Biohacking é tentar mudar o ambiente dentro e fora de mim mesmo, para que meu corpo e a minha biologia funcionem da forma mais ótima, mais eficiente, e com a melhor performance possível. É a gente simular um ambiente natural em um mundo que, hoje, é totalmente artificial.”
O Dr. João Vitor é um médico um tanto quanto “fora da curva”.
Isso porque ele foi treinado num sistema educacional a lutar contra a doença.
E nada de errado com isso: a gente precisa saber se defender contra as patologias.
Mas ele logo sentiu que seu tempo e energia seriam mais bem empregados em promover a saúde.
E é sobre isso que vamos falar hoje: Saúde. Estilo de vida. Biohacking. E como ser um paciente (e/ou um profissional de saúde) melhor.
Escute a entrevista atentamente para saber tudo sobre:
- o que é “medicina da doença” e a “medicina do estilo de vida”,
- por que algumas pessoas lutam contra o avanço da ciência e negam a realidade,
- o que é biohacking — e como usar para viver mais e melhor,
- por que comer alimentos de origem animal,
- alguns comentários sobre a dieta carnívora,
- por que a indústria quer que você seja vegetariano,
- como é a exata dieta que o Dr João Vitor segue,
- por que devemos ter cuidado com a busca pela pílula mágica,
- como melhorar o sistema de saúde atual,
- profissionais da saúde e a necessidade de atualização,
- por que você jamais deve “terceirizar” sua saúde,
- a mensagem final do Dr. João Vitor para você,
e muito, muito mais.
O episódio pode ser ouvido no player abaixo (ou no seu player de podcast favorito — Spotify, Deezer, etc).
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O João Vitor também é autor do guia do “Paciente Moderno” – descubra como você pode ser seu próprio médico com esse método.
A transcrição completa do episódio está disponível abaixo. E sabe por quê?
Porque queremos que este conteúdo chegue a cada vez mais pessoas — inclusive pessoas que, por um motivo ou por outro, podem não gostar de escutar áudios, ou que tenham problemas auditivos.
Por isso, somos imensamente gratos a você que nos acompanha — e que nos ajuda a espalhar esse conhecimento.
Agradecemos também aos patrocinadores que ajudam a fazer deste projeto um sucesso.
Dentre eles incluímos:
- o medidor de cetonas uaiKeto, e
- os clientes dos nossos cursos, programas e treinamentos.
Nosso muito obrigado a todos que permitem que este projeto aconteça!
Conteúdo do post:
Transcrição Completa Do Podcast Com O Dr. João Vitor
Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Eu sou o Guilherme.
Roney: E eu sou o Roney. E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
Guilherme: Este podcast está sendo oferecido a você pela Amazon.
A loja Amazon é onde nós pegamos todos os ingredientes que nós usamos nas nossas receitas.
Lá tem tudo, incluindo adoçantes, farinhas low-carb, chocolate amargo…
Além de vários lanchinhos low-carb, do tipo castanha-do-Pará, amêndoas laminadas, amêndoas defumadas, chips de parmesão e muito mais.
Este podcast também é um oferecimento do programa Guia Dieta Cetogênica.
O Guia Dieta Cetogênica é um programa passo a passo para você seguir uma dieta cetogenica de sucesso.
E como bônus para você que escuta os nossos podcasts, a gente colocou dentro do programa — na área de membros especial — todos os nossos produtos digitais já publicados até hoje.
Isso inclui dezenas de livros de receitas, aulas exclusivas, infográficos, textos explicativos, resumos em PDF, grupo secreto VIP no Facebook, e muito mais.
Vamos ao show.
Guilherme: Fala, tanquinho. Fala, tanquinha, sejam bem-vindos e bem-vindas a mais um episódio do nosso podcast. E hoje temos conosco o Dr. João Vitor. Tudo bem, João?
João Vitor: Tudo tranquilo, pessoal.
Dr. João Vitor — Da Medicina Da Doença À Medicina Do Estilo De Vida
Roney: Para quem não conhece o Dr. João Vitor, ele é médico e se auto intitula biohacker também, conforme está escrito lá na bio do Instagram dele.
Então, vamos começar perguntando para o João de onde foi que surgiu esse interesse pela saúde, e num segundo momento, de onde foi que surgiu esse interesse pelo biohacking, também.
João Vitor: Pois é, pessoal, eu entrei na faculdade de medicina, mas eu entrei na faculdade um pouco perdido, sem saber se era aquilo mesmo que eu queria.
Foi mais por influência familiar, e por não ter muita ideia do que fazer, eu acabei indo para a medicina.
E aquilo que eu aprendi na faculdade não me atraía de forma alguma, me atraía muito pouco, na verdade — a ponto várias vezes, ao longo do curso e em períodos avançados, eu pensar em desistir.
Ou me perguntar se era aquilo mesmo que eu queria.
Porque a medicina que eu comecei a aprender na faculdade, é uma medicina que tem um foco quase que exclusivo na doença, então é uma medicina que é muito boa, muito avançada, para tratar doenças, para fazer cirurgia, para fazer um manejo de doenças complexas, avançadas…
Mas era uma medicina que me incomodava pelo simples fato de que — eu me perguntava — mas por que a gente precisa esperar chegar na doença?
Por que a gente tem que operar alguém, a gente tem que tratar um tratamento debilitante em alguém, a gente vai dar um medicamento ali que não vai tratar a base, mas só vai mascarar algum sintoma.
E isso nunca foi estimulante para mim: essa medicina tem seus méritos, eu respeito muito ela, ela é muito boa para tratar doenças, mas no que tange a tratar, evitar que doenças crônicas se estabeleçam e revertê-las, é uma medicina muito fraca e isso meio que me desestimulou bastante durante a faculdade.
Mas eu acabei formando e justamente por não estar muito afeito a ficar tratando de doença, eu fui me especializar em medicina do esporte, que já é uma área mais alto astral, os pacientes já decidiram mudar de vida, fazer exercício…
São atletas, ou então são pessoas que já tomaram a decisão de serem mais saudáveis, e comecei a estudar a medicina do esporte, nutrologia, comecei a estudar bastante de nutrição e acabei chegando no estilo de vida.
E uma vez que você chega no estilo de vida, você tem resposta para tudo.
Você começa a perceber que aquilo que eles não ensinam na faculdade — justamente as intervenções no estilo de vida, seja atividade física, seja nutrição ou seja sono — é o melhor tipo de intervenção possível.
A gente começa a ver que as doenças não só são evitáveis, mas que é relativamente simples evitá-las.
Então, foi mais um menos assim que eu saí da medicina mais tradicional, de tratar doenças e passar medicamento (eu ainda passo medicamento hoje, mas eu evito bastante) e cheguei nessa área, como vocês falaram, menos ortodoxa.
Essa área do biohacking.
Por Que Algumas Pessoas Lutam Contra As Evidências Científicas?
Guilherme: Com certeza, João. E a gente sabe até que recentemente você publicou opiniões que são “anti ortodoxas” nas suas mídias sociais.
Opiniões que, na verdade, não deveriam ser anti ortodoxas — do tipo “você não precisa comer a cada três horas”.
