Você não é uma pessoa melhor por fazer uma dieta perfeita, e nem pior por fazer uma dieta totalmente zoada.”
Nutrição é ciência ou comportamento?
Conforme você vai ver nesta entrevista, atingir uma alimentação equilibrada é uma mistura de arte e ciência.
Pois envolve tanto o ferramental biológico e evolutivo que nos moldou como espécie…
Quando o elemento humano — que faz escolhas, pensa, sente (e por vezes sofre) com a alimentação no nosso mundo moderno.
A nossa convidada de hoje, a nutri Tania Alves, navega com maestria em ambos estes mares, então sugerimos que escute atentamente a entrevista de hoje, para saber tudo sobre:
- a história da Tania: de “adolescente gordinha” a “NutriDados”,
- o que um câncer da tireoide, o iodo radioativo, e a dieta 100% carnívora ensinaram à Tania,
- que tipo de pessoas podem se beneficiar de uma dieta carnívora,
- como descobrir qual estratégia é a melhor para o seu caso específico,
- como fazer experimentos de maneira eficiente (e por quanto tempo testar as estratégias antes de desistir)
- como é a exata dieta que o Guilherme está seguindo nos últimos meses,
- qual é o papel da suplementação numa alimentação bem feita,
- quais são os melhores suplementos alimentares para o nosso mundo moderno,
- como se livrar de sintomas indesejáveis, mal estar, e dores durante a adaptação,
- jaquei, e agora? Como volta à dieta, e impedir novas jacadas,
- como se planejar para blindar a sua dieta,
- por que nunca contar às pessoa que você está de dieta,
- a verdadeira “lógica nebulosa” da alimentação,
- por que não faz sentido sofrer mesmo quando você errar ou falhar na sua dieta,
- a mensagem final da Tania para você (que ela gostaria de passar para todas as pessoas que ela conhece),
e muito, muito mais.
O episódio pode ser ouvido no player abaixo (ou no seu player de podcast favorito — Spotify, Deezer, etc).
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A transcrição completa do episódio está disponível abaixo.
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Conteúdo do post:
Transcrição Completa Do Episódio Com A Nutri Tânia Alves
Guilherme: Olá, tanquinho, seja muito bem-vindo e bem-vinda a mais um episódio do nosso podcast. E hoje a gente conta com a Tania Alves, que é nutricionista e tem uma história bem interessante com a alimentação. Tudo bem, Tania?
Tania: Olá, tudo bom, Roney? Tudo bem, Guilherme? Tanquinhos e Tanquinhas? Quero agradecer pela oportunidade de estar participando aqui com vocês!
Roney: Tudo certo, tudo bem por aqui também, Tania. Muito obrigado por sua presença.
Então, vamos começar do começo, te apresentando para quem não te conhece aqui da nossa audiência, e falando um pouquinho de onde surgiu esse interesse por nutrição e também interesse por low-carb e cetogênica.
Tania: Então, o meu nome é Tania Alves, como vocês já falaram, eu sou nutricionista e master coach, e sou especializada em nutrição clínica com enfoque em endocrinologia — entre outras coisas não tão relevantes aqui, para a área de nutrição.
Mas essas são as minhas áreas de atuação, atualmente.
E como começou o interesse por alimentação low-carb, alimentação cetogênica, como que se deu isso.
No meu primeiro ano de faculdade, no primeiro período eu já comecei a ter um contato com a alimentação low-carb através do livro The South Beach.
Este é um livro que já tem uma proposta com redução de ingestão de carboidratos, e ali eu já tive uma noção e já comecei a minha vida acadêmica como estudante de nutrição, já com essa visão, sobre essa possibilidade de uma alimentação com restrição de carboidratos.
Então, para mim foi bem interessante já viver a fase acadêmica já sob essa perspectiva.
Na época, eu não aderi aos ensinamentos da dieta de South Beach como estilo de vida: eu usava de maneira pontual, como um manual e tudo o mais.
Eu cheguei na nutrição, o meu interesse na nutrição foi muito pessoal.
Porque eu já comecei a sofrer com problemas de sobrepeso e obesidade na infância.
E isso se acentuou muito no início da adolescência.
Então o meu início de adolescência, a minha adolescência foi marcada por ler revistas de nutrição e boa forma.
Sou de uma época onde a internet ainda não era tão difundida, quando eu tinha aí os meus doze anos.
Então, esse foi o meu primeiro contato com o mundo da nutrição e eu achava muito legal ler tabela nutricional.
Eu tinha decorado todas as calorias de um produto, de meu picolé favorito, da minha bala, enfim, foi uma jornada muito interessante.
E na hora de decidir sobre qual faculdade eu iria ingressar na minha vida acadêmica, a nutrição foi uma das opções.
Não foi a opção número um, mas foi a que eu, no final das contas, decidi investir, ingressar e não me arrependo.
Como A Tania Se Tornou A NutriDados
Guilherme: Muito interessante, Tania. E, de onde vem esse nome Perfil “Nutridados”, de onde veio essa inspiração? Como surgiu esse nome?
Tania: Então, eu sempre gostei muito de escrever, sempre tive essa coisa de blog.
O meu primeiro blog foi o “Misto Quente Com Tudo Dentro”, e nesse blog, o Misto Quente com Tudo Dentro, eu escrevia sobre tudo — se eu não me engano eu lancei em 2007 ou 2008, e eu gostava muito disso.
Para mim era uma experiência: fazia parte da minha vida escrever sobre algumas coisas diversas — por isso que era “misto quente com tudo dentro”: eu escrevia de tudo.
E, quando eu me formei, em 2007, em janeiro de 2007, logo depois eu fui convidada para escrever, para concorrer a um espaço.
Então, eu tive que mandar um texto, meio que concorrendo, para ser uma das representantes do CRN4, para o site A Nutricionista.
Então, em 2007, 2008, eu comecei a escrever — e um pouquinho mais para frente eu tive que desistir disso, porque foi quando eu me mudei para a Noruega.
Para quem não sabe, eu falo da Noruega: eu resido aqui desde 2009. E ficou difícil manter.
E foi quando em 2013, aproximadamente, eu criei um espaço para eu conversar e escrever sobre nutrição.
Foi um modo que eu vi de me manter conectada com a nutrição, de uma maneira, assim, mais acadêmica, vamos dizer.
E aí… eu não sei porque eu criei esse nome “Nutridados”. [risos]
Eu queria dar dados, eram informações sobre nutrição.
Então, na época esse nome fez sentido, e em 2016, quando eu comecei a atuar e participar de grupos, grupos de WhatsApp, grupos de Facebook…
Eu vi que tinha um pouco de carência, nesse sentido, em informações mais facilitadas, uma coisa mais digerida para um público mais leigo.
E eu comecei a escrever no intuito de ajudar aos meus amigos do grupo de uma maneira mais simples, onde eu pudesse simplesmente mandar um link.
E foi quando eu reativei o blog que eu tinha criado em 2013, com o nome de Nutridados, e aí mais para frente eu profissionalizei e tudo mais, e comprei um domínio e fiz um site mais completo.
