As pessoas tomam remédios e não entendem que o medicamento, a droga, ela tem um efeito — mas, para ela te dar aquele efeito, ela cobra os efeitos colaterais.”
Esse tipo de visão sistêmica e integrada do corpo é algo que adoramos ver na nossa convidada de hoje — a dra. Ana Martha Moreira.
Sendo que hoje vamos falar sobre estômago e suas enfermidades comuns (gastrite, refluxo) — mas sem jamais perder a visão total do ser humano.
Escute ou leia até o final — o podcast está cheio de sabedoria e insights da Dra. Ana Martha que vão te deixar pensativo(a).
Falamos sobre muitos assuntos fascinantes, incluindo:
- qual é a real causa da gastrite — e como você pode se prevenir,
- por que tomar antiinflamatório para lidar com a dor após o treino pode sabotar seu seu estômago (e o seu treino também),
- toma Omeprazol? Cuidado com o círculo vicioso dos antiácidos,
- dieta low-carb faz mal ao estômago? Saiba de uma vez por todas,
- carne é ácida e de difícil digestão. Será mesmo?,
- posso fazer low-carb se tenho gastrite?,
- posso fazer jejum intermitente se tenho gastrite?,
- dicas alimentares para melhorar sua digestão,
- qual a relação entre dieta e problemas na vesícula,
- por que cirurgias podem causar de alterações na digestão,
- qual a ferramenta grátis e poderosa que a Dra. Ana Martha recomenda para descobrir sua “tolerância à gordura”,
- refluxo e alimentação — quais alimentos remover para curar o refluxo,
- dois temperos poderosos que ajudam a melhorar os sintomas do refluxo (você pode usar na comida ou fazer chá com eles),
- tem refluxo e quer fazer jejum? Pode fazer, mas pule ESTA refeição em vez do café da manhã,
- uma medida simples para transformar sua cama em aliada na luta contra o refluxo,
- dicas extras da Ana Martha para saúde do seu estômago,
- por que pensar mais em qualidade e menos em quantidade (como isso se aplica desde exercícios até exceções da dieta),
- por que comer ovo caipira não é melhor do que ter boas relações,
e muito, muito mais.
O episódio pode ser ouvido no player abaixo (ou no seu player de podcast favorito — Spotify, Deezer, etc).
Lembre-se de seguir a Ana Martha no Instagram, e dizer para ela que adorou a entrevista! Ela adora receber essas mensagens. O Instagram dela é o @anamarthamoreira.
(Aproveite e nos siga também em @senhortanquinho ?.)
A transcrição completa está disponível abaixo. E sabe por quê?
Porque queremos que este conteúdo chegue a cada vez mais pessoas — inclusive aquelas que não gostam (ou mesmo não podem) escutar a mensagem.
Por isso, somos imensamente gratos a você que nos acompanha — e que nos ajuda a espalhar esse conhecimento.
Agradecemos também aos patrocinadores que ajudam a fazer deste projeto um sucesso.
Dentre eles incluímos:
- a loja de produtos e ingredientes Tudo Low-Carb,
- o medidor de cetonas uaiKeto, e
- os clientes dos nossos cursos, programas e treinamentos.
Nosso muito obrigado a todos que permitem que este projeto aconteça!
Conteúdo do post:
Transcrição Completa Do Episódio Com A Dra. Ana Martha Moreira
Guilherme: Olá tanquinho, olá tanquinha, sejam muito bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast. Dessa vez, a gente traz uma convidada que fez muito sucesso aqui em sua outra aparição aqui no podcast: a médica Ana Martha Moreira. Tudo bem, Ana?
Dra. Ana Martha: Olá, tudo bem? Boa tarde a todos os tanquinhos.
Roney: Olá, Ana, agora é o Roney falando aqui. Primeiramente, muito obrigado por estar gravando com a gente novamente.
Para quem não lembra, ou para quem ainda não ouviu, a Ana já gravou com a gente um outro episódio de podcast, que foi o episódio número 49, e ele foi ao ar há mais ou menos um ano. Foi em março de 2019.
E, daquela vez, a gente falou com a Martha bastante sobre intestino e saúde intestinal e muita gente gostou.
Só que, a gente vai falar de uma outra parte do sistema digestivo, que é o estômago.
Ana, na sua clínica, nos casos que você vê, quais são os problemas estomacais mais comuns que aparecem?
Dra. Ana Martha: Muita queixa que eu recebo é a gastrite.