E o que nos surpreendeu não foi você ter divulgado isso — e sim o fato de ainda ter pessoas que gostariam de rebater esse tipo de frase.
Pessoas que gostam de lutar contra o avanço da ciência, basicamente.
Na sua opinião, qual que é o motivo de ter tanta repulsa de certas pessoas às novas verdades científicas, a mudar os paradigmas do que foi convencionado, talvez, há 40 ou 50 anos e que não tinha tanta evidência, em primeiro lugar.
João Vitor: Pois é, essa é uma questão muito complexa. Eu já fui mais radical com relação a isso, eu pensava: “ah gente, estuda aí, as evidências estão aí, é só vocês estudarem”.
Mas hoje eu vejo que são muitos fatores, muitas variáveis.
Então, primeiro que existem muitos interesses financeiros por trás — sejam de indústria alimentícia, da soja, do agrotóxico, seja a indústria farmacêutica, seja a indústria de equipamentos médicos — e isso tudo influencia de certa forma a formação nas universidades.
Essas indústrias são grandes influenciadoras de pesquisas, e eles só vão financiar aqueles pesquisadores que vão descobrir alguma coisa que corrobore o produto deles.
E elas também são grandes financiadores de sociedades médicas, de sociedades que ditam algumas diretrizes nos tratamentos.
Eu não falo que essas sociedades, que as faculdades são totalmente compradas, que eles são “pau mandado”, mas é fato que essas indústrias elas exercem influência no que é publicado, de artigo, no que é publicado de diretriz.
Então, de certa forma, a gente tem que ter sempre esse senso crítico.
E acontece que muitos profissionais da área da saúde — e eu já fui um dele — a gente sai da faculdade e começa a estudar só por diretriz, ou então só por livro ou um ou outro artigo científico, e a gente meio que esquece a fisiologia, o básico, a bioquímica para trás.
E no momento que eu percebi isso, que eu tava decorando diretrizes, estudando diretriz e esquecendo da fisiologia básica, não voltando a estudar a bioquímica, a fisiologia, aquela endócrino básica…
Eu falei “gente, peraí, eu tô estudando aqui algumas diretrizes, umas coisas que são um pouco duvidosas, uma coisa que não faz sentido para mim, mas eu tô aceitando só porque elas vêm com rótulo da autoridade, da sociedade, associação tal.”
Mas, do ponto de vista fisiológico, do ponto de vista evolutivo, do ponto de vista bioquímico, tem um tanto de coisa aqui que não faz sentido nenhum.
Então, vou dar um exemplo bem simples.
A gente vai estudar a diabetes, a gente vê a diretriz de diabetes falando que você deve prescrever tal, tal e tal droga.
E num momento eles vão lá e falam que você tem que diminuir os carboidratos refinados da dieta.
E quando você para para pensar, uma coisa tão óbvia né: diabetes, que é uma hiperinsulinemia, que é uma sensibilidade à glicose, é tão óbvio que você tem que tirar a glicose da dieta.
Mas até pouquíssimo tempo atrás, isso nem era citado nas diretrizes de diabetes.
Low-carb era uma coisa de maluco, era ridicularizado, e hoje já está na diretriz da associação americana de diabetes como a melhor dieta para abordar o diabetes. Então, assim, eu acho que são coisas que vão levar um tempo para mudar.
Mas chega uma hora que a verdade, a evidência, é tão grande, tão acachapante, que não tem como a gente fugir disso.
Mas até lá algumas pessoas vão ser mais resistentes à mudanças, outras vão ser menos.
Alguns construíram sua carreira em cima de uma coisa que acaba sendo provada que não era exatamente aquilo, e essas pessoas vão ser as mais resistentes.
Às vezes aquela pessoa que sempre falou no consultório para os pacientes que diabetes era uma coisa genética, que não tinha como fugir, e agora era pessoa tem que voltar atrás e falar que diabetes é estilo de vida e que é só dez por cento genética.
Então, assim, é uma série de fatores do comportamento humano, que envolve orgulho, que envolve ego, e eu já fui mais taxativo, eu já fui mais radical ao julgar essas pessoas.
Mas hoje eu entendo que essa mudança é gradual.
Infelizmente, a maioria das pessoas que ainda estão no erro, que ainda estão nesse papo, por exemplo, de ah, coma de três em três horas, ah, coma o pãozinho integral na base da sua alimentação, na base da pirâmide.
A maioria dessas pessoas são tão mal informadas, mas não é por mal, porque elas conhecem evidência e escolhem ficar no erro.
Mas é uma coisa que está mudando, pessoas como vocês que têm esse podcast, tem Youtube, tem Instagram, o tempo todo divulgando, o tempo todo levantando a bandeira de novas ideias e propondo cada um experimentar.
Isso é uma coisa essencial, tá mudando o mundo e cedo ou tarde a verdade vai prevalecer.
Biohacking — O Que É, E Como Fazer
Roney: Com certeza, João. É por isso que a gente luta todo dia, sigamos assim, todo dia com postagem nas mídias sociais, textos, e podcasts com profissionais como você, que estão aqui para a gente tentar difundir o melhor da ciência para todas as pessoas.
E, nesse ponto, como que tudo isso que você falou tem a ver com biohacking? Ou ainda não entramos na parte do biohacking?
Você pode fazer uma introdução do que seria o biohacking para as pessoas que estão ouvindo a gente?
João Vitor: Vamos lá. Biohacking é uma palavra inglesa e é, basicamente, bio, de biologia e hacker de hackear.
Hack é um macete, é um truque, é um atalho. Então biohacking basicamente são alguns macetes, alguns truques que a gente aplica à nossa biologia.”
Como que isso funciona?
Eu gosto de falar que biohacking é tentar mudar o ambiente dentro e fora de mim mesmo, para que meu corpo, para que minha biologia, funcione da forma mais ótima, mais eficiente, com a melhor performance possível.
Também é a gente simular um ambiente natural em um mundo, hoje, que é totalmente artificial.
A gente vive em um mundo que é muito diferente de 200 anos atrás, pré revolução industrial, e é muito diferente do mundo de 10.000 anos atrás, na época da revolução agrícola.
Então, você pega o ser humano que tem 400, 500 mil anos de evolução, como espécie, e você vê que de dez mil anos para cá mudou muita coisa.
E de 200 anos para cá mudou mais ainda. A gente chega à conclusão de que a nossa fisiologia, a nossa biologia não está preparada, não teve tempo para se acostumar com essas mudanças.
A gente vê, a gente vive num mundo hoje totalmente artificial. Eu acho que não tem uma coisa que a gente não faça que não seja artificial.
A gente tende a comer comida artificial, a gente tende a dormir de uma forma artificial.
A gente tende a se exercitar de uma forma artificial, a gente tem o ritmo biológico totalmente artificial.
A gente tem luz artificial ou então já era para a gente estar dormindo se fosse seguir o nosso ritmo biológico, da época das cavernas.
A gente se locomove de uma forma artificial, com calçados, a gente não está em contato com a natureza, seja a exposição à luz solar, seja em contato mesmo com a natureza, pondo do pé no chão, pondo o pé na grama.