Como A Tania Se Tornou Carnívora
Roney: Continuando nessa questão das mídias sociais, a gente sabe que você também tem um perfil sobre dieta carnívora.
Da onde foi que surgiu essa ideia sobre falar sobre dieta carnívora?
O que você acha dessa abordagem? Você mesma segue esse tipo de alimentação?
Tania: Em final de 2017 e início de 2018, foi a época em que eu comecei a ficar muito doente e com um quadro de hipotiroidismo muito acentuado.
Mesmo seguindo uma alimentação cetogênica, com treino de resistência, prática regular de jejum intermitente, uma suplementação bem calculada.
E eu vi que eu tava muito mal, e eu achei que fosse por uma questão emocional, porque foi quando eu me mudei.
Eu passei um período no Brasil (eu meu marido, Fernando Ramos). e a gente voltou, tinha acabado de voltar.
Eu achava que era o fuso horário, que era emocional, porque a minha avó tinha morrido… então eu comecei a buscar outras formas, e eu me deparei com a dieta carnívora.
Eu tinha ganhado peso, muito abruptamente e foi quando eu comecei a investigar, e depois descobri que eu estava com câncer de tireoide.
Mas até então, eu fui seguindo: eu primeiro vi uma postagem só — bastou uma postagem em inglês, na época….
Até porque o nosso site foi o primeiro site de língua portuguesa, exclusivamente, para alimentação carnívora.
O nosso site é criado em parceria com a Amanda Haufer, com o Fernando Ramos, e agora, com a doutora Ana Flávia, que é zootecnista.
Então, assim, uma postagem foi o suficiente, eu falei, gente, isso faz todo o sentido, eliminar vegetais.
Aqui na Europa é, principalmente, é muito caro vegetais, e eu sempre dei preferências às fontes de proteína de origem animal.
Para mim fazia muito mais sentido do que, por exemplo, comprar um brócolis a 15 reais, eu comprar um quilo de coxinha de frango a 20.
Então, fez muito sentido para mim na época, e uma postagem me ganhou!
Eu decidi “ vou tentar isso aqui, porque o que que eu tenho a perder?”
E eu meio que me apaixonei, e foi quando eu comecei a estudar sobre o assunto, a me interessar sobre o assunto, a viver, a seguir isso, e eu tive uma melhora.
E mesmo durante todo o tratamento — para quem não sabe, no câncer de tireoide você faz a retirada da tireoide e depois você passa por um tratamento de iodo, que se chama iodoterapia, onde você segue uma dieta pobre em iodo, por um período de três semanas a quatro semanas. E aí você toma uma cápsula de iodo radioativado.
Então, durante essa dieta da iodoterapia, eu também segui uma linha carnívora, porém sem ovos, porque precisava ser algo pobre em iodo.
E eu me dei muito bem, eu tive uma resposta muito boa com a alimentação carnívora.
Em momento algum passou pela minha cabeça: “ah não, agora que eu estou com diagnóstico de câncer eu não vou mais comer carne vermelha ou vou enveredar por um outro caminho”.
Em momento algum eu tive dúvidas, eu tava muito, muito certa, tive muita clareza e confesso que isso me colocou num lugar de vantagem em relação às outras pessoas que eu acompanhei a história, a trajetória.
Mais para frente, em 2019, eu investiguei e a origem da doença em si era algo genético.
Então eu tenho um outro parente de imediato, que também teve o mesmo tipo de câncer, e na verdade, ele está no extremo oposto do carnivorismo, e mesmo assim não preveniu ele de ter isso.
Então, eu sempre tive muita certeza, e começou a fazer muito sentido para mim seguir esse tipo de alimentação.
Hoje em dia, eu ainda sigo, porém, eu como sou nutricionista e muitos protocolos novos, originais, testam muita coisa, às vezes eu tenho que testar novas possibilidades, dentro sempre do universo de comida de verdade, comida limpa, dentro do que eu tolero.
E, para mim, faz muito sentido sim, e assim, nesse tipo de alimentação eu sofro muito quando eu vou fazer algum tipo de teste — na maioria das vezes eles não funcionam muito bem.
Eu comentei num outro podcast, recente, que eu fui tentar o reino fungi.
Eu falei “ah, o reino vegetal eu não me dou muito bem, o reino animal é muito bom, eu vou tentar aqui os cogumelos”… e foi um desastre total.
Mas, agora eu sei. E, de uma maneira geral, é isso o que eu sigo na minha vida pessoal.
O meu marido também segue, mais por uma questão terapêutica, por uma questão de problemas de intolerâncias, de problemas intestinais, inflamação também.
Na época que o meu marido aderiu, ele aderiu uns 8, 9 meses depois de mim.
Ele tava já analisando a possibilidade de fazer uma cirurgia na coluna, ele tava com prolapso nas costas, onde ele tinha que tomar muitas, muitas medicações, e sofria muito.
Ele dormia e gemia de dor o tempo todo.
E, em cinco semanas de carnívora, aproximadamente — cinco, seis semanas — a inflamação dele foi toda embora e ele ficou totalmente curado.
Eu também tive os meus benefícios.
Eu acho, para mim, que é mais interessante até do que a dieta cetogênica, para mim.
Então, essa questão da individualidade, ela tem que estar presente sempre que a gente fala de nutrição.
Eu digo sempre que a nutrição é arte da individualização, então o que funciona para mim, o que funcionou para o meu marido, para minha mãe, para os meus coachees, ou para um paciente meu, não necessariamente vai ser a regra — não necessariamente vai servir para o irmão desse paciente, ou para a mãe desse paciente, ou para um amigo.
Então, não tem um tamanho que serve para todos, né. Não existe esse tamanho único em nutrição.
Para mim serve muito bem e eu vejo um resultado muito bom da carnívora com pessoas, principalmente dentro desse perfil, com dificuldades de controlar dor, questões autoimunes.
Tem muita gente que está na carnívora por uma questão simplesmente de preferência, de paladar mesmo, e não tem nenhum problema nisso.
Tem muita gente que viu na carnívora uma possibilidade de fazer uma alimentação baseada em comida de verdade, limpa, né, porque tem muita gente que acha que não pode ter uma alimentação saudável porque não gosta de vegetais, por exemplo, tem horror, tem aversão.
Tem gente, por exemplo, que tem ânsia de vômito com determinados tipos de vegetais.
Então, traz aí sim… eu vejo a dieta carnívora como mais uma alternativa na caixinha de ferramentas do profissional nutricionista.
Como Saber Qual Estratégia É Melhor Para Você
Guilherme: Excelente, Tania, caramba! Acho que você endereçou bem vários perfis que podem se beneficiar da carnívora.
No caso, eu estou seguindo essa estratégia faz uns dois meses, agora, e começou meio que por um experimento mesmo.
