilherme: Ela é incrível mesmo, ela já veio duas vezes aqui no nosso podcast.
E, Andrea, a gente gostou bastante do que a gente tratou até agora, porque foram assuntos bem diversos, então para manter essa toada, gente queria falar de um último assunto que também não tem a ver com esses, mas é bacana porque acredito que um fio que une todos esses assuntos: é que eles pegam alguns mitos comuns, que muita gente tem na cabeça, e viram de cabeça para baixo, revelando a verdade por trás deles.
Então, um dos outros mitos é a respeito da prática de exercício com uma alimentação low-carb.
Muita gente fala que não dá para você ter um bom rendimento nos esportes comendo pouco carboidrato.
E é bacana a gente ver a sua perspectiva nisso porque, além de todo o estudo que você tem, você também é adepta de treinar, não é?
Nutricionista Andrea Bisi: Uhum, sou.
Eu fiz 21 anos de musculação.
Dentro desses 21 eu competi durante sete anos, na área do fisiculturismo, e depois disso eu comecei o CrossFit.
Eu tenho cinco anos, e também compito no CrossFit, eu ainda compito na categoria master, porque eu já estou com 45 anos, e ainda treino todos os dias.
Inclusive agora no lockdown eu tenho treinado todos os dias, às vezes faço até duas sessões de treino porque estou sem os meus pesos pesados em casa.
E assim, gente, é altamente compatível com o ser humano fazer as atividades tanto aeróbias quanto anaeróbias em jejum ou num estado nutricional de cetose, ou com baixo carboidrato, mesmo não estando em cetose.
O nosso corpo continua produzindo glicose, formando glicogênio, a nossa recuperação é a mesma.
Já tem estudo aí falando que pós atividade, pessoas com baixo carboidrato, e pessoas com high carb, a carga de glicogênio era a mesma, pós atividade, então a gente recupera igual.
Outra que eu fiz também, que eu adoro fazer teste comigo mesma, eu fiz durante um período o uso daquele sensor de glicose.
Não tem que você põe no braço?
Que vai medindo a sua glicemia, e aí você passa… pode ser um aparelhinho que você passa no braço e ele dá a leitura, ou até um app que você coloca no seu celular e ele, você passa o celular assim no sensor e ele mede a sua glicose naquele momento.
Se você quiser medir a glicose 200 vezes num mesmo dia, você pode.
É só passar o aparelhinho ali e ele vai fazer a leitura.
Então eu observei que, durante a atividade física, quanto mais intensa ela era — porque lógico que no crossfit é muito variado, então às vezes tinha treinos que eram mais intensos do que outros — quanto mais intenso era o treinamento, mais eu produzir glicose durante a atividade.
A partir do meio do treino em diante, até o final, e pós atividade, eu continuava produzindo glicose, a minha glicemia continuava aumentando.
Ou seja, não é falta de glicose, não preciso fazer pré treino, não preciso me encher de carboidrato antes, durante nem depois do treino, porque o meu corpo tá dando conta de fazer isso, e só deixar ele ser eficiente.
Porque a gente tem algumas pesquisas aí que falam mal, mas não espera a pessoa passar pela fase de adaptação.
A gente tem que ter todo um processo adaptativo, tanto dentro das células, produção de mais mitocôndrias, produção de mais enzimas que vão fazer as conversões, que vão aumentar a produção de corpos cetônicos, que vão fazer de forma eficiente aí toda essa tramitação de nova energia, tornar-se metabolicamente flexível, que a gente fala.
E isso passa por usar gordura de forma eficiente…
Porque usar carboidrato de forma eficiente, a maioria das pessoas já faz muito fácil, que às vezes a pessoa nem consegue fazer uso da gordura de tão carb addict que ela é, de tão dependente de glicose que esse corpo é.
Às vezes umas sensações de mais fraqueza, mas não é falta de glicose, é falta de adaptação, dos processos que não são em número e em velocidade, não ocorrem de forma eficiente para que ele tenha uma boa performance.