Eu achava que esse negócio de pôr o pé na terra era coisa de hippie [risos], mas tem muito estudo mostrando que você troca cargas eletrostáticas com a terra.
E isso ajuda a diminuir a inflamação no nosso corpo, então coisa simples como pôr o pé na terra, mas a gente não põe porque a gente fica o tempo inteiro isolado com sapato de sola de borracha.
Então, eu gosto de falar que biohacking é simular a minha volta à um ambiente o mais natural possível em um mundo que é totalmente artificial. Então, o que que eu posso fazer para simular um ambiente natural? Eu o tempo todo tento pensar como o homem das cavernas.
Então, se eu fosse um homem das cavernas, o que que eu estaria fazendo agora?
Nesse momento, os ouvintes não vão ver, mas eu estou usando um óculos amarelo, a gente está gravando este episódio a noite, eu estou usando um óculos amarelo para bloquear a luz azul, que é uma frequência de luz que destrói melatonina.
A melatonina é um hormônio muito importante para a gente ter um sono reparador, mas quando a gente fica na televisão, no computador, no celular até alguns minutos antes de dormir, essa frequência de luz azul ela bloqueia a produção de melatonina no nosso corpo, simplesmente porque o nosso corpo vai estar achando que ainda é dia, né.
Então, se tem luz, ainda é dia, se ainda é dia eu não vou produzir melatonina porque eu não quero dormir.
A verdade é que já está na hora de dormir daqui a pouco, né.
Então se eu fico no celular até 22h ou 23h, eu simplesmente desligo o celular e tento dormir.
Muitas vezes eu consigo dormir, mas muitas vezes não vai ser um sono tão reparador quanto seria se eu estivesse produzindo melatonina naturalmente.
Então eu uso esses óculos que têm uma lente amarela, eles bloqueiam a maior parte das frequências de luz azul, que são as frequências que mais bloqueiam a produção de melatonina.
Então, se eu estou usando esse óculos, eu induzo que meu corpo esteja num estado mais natural. Seria uma escuridão virtual.
Mas isso foi só um exemplo, né. Outro exemplo é com relação à alimentação.
Como que o homem das cavernas ele comeria? Ele comeria a cada três horas?
Ele comeria pão, biscoito, bolo?
Ou ele comeria só quando tivesse comida disponível e se ele pudesse escolher entre um produto de origem animal ou vegetal, qual que ele escolheria? Ele escolheria o produto de origem animal?
Então, eu tento simular isso na minha dieta também, eu tento reduzir a frequência de refeições por dia, não sei né, de onde surgiu essa questão de a gente comer de três em três horas.
Na verdade, eu sei, mas não é o assunto para a gente conversar agora. Mas comer de três em três horas é uma coisa totalmente artificial, isso nunca existiu na história evolutiva do ser humano.
Mas é o que a gente socialmente está acostumado a fazer, então um outro biohacking é eu tentar alimentar de uma forma mais natural, fazendo jejum, diminuindo a frequência de refeição, comendo mais proteína e gordura boa, de origem animal, e menos carboidratos refinados, que eles falam que deveriam ser a base de nossa dieta, mas a gente sabe que não é, que isso não é natural.
Outros biohackings diversos que eu falei, como pôr o pé na terra, trocar eletricidade com a terra, com o planeta.
O banho gelado é um biohacking.
Eu acho assim, tem tantos biohacks que a gente pode ir falando que dá para fazer uns três podcasts sobre isso, mas basicamente é tentar simular um ambiente natural em um mundo que é totalmente artificial.
Por Que Comer Alimentos De Origem Animal?
Guilherme: Perfeito, excelente raciocínio. E você mencionou os óculos que filtram a luz azul, que outros tipos de biohacks a gente pode adotar no dia a dia? Por exemplo, você mencionou a preferência aos alimentos de origem animal.
Isso vai na contramão de muito do que é dito por aí, por pseudodocumentários, e mesmo na grande mídia.
Isso se encaixa onde em termos de biohacking? O que tem nos produtos de origem animal que pode ser considerado um biohacking?
João Vitor: Olha, os produtos de origem animal são os produtos mais densos em nutrientes da natureza.
Então se você pega um ovo, você pega a carne, um fígado, são os alimentos mais densos em nutrientes — e quando eu falo em nutrientes, eu estou falando de macro (eu estou falando de gordura, eu estou falando de proteína, de aminoácido)…
Mas eu tô falando também de micronutrientes, que são vitaminas, que são minerais, que são outras substâncias, como a creatina, que são substâncias que geralmente as pessoas suplementam de forma artificial, de forma exógena.
E não tem nada errado com isso, é muito válido suplementar em algumas situações.
Mas, se você opta por ter uma dieta predominantemente de produtos de origem animal, você não vai precisar ficar suplementando creatina, aminoácido, porque esses nutrientes todos já estão de uma forma biodisponível nos produtos de origem animal.
O contrário acontece com os produtos de origem vegetal.
Os produtos de origem vegetal, eles são menos densos, de uma forma geral, em termos de nutrientes.
Tem um dado muito legal que eu já postei ele no Instagram uma vez, que é o seguinte. Existe um aminoácido muito importante para estimular a mTor, estimular ganho de massa muscular, que é a leucina, que é o principal dos BCAA.
Esse aminoácido, para você obter 2g de leucina, você precisa comer um bife de pouco mais de 100g. É um bife do tamanho, sei lá, da sua mão.
Se você quiser obter essas mesmas duas gramas de leucina no espinafre, por exemplo, que é um vegetal super reconhecido por ser muito nutritivo, você precisa comer 900g de espinafre.
Então, dá para ver a diferença, né, para você obter 2g de leucina, esse aminoácido super importante, você pode comer um bifinho, ou você pode comer quase um quilo de espinafre.
Só que quando você come um quilo de espinafre, você está ingerindo junto outras substâncias que não são desejáveis, como o oxalato.
O oxalato é uma substância que diminui a absorção de cálcio pelo nosso organismo e também é o principal componente que forma pedra nos rins.
Se você comer um quilo de espinafre para ter 2g de leucina, você vai estar ingerindo de brinde 10g de oxalato, que é essa substância indesejada.
Eu já tive pedra nos rins e eu não quero oxalato de jeito nenhum na minha dieta.
(E muitas pessoas são sensíveis aos oxalatos — como a fisiculturista Cláudia Vilaça.)
Então, é uma coisa óbvia.
Os produtos de origem animal são muito mais densos em nutrientes, então sempre que possível eu devo escolher os produtos de origem animal.
Dr. João Vitor Fala Sobre A Dieta Carnívora
Guilherme: João, se a gente levar esse princípio de sempre escolher os alimentos de origem animal — e a gente basicamente abandonar os alimentos de origem vegetal — a gente vai chegar numa dieta carnívora.
Você poderia contar um pouco mais sobre essa estratégia, para quem não está familiarizado? Como que funciona essa dieta?
João Vitor: Muito bem, a dieta carnívora, a princípio assim, você vai pensar que é uma coisa de maluco, né.