Eu tava curioso, já fazia uma dieta cetogênica bem rica em alimentos de origem animal e achava estranha a ideia de eliminar alguns dos alimentos que eu via como saudáveis e que nunca me fizeram mal do tipo, um brócolis aqui e ali, um morango aqui e ali…
Mas fiquei interessado em testar e estou testando.
E neste momento não me vejo voltando, porque não sinto falta desses alimentos e gosto bastante da carnívora.
Simplificou as compras e o pensar nas refeições — é muito fácil, tudo.
Mas para quem que não pode ser uma boa ideia essa estratégia?
Porque sempre que a gente ouve falar da carnívora — e a gente acaba falando, por exemplo, com você, com a Jade Soller (que a gente tem um podcast sobre a carnívora com Jade).
E eu to fazendo também, e to adorando.
Então, a gente sempre acaba ouvindo os relatos justamente de quem deu certo.
Mas pode ser que tenha pessoas que não se adaptem.
Para qual tipo de pessoa você acha que, talvez, não seja interessante?
Porque, muitas vezes, a pessoa escuta e fala “ah, ela é boa para esse e esse perfil de pessoa, mas eu não me encaixo nele. Será que eu devia testar, será que não?”
Como a pessoa — que está escutando a gente e tem curiosidade — faz para saber se é adequado a individualidade dela ou não?
Quais as linhas gerais para ela considerar?
Tania: Sim, tem alguns pontos, que são assim, vamos dizer, nortes.
Primeiramente, se você tem alguma necessidade médica, terapêutica onde a sua alimentação não pode mudar drasticamente, sem acompanhamento de um nutricionista, às vezes até de uma equipe médica.
Vou dar aqui um exemplo: você é um paciente de diabetes tipo 2, totalmente desregulado, a sua glicemia está para cima, está para baixo, está totalmente instável.
Você está nesse quadro de total instabilidade e já tentou isso e aquilo… muitas vezes já está até dentro de um quadro de consumo de insulina… enfim, está dentro de um quadro bem sensível, vamos dizer assim.
Então, para que colocar mais um estresse que é mudar radicalmente a alimentação?
Não quer dizer que você não possa nunca.
Quer dizer que, provavelmente, isso vai ter que ser feito de uma maneira mais cautelosa e mais calculada.
Pacientes onde a alimentação conta muito, que pode gerar aí mais estresse do que benefício, em um primeiro momento, não tô querendo dizer isso, não quero generalizar.
Mas, por exemplo, um paciente que está com algum problema renal, que tá muito desregulado em alguma coisa…
Ou um atleta, por exemplo, é o extremo oposto: ele tá muito reguladinho!
E também tem essa possibilidade.
Então, o que eu disse, por exemplo, no janeiro carnívoro foi, a dica que eu dei: se você quer tentar, você tá bem de saúde, tá estável, tá tranquilo, tá bem, quer tentar, até por essa questão que você falou, de ser muito prático.
Gente, é muito prática: eu desconheço algo mais prático do que a alimentação carnívora.
Por conta da praticidade e tudo mais, você escolheu tentar experimentar, eu acho legal começar por uma alimentação animal-based.
O que seria?
É uma alimentação onde você tem alguns vegetais, mas a base é de alimentos de origem animal.
E aí você faz essa transição, por exemplo, você faz uma cetogênica, aí você vai da cetogênica para uma cetogênica carnívora, uma cetogênica animal based, e aí você chega, enfim, na carnívora.
E gente, vocês não precisam demorar muito — semanas, meses — não: é uma coisa relativamente rápida, onde você vai de uma maneira mais gradativa entrar nesse estilo carnívoro sem sofrer.
Porque a maior reclamação é assim “ai, carnívora não é pra mim”; ” eu tentei carnívora uma semana e não é para mim”. Oi?
Na maioria dos casos, né, você ainda nem começou a experienciar os benefícios da alimentação carnívora.
Então, por exemplo, o Guilherme começou a fazer a alimentação carnívora, mas ele já estava adaptado num estilo mais cetogênico.
Ele fez só uma adequação de eliminar os vegetais.
Então é muito mais fácil. E você já consegue passar por essa fase de adaptação num período muito mais curto.
Se eu não me engano, eu demorei cinco ou seis dias, apenas, mas eu já estava numa alimentação muito próxima, realmente, da carnívora, quando eu comecei.
Porque eu me lembro que fez muito sentido para mim eliminar.
Eu comia vegetais em apenas uma refeição ao dia e era muito pouco, então foi muito fácil para mim migrar e já de cara sentir os efeitos, os benefícios da dieta carnívora no meu corpo, no meu estilo de vida — a tal da praticidade e tudo mais, a tal da praticidade de ir no supermercado, e de preparo.
Então, é diferente, do que você pegar alguém que saiu da carbolândia, da lixolândia.
De uma alimentação “tradicional” onde se come pão de manhã com margarina, no almoço salgadinho com feijão e arroz e lasanha, e de sobremesa pudim, e de noite tem um X tudo…
Enfim, você está ali num contexto de uma alimentação muito longe da carnívora.
E aí você sai desse extremo e se joga de cara na carnívora, provavelmente você vai ter aí um tempo de adaptação muito mais longo.
Esse tempo de adaptação varia muito de pessoa para pessoa: ele depende muito dessa individualidade biológica de cada um.
Para mim, foram 5 dias, para o Fernando em cinco semanas ele já começou a ficar muito bem (mas ele veio do contexto da lixolândia).
E aí, por exemplo, o intestino o Fernando só conseguiu regular depois de dois meses.
Então é diferente.
Claro que em algumas semanas ele já começou a ter algum benefício.
E é claro que ele tem uma nutricionista em casa, ajudou muito — principalmente na questão da reposição dos minerais, na questão da suplementação, na questão de calcular uma coisa ou outra para ele.
Ele chegou um momento que ele tava emagrecendo muito… então é diferente.
Então ele tinha uma personal diet 24 horas por dia, então é muito mais fácil. Ele não estava desassistido.
É por isso que eu não parei ele.
“Por que, Tania, você não impediu ele de se jogar já direto na carnívora?”
Porque eu tava com ele, eu tava pronta ali para dar o suporte que ele precisasse, e deu muito certo.
E eu sei que a pergunta foi para quem não é.
Então, se você tem um estilo de vida que não comporta a carnívora, é complicado.
Se você viaja muito, se você tem uma vida social que você depende de estar em alguns tipos de situações… Vamos dizer que você é um “degustador” de alguma coisa culinária.
Existem vários cenários que não vai ser tão interessante do ponto de vista social.
E também tem esse ponto de vista biológico, que é caso você tenha aí algum histórico, esteja passando por algum momento de instabilidade na sua saúde.
Por Quanto Tempo Fazer Seus Experimentos (Dieta Carnívora E Outros)
Roney: Perfeito, Tania, acho que ficou bem claro e para as pessoas entenderem, mais ou menos, quem pode tentar e quem não pode.
E, via de regra, a maioria das pessoas que são adultos saudáveis podem se dar essa liberdade de testarem, se assim quiserem.