Na verdade, as dispepsias, o desconforto estomacal a gente costuma chamar de dispepsia, e uma que não pertence ao estômago, mas também está relacionada à saúde gástrica que é a doença do refluxo.
O famoso refluxo gastroesofágico. Com certeza essas duas queixas são as maiores, disparadas.
Alimentação E Gastrite — Qual A Relação?
Guilherme: Ah, sim, a gente recebe também alguns e-mails das pessoas relatando isso. E algumas até relatam melhoras depois de mudarem a alimentação.
Qual que é a relação entre a alimentação e esse tipo de problema?
O que causa a dispepsia e o refluxo? Eu sei que é uma pergunta super longa, mas quem sofre com isso deve estar se perguntando “por que eu tenho isso?”.
Dra. Ana Martha: Com certeza.
Tem que separar um pouco, porque a causa da dispepsia, da inflamação no estômago, a gastrite, ela é um pouco diferente da causa do refluxo.
O estômago é ácido: ele necessita ser ácido para fazer a digestão dos alimentos.
Da mesma forma que ele é muito ácido, ele tem um fator de proteção para se proteger dessa acidez, que é a camada de muco que fica em cima das células, para impedir que esse ácido atinja as células do estômago.
Então, nós temos duas situações que podem acontecer.
Uma é o excesso de ácido, corroendo esse muco e atingindo a mucosa, as células do estômago.
E outra é a diminuição desse muco protetor. Quando você diminui o muco protetor, qualquer quantidade de ácido já vai causar algum tipo de desconforto, por atacar a mucosa.
A grande maioria dos sintomas ocorrem não por aumento do ácido, mas sim por uma diminuição desse muco, dessa camada de proteção.
Então, quando essa camada de proteção diminui, o sintoma aparece mesmo com um pouquinho só de ácido.
E essa camada de proteção ela pode ser diminuída, seja por fatores relacionados à alimentação, como também fatores relacionados ao dia a dia — como o estresse, e a falta de sono. Assim como o uso de cigarro, ou de álcool. Tudo isso pode diminuir esse muco.
E, dentro da alimentação, os alimentos industrializados, super industrializados, eles também têm esse efeito de diminuir o muco.
Então, quando o muco baixa, é como se fosse uma pessoa careca indo para o sol. O cabelo protege a nossa cabeça.
Então, uma pessoa careca e uma pessoa cheia de cabelo no sol, ao mesmo tempo, o careca ele vai sentir desconforto, independente do sol. Não sei se deu para entender.
Roney: Sim, sim, com certeza, deu para entender sim.
Então quer dizer que alterações no estilo de vida, na dieta, no estresse, podem reverter alguns desses sintomas?
Dra. Ana Martha: Podem reverter. Em alguns casos, é necessário algum tipo de intervenção medicamentosa, fitoterápica.
Mas, com certeza, a alteração, a mudança nesse estilo de vida já vai atuar de forma muito interessante nessa melhora desse estômago.
Também esqueci de falar, mas existem remédios que são extremamente tomados como, por exemplo, os antiinflamatórios eles têm essa característica de diminuir esse muco, e é muito comum a pessoa, por exemplo, vai para a academia e toma já um antiinflamatório para evitar dor.
As pessoas que não vão à academia têm muita dor na coluna, e ela invés de fazer o alongamento ou a fisioterapia, ela toma o antiinflamatório para diminuir a dor.
Então hoje, os remédios mais abusados, mais consumidos em excesso são os antiinflamatórios, que têm essa característica também, de diminuir esse muco protetor.
Existem, por exemplo, pessoas que tomam de forma crônica o AAS (ácido acetilsalicílico, a aspirina), que é um antiinflamatório, mas também tem outras funções, e por isso são muito prescritos — e essas pessoas elas vão ter então essa mucosa bastante fragilizada.
Então, assim, às vezes com a mudança do estilo de vida, a gente consegue recuperar esse muco, essa barreira de proteção.
Mas, às vezes, no começo, é preciso algumas intervenções como fitoterápicas, com algum tipo de medicamento, para poder estar restaurando essa barreira de mucosa.
Antiinflamatório Atrapalha Seu Estômago — E Seus Músculos
Guilherme: Ah, e um comentário curioso também, para quem toma antiinflamatório para ir para a academia, é que também tem estudos mostrando que eles atrapalham nos resultados do seu treino.
Tem estudos mostrando que parte da resposta hipertrófica do treino vem também por um pouco de inflamação.