Se alguém chega para você e fala assim, você que está naquela dieta padrão, comendo o seu pãozinho, comendo o seu suquinho, o seu refrigerante, se chega alguém e fala para você que vai comer só carne, só produtos de origem animal, o senso comum diz, pô, isso é coisa de maluco. Que loucura é essa?
Mesmo porque a carne tem sido vilanizada, tem sido feita vilã na ciência nutricional pelos últimos 60 anos, por causa de uma série de raciocínios simplistas, achismos, né.
Ah, a pessoa que infarta tem o colesterol na artéria, então a carne tem colesterol, então a carne vai causar infarto, a carne vai causar inflamação.
A gente, a carne apodrece dentro do nosso intestino, existe essa série de mitos que acabam sendo respaldados por uma ou outra instituição científica.
Esses mitos fazem com que a carne seja aquele “pecado” — todo mundo gosta, mas todo mundo fica com medo de comer: não, carne só de vez em quando.
Mas, hoje a gente tem evidência e mais evidência de que a carne não é essa vilã que muita gente ainda acha que é, e pelo contrário, a carne não aumenta a mortalidade, seja cardiovascular, seja por causa de câncer, seja por causa de diabetes, seja por causa do que for.
Apesar de terem, de existirem alguns estudos observacionais que falam, olha o vegetariano ele é mais saudável do que a pessoa que come carne.
Mas esses estudos não levam em conta que a maioria das pessoas que comem carne, também comem pão, bebem cerveja, também bebem refrigerante, e o vegetariano não.
O vegetariano, geralmente, é uma pessoa que tem o estilo de vida mais regrado, né.
Então, a maioria dos estudos que mostram que a carne não é tão legal, são estudos que não levam em conta, são estudos observacionais.
Você não pode estabelecer uma relação de causalidade.
Você só pode estabelecer correlações. E a demais, além disso, existe um interesse financeiro e industrial muito grande por trás de vilanizar a carne.
A Indústria Quer Que Você Seja Vegetariano
A indústria sempre vai querer que a gente consuma menos carne e mais produtos de origem vegetal, simplesmente porque é muito mais barato para eles produzir um quilo de açúcar, um quilo de soja, um quilo de lentilha, um quilo de ervilha do que produzir um quilo de carne.
Porém, na hora de vender, eles vendem a carne ou a soja, mais ou menos pelo mesmo preço.
Hoje a gente tá numa onda de hambúrguer artificial, hambúrguer de soja, que parece que é carne — eu não sei, eu não quero provar — mas é um produto que é feito, basicamente, de soja, de óleo e metilcelulose, que é papel, mas que é vendido a preço de picanha.
Então, para a indústria é muito mais barato eles produzirem um produto de origem vegetal, que copia um produto de origem animal, né.
A margem de lucro deles é muito maior, então para eles é mais interessante que a gente consuma mais produtos de origem vegetal, do que produtos de origem animal.
Então, vamos lá, é muito mais barato para a indústria produzir margarina do que produzir manteiga.
Mas eles vão vender a margarina quase pelo preço da manteiga.
É muito mais barato para eles produzirem uma maionese sem ovo do que uma maionese com ovo, mas eles vão vender a maionese sem ovo como uma coisa vegana, vão por um selinho de vegano ali, e vão conseguir vender ele mais caro, ou então vender no mesmo preço, mas com uma margem de lucro muito maior.
E os hambúrgueres de soja são só mais uma modinha, que daqui a pouco vai passar, dentro dessa estratégia da indústria de aumentar a margem de lucro deles vendendo mais.
Isso tudo parece novidade, mas desde a década de 1960 já existe, que foi quando foram estabelecidas as primeiras orientações, as primeiras diretrizes de que você deveria comer mais carboidrato e menos carne, menos proteína, menos gordura.
E daí que surgiu aquela famigerada, maldita pirâmide nutricional que até hoje a gente vê ainda, é ensinada nas escolas, nas faculdades, que tem na base ali o macarrão, o pão — é pão integral, mas é pão do mesmo jeito.
E daí depois vem a folha, aí depois o azeite e só lá em cima, pequeninho, o ovo, a carne e o queijo, como se fosse uma coisa que você deveria evitar, que você deveria comer uma vez por dia, que deveria ser tratado como se fosse um condimento, um tempero.
E que você deveria fazer a sua alimentação baseada ali no carboidrato.
Mas, basicamente, a origem desse medo, desse terrorismo com a carne é essa: são estudos mal feitos, interesses financeiros, mas a gente tem estudos muito grandes saindo.
Saiu um agora em outubro, uma revisão gigantesca numa revista muito respeitada, que mostrou que a carne não aumenta mortalidade de nenhum tipo.
E que, basicamente, a gente tem que voltar às nossas origens, que é justamente essa.
O homem das cavernas, se ele pudesse escolher, ele sempre ia comer o produto de origem animal, que é um produto muito mais denso em nutrientes.
Então, é o que a gente deveria fazer.
A pessoa que segue a dieta carnívora, ela vai comer ovo, ela vai comer carne, ela vai comer frango, vai comer porco, vai comer vísceras, vai comer bacon.
Se ela for um pouco mais flexível, ela vai consumir, eventualmente, um produto de origem vegetal, seja um café, seja um vinho.
Ela pode ou não consumir queijo, ela pode ou não consumir laticínios.
Mas basicamente a dieta carnívora é essa: é uma dieta riquíssima em alimentos com alto valor nutricional e coincidentemente são alimentos que não tendem a ser tão inflamatórios quanto um carboidrato refinado, ou quanto um óleo de soja ou óleo vegetal, que são ricos em ômega 6.
Ao contrário dos produtos de origem animal, que são ricos em ômega 3, que é uma gordura anti inflamatória, né.
E a gente não pode esquecer que existem alguns nutrientes que são exclusivos da dieta de origem animal, então você não vai achar B12 em produto de origem vegetal.
Você não vai achar ômega 3 tipo EPA ou DHA em nenhum produto de origem vegetal, você não vai achar creatina em produtos de origem vegetal, dentre outros.
Então, é uma coisa que num primeiro momento assusta, a pessoa fala pô, esse negócio de comer carne é coisa de doido.
Mas, depois, se você parar para pensar, você vai ver que é uma coisa interessante, não é uma coisa que precisa ser feita por todo mundo, mas é uma estratégia interessante e que tem dado resultados legais, tanto para quem quer emagrecer, quanto para quem quer ganhar massa.
Mas principalmente, para pessoas que têm algumas condições autoimunes, e que tinham essa autoimunidade ativada, ou por causa da inflamação do carboidrato refinado, ou por causa da inflamação do óleo de soja, ou por causa da inflamação causada por substâncias presentes nas plantas, que as plantas não só coisas boas.
As plantas têm um sistema imunológico delas, que basicamente é um sistema de venenos, elas têm algumas substâncias lectinas que são substâncias que atacam o agressor, então você come aquele pimentão, você come aquele tomate.