E claro que tem de testar por um tempo relativamente bom, que como você falou: não adianta fazer dois dias e acha que não deu certo.
Tem que fazer um tempinho maior, e aí ver se adapta ou se quer voltar a inserir alguns vegetais, e nada de errado com isso.
O importante é todo mundo saber que existe essa liberdade — claro, se não tiver nenhum tipo de condição de saúde que impeça esse tipo de experimento.
Tania: É. Eu recomendo, geralmente, o mínimo do mínimo são 30 dias, de uma maneira geral.
Trinta dias, tem gente que demora até mais tempo para sentir, principalmente para quem está fazendo a carnívora com o intuito terapêutico.
Pode ser que você precise de mais tempo para colocar ordem na casa, para o seu sistema começar a responder à alimentação carnívora do jeito que você quer.
Por exemplo, quadro de doença autoimune, o que você quer, o que você busca é remissão.
E doença autoimune pode ser que leve algum tempo para você ter, realmente, um quadro de total remissão.
Não quer dizer que você não vai ter nenhum resultado positivo.
Mas pode ser que demore mais, principalmente quando a questão não é terapêutica.
Mas é isso mesmo: não tem como eu olhar para você como nutricionista, olhar para você, olhar para o seu histórico de vida, “olha, é para você, 100% garantido”.
Não tem como, só tem um jeito de saber que é tentando, e na nutrição há muito isso, tentativa e erro, e assim a gente vai ajustando e aparando as arestas.
E, com a carnívora não foge a regra — e esse ponto que você citou, que alguns escolhem colocar alguns vegetais.
Nada contra isso, desde que sejam coisas que você tolere bem, que você esteja se sentindo muito bem, em termos de saúde, performance, estética — a estética é importante, também.
Então há uma avaliação muito individual do que realmente você tem como objetivo e se isso vale a pena para você.
Tem muita divergência, inclusive, no cenário internacional do que que seria ou uma alimentação carnívora.
Então a gente tem carnívoros que não consomem nem sal, é só carne mesmo, bife, ou a gente chama de músculo, somente aquele tipo de fibra.
Tem gente que consome só bife, sal e água; tem outras linhas do focinho à cauda, que é a linha que eu mais simpatizo.
Então, assim, não existe uma polícia carnívora, não existe uma entidade carnívora, uma suprema corte carnívora que vai te dizer o seguinte.
“Olha, é errado comer cebola; é errado comer limão; é errado usar pimenta; é errado isso, é errado aquilo.”
Mas, de maneira geral, para fins terapêuticos e utilizando, também, a dieta carnívora como uma dieta de eliminação, pode ser mais interessante que você retire isso tudo, todos os vegetais e aí depois você reintroduza.
Em alguns casos, a gente tem que ser até um pouco mais radical e retirar os ovos também, dependendo se aquela pessoa ali digere bem os ovos ou não.
Então, essa é a questão, quando você está utilizando a carnívora como eliminação, realmente, talvez você tenha que seguir uma linha mais estrita para saber, realmente, o que você tolera ou não. E aí depois você reintroduz.
E se você se sente tão bem quanto, ou melhor, aí esse é o caminho.
E isso, mais uma vez, é muito individual como é a ciência da nutrição.
A Dieta Carnívora Do Guilherme
Guilherme: Com certeza, Tania. Achei muito completa a sua resposta e talvez as pessoas estejam se perguntando como que outras pessoas fazem, então vou colocar a minha experiência aqui, só para contextualizar.
Eu uso limão espremido, ocasionalmente, como tempero — acho que para mim não tem problema nenhum — e também simpatizo muito mais com a linha do focinho à cauda, como você falou.
Eu costumo comer bastantes vísceras, órgãos — e de vez em quando uma costelinha, qualquer costeleta, qualquer coisa que sobram ossos, como espinhas de peixe.
Com isso, eu faço caldo de ossos, que é algo que eu acho interessante como bebida.
E, falando em bebida, outros alimentos de origem vegetal que eu consumo são o café, diariamente, e uma taça de vinho, ocasionalmente.
E nenhuma dessas coisas me dá nenhum problema.
O que eu já reparei é que, infelizmente, se eu consumo muitos laticínios, especialmente, muito queijo — que é o que eu mais gosto — tendo a ter um pouquinho de acne, alguma coisa assim.
Mas é super pontual, e por isso eu moderei o consumo.
É interessante justamente o que você disse, que as pessoas podem experimentar e ver o que dá reação.
Então, eu adoro queijo, e ele é um alimento de origem animal, permitido na carnívora. Sempre consumo os queijos bem curados, né.
Mesmo de cabra, de ovelha, envelhecidos… e ainda assim, se eu exagero eu sei que pode ter algum efeito colateral na minha pele.
Então, é bacana esse caráter experimental, e é muito do que você falou, de as pessoas terem essa consciência e tomarem posse do processo para saber. “Ah, o queijo pode? O ovo pode?”
Mas não é questão de pode ou não pode, é questão de cada pessoa descobrir o que funciona para ela.
Tania: Ah, eu sou muito a favor disso!
E hoje em dia eu tenho uma visão mais assim “o que é interessante, e o que é desinteressante para mim”.
Porque veja bem, não quer dizer que o queijo é ruim, assim como você, Guilherme, eu também, infelizmente, não tolero laticínios mesmo, eu fico muito mal.
Então, não quer dizer que o queijo é ruim, quer dizer que ele é desinteressante para mim, para o meu contexto, para o que eu quero para mim.
Então, a gente tem que ver um pouquinho mais as coisas dentro desse contexto: é interessante?
Me aproxima de onde eu quero chegar, do meu objetivo? Ou me afasta?
Então, isso pode ser até, às vezes, mais útil do que esse conceito “ah, é permitido, é proibido?” Nem sempre.
Qual O Papel Da Suplementação Numa Alimentação Bem Feita?
Uma outra coisa que eu queria falar, eu vejo muito uma polêmica sobre a questão da suplementação, principalmente na questão da carnívora. Eu já conversei com algumas pessoas e tudo mais, e eu tenho uma opinião bem diferente, um pouco divergente até.
Muita gente diz “ah, não”, igual você falou aí, você faz a carnívora do jeito que eu defendo, tá, que é do focinho à cauda, sempre que possível inserir espinha de peixe, ossos, caldo de ossos, medula, vísceras, enfim.
Comer também também essas partes de ligamentos, tendões, tudo isso a gente ganha nutricionalmente falando.
Essa é uma maneira muito correta de se alimentar, e é muito conectada até com a questão ancestral da coisa, com a questão evolutiva e tudo mais.
Só que hoje, a gente não vive mais num ambiente ancestral, a gente não está mais no mesmo ambiente que os nossos ancestrais estão.
Então, a gente está submetido aí à luzes, então a gente tá o tempo todo… agora, por exemplo, eu estou aqui com a tela do meu computador ligada aqui de frente pra mim; tem essa luz azul que já não é tão interessante para a produção de melatonina, a um certo horário, antes de dormir e tudo mais.