E aí, com o tempo, quanto mais a pessoa treinar nesse estado, mais ela vai ficando eficiente e ela se torna tão eficiente quanto com carboidrato.
E, assim, eu ainda prefiro, mesmo hoje eu podendo comer ou não antes de um treinamento, podendo carbar ou não para manter-me treinando forte, eu ainda prefiro estar com menos carbo sempre, e não comer no pré treino, porque eu tenho muito mais potência.
E meus pacientes, assim, 99% deles são muito mais eficientes nos treinamentos, tanto de musculação quanto de endurance, ou as pessoas que fazem mesmo coisas como crossfit, ou canoa havaiana…
Eles se dão bem melhor hoje com baixo carboidrato e o treinamento em jejum.
Porque, assim, os outros falam muito mal do treinar em jejum, mas é que elas ficam batendo em cima de que treinar em jejum emagrece.
Não, não é treinar em jejum que emagrece.
A gente treina em jejum porque a gente é mais eficiente em jejum, e não fazendo digestão durante o treinamento, porque o corpo não quer fazer digestão naquele momento.
Ele vai interromper esse processo se você tiver com alimento no estômago, e aí dependendo da intensidade do treinamento, o seu corpo vai até querer botar isso pra fora, né.
Então precisa ter um tempo, para quem gosta de comer antes de treinar, precisa dar um tempo para essa digestão ocorrer, para que não passe o treino inteiro com aquele alimento chacoalhando no estômago, ou mesmo atrapalhando, dependendo da intensidade até pode passar mal.
Low-Carb E Jejum, Sem Perda De Massa Magra
Roney: Perfeito, Andrea. Então, mais um mito nesse episódio de tantos mitos que você destruiu aqui, que no caso é a respeito de que é possível sim você ter uma boa performance esportiva, ter uma atividade de alta intensidade, como é o CrossFit, e mesmo estando em jejum e fazendo dieta low-carb no restante do tempo.
E, além da performance, é possível até mesmo ganhar e manter a massa magra, apesar de tudo isso que as pessoas têm tanto medo, que ia causar desmaios, ia causar fraqueza, ia destruir o seu tecido muscular.
Então, já é mais um motivo para todo mundo ficar tranquilo com relação à isso.
Nutricionista Andrea Bisi: Exato.
Em relação até à perda de massa magra, foi uma das coisas que eu mais tive medo no começo quando eu falei assim, vou pular a minha primeira refeição [risos].
É porque a gente, nossa, é uma dificuldade para ganhar massa muscular, anos de construção, cada quilinho a mais de músculo foi um sufoco para eu conseguir, e de repente eu falo assim, eu vou jejuar, e aí minha massa muscular, e agora?
A gente fica com receio porque a gente lê, mas a gente tem medo, a gente tem medo.
Aí eu falei “vamos ver o que vai dar”.
E aí eu comecei a praticar o jejum e não tive perdas, nem em termos de massa muscular, nem de performance, nada disso.
Continuo no meu protocolo de jejum, eu nunca faço mais do que duas refeições ao dia — posso fazer menos do que duas, mas mais do que duas é muito raro.
Normalmente é almoço e jantar, já tentei puxar essa janela né, para fazer mais cedo, mas eu me encaixo bem nessa forma, e vou muito bem assim, não perdi massa magra.
O meu marido é enorme, pesa mais de 115 quilos, quase 120.
Ele também teve medo, deixou eu fazer primeiro, ficou ressabiado, mas não tem essa.
E meus amigos também, o pessoal que pratica CrossFit, meus conhecidos…
Às vezes as pessoas não são nem pacientes minhas, mas assim, só de me acompanhar, falam que começaram a fazer e me passam os relatos.
Não tem motivo para ter esse medo.
A gente não tem que comer o tempo inteiro para manter o pool de aminoácidos, não existe isso.
E a janela de alimentação, a janela de oportunidade, que “você tem que comer logo depois do treino”, correr para comer… não tem nada disso.