O tomate tem uma defesa, que é justamente uma substância ali que vai ser um veneno para o seu corpo, justamente para você não querer voltar nele. Enfim, a gente pode falar sobre os antioxidantes das plantas, que eles também agem no nosso corpo a partir desse princípio, mas basicamente a dieta carnívora é isso.
É uma coisa que num primeiro momento eu sempre achei que era coisa de doido, uma coisa que vai contra o senso comum, vai contra tudo aquilo que eu aprendi na faculdade, mas você olha, para para pensar, pensando como o homem das cavernas, é uma dieta muito natural, muito fisiológica.
Afinal, Como É A Dieta Do Dr. João Vitor?
Roney: Perfeito, João. E você já segue a carnívora há algum tempo, ou a sua alimentação não é 100% carnívora?
Têm alguns alimentos ainda de origem vegetal? E que tipos de benefícios ou mudanças você percebeu no seu dia a dia, com relação à saúde ou com relação ao geral, quando você adotou essa estratégia?
João Vitor: Hoje, eu não sigo uma dieta exclusivamente carnívora, eu sigo uma dieta paleo, low-carb, quase cetogênica, mas eu consumo produtos de origem vegetal, é mais por uma questão de praticidade.
Muitas vezes eu não tenho tempo de preparar uma dieta carnívora, né.
Na verdade, toda dieta que é uma dieta de comida de verdade, ela exige um preparo maior, não é simplesmente você comer o que está disponível ali na hora.
Geralmente você tem que preparar o seu alimento, e muitas vezes eu não consigo o tempo todo preparar a carne, o meu ovo…
Então eu não faço uma dieta exclusivamente carnívora, mas eu faço uma dieta que é uma dieta paleolítica, com gorduras, rica em gordura, rica em proteína.
Quando entra carboidrato, eu faço o máximo para que seja um carboidrato rico em polissacarídeos, rico em fibras.
A grande mudança que eu notei na minha saúde, fazendo esse tipo de dieta e diminuindo a frequência das minhas refeições, que é fazendo o jejum, é que, primeiro: naturalmente, sem passar fome, eu emagreci, eu perdi aquela gordura localizada que eu tinha, que me incomodava, então a minha composição corporal melhorou bastante.
A minha disposição melhorou bastante (um clássico sinal da queima de gordura), eu não tenho que ficar preocupado em comer o tempo todo, eu não tenho que ficar planejando o que que eu vou comer daqui a três horas.
Eu sinto menos cansaço, porque sempre que a gente come, a gente estimula ali um pico de insulina no nosso corpo, daí o metabolismo nosso vai todo para o intestino, para a absorção de nutrientes, e outras partes de nosso corpo ficam um pouco negligenciadas, muitas vezes o cérebro.
Então, às vezes aquele sono que você sente depois do almoço, aquela alcalose é porque você comeu demais e o seu corpo, o seu intestino está exigindo mais do seu metabolismo.
Isso deixa o resto do corpo um pouco deficitário.
Mas eu comecei, além de toda essa disposição, toda essa energia, de estar dormindo melhor, eu comecei a ver melhor em alguns parâmetros dos meus exames, que melhoraram bastante.
Eu tava vendo uns exames antigos meus, eu tinha o global de leucócitos, que são as células de defesas, nos exames antigos, em torno de 6 mil, 7 mil.
Se você pegar o valor de referência, é de 4 a 10 mil, e depois que eu comecei a fazer uma dieta low-carb, que eu comecei a fazer jejum, eu vi que os meus leucócitos diminuíram. Teoricamente, eu fiquei com menos células de defesa.
Em um primeiro momento eu assustei, porque quando você começa a ter baixa de glóbulos brancos, leucopenia, você pensa em uma série de doenças graves.
Eu fiz um tanto de exames, não deu nada — e a única conclusão que eu consegui chegar é que meu corpo ficou mais eficiente.
Então hoje, com 3 mil leucócitos, que se você for olhar pelo valor de referência, é uma leucopenia, está abaixo do valor de referência.
Hoje com leucócitos de 3 mil, de 2.900, eu sou muito mais saudável do que eu era quando eu tinha o leucócito de 5 mil ou de 6 mil.
Naquela época eu vivia doente, eu tomava antibiótico duas vezes por ano, por causa de problema de garganta, sinusite e depois que eu comecei a ter esse estilo de vida low-carb, comendo mais carne, comendo mais produto de origem animal e fazendo jejum, tendo essa dieta mais ancestral, eu não lembro a última vez que eu tomei antibiótico.
Eu não lembro a última vez que eu peguei um resfriado, então, isso é uma coisa que melhorou muito. O meu corpo está muito melhor.
Não porque é algum tipo de mágica dessa dieta, mas simplesmente porque eu estou oferecendo para ele aquilo que é fisiológico, aquilo que ele acostumou durante milhões e milhões de anos de evolução.
Dieta Low-Carb, Carnívora, Cetogênica… Não É Pílula Mágica
Guilherme: Excelente resumo da estratégia e também de alguns benefícios, de algumas vantagens de mudar a alimentação, mesmo para uma dieta mais baixa em carboidratos, enfim.
Eu estou experimentando com a dieta carnívora, já faz algumas semanas, sendo que eu lido bem com alimentos de origem vegetal, no geral.
Eu já fazia uma dieta cetogênica há muitos anos, e era basicamente cetogênica mesmo: menos de 30 g de carbo durante 90% do tempo.
Alguns dias tinham exceções, tinham dias com mais carbo, mas era uma coisa ocasional.
E agora, eu estou na carnívora faz algumas semanas, e ainda consumo café, quase todos os dias e uma taça de vinho aqui ou ali, mas as bases são a carnívora.
Para mim, eu gostei muito da praticidade (dá para viver usando apenas uma frigideira), e também tem algumas preparações simples.
Em termos de outros benefícios que muitas pessoas percebem — melhoram a massa muscular, ou a pele, ou o cabelo, porque muitas vezes começam a ingerir mais proteínas, ou eliminam trigo, glúten, essas coisas — eu não percebi tanto.
Acho que eu percebi mais foi um aumento na saciedade e uma satisfação geral com a dieta, uma praticidade. Eu estou gostando, basicamente.
Mas realmente muitas pessoas que nunca fizeram uma dieta mais limpa, acabam vendo esses benefícios na carnívora, justamente pelas restrições — são poucas regras, mas elas acabam restringindo bastante, e a pouca escolha paradoxalmente facilita para as pessoas.
Porque elas não têm que pensar “pode ou não pode”, e “como que eu combino isso com aquilo”.
Essa restrição facilita para muita gente.
Sendo que tem várias pessoas fazem essa migração para o extremos: saem de uma dieta vegana para a carnívora — a gente vê cada vez mais relatos disso acontecendo mais nas mídias sociais.
Embora pareça para mim, muitas vezes, que a pessoa saiu de uma coisa que ela acreditava ser a “pílula mágica” para outra — e isso é algo com que a gente também tem que ter cuidado.
João Vitor: Exatamente, não existe pílula mágica — e isso é um tema muito legal porque a gente volta no biohacking.