Tem muitas questões ambientais onde a suplementação ela pode entrar e ser benéfica, desde que bem feita, bem calculada e personalizada, é claro.
Então, muita gente fala assim “ah, mas na carnívora eu não preciso suplementar”. Não sei, não sei em que ambiente você está.
Se você está em um ambiente sob muito estresse, onde o sono não está legal, onde você tem, talvez, uma demanda muito alta da parte física — por exemplo, você é um atleta — enfim.
Então, a suplementação ela foi vista muitos anos como uma forma de, realmente, suplementar a sua alimentação, como se fosse algo que estivesse faltando na sua alimentação.
Mas eu não vejo assim,
Eu vejo a suplementação não como uma forma de compensar uma má alimentação, mas sim de compensar o ambiente hostil moderno em que a gente vive hoje.”
A suplementação não vem para tapar buraco da sua alimentação.
Então, você não deve se alimentar contando que “ah, eu vou suplementar com isso ou com aquilo”. Realmente, eu não acho que esse seja o caminho.
Você tem que ter uma boa alimentação, ponto, que supra as suas necessidades básicas, mas pode ser que uma suplementação pontual pode ser bem vinda para contrapor aí esse estresse ambiental.
Eu vou dar aqui o meu exemplo.
Eu moro na Noruega, então para quem não sabe, aqui tem pouco sol, pouquíssimo sol, durante nove meses do ano.
E tem até uma teoria bem legal, evolutiva, que as pessoas aqui, os vikings, eles são mais claros justamente para eles poderem produzir vitamina D de uma maneira mais eficiente.
E estocar isso na gordura durante o verão, onde você engorda, você come mais, você tem mais frutas… e gente, eu estou falando de um ponto de vista mais primitivo, vamos dizer assim.
E, aí você tem pouco sol durante um bom pedaço do ano. Só que eu não sou, Viking.
Eu já tenho o cabelo escuro, os olhos escuros, a minha pele já não é tão clara assim, então eu não tenho essa possibilidade, essa facilidade.
Logo, eu tenho que suplementar a vitamina D, junto com a vitamina K para balancear essa questão ambiental.
E eu gostaria muito de trazer esse ponto porque eu vejo que têm muitos carnívoros achando que é errado suplementar.
Enfim, mas desde que você faça uma suplementação bem calculada, uma alimentação combinada com uma alimentação bem calculada, a suplementação ela não vem para substituir uma alimentação mal feita. Pode ser muito interessante.
Os Melhores Suplementos Alimentares
Roney: Certo, Tania.
E, assim, nesses casos, quais são os suplementos que geralmente podem vir a complementar uma dieta carnívora?
É claro que, como você falou, precisa de uma individualização mas, geralmente, quais seriam esses suplementos?
E, ainda continuando nesse assunto, você falou que precisa de cerca de um período de trinta dias, mais ou menos, para esta totalmente adaptada.
Durante esse período, que tipo de efeitos a pessoa pode sentir? Dores de cabeça, por exemplo, desidratação, alguma coisa desse tipo?
Tania: Então, a vitamina D ela é muito importante.
Sempre, a gente tem aula em estatística que sempre quando a gente pega uma população de aproximadamente 90%, 95% dessa população é acometida por um problema, isso passa a ser uma recomendação.
E, hoje, os números, as estatísticas voltadas para a deficiência de vitamina D no mundo já meio que chegam nesse patamar, muito preocupante. Exige exame.
Então, tem coisas que você vai precisar de um exame prévio, e a vitamina D é uma dessas coisas. Eu acho muito interessante sim, eu faço aqui o acompanhamento. Por mais que eu saiba que eu estou num país nórdico, to aqui na Escandinávia e blá blá blá, enfim, ainda sim, eu prefiro fazer o exame e acompanhar.
E quando você suplementa uma coisa, geralmente você tem que suplementar uma outra, porque as coisas não andam sozinhas, desconectas no nosso organismo.
E eu vejo muita gente que negligencia — eu estou fazendo aqui um apelo, porque hoje, inclusive, uma amiga nutricionista me mandou uma foto da vitamina D dela a 18.
É muito baixo 18, e tem pessoas que já estão com diagnóstico, vamos dizer assim, de deficiência de vitamina D, o médico passou a medicação e ela não toma, porque ela acha que se tomar um solzinho ali, de manhã, vai dar pé.
Gente, se você já está num quadro de deficiência, isso fica um pouco arriscado, tá.
Então, vitamina D, suplementar sempre que necessário, que diagnosticada uma deficiência combinada com a vitamina K2, para ter uma melhor absorção, enfim.
Eu vejo que muita gente tem benefício muito bacana, de magnésio, mas nem todo mundo precisa, mas é uma suplementação bem comum, bem barata.
Algumas pessoas que praticam atividade física gostam muito, também, da creatina.
Isso aí, gente, mais uma vez, é muito individual.
Mas tem muita coisa legal, além disso, mas de uma maneira muito simples, muito básica, minerais e vitamina D, vitamina K, que geralmente tendem aí a mudar a vida de muita gente, principalmente essas que estão num quadro de deficiência.
Eu passei por uma cirurgia aqui e eu tive uma hemorragia muito forte, e eu fiquei naquele limiar de fazer a transfusão, e eu não conseguia tomar o remédio para suplementar ferro, para fazer a suplementação de ferro.
Gente, eu simplesmente não conseguia, passava muito mal, era uma náusea muito forte, e aí eu tive que investir nas vísceras, e demorou muito tempo.
Eu não indico isso para ninguém, tá, mesmo na carnívora, demorou um certo tempo para repor isso.
Então, se você está num quadro de deficiência muito acentuada, melhore a alimentação, claro, sempre e faça uma suplementação bem pontuada.
Sintomas E Adaptação — Como Passar Por Isso Mais Rápido
Agora, o que você falou dos 30 dias, o que que as pessoas podem sentir na carnívora em termos de efeito colateral, mal estar, adaptação. Tem aquela Ketoflu, que é a gripe low-carb, gripe cetogênica, e aí você combate também com minerais, que é bem simples.
Uma prática muito comum é o uso do sal light, que é o sal com potássio.
Tem o sal com potássio 50%, 70%, pode ser muito interessante fazer o uso, juntamente com um magnésio, lembrando que pessoas com questões, com problemas cardíacos não podem tomar cloreto de magnésio. Não pelo magnésio em si, mas pelo cloreto, então eu vejo muita gente se beneficiando de uma reposição inteligente, de minerais durante a adaptação.
Principalmente nessa questão da ketoflu, na questão das câimbras, ajuda muito.
O que mais pode acontecer? Ah, o desarranjo intestinal, né.
Porque imagina que você tem uma flora intestinal onde ela tá acostumada a consumir vegetais — uma microbiota, a gente não usa mais o termo “flora intestinal”.
Uma microbiota intestinal que tá acostumada a consumir ali vegetais, tá acostumada, tá adaptada àquilo dali, por mais que seja antinutriente, enfim, tá adaptada para aquele contexto ali.