Então, se você tomar um antiinflamatório não esteroidal (NSAIDs), tipo esses remédios que as pessoas compram no dia a dia, um ibuprofeno que seja, elas acabam diminuindo os resultados dela na academia.
Ao mesmo tempo que, como você estava falando, diminui a proteção do sistema estomacal.
Então, é engraçado ver que a pessoa tenta corrigir com drogas uma coisa que tem uma causa mais profunda (a dor pós treino, por exemplo), e ela só mascara um sintoma, e ainda causa ainda um outro problema.
O Ciclo Vicioso Dos Antiácidos
Dra. Ana Martha: Exatamente. Isso é muito comum, principalmente no que diz respeito à remédios.
As pessoas tomam remédios e não entendem que o medicamento, a droga, ela tem um efeito — mas, para ela te dar aquele efeito, ela cobra os efeitos colaterais.
Todas as drogas, todos os medicamentos têm efeitos colaterais. Você está comprando o efeito principal, mas também está comprando os efeitos colaterais.
Então, não é que nós sejamos contra o uso de remédios, mas certamente o uso de remédios de forma indiscriminada e, principalmente, para mascarar sintomas, não é uma boa jogada.
E também, os famosos “prazóis” (como o Omeprazol), os inibidores das secreções ácidas, muita gente que tem desconforto no estômago, a primeira coisa que eles fazem é tomar um antiácido.
Só que aí a gente tem um efeito paradoxal. Sabe, quando você anda muito com o pé descalço no chão, e o pé vai ficando com calo, com um efeito de proteção.
Da mesma forma o estômago, um dos grandes estímulos para a produção do muco é a presença do ácido.
Veja bem, o trato digestivo, para funcionar, gasta muita energia. E o seu corpo é inteligente: ele não vai gastar energia produzindo uma coisa que não vai ser necessária.
Então, se eu reduzo o ácido, e o muco é o protetor contra o ácido, ao reduzir o ácido, eu automaticamente reduzo o muco protetor.
Porque eu não tô precisando tanto assim.
Então, quando eu tomo um inibidor da secreção ácida, geralmente eu abaixo a produção de muco protetor.
Quando eu paro de tomar o remédio e volto a ter uma produção ácida, vou ter desconforto — lembra que eu falei que, quando o muco tá baixinho, qualquer ácido que pingar na mucosa vai causar desconforto?
Então a pessoa vai sentir desconforto porque o muco tá baixinho, aí ela fala “é, eu realmente preciso desse remédio antiácido”.
Aí ela volta a tomar o antiácido, e aí vira um ciclo vicioso.
Quanto mais antiácido ela tomar, maior vai ser essa atrofia, essa diminuição da produção de muco, e mais sintomas ela vai sentir quando parar de tomar o antiácido.
Dieta Low-Carb Faz Mal Ao Estômago?
Roney: Perfeito, Ana. Então, quer dizer, mais uma vez mostrando como não é ideal se automedicar e ficar tomando um monte de remédio para qualquer dorzinha, querendo mascarar os sintomas, como você mesma disse.
É bem melhor você ter recomendações médicas, fazer os exames e só tomar os remédios quando realmente for indicado.
E, Ana, a gente fala bastante de dieta low-carb e cetogênica, como você sabe e quem acompanha a gente também.
E que quando a gente fala desse tipo de alimentação mais baixa em carboidratos, sempre surgem diversas dúvidas, inclusive relacionadas ao estômago.
E uma das mais comuns é se esse tipo de alimentação não pode fazer algum tipo de mal para o estômago. E o que você poderia nos dizer a respeito dessa questão?
Dra. Ana Martha: Comida de verdade não vai fazer mal para o estômago.
O que vai fazer mal para o estômago é álcool, cigarro (cigarro não é comida, mas enfim), o álcool, as comidas industrializadas…
Por exemplo, o café tem cafeína, que pode aumentar a produção de ácido gástrico.
Aí, por exemplo, uma pessoa que esteja numa dieta low-carb associada ao jejum intermitente, quando você faz jejum, o seu estômago ele para de produzir ácido.
Isso é um conceito muito importante para quem faz jejum.
Como eu falei, manter o trato digestivo é caro do ponto de vista metabólico, você gasta muita energia.
Então, se eu estou em jejum, a minha produção de ácido pelo estômago cai.
O estômago não produz ácido de forma ininterrupta. É assim: eu vou comer, há produção de ácido. Eu paro de comer, eu paro de produzir o ácido.