Uma das coisas legais do biohacking é o fato de cada um poder, de certo modo, ser o seu próprio médico, cada um experimentar uma intervenção e ver qual resultado isso vai trazer.
Seja uma intervenção de exercício, de sono ou de dieta, como a gente tá falando.
Uma coisa que me incomoda, que me incomodava muito também, no sistema de saúde, tradicional, na medicina, era o fato de ser um modelo “médico-centrista”, a medicina gira em torno do médico e o paciente é um simples coadjuvante ali, que recebe a ordem e deve seguir aquela ordem.
E isso é muito ruim, porque, de certa forma, o paciente foi ficando tão inibido de tomar iniciativa com relação à própria saúde que hoje muita gente não se sente responsável pela própria saúde.
Muita gente acha que quem vai resolver seu problema de saúde vai ser um médico, vai um nutricionista, vai ser uma cirurgia, vai ser uma dieta nova, vai ser um tratamento novo…
E daí a gente começou a criar essa mentalidade da pílula mágica, né, de ir no profissional de saúde para que ele desse ali uma solução mágica, uma solução fácil, uma solução rápida, uma solução que não exigisse esforço, não exigisse mudança.
Isso foi causado por esse modelo de saúde que não empodera o paciente, que não é parceiro do paciente, que não traz o paciente para as decisões compartilhadas, mas sim que é um modelo focado ali no profissional de saúde, no médico, no nutricionista: ele fala, o paciente aceita.
(Sendo que a tomada de decisão compartilhada é um dos fundamentos da Medicina Baseada Em Evidências.)
E de tanto ser assim, criou-se essa barreira, criou-se esse muro, esse pedestal, esse gap entre o paciente e o profissional de saúde, de modo que hoje o paciente se sente inibido de fazer uma pergunta para o médico.
Ele se sente inibido de falar para o médico o que que ele pesquisou na internet, porque ele acha que o médico vai se sentir desafiado, ele acha que o médico vai responder de uma forma ríspida.
E, de fato, muitos respondem, tanto que o termo “Doutor Google” é um termo pejorativo no meio médico.
Os médicos falam, ah, esse paciente aí foi no Doutor Google, vai no Doutor Google, etc.
Gente, eu acho o Doutor Google o máximo, quando um paciente me procura falando que ele já pesquisou sobre a saúde dele, que ele quer minha opinião sobre isso e aquilo, eu acho o máximo!
Eu valorizo bastante essa pesquisa no Doutor Google, ainda que na internet existam algumas informações desencontradas, fake news, ainda que tenha o risco da pessoa consumir essa informação — o que é difícil porque a gente tem muitos sites confiáveis, muitas fontes confiáveis, né, a gente não sai clicando em qualquer anúncio lá, “emagreça em dez dias”, a gente não acredita naquilo.
Ainda que exista esse risco, eu acho que só o fato da pessoa estar indo atrás ali da informação já deve ser valorizado.
E, se ela não tem acesso a uma formação de qualidade, eu acho que cabe ao profissional de saúde, ao médico, nutricionista, orientar qual que é a fonte adequada.
Mas, a gente cai nessa questão da pílula mágica por causa disso.
Criou-se esse distanciamento entre o médico e o paciente, onde o paciente acha que ele simplesmente vai seguir a prescrição, e o médico simplesmente vai dar a ordem.
E, de certa forma, isso fica cômodo para os dois: o paciente coloca a responsabilidade toda na mão do médico — se ele não melhorar, foi o médico que errou, foi o remédio que não funcionou, vai ter que vir um outro remédio mais caro, mais novo, mais moderno.
E o médico que, muitas vezes, no convênio ou no SUS, tem que atender 5 ou 6 pacientes por hora, é muito mais fácil ele fazer uma prescrição de medicamento e dar para o paciente, do que sentar com o paciente ali e explicar sobre estilo de vida, sobre sono, sobre nutrição, sobre dieta, sobre atividade física.
Então, a gente entrou nesse grande problema do sistema de saúde, que é pouco resolutivo.
Como Melhorar O Sistema De Saúde Atual
Ele é um sistema de saúde que fica apagando fogo porque tanto médico, nutricionista, quanto paciente meio que assumiram uma postura passiva ali, e é aquilo: finge que me engana, finge que está funcionando, e eu finjo que vai dar certo.
Mas, no final das contas, a gente sabe que não está dando certo: porque as doenças crônicas só estão ficando mais prevalentes, cada vez mais frequentes.
O custo da saúde está ficando cada vez mais caro, seja no SUS, seja no convênio — é cada vez mais exame, cada vez mais internação.
E a gente sabe que isso é insustentável, que isso vai colapsar em determinado momento, e eu acho que cada um decidir ser um biohacker, cada um assumir a responsabilidade com relação à própria saúde, é a única solução que eu consigo ver para esse sistema de saúde não colapsar.
Cada um ir atrás de informação, cada um propor intervenções na sua própria vida e fazer experiências, ver se a intervenção deu certo ou não, se você se sentiu melhor, se você se sentiu mais saudável, com mais energia depois daquilo ou não.
Então, a dieta carnívora entra aí: se a pessoa começar a fazer uma dieta carnívora direitinho e sentir que aquilo não é para ela, ela fez a experiência e não precisa insistir — mas ela sabe o que que funcionou para ela e o que não funcionou.
Isso serve para sono, para atividade física, para estilo de vida, de uma forma geral.
E eu acho que a partir do momento que todo mundo estiver fazendo isso — e a internet está aí para ajudar todo mundo a fazer isso — os custos do sistema de saúde eles vão cair bastante, porque a gente vai estar atuando de uma forma muito mais preventiva, e sem esperar a doença chegar.
Então, a gente que divulga informação de saúde na internet, a gente tem essa grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, esse trabalho muito legal, que é de tentar conscientizar e dar poder, cada vez mais, às pessoas.
Para que elas sejam responsáveis pela própria saúde, e daí cada um vira uma espécie de biohacker, e começa a fazer as suas próprias experiências.
Não precisa chegar ao extremo de injetar substâncias no próprio corpo, ou usar esses óculos amarelos que eu estou usando, mas se cada um tiver um pouco desse sentimento de se sentir responsável pela própria saúde, a gente já vai melhorar bastante a saúde no Brasil e no mundo.
A gente já vai ajudar o sistema público, a gente vai ajudar o sistema de convênio, porque a gente não vai estar dando chance para a doença chegar.
Basicamente é isso: a gente tem que sair desse modelo “médico-centrista” e tem que ir para um modelo onde o médico, o nutricionista vai ser um parceiro de saúde do paciente.
Então, o paciente depois que ele fez toda essa pesquisa, fez toda essa mudança no estilo de vida, se ele ainda tem alguma dúvida, se ele ainda não teve o resultado que ele queria, se ele ainda tem dúvida se aquilo que ele leu na internet é verdade ou não, daí ele vai no profissional de saúde e eles discutem esses temas.
Eu acho que esse é o modelo ideal, é o modelo para o qual a gente está caminhando.
Sobre Profissionais De Saúde E A Necessidade De Atualização
Roney: Perfeito, João. Então é uma via de duas mãos mesmo, um lado o paciente tem que querer assumir a responsabilidade também.