Quando você retira aquilo dali, isso tem um efeito, e esse efeito pode ser do mais diverso possível.
Pode ser desde um desarranjo voltado para a diarreia, que é o mais comum, mas também é possível ter constipação.
Então, tem muita gente que acha assim, “ah, não, o mais comum é ter diarreia, e aí quando fica um dia, dois dias sem ir ao banheiro já acha que tá constipado”.
Não, a alimentação carnívora ela tem menos resíduos, muito menos resíduos.
Então provavelmente a sua frequência de defecação ela vai reduzir, por uma questão de redução de bolo fecal por conta da redução de resíduos.
Constipação — eu vou só aqui dizer um pouquinho sobre constipação — geralmente ultrapassa três dias e você sente um desconforto, ela vem acompanhada de um desconforto, gases, ela não é simplesmente algo que é só uma questão de matemática, de números, os X dias que você não foi ao banheiro.
Ela vem acompanhada aí de uma questão de desconforto, uma questão sintomática. A diarreia ela acontece mesmo, com muita gente, eu também tive isso e passou muito rápido, para mim.
Esse eu acho que é um dos mais comuns, o efeito mais comum e acho que é o que as pessoas mais reclamam, é o da ketoflu e da questão intestinal.
É claro, gente, quando a gente muda muito radicalmente a alimentação, a gente pode sentir aí uma queda dos níveis de energia, pode sentir um pouco de insônia também, algumas pessoas sentem insônia.
Algumas pessoas sentem algumas diferenças no sono, talvez outras podem até dormir um pouco mais, então depende muito, é muito pessoal.
Mas, de maneira geral, é isso, que as pessoas… esse é o mais comum e tem gente que às vezes sente um pouco de náusea e enjoo, “ai, estou comendo a mesma coisa”.
Mas é uma questão mais mesmo comportamental, de se adaptar àquele novo contexto.
O Que Fazer Após “Jacar”?
Roney: Perfeito, Tania. E, uma dúvida que vai surgir das pessoas que ouvirem tudo isso é se, ainda mais nessa época, que a gente está gravando esse podcast agora, logo após o carnaval, e o carnaval é uma época que as podem dar uma famosa jacada né.
Elas saem da dieta e, principalmente, durante esse período de 30 dias, é bom evitar sair da dieta?
E, sem ser na carnívora, num contexto geral, como que acontece essa questão da jacada? Uma jacada bota todos os resultados por água abaixo?
Como voltar depois de uma jacada?
Tania: Tudo depende, assim, da frequência, você pode sim, por exemplo, dentro do objetivo pessoal com a sua alimentação.
Tem gente que quer hipertrofia, outras pessoas querem manutenção de peso e outras emagrecimento.
Sei que hoje o contexto, onde o sobrepeso, a prevalência de sobrepeso, obesidade, no Brasil e em outras países também do mundo, ela é a questão, assim, mais preocupante no cerne da alimentação.
Então, o overeating, você comer demais num final de semana pode colocar a perder — um dia só do final de semana — um ou dois dias, pode colocar sim a perder a semana toda.
Porque você, para emagrecer, você tem que ter um déficit calórico, e aí você pega aquele déficit calórico de segunda a sexta.
Vamos dizer que você estava num déficit calórico de 300 calorias por dia, e aí nesses cinco dias você fez um déficit calórico de 1.500 calorias.
Num dia, você pode sim comer ali a sua taxa basal e mais essas 1.500 calorias, com muita tranquilidade, dependendo da magnitude da sua jacada.
Então, pode sim colocar a perder sim, tá, se você faz isso de uma maneira regular e semanal.
O contexto do carnaval, eu acho que a parte mais problemática de algumas festas, principalmente de final de ano e do carnaval, é o consumo de bebida alcoólica.
O álcool, ele é um disruptor intestinal, então muitas vezes você tem ali um prejuízo a nível de disbiose que pode demorar algum tempo para você equilibrar.
Mas, de maneira geral, não vejo aí muito problema em você sair pontualmente, do que é interessante para você em algum momento, desde que você saiba voltar.
“Como assim, Tania, saiba voltar? “
Essa foi uma das perguntas, como voltar.
Por Que Não Cair Em Primeiro Lugar
Bem, eu sou muito realista e eu trabalho muito com essa questão comportamental da alimentação, então resistir é mais fácil do que se reerguer.
Então, você resistir a uma coisa que você sabe que você vai abrir o portal do inferno e você vai ficar comendo errado um dia inteiro ou dois dias inteiros, ou um período inteiro.
Por exemplo, o período inteiro da Páscoa, o período inteiro do Carnaval, o período inteiro de antes do Natal até o Ano Novo.
Então são períodos longos que duram de 5 a 7 dias, então se você tem essa problemática, é mais fácil resistir do que depois tentar voltar.
Então, tem muitas pessoas que saíram da alimentação equilibrada no final do ano passado e que não voltaram até agora.
Elas estão esperando a Páscoa para pensar num plano de como voltar.
Então, você tem que evitar a rota de colisão, se você tá nesse perfil onde você se perde muito em festas longas, períodos festivos tipo Páscoa, Ano Novo, Natal, carnaval, festa junina…
Então, pode ser que para você a melhor estratégia seja evitar a rota de colisão. “Tá, Tania, eu não evitei, eu não sabia dessa informação, e agora?”
Eu acho que agora é voltar sem pensar muito, sem aquele ponto do ciclo vicioso, onde está a autoflagelação.
Se você erra e aí você foca só no seu erro e entra num estado de autoflagelação… você não se fortifica para você se reerguer e voltar ali a fazer o que precisa ser feito.
A gente aqui na Noruega a gente fala, tem um verso que é muito legal — claro que vocês não vão entender porque vocês não sabem Norueguês — mas em Português seria assim “comeu, tá comido”.
“Comeu, tá comido” e é vida que segue. É realmente sentar, planejar e se organizar.
A questão do planejamento e da organização, ela ajuda muito na questão da ansiedade e nessa questão de voltar ao foco.
Pensar “por que eu não consegui resistir, ou por que eu tenho que resistir? Qual ponto aqui que eu posso melhorar?”
O foco não é o erro em si, o foco é a melhora, é a solução.
Como Criar Um Plano Para Blindar Sua Dieta
Criar um plano, por exemplo o seguinte.
“Sempre que chegar esse período de festas, eu vou fazer umas boas compras antes, com as minhas comidas favoritas, dentro do meu plano, dentro do que é interessante para mim, eu vou comprar as minhas comidas favoritas e vou me permitir, por exemplo, uma refeição daquela festividade, daquela comemoração, consumir algo que não seja tão interessante assim. E vou consumir aquilo dali consciente, sabendo.”
E o nome disso não é jacada, porque se você faz isso de uma maneira calculada, consciente, evitando a rota de colisão, isso não é jacada, isso ali foi um movimento friamente calculado que você está fazendo aquilo dali porque passa a ser interessante.