A gente sabe que essa janela ela é muito maior do que logo após o treino.
São muitas horas adiante que o corpo continua reconstruindo o que foi gasto numa sessão de treino.
Dormir bem, comer proteína de forma adequada, numa quantidade boa, proteína de boa qualidade, de alto valor biológico.
Proteínas animais numa quantidade suficiente aí para a manutenção da massa magra, ou até ganho, e treinar forte.
É isso que vai garantir que você tenha massa muscular até chegar na velhice, na idade bem avançada, bem disposto, com dignidade, igual eu ouvi uma médica falando: com dignidade.
Chegar na fase de envelhecimento com dignidade, sem precisar para ter alguém para te levar ao banheiro, para limpar você e essas coisas todas, que a gente precisa pensar no futuro também, que não é só hoje, né.
Os Hábitos Saudáveis Da Andrea
Roney: Com certeza, com certeza, a gente tem que pensar no longo prazo.
E, Andrea, já deu para perceber que você se importa com atividade física, se importa com alimentação, faz jejum…
Qual outro hábito saudável você teria que você acha relevante para a sua saúde e para esse investimento no seu futuro e na sua velhice com qualidade?
Nutricionista Andrea Bisi: Então, coisas que são importantes.
Manter o cérebro sempre trabalhando: a gente estudar, sempre tentar um idioma novo, sabe, coisas que vão te fazer pensar.
Porque tem muita gente que, depois que se forma, não quer mais saber de estudar, não quer saber de se atualizar, aí começa a ter aquela demência.
Gente, pelo amor de Deus, uma coisa que eu não quero para a minha vida é não reconhecer meu filho, não saber quem eu sou. Não quero ter Alzheimer, não ter demência, nada disso.
Então, sempre manter o cérebro bem ocupado.
Eu gosto de estudar, eu gosto de ler, eu gosto de ouvir outro idioma, de botar o meu cérebro para funcionar. Isto é uma coisa.
Outra coisa é a qualidade do sono, é dormir bem. Sono para mim é fundamental.
Ele repara dor, ele é tudo, ele mantém nosso equilíbrio.
Ter esse ciclo circadiano do sono bem equilibrado é maravilhoso.
Eu gosto de dormir cedo, de acordar cedo, essa é uma rotina ótima.
E no estresse, eu gosto, sempre que dá, eu estou fazendo uma meditação, 10 minutinhos, boto ali uma música que você acha hoje um monte de aplicativo de meditação na Internet, nos celulares, bota o aplicativo ali e todo dia um pouquinho de meditação para você diminuir o estresse, já começar o dia pensando positivamente, para você elevar a sua energia.
Cara, isso é tudo, porque energia é tudo.
Nós somos energia, nós vivemos em um planeta que é energia pura, tudo que a gente toca é energia.
Então, se a gente começar com a parte negativa, você só vai atrair isso para você.
Então, pensar positivamente é uma forma de ter saúde… olha, nós estamos em lockdown.
Ótimo, vamos aproveitar para fazer outras coisas que a gente não fazia antes, sabe, ver a parte boa das coisas.
“Ah, mas é ruim, tem gente morrendo”.
Tá bom, eu sei, mas eu vou fazer o quê?
A minha parte eu tô fazendo, eu tô ficando em casa, sabe, eu tô pedindo para a minha mãe que é idosa não sair, pedindo para a minha irmã cuidar dela que eu não tô próxima, e é isso, entende?
Assim, as pessoas ficam agarradas às vezes só na parte ruim.
Eu falo muito isso com o pessoal dos meus grupos de emagrecimento. “Ai que, nossa, é muito difícil perder os últimos quilos“.
Eu falei, mas você já perdeu quanto? “Ah, eu perdi 20”.
E eu falo assim “que maravilhoso, você tem que estar dando graças a Deus que você perdeu 20 quilos e que você não ganhou mais”.
São dois tipos de pessoas que existem, aquelas que observam uma árvore maravilhosa, cheia de folhas verdes, linda, sabe, que dá aquela sombra maravilhosa.