Então, no jejum intermitente, o fato de você ficar em jejum em um estômago são, com uma barreira de mucosa sã, ele não vai causar gastrite.
Você não vai ter gastrite porque você não vai ter um aumento do ácido.
É até que algumas pessoas abusam, tomam muito, por exemplo, café.
O café ele aumenta a produção de ácido pelo estômago, então a pessoa que esteja fazendo uma dieta low-carb, associada a um jejum intermitente, e toma muito café no jejum, no período de jejum, ela pode sim vir a desenvolver uma gastrite ou uma piora dos sintomas de refluxo.
Porque você vai ter não só um relaxamento do esfíncter do esôfago, como também um aumento da secreção ácida.
Mas isso é no caso do exagero — e nada na vida em excesso é bom.
Tomar um litro de café em jejum também não vai ser bom. (Eu acredito que todo mundo vai concordar com isso.)
Em geral, comida de verdade não causa problemas estomacais.
Se você fizer uma dieta rica em carne: carne não causa problema estomacal.
O pessoal fala, eu não sei se vocês já ouviram falar, que produto de origem animal é ácido — isso não é verdade.
Produto de origem animal não é ácido, não acidifica o estômago. Então, comer carne, comer vegetais, comer legumes, não vai causar gastrite.
Então, não há nenhuma contraindicação à dieta baseada em comida de verdade, como é a low-carb.
Tenho Gastrite, Posso Fazer Low-Carb?
Guilherme: Excelente, Ana. Então, a gente pode dizer que comer comida de verdade e fazer jejum não vai causar prejuízos para o estômago.
Mas, a gente escuta muitas vezes as pessoas dizendo “se eu já tenho esses problemas de estômago, tem alguma precaução a mais, alguma medida extra que eu tenha que fazer, que eu tenha que considerar quando for mudar a minha alimentação?
Dra. Ana Martha: Se você já tem algum problema de estômago — o que é comum hoje na grande maioria da população — existem algumas coisas que podem ajudar no início.
Porque, a partir do momento que nós envelhecemos, a partir do momento que nós temos hábitos como, por exemplo, não dormirmos bem a noite, a nossa secreção ácida vai diminuindo.
Então pode ser que haja uma dificuldade de digerir aquele alimento que você esteja comendo, pela diminuição do ácido dentro do estômago.
Só que isso ocorre seja com uma dieta cetogênica, seja com uma dieta low-carb, ou uma dieta rica em produtos industrializados.
Então, não vai ser o tipo de alimento que vai alterar.
Entretanto, quando você pega, por exemplo, vegetais, mesmo os que são ricos em fibras, como as crucíferas, esse tipo de alimento eles são alimentos que precisam ser mais bem mastigados.
A carne precisa ser mais bem mastigada.
Comer um alimento refinado é mais fácil do ponto de vista mastigatório.
Por isso que as pessoas falam que a nossa mandíbula está involuindo.
Porque nós estamos comendo muita comida industrializada, não estamos mastigando a comida que deveríamos estar mastigando.
Então, você comer, por exemplo, uma batata chips, um ruffles da vida: o esforço mastigatório disso ele é muito pequeno.
Se você for comer, por exemplo, um brócolis al dente, que é a forma mais correta de comer o brócolis, e não aquele brócolis desmanchando… ele requer um pouco mais de força para mastigar.
A carne requer um pouco mais de esforço para mastigar.
Então, se você não presta atenção na mastigação, aí sim essa parte da comida de verdade ela pode ser mais desafiadora.
Um purê de batata, você não tem dificuldades para mastigar.
Macarrão, você também não tem dificuldade nenhuma de mastigar; o arroz também não.
Diferente, por exemplo, de um prato de salada com uma carne: você precisa mastigar.
Então, a comida de verdade é mais dispendiosa nesse ponto de vista.
Se você não gastar o seu tempo mastigando, na hora que essa comida chegar inteira, ou mal mastigada, no estômago, o processo digestivo do estômago vai ser mais difícil.
E aí você pode ter a sensação de “estômago pesado”, porque a comida vai demorar mais tempo lá no estômago para sair. Então você pode sentir o estômago pesado.
Roney: Perfeito, Ana. A gente já abordou vários assuntos importantes e que causam reclamações nas pessoas.