E você faz aquilo dali e segue o seu barco, segue a sua vida e você vai criando em si uma certa musculatura para lidar com esse tipo de situação social, de festividades, enfim.
Então, eu vejo assim, muito em focar na solução, fazer uma estratégia, fazer um programa de organização onde você tenha uma certa vantagem, dentro desse cenário.
“Ah, Tania, você falando aí fica muito bonitinho e na prática, na prática funciona?”
Na prática funciona muito.
Se a gente anotar, escrever, se planejar e pré-determinar, quando você pré-determina uma coisa, o que acontece?
Quando eu pré-determino uma coisa, essa coisa já está decidida, essa decisão já está tomada, então, no futuro não tem aquele diálogo mental.
O diálogo mental é tipo “o anjinho e o capetinha”, aí ele vai falar assim, “não, toma só um copinho; não, come só cinco coxinhas; não, come só dois pedacinhos de bolo“.
Então, não tem essa briga, entende, porque você determinou “não, essa festa eu não vou sair, porque é interessante para mim, não vou sair do foco, porque não é interessante”.
Então você já pré-determinou isso, você já se organizou e aí como é que você organiza?
Por Que Nunca Contar Que Está De Dieta
Você vai para aquela festa já alimentado, você já vai para aquela festa sabendo quem vai estar naquela festa e qual desculpa você vai dar.
Gente, eu recomendo não dizer que você está fazendo dieta, porque as pessoas parecem que quando você diz assim “estou fazendo dieta, estou com plano alimentar, estou seguindo um plano”, as pessoas parecem que tomam aquilo dali como um insulto pessoal.
E fazem de tudo: a missão delas naquela festa é fazer você sair do seu propósito.
Então, essa clareza de propósito que você quer e pré-determinar, ajuda muito na hora de decidir, porque aí não vem um anjinho e o diabinho.
Não, está pré-determinado, eu vou chegar naquela festa alimentado, com a desculpa X, Y ou Z, vou passar por aquilo dali, vou tomar minha água com gás, enfim, ou qualquer outra coisa e vai dar tudo certo.
Vai ter ali a mesa de frios, que eu vou comer o meu queijo e a minha azeitona, e vai dar tudo certo, vai dar assim tranquilo.
Então, essa questão de planejamento, de antecedência, de pré-determinar, de ter clareza de propósito, foco na solução, tudo isso ajuda.
É um conjunto de coisas que você vai desenvolvendo, né, ao longo do processo.
Então, não é algo que necessariamente você aprender ouvindo esse podcast agora e vai conseguir implementar lindamente amanhã ou depois, mas que você vai pegando uma informação aqui, outra informação acolá, vai colocando em prática uma coisa, uma dica, outra dica, e as coisas vão fazendo sentido.
Mas, a prática tem que estar aí em concordância, você tem que colocar em prática o que você planejou, o que você se organizou para fazer.
E, principalmente, gente, tirar essa parte da culpa, da auto flagelação.
Você não é uma pessoa melhor e nem pior porque você faz uma dieta perfeita, ou porque você faz uma dieta totalmente zoada.
O seu valor como ser humano não está ali e não pode ser esse, você tem que saber onde você, como indivíduo, entra nisso.
O seu valor não está nisso, não está no corpo treinado, não está, não está nisso aí, então a sua essência transcende isso.
Quando você entende que você não é apenas um seguidor perfeito de dieta, você para de auto flagelar e você entende “eu sou um ser humano, isso aqui eu errei. O que que eu posso fazer para acertar?”.
Então você passa a agir e visualizar toda a sua ação e de uma maneira muito menos emotiva, ter menos emoção, e você consegue raciocinar e criar soluções de uma maneira muito mais assertiva para voltar ao foco ou para manter o foco.
Então, assim, essas dicas que eu dei aqui é, na verdade, o que você pode fazer ou para manter o foco, ou para voltar.
A Lógica Nebulosa Da Alimentação
Guilherme: Excelente, Tania, caramba, essas dicas são sensacionais e queria até comentar algumas delas para reforçar alguns pontos sutis.
Porque, talvez, tenha sido muita informação de uma vez para quem nunca tenha se deparado com tudo isso.
Vou começar do começo, com esse ponto de organização que você mencionou.
É fundamental ter essa organização, muitas pessoas elas lidam melhor com barreiras claras do que com uma certa “lógica nebulosa”.
E quando eu digo lógica nebulosa, é aquela coisa assim, a pessoa pergunta “se eu comer um brigadeiro na festa, eu estraguei a minha dieta?” Não.
“Se eu comer 100, eu estraguei a dieta?” Provavelmente sim, sua estratégia provavelmente não envolve comer 100 brigadeiros.
Onde é o limiar? Não tem um limiar claro, né. É uma lógica nebulosa, não existe uma fronteira clara, do tipo “a partir do brigadeiro 35 é ruim, e antes não”.
Então, muitas pessoas lidam bem com restrições do tipo “hoje eu não vou comer o brigadeiro, porque amanhã eu tenho festa de aniversário de não sei quem e tem uma coisa mais especial, que eu quero comer. E eu me programei para isso”, e tudo bem, também.
Conheça As Regras, Ganhe O Jogo
Então, essas fronteiras claras, essas regras bem definidas ajudam muito — especialmente aquelas pessoas que vêm de um contexto no qual elas têm descontrole com a alimentação.
Para certo tipo de pessoa, é muito mais fácil não comer um alimento — é mais fácil se abster do que moderar — e eu me encaixo nessa definição também.
É muito mais fácil viver com essas regrinhas.
Por exemplo, eu não tenho chocolate 85% em casa, e não costumo ter queijo em casa, porque são coisas que eu abuso.
As pessoas falam “ah, chocolate 85% é muito amargo“. Eu acho uma maravilha, eu comeria uma barra inteira.
Então eu não costumo comer um quadrado (porque para mim é mais difícil não comer o segundo quadrado do que não comer o primeiro).
O queijo também, eu gosto muito — então eu como ocasionalmente, e quando compro é um pouco, para durar o fim de semana. E não tenho em casa o resto do tempo.
E muitas pessoas se identificam com essa abordagem também.
Eu acho que isso ajuda muitas pessoas na transição para a carnívora, pelo fato de as regras estarem ali todas na mesa: “coma produtos de origem animal, e vá testando”.
Em vez de ter que ficar com muitos cálculos, muita coisa, quantos gramas de carboidrato e isso e aquilo.
Acho que isso ajuda as pessoas, também no ponto de organização, você fazer as suas compras, você planejar os seus eventos.
Você Está Aprendendo. Erros Fazem Parte, Siga Confiante
E o mais importante de tudo isso foi o ponto que você destacou de a pessoa não ser uma mera seguidora de dieta.
Essas reações muito emocionais com o alimento — e que é normal ter, porque quase todo mundo que faz dieta hoje já tentou fazer outras dietas no passado, e fracassou.