Então, pesquisar, às vezes perder um tempinho com isso, pesquisando e lendo várias fontes, para às vezes ter mais confiança do que ele tá lendo; às vezes ver entrevistas de profissionais, como as que a gente tem no podcast aqui; às vezes ver opiniões contrárias, também, faz parte — e aí decidir o que fazer.
E lembrar que não precisa de ninguém falando para ele o que ele tem que comer o tempo todo.
Ele pode experimentar uma coisa ou outra, como a gente falou aqui, mesmo uma abordagem carnívora e ver como que o corpo dele responde.
E, claro, sempre que ele tiver dúvida, que ele tiver questões, tratar com profissionais que ele confia, ou profissionais que talvez ele tenha conhecido em algumas dessas entrevistas da internet.
E, por outro lado, os médicos também dar um pouco mais de abertura para os pacientes, porque muitas vezes a gente recebe relatos de pessoas que vão nas consultas e acontece isso mesmo que você falou, do médico não dar abertura para a pessoa, não querer nem ouvir — fala “ah, não, a internet não tem nenhum valor”.
Ou então a pessoa já está tendo resultados, do tipo emagrecendo, melhorando o exame, mas aí fala que está fazendo uma dieta cetogênica, o médico já fala “não, para com isso que longo prazo isso daí vai fazer mal para você”.
Então é complicado: os dois lados tem que se informar também para poder no futuro, daqui uns anos, e para isso que a gente trabalha, esse diálogo poder acontecer de uma melhor maneira para todo mundo.
João Vitor: É, totalmente, porque a gente tem essa questão de, muitas vezes, o médico formou ali na faculdade e se acomodou.
Ele não estudou muito outras coisas, ou então ficou estudando só aquilo que é a área dela, mas não está ciente dos avanços da nutrição, dos avanços das outras áreas da saúde.
Eu acho que foi no podcast que vocês gravaram com o doutor José Neto, que vocês falaram um pouco sobre esse mito da proteína fazer mal para os rins.
E é uma coisa que, se você for num consultório médico hoje, ainda que seja de um médico jovem, recém formado, existe uma grande chance de ele falar para você que você não pode comer muita proteína porque isso vai fazer mal para os seus rins.
Ou que você não pode comer muita gordura porque isso vai aumentar o seu colesterol; ou que se você estiver com o colesterol ali de 220, ele já vai querer entrar com uma estatina para abaixar o colesterol, sendo que as evidências mais recentes mostram que o valor numérico do colesterol ali é pouquíssimo relevante para você predizer um risco cardiovascular ou não.
Mas as faculdades ainda estão ensinando isso, infelizmente, e faculdades boas, não é qualquer uma faculdade.
Eu formei numa universidade federal, e há sete ou seis anos atrás eu ainda recebi esse tipo de informação dos professores.
E durante alguns anos como recém formado, eu ainda repetia isso para os pacientes, porque foi o que os professores me falaram, foi o que eu achava que era certo. Felizmente, eu consegui sair dessa caixa.
Jamais Terceirize A Sua Saúde
Roney: Ainda bem, João, ainda bem que cada vez tem profissionais, e mesmo pessoas como eu e o Gui que estamos nos atualizando e divulgando essas informações.
Foi até assim que a gente começou o blog, já há seis anos, que a gente começou a ler e se informar sobre dieta low-carb, sobre jejum intermitente, porque a gente via que não tinha essa informação em português.
Era mais difícil o acesso.
E aí a gente começou o blog com essa ideia, de divulgar essas informações que a gente não via por aqui.
E, agora, seis anos depois, a gente vê muito mais gente falando sobre isso, o que é muito bom sinal de que realmente está avançando essa questão, tem cada vez mais gente informada e divulgando também essa informação.
Guilherme: E, na nossa opinião, é muito importante um fator que você mencionou de as pessoas não terceirizarem a própria saúde.
Elas não, simplesmente, irem ao médico e “ah, o que ele falou é isso, eu vou tomar esse remédio mesmo, eu não vou procurar saber mais, afinal, esse é o trabalho dele, não o meu”.
Porque no fim das contas, ninguém tem mais interesse, ninguém tem mais a pele em jogo do que você mesmo quando o assunto é a sua saúde.
Então, é importante sim a gente ter a nossa atenção, também, para isso.
E as pessoas podem até falar o seguinte.
Ah, mas eu já sou advogado, ou contador, ou engenheiro, eu não devia ter que me preocupar com a minha saúde.”
Mas a saúde é sua e você tem que se preocupar sim.
Assim como você também tem que se preocupar com os seus relacionamentos, mesmo sem ser psicólogo.
E você também tem que se preocupar um pouco com a sua vida financeira, e cuidar das suas finanças pessoais, mesmo sem ser economista.
É importante sim a gente ter esse senso de responsabilidade, porque ninguém mais vai ter por nós.
João Vitor: Exatamente, eu costumo falar que nem o melhor médico do mundo vai cuidar tão bem da sua saúde quanto você mesmo pode cuidar.
E, então, eu falo para o pessoal imaginar: “cara, imagina o melhor médico do mundo aí, imagina aquele médico ideal que vai te ouvir, que vai conversar com você, que vai ter empatia, que vai ter uma consulta ali de três horas com você, imaginou? Beleza, esse médico não vai ser tão bom quanto você mesmo pode ser para cuidar da sua saúde.”
A Mensagem Final Do Dr. João Vitor Para Você
Roney: Eu acho que a gente teve várias mensagens legais aqui.
E dois momentos bacanas do podcast que a nossa audiência gosta bastante é quando os convidados falam quais os hábitos saudáveis deles — apesar que eu acho que você já falou bastantes ao longo da entrevista.
E também, a mensagem final para a galera que nos ouviu até agora. Além, é claro, das suas mídias sociais, pode deixar também, para quem quiser te seguir.
João Vitor: Eu vou focar um pouco mais biohacks que eu uso, que são coisas mais diferentes, assim, são coisas menos faladas, menos comuns.
Então, eu não vou falar tanto do básico, que a gente sabe, para ter uma vida saudável, mas que os seus ouvintes já sabem bastante dos outros entrevistados falarem.
Em vez disso, eu vou falar um pouco sobre biohacking.
A gente voltar naquela tecla lá de simular um ambiente natural em um mundo artificial.
Então, à noite, a partir de sete, sete e meia da noite eu sempre coloco esses óculos amarelos, que são óculos bloqueadores de luz azul, justamente para eu poder ficar no celular, para eu poder ficar no telefone, no computador sem destruir tanto a minha produção de melatonina.
Quando porventura, eu preciso ficar até mais tarde no computador ou em alguma tela, eu uso um pouco de melatonina embaixo da língua, uma dose bem pequenininha, não é essa dose que o pessoal costuma comprar na internet, que é uma dose alta, de 3, 5, 10 miligramas.
Eu uso, geralmente, meio miligrama embaixo da língua, que para mim é mais do que o suficiente para induzir um sono legal.
Então, esse é um hacking que eu uso quando eu não consegui produzir melatonina naturalmente.