E às vezes, talvez, uma pessoa que migra de uma alimentação rica em alimentos industrializados e refinados, quando começa a comer mais comida de verdade, aí passa a se sentir mais pesado, talvez porque não está mastigando direito, como fazia com os outros alimentos que não requerem tanto esforço.
E, como são alimentos que demandam mais atenção na hora da mastigação, como as carnes e os vegetais fibrosos, aí a pessoa pode acabar se sentindo mais estufada. Aí ela já vai culpar a mudança alimentar por isso que tá acontecendo.
Dicas Alimentares Para Melhorar A Digestão
Dra. Ana Martha: Exatamente. Fora que, a comida de verdade, a carne, ela precisa de muito mais ácido para ser digerida.
Então quando você vem de uma comida que não requer esse ácido no estômago para ter digestão, quando você começa a comer, você pode sentir, sim, um desconforto.
E para isso existem algumas dicas. Você pode, por exemplo, fazer uso do limão.
Tomar um limãozinho com pouca água antes das refeições, seja o limão, seja o vinagre… temperar a salada com vinagre, para poder melhorar um pouco esse ácido do estômago para ajudar na digestão da comida.
Digerir uma batata é muito mais simples do que você, por exemplo, digerir uma carne.
Então, às vezes, nesse período de adaptação, você pode precisar de artifícios para te ajudar.
Até mesmo existem pessoas, por exemplo, que fazem uso de inibidores de produção ácida — elas estão tomando esses omeprazois da vida. Quando passam a ter uma alimentação mais rica em carne, elas se sentem pior.
Mas o problema não está na carne — e sim na inibição da secreção ácida por causa do remédio.
Ou outro grupo que também pode sentir muito são as pessoas que fizeram cirurgias bariátricas, que fizeram algum tipo de cirurgia no estômago.
Aí, nesse caso, como não há produção ácida (porque é retirada a parte do estômago que produz o ácido durante a cirurgia), então é necessário alguns ajustes.
Porque se não ela com certeza vai sentir desconforto na hora que migrar para uma alimentação rica em carnes e vegetais fibrosos.
Outro grupo que também pode sentir é o pessoal que tem problema na vesícula, porque uma dieta low-carb, cetogênica, geralmente é uma dieta que tem um consumo de gordura.
E para quem tem, por exemplo, pedras na vesícula ou retirou a vesícula, pode ter um problema de adaptação também quando começar a consumir alimentos ricos em gorduras.
Não Tenho Vesícula — Como Fica Minha Digestão?
Guilherme: Entendi, então a pessoa que não tem a vesícula, que tipo de adaptação ela tem que pensar?
Porque muitas vezes você pode falar para as pessoas “é importante combater as causas originais, então você pode querer parar de consumir os ultraprocessados, e diminuir um pouco o consumo de carboidrato refinado, consumindo talvez uma dieta com mais comida de verdade, mais vegetais, mais carne”.
E a pessoa fala, “ah, mas isso é de mais difícil digestão, eu já não tenho a vesícula”, e muitas vezes isso pode se tornar uma desculpa para evitar a adoção de novos hábitos.
Então, quando a pessoa tem esse tipo de objeção, o que que a gente pode falar para ela — o que pode ajudá-la a fazer essa transição de maneira mais despreocupada?
Dra. Ana Martha: Primeiramente, eu quero deixar bem claro: não é a gordura da dieta que causa pedra na vesícula.
Isso é um mito, é um conceito errado que a gente tem.
Na verdade, as dietas ricas em gordura previnem a pedra na vesícula.
Porque a pedra na vesícula é formada quando a bile fica muito tempo parada dentro da vesícula biliar, entre outros fatores (também tem fatores hormonais envolvidos).
Quando eu paro de consumir gordura, eu paro de convocar essa bile para expulsar esse conteúdo. E, quanto mais tempo esse conteúdo ficar parado, maior chance de precipitar e formar pedras.
Então, não é a gordura que causa a pedra.
Entretanto, se eu já tenho pedras na vesícula, pode ocorrer de eu sentir dor quando eu comer comidas que tenham gordura.
Nesse caso, o que você vai fazer é observar a sua tolerância.
Porque algumas pessoas vão ter sintomas com a gordura adicionada aos alimentos.
Por exemplo, você vai preparar uma carne, frita na manteiga. Algumas pessoas elas vão ter problemas com essa gordura adicionada, essa gordura a mais, então é melhor evitar, mesmo no caso de já ter pedra.
Outra coisa importante para falar é que o processo de emagrecimento, por si só, pode causar pedra na vesícula.