(É por isso que a pessoa está fazendo hoje, porque ela não conseguiu criar um estilo de vida sustentável para ela, que se tornou só mais uma coisa parte da vida dessa pessoa.)
Ela está sofrendo com isso agora, e tentando se encontrar.
E é importante ela ter esse distanciamento saudável, assim como quando você vai aprender uma habilidade nova, você não é uma pessoa melhor ou pior.
Por exemplo,
- quando você começou a dirigir e não dirigia bem,
- ou quando você vai fazer aula de dança,
- ou vai aprender pintura,
- ou vai aprender uma língua nova,
ou de qualquer coisa que você vai fazer: não tem nada de errado em você não saber, você está aprendendo.
E se você tiver esse distanciamento saudável, vai ser muito mais rápido e prazeroso o seu processo de aprendizado e os resultados.
Do que se você se sentir um lixo a cada vez que você acabar falhando, acabar errado (o que provavelmente vai acontecer).
E essa atitude — quando você consegue desenvolver essa atitude no processo de aprendizado em si, eu observo com a gente, com nossos conhecidos, com nossos alunos e clientes — tende a ficar na vida da pessoa também.
Então ela consegue, justamente, ter esse equilíbrio maior das situações: “tá tudo certo, me planejei, essa exceção foi planejada, então foi uma coisa calculada”.
Ou então: “poxa, aconteceu isso e eu jaquei, aconteceu um trauma muito grande, perdi um parente, eu realmente descontei na comida…”.
E o legal é que, como ela já tem esse treinamento de outras ocasiões que foram menos demandantes dela, ela consegue voltar também.
Então, acho que esses pontos todos são essenciais e a gente costuma terminar o podcast pedindo uma mensagem final para as pessoas.
Não sei se você tem outra para passar, mas eu acho que essa daqui já é uma bela mensagem que vai ajudar, praticamente todo mundo que quer transformar de alguma forma a sua relação com a alimentação.
Não digo nem “fazer dieta” mas, realmente, ressignificar como que se dá esse ato que a gente faz todos os dias de se nutrir.
E como que isso pode ser uma coisa mais leve e com um tom de aprendizado, e passar a ser visto com bons olhos e não como um sofrimento “uma tarefa horrível que você odeia fazer”
Então, excelente, Tania, caramba, muito bom.
A Mensagem Final Da Tania Para Você
Tania: Eu não sabia que ia ter uma mensagem final, mas eu tenho uma linha de trabalho muito voltada para a questão comportamental da alimentação, do treino, enfim, da alta performance como um todo.
E o que eu daria de mensagem, é algo que, se eu pudesse, eu falaria com cada pessoa que eu conheço é: invista em seu auto conhecimento.
Auto conhecimento é poder, e contra isso não há argumentos.
Inclusive, quando fazemos carnívora ou dieta cetogênica, ou low-carb ou qualquer outra estratégia.
Então, você se auto conhecer envolve saber exatamente como o seu corpo lida com aquilo, seja um alimento, seja uma situação social.
Seja um relacionamento, seja no plano também de carreira profissional, você se auto conhecer é a chave para o sucesso e a alimentação não foge disso, não foge dessa linha de raciocínio.
E eu acho que é o que permite que você alcance o próximo nível, um nível mais alto de compreensão, de performance, de saúde, principalmente.
Então, você é o seu próprio laboratório, você é o diretor desse centro de pesquisa maravilhoso que é o seu corpo, desde a parte biológica, fisiológica, até a parte mental, intelectual, emocional, comportamental, relacional.
É muito importante você saber se conhecer, saber os seus gatilhos — o que te faz ser uma pessoa melhor ou pior.
Quais são os seus valores, o que que você valoriza, porque no dia que você estiver desmotivado, é isso que vai fazer você sair da cama e falar assim “isso precisa ser feito porque eu valorizo isso”.
É a saúde? É a estética?
Seja sincero com você mesmo, honesto, sem julgamentos.
O julgamento é muito improdutivo, mas a honestidade, essa clareza de “não, peraí, eu tenho um problema com bebidas alcoólicas, eu tenho um problema com queijo, eu tenho um problema em ouvir pessoas comentando sobre aparência do meu corpo, eu tenho um problema quando eu estou numa festa e me oferecem salgadinhos, eu tenho um problema quando o meu chefe grita comigo”, enfim.
Tudo isso pode ser um gatilho, isso trabalha em você, e é o que você falou mesmo: é ressignificar isso, e alinhar cada pontinho, cada coisinha.
E isso, gente, é para a vida toda: porque a gente muda o tempo todo.
Então esse alinhamento, esse auto conhecimento, esse descobrir-se, ele é eterno.
E é muito legal uma vez que você começa a investir nisso, e você começa a se enxergar também nos outros que estão perto de você.
É muito gostoso. E isso melhora a gente, e melhora a relação da gente com as outras pessoas.
Porque a gente é muito individual, é claro — mas a gente também tem muita coisa em comum também que pode e deve ser explorada.
E é isso, essa é a minha mensagem, se auto conheça, explore-se, pesquise-se e vai com tudo — porque você não vai se arrepender.
Como Acompanhar O Trabalho Da Tania
Roney: Com essa ótima mensagem final a gente vai, infelizmente, chegando ao final da entrevista, que foi uma entrevista sensacional, Tania.
Queria aproveitar para agradecer pelo seu tempo, pelo seu conhecimento, com certeza vai enriquecer muito a vida de quem escutar.
E claro, por favor, deixe suas mídias sociais porque com certeza quem ouviu vai querer te acompanhar.
Tania: Vocês vão me encontrar, a parte mais profissional, é pelo @basisplena, onde eu atuo de uma maneira mais didática, vamos dizer assim.
O @nutridados, que são os assuntos mais gerais, onde eu falo desde a parte de coaching, quanto a parte de nutrição, saúde e afins.
E tem o instagram exclusivo para dieta carnívora, que é o @dietacarnívorabrasil, onde você vai encontrar aí a pegada mais carnívora da coisa e é lá que eu respondo também às dúvidas sobre nutrição.
Geralmente sou eu quem respondo, demoro alguns dias mas eu tenho mantido aí um número bem bacana de pessoas que eu respondo.
Eu não respondo 100%, mas é algo muito próximo de 100%.
É isso e muito obrigada, eu gostei muito desse bate papo, foi muito legal para mim também.
E estou à disposição, um grande abraço, muito obrigada, Roney. Muito obrigada, Guilherme. Muito obrigada a você que ouviu esse podcast.
Roney: Então é isso, pessoal, muito obrigado por sua audiência também, quem escutou a gente até aqui, muito obrigado novamente à Tania.
E, se você gostou desse episódio, então se inscreva no nosso podcast — a gente está por todas as plataformas (basta buscar por “Senhor Tanquinho”), e soltamos episódios novos todas as segundas-feiras, intercalando entrevistas maravilhosas, como essa com a Tania, com outros episódios mais curtos que somos só eu o Guilherme falando.
E a gente se vê num desses próximos episódios na semana que vem. Forte abraço!