Outro hacking que eu uso também, é exposição ao frio e choque térmico.
É uma coisa que o homem das cavernas vivia constantemente, ele sentia calor, sentia frio, ele não tinha controle sobre o ambiente, mas que hoje a gente vive num ambiente totalmente controlado do ponto de vista térmico.
Então, quem mora no calor está com o ar acondicionado ali. Quem mora no frio tem aquecedores em todos os lugares.
Mas quando a gente sente o choque térmico, a gente libera algumas proteínas, que são as proteínas do choque térmico, que têm um efeito muito legal sobre a nossa imunidade.
Então, idealmente, o mais legal é a sauna, mas como eu não tenho sauna em casa, eu tomo um banho gelado e quente.
Então, ou eu entro direto no banho gelado e já dá aquela ducha ali bem legal, ou então eu começo num banho quente, durante um minuto, desligo a água quente e ponho a gelada, tomo um banho gelado, depois volto para a quente, depois eu volto para a gelada, e fico dando esses choques térmicos, que vão estimular as proteínas do choque térmico, que são muito saudáveis para a nossa imunidade.
As minhas artérias e capilares vão estar dilatando e contraindo, o que é muito legal também, além de ser muito relaxante.
Então, eu uso esse biohacking. Eu uso alguns suplementos alimentares que são micronutrientes que não estão tão frequentes na nossa dieta, seja porque a gente consome produtos que foram processados de alguma forma, e perderam esses micronutrientes; seja porque o solo de onde vem o nosso alimento já foi espoliado.
Então uma coisa que infelizmente acontece, é que aquele solo ali onde foi plantada a nossa hortaliça que a gente vai comer, ou onde o animal que a gente está consumindo está se alimentando, é um solo que muitas vezes já foi tão usado que ele está espoliado de micronutrientes.
Então, eles vão lá, corrigem pH, fosfato, nitrato, põe essas coisas ali, que são mais óbvias, mas não corrigem os minerais, os micronutrientes, os minerais mais escassos, como magnésio, manganês, zinco, selênio.
Então, eu gosto de suplementar esses minerais, principalmente, o magnésio.
(A Dra. Ana Martha falou um pouco sobre os principais tipos de magnésio nesta entrevista completa.)
O magnésio é muito afetado pelo consumo de carboidrato, então a maioria das pessoas que consome bastante carboidrato, ela tem chance de ter uma deficiência de magnésio ali no corpo.
E é uma deficiência difícil de ser medida, porque você não mede simplesmente o magnésio que está no sangue: esse é um magnésio pouco significativo, você tem que medir o estoque de magnésio, e esse já é um exame mais caro, que o convênio não faz.
Mas, enfim, eu suplemento esses minerais.
Eu tento me expor à luz vermelha durante a noite, a luz vermelha ela é uma luz mais quente, então ela não destrói tanto melatonina.
E todos os dias quando eu acordo, a primeira coisa que eu faço é tentar me expor à luz. O ideal é que seja luz solar.
Mas como eu acordo antes do sol nascer, eu acendo uma luz amarela incandescente que eu tenho, que ela tem aquela cor meio laranja do sol nascendo, e olho para ela durante um minuto.
Depois fico exposto a ela fazendo outra coisa.
Quando eu acordo, eu também bebo um copo d'água, porque o meu cérebro sabe que eu acordei, mas o resto do meu corpo ainda não percebeu isso.
Então eu tenho que dar uma série de sinais ali para o meu corpo de que chegou a hora de acordar.
Então, eu me exponho à luz, eu bebo água, eu faço alongamento, que daí as outras células do meu corpo que não sejam a minha mente, elas vão perceber também que está na hora de acordar.
O que mais, gente? Tem esses óculos amarelo, que eu já falei; tem a questão de estar em contato com a natureza, comprovadamente o contato com a natureza, nem que seja 10 minutos por dia, diminui os níveis de cortisol, que é o hormônio do estresse, a gente pode chamar ele assim.
Colocar o pé no chão, na terra, trocar energia com a terra, é uma coisa que eu achava que era coisa de hippie, mas não é uma coisa de hippie.
Então, basicamente, é isso. É criar hábitos que vão simular um ambiente natural à minha volta, mesmo eu estando em um mundo totalmente artificial. E no mais, é isso, pessoal.
Eu agradeço bastante o convite de vocês, fiquei muito feliz porque já é um podcast que eu escuto, eu acompanho vocês.
Recentemente eu terminei de ler o livro sobre a dieta carnívora, que vocês fizeram com a Jade, e está um livro primoroso, não tem retoques a fazer com relação aquele livro.
E para os ouvintes que não me conhecem e quiserem conhecer mais sobre mim, eu estou no Instagram, meu Instagram é dr.joão.vitor.
Lá no Instagram tem os links também para o meu telegram, é um grupo onde eu compartilho áudio e informações mais aprofundadas e eu, recentemente, lancei um podcast também, que é o Johnnycast.
Na verdade ele foi ao ar hoje, e convido também aos ouvintes para dar uma conferida lá no Jonycast, tem um episódio sobre dieta carnívora, tem dois episódios sobre longevidade, um episódio sobre biohacking, está bastante legal.
[O João Vitor também é autor do guia do “Paciente Moderno” – descubra como você pode ser seu próprio médico com esse método.]
E, no mais, mais uma vez eu agradeço o convite, gostei muito da conversa com vocês, eu acho que tem tema para outras conversas, fica para a próxima.
Roney: Sem dúvidas, João, dava para a gente ir longe na nossa conversa.
Infelizmente a gente tem que limitar um pouco né — porque senão ninguém escuta e nem consegue absorver todas as informações.
Mas, de toda forma, muito obrigado mesmo pela sua presença. Ficou muito boa a entrevista, muito rica, eu gostei pra caramba do nosso bate papo.
Guilherme: Eu também gostei pra caramba, e todos os links para o podcast, para o livro da carnívora, tudo que o João mencionou vai ficar no nosso site com a transcrição completa.
A gente sempre faz isso para todos os podcasts, então sempre se lembre de acessar o senhortanquinho.com para ver as transcrições, se você quiser, e checar algum detalhe que talvez tenha perdido.
Dá para baixar os arquivo de áudio em MP3, dá para mandar o link para os seus amigos, enfim.
Vamos compartilhar esse conhecimento para que ele possa atingir mais pessoas.
Isso ajuda as pessoas a terem mais saúde e o nosso podcast a crescer. Muito obrigado, novamente, João, por participar aqui com a gente desse projeto.
João Vitor: Valeu.
Roney: É isso aí, pessoal. Muito obrigado a você também que nos escutou até aqui, muito obrigado por sua audiência e não deixe de nos acompanhar.
A gente está em todos os players de podcasts disponíveis, é só você digitar Senhor Tanquinho lá, que você vai encontrar o nosso podcast.
Aí é só seguir e escutar aos seus episódios, lembrando que a gente solta episódios novos todas as segundas-feiras.
Entra no nosso telegram também: senhortanquinho.com/telegram.
E a gente se vê no próximo episódio. Um forte abraço.