Então a culpa não é do tipo específico de dieta.
“Ah, eu não tinha pedra na vesícula, comecei a fazer uma dieta low-carb, e fiquei com pedra na vesícula.”
Não, não foi a gordura que você fez a dieta que fez surgir pedra na vesícula.
Ou foi o processo de emagrecimento, que pode dar pedra.
Ou foi que você já tinha pedra, mas não sabia, Aí começou a ter sintoma, porque começou a comer a gordura, e o diagnóstico foi feito por conta disso.
Esclarecendo esse ponto, de que gordura não dá pedra na vesícula, se você já tem pedra na vesícula, você tem que tratar a sua tolerância às gorduras sem sentir a dor, o desconforto.
Então, pode ter pessoas que não vão conseguir comer comidas high-fat, e tá tudo bem. É só você fazer o ajuste da sua dieta.
Para quem já tirou a vesícula, a gente vai ter também duas situações.
Há pessoas que não vão tolerar a comida gordurosa. Afinal, qual é a função da vesícula biliar? Ela concentra a bile.
A bile é um sabão que vai fazer a emulsificação da gordura. É como um detergente.
Quando a gente está lavando louça, a gente joga o sabão, e o sabão quebra aquela gota grande de gordura em gotículas menores.
Então a bile serve para diminuir o tamanho das gotículas de gordura, facilitando a ação da lipase (a enzima que quebra a gordura).
Então, se eu não tenho essa bile, eu vou ter uma dificuldade de digerir essa gordura.
E a gordura não digerida pode acelerar o trânsito intestinal, porque a gordura emulsifica as fezes, e isso vai passar mais rápido, e causa um quadro que a gente chama de esteatorreia.
Que são aquelas fezes ricas em gordura, aquelas fezes que vão boiar no vaso sanitário, que vão ter uma coloração mais amarelada.
Geralmente vão ter um cheiro mais forte, mais característico.
Então, sem a vesícula biliar, nós não temos uma digestão correta da gordura.
A gente entra em dois casos, ou reduzir a quantidade de gordura ingerida até uma quantidade que seja confortável, que não causa esteatorreia, ou fazer o uso de sais biliares.
Existem manipulados, e existem sais biliares importados. Tem país em que é permitido — por exemplo nos Estados Unidos existem sais biliares à venda.
No Brasil é manipulado, não tem para a venda própria de consumo.
Nesse caso, você pode fazer o uso de suplementação de sais biliares para poder ajustar a tolerância que você tem à ingestão de gorduras.
Normalmente, o sal biliar tem de ser prescrito pelo profissional de saúde.
A única ressalva que eu faço é a seguinte: o sal biliar tem que ser prescrito em cápsula gastro resistente.
Eu vejo muita prescrição de sal biliar em cápsulas normais, e quando esse sal biliar está no estômago, ele pode causar gastrite.
Então, o sal biliar tem de ser prescrito pelos profissionais de saúde e tem que ser em cápsulas gastro resistentes, para ele ser liberado no intestino, para facilitar a digestão das gorduras.
Cuidados Especiais Para Pessoas Operadas (Vesícula, Estômago, E Afins)
Roney: Acho que ficou bem claro, Ana. Muito bacana tudo isso que você colocou a respeito da bile e da vesícula biliar, que realmente são questões que o pessoal levanta bastante.
Tem muita gente que quer começar a trocar a alimentação e não tem vesícula, ou tem pedra na vesícula e fica meio perdido sobre “o que pode, o que não pode”, e se tem algum tipo de restrição ou cuidado.
E penso que com essa resposta já deu para sanar bem todos esses tipos de dúvidas que acabam surgindo. Teria mais alguma coisa para complementar a respeito de vesícula, Ana?
Dra. Ana Martha: Então, qualquer cirurgia que altere a anatomia normal como, por exemplo, cirurgias bariátricas, cirurgias de retirada de vesícula, vai acabar prejudicando a alimentação.
Não tem jeito, e uma vez que você retirou a vesícula ou modificou a anatomia normal do estômago, de forma irreversível, você vai ter dificuldades alimentares que precisam ser ajustadas.
Isso é uma coisa que tem que ficar muito clara.
Principalmente porque a retirada de vesícula não tem jeito: você tá com o sintoma, tá inflamando, tá com pedras, sintomático, você tem que retirar.
Isso aí não tem jeito. Mas é uma coisa que, por exemplo, quem vai fazer cirurgia no estômago precisa estar ciente.
O fato de que você sempre vai precisar fazer ajustes alimentares, porque a sua anatomia não está mais normal.
Portanto, você vai apresentar dificuldades de digestão.
Não tem jeito, pessoas que tiraram a vesícula, pessoas que tiraram parte do estômago, vão apresentar dificuldades digestórias, diariamente, de forma irreversível.
Então há uma necessidade de cuidados após a cirurgia. Não é que você tirou a vesícula e nunca mais vai poder comer gordura.
Geralmente, há uma adaptação da microbiota intestinal.
Com a adaptação dessa microbiota, você vai começar a digerir melhor as gorduras.
Então, geralmente, no início, logo após a cirurgia, você vai apresentar diarreias à alimentação gordurosa, mas geralmente você pode apresentar uma adaptação também.
Então, assim, não é que você nunca mais vai poder comer gordura.
Entretanto, a sua tolerância à gordura vai ser diminuída — e isso é algo individual. Não existe um número que seja igual para todo mundo.
Normalmente, o que eu recomendo é a pessoa fazer um diário alimentar e ver o quanto de gordura ela consegue comer — e o que vai ser o controle dela é o cocô.
Se o cocô fizer esteatorreia, que é isso que eu falei de as fezes boiarem ou aderirem ao vaso (porque tem gente que faz cocô e o cocô fica grudado na borda do vaso sanitário).
Essas fezes geralmente são fezes ricas em gordura, que são aquelas fezes que boiam e que grudam na borda do vaso sanitário.
Então, você vai observar, se você comeu um osso buco e apresentou isso, então você vai ter que diminuir a quantidade de gordura do tutano.
É um exercício de auto observação. E, nesse período, a suplementação de sais biliares pode ajudar a digerir melhor.
O Poder Do Diário Alimentar
Guilherme: Eu adorei essa sua resposta, Ana, porque eu acho que ela tocou em dois pontos muito interessantes.
O primeiro, que é a própria adaptação do organismo à alimentação, e o quanto que existe essa, “sabedoria natural do corpo” de ele se adaptar ao contexto alimentar aos poucos. O fato de ele ter a capacidade, igual a gente fala, em outros contextos, mas de ele usar mais a glicose como combustível, mais a gordura como combustível…
Conseguir viver bem numa dieta com mais vegetais, menos vegetais, mais carne, menos carne, mais gordura, menos gordura… Acho isso fascinante.
E a segunda é um outro ponto que é o do diário alimentar, que é uma ferramenta tão poderosa para diagnosticar tantas coisas — tanto o comer emocional quanto a reação que você tem a determinados alimentos… quanto talvez uma reação, nesse sentido, da gordura mesmo e dos problemas estomacais, dos problemas de você não ter a vesícula.
E é uma coisa que não dá tanto trabalho assim, mas que talvez por exigir uma certa consistência, poucas pessoas fazem.
Mas esta é mais uma situação em que pode ser útil você ter esse olhar mais distanciado para avaliar as coisas: “eu como isso, acontece aquilo”. Eu acho fascinante.
Dra. Ana Martha: Perfeito, e é uma ferramenta que não tem custo, é de graça.
Guilherme: É verdade, às vezes as pessoas procuram tanto um novo suplemento, um remédio, que é algo que tem custo e pode ter efeitos colaterais…
Sendo que o diário alimentar é uma ferramenta que não tem custo nenhum e nem lado negativo nenhum, e é negligenciada.
Falando em alterações alimentares e seus efeitos, a gente vê muita gente contando que melhorou do refluxo depois de mudar para uma alimentação low-carb ou cetogênica.
Por que isso acontece, Ana? Qual que é a relação entre os carboidratos ou a dieta low carb em si e o refluxo gastroesofágico?
Refluxo Gastroesofágico E Dieta Low-Carb
Dra. Ana Martha: Perfeito. Primeiro, o refluxo gastroesofágico não ocorre, geralmente, por causa de um excesso de ácido no estômago.
Na verdade, se você for pegar a grande maioria das pessoas, elas têm uma produção de ácido diminuída no estômago.
O refluxo ocorre, geralmente, por erro alimentar.
A gente tem um anel, um esfíncter que prende o final do esôfago, impedindo a volta do alimento do estômago para o esôfago.
O refluxo é isso: é a volta do alimento do estômago para o esôfago. O esôfago é um cano de uma só via: as células dele não são preparadas como as células do estômago para receber a volta desse conteúdo ácido.
Então, quando há a volta desse conteúdo ácido, esse ácido machuca a célula do esôfago, causando a famosa esofagite.
Independentemente do ácido que tiver no estômago, a volta desse conteúdo vai machucar — porque, seja pouco ácido ou muito ácido, o esôfago não é preparado para nenhuma quantidade de ácido.
E por que que as pessoas tomam o antiácido e melhora?
Porque aí elas tiram completamente o ácido.
O antiácido não trata a causa do refluxo.
Ele diminui a acidez do estômago — a ponto de que o conteúdo, quando retorna, não está mais ácido.
E, por não estar mais ácido, não causa dor. Porém o refluxo continua ocorrendo.
Alguns alimentos pioram o refluxo, seja porque eles vão relaxar esse esfíncter — como, por exemplo, pimenta, pimentão, pimenta de cheiro, não precisa arder para poder fazer voltar o refluxo. Para poder relaxar esse esfíncter.
A cafeína piora também.
Alimentos muito gordurosos — e aí, quando a gente fala em alimentos muito gordurosos, a população geralmente tem uma alimentação com produtos industrializados, e a maior parte dos produtos industrializados tem adição de gordura, de óleos vegetais, como por exemplo o óleo de soja.
Então, assim, não é a gordura animal presente na comida que vai piorar o refluxo.
Muitas vezes a gente retira esses alimentos industrializados, a gente retira essa ingesta de óleos vegetais, e isso por si só já melhora o refluxo.
E uma coisa é o esfíncter relaxar, e por isso a comida voltar.
Outra coisa muito comum é a comida permanecer muito tempo no estômago e, por isso, essa comida subir. Fica mais fácil subir.
Quando eu tenho uma dieta muito rica em produtos industrializados, o que acontece?
Existem pessoas que têm sensibilidades alimentares. E os produtos industrializados geralmente têm o que? Têm soja, trigo, milho e leite, que são coisas que causam muita intolerância alimentar. Segundo o manual brasileiro de alergia, de alergologia, essas são as substâncias que mais causam alergias alimentares.
São as proteínas que são mais alergênicas, né. Soja, trigo, milho, leite, amendoim, clara do ovo.
Então, quando eu tenho uma alimentação que é basicamente soja, trigo e milho, isso gera essa intolerância alimentar.
E essa tolerância alimentar tem uma resposta inflamatória local, e com isso eu tenho um aumento da produção ácida, por conta dessa resposta inflamatória.
E com isso eu tenho a piora do refluxo.
Então, um dos mecanismos do refluxo na alimentação são as intolerâncias alimentares não diagnosticadas.
Uma vez que eu faço esse diagnóstico e retiro esses alimentos que eu sou mais intolerante, eu regularizo essa produção de ácido e diminuo os episódios de refluxo.
A gente já viu o mecanismo dos alimentos que soltam o esfíncter, os alimentos que geram as intolerâncias alimentares, e tem um outro mecanismo que é o aumento da pressão intra-abdominal.
Quando eu aumento, é como se eu tivesse espremendo uma bexiga, um balão, na base, e o ar sobe.
Então, se eu aumento a pressão dentro da minha barriga, eu forço o conteúdo do estômago a subir para o esôfago.
Uma forma fácil de entender isso, por exemplo, é a grávida.
A grávida, com o crescimento do útero gravídico, aquilo vai empurrando o estômago para cima, o que favorece que essa comida suba.
Existem intolerâncias alimentares, ou quando, por exemplo, a pessoa come uma comida que fermenta muito, que aumentam a produção de gás. E essa produção de gás aumenta a pressão dentro da barriga.
Esse aumento de pressão faz com que a comida tenda a subir.
Os alimentos que são mais facilmente fermentáveis são os alimentos que são ricos em frutanos.
Por exemplo, os FODMAPs (fermentable oligo, di, monosaccharides and polyols). Quando você vai ver a lista de alimentos que fermentam, os alimentos industrializados, eles estão presentes na sua grande maioria.
Por exemplo, o trigo, ele é riquíssimo em frutano, que é um dos FODMAPs.
Você pega a sacarose, que é o açúcar de mesa, metade dela é frutose, que é um FODMAP também.
E esses alimentos que são fermentáveis, quando você os ingere, você vai gerar esse aumento de gás dentro da barriga e, com isso, favorecer o episódio do refluxo.
Então existem vários mecanismos em que a comida rica em grãos (