E a outra vai olhar para a mesma árvore e vai falar assim, “ah, dessa árvore ficam caindo folhas, sujando tudo, que saco, atrapalhando a passagem da gente”, entende?
Então, gente, tem que ser positivo, tem que olhar sempre pro lado bom.
Tudo, mesmo as coisas ruins que acontecem na nossa vida, elas são para nos trazer aprendizado, para nos fazer, às vezes, olhar para outros detalhes que a gente não tava percebendo.
Para dar valor a outras coisas, fazer a gente crescer como ser humano.
Quem não errou na vida? Que atire a primeira pedra.
Eu já errei muito, me arrependi de muita coisa, mas aprendi demais com tudo que eu passei, já sofri muito.
Então, assim, a gente precisa se tornar seres humanos melhores, e querer o bem para as pessoas faz parte da positividade.
Você ser uma pessoa negativa, que olha para o outro e só quer que ele se dane, você está atraindo isso para você também.
Então, isso também para mim é fundamental para a saúde, tanto do corpo como da mente.
Roney: Perfeito, Andrea, perfeito. A gente costuma pedir para os convidados deixarem uma mensagem final, depois que eles falam de seus hábitos saudáveis, mas eu acho que essa já foi uma ótima mensagem final para a gente encerrar o podcast. Você completar com alguma coisa?
Nutricionista Andrea Bisi: Não, eu acho que é isso mesmo.
Acho que a gente tem é que simplificar, o simples é o que dá certo, sabe?
Não ter tanta ganância com as coisas, curtir o que você tem, ser grato pelo o que você tem, pelo que você é, pelo que você está se tornando.
Sempre, lógico, tentar melhorar, mas sempre estar agradecido e vivendo o presente. É isso.
Roney: Com certeza. E, Andrea, quem ouviu a gente até agora, com certeza vai querer saber mais sobre você, acompanhar o seu trabalho, o seu dia a dia, então se você puder deixar as suas mídias sociais, os seus sites, onde você compartilha esse tipo de coisa sobre você e seu conhecimento, pode deixar agora para o pessoal.
Nutricionista Andrea Bisi: Então, o meu Instagram, o meu Facebook e o meu Twitter são todos iguais, andreabisinutri, é esse. E o meu site, o meu blog, é andreabisi.com.br.
Roney: Então, todos os links vão ficar aqui embaixo, na entrevista, para quem quiser, é só clicar.
E, Andrea, muito obrigado, muito obrigado mesmo por essa entrevista, ficou riquíssima, a gente adorou.
Nutricionista Andrea Bisi: Eu que agradeço, desculpa que no começo eu fiquei um pouco nervosa, mas foi maravilhoso, vocês são ótimos!
Adoro acompanhar vocês, e vocês estão fazendo aí coisas maravilhosas, passando essas informações preciosas, esse monte de gente que vocês já entrevistaram, com esse monte de informação valiosa, muito bom, muito bom mesmo.
Parabéns pelo trabalho.
Roney: Muito obrigado, Andrea, mais uma vez.
E também queria aproveitar para agradecer os tanquinhos e tanquinhas que nos escutaram até aqui, muito obrigado por sua audiência.
E se você gosta dos nossos episódios do nosso podcast, então se inscreva no player favorito.
A gente tá no Deezer, no Itunes, no Spotify, no Google Podcasts, enfim, todos eles, é só digitar podcast do Senhor Tanquinho que você vai nos encontrar.
A gente publica episódios novos todas as segundas e sextas-feiras, e você pode ouvir-nos gratuitamente nesses players.
O próximo episódio sai na sexta-feira.
Um forte abraço, do Senhor Tanquinho.
Referências
- Ho KS, Tan CYM, Mohd Daud MA, Seow-Choen F. Stopping or reducing dietary fiber intake reduces constipation and its associated symptoms. World J Gastroenterol 2012; 18(33): 4593-4596. https://dx.doi.org/10.3748/wjg.v18.i33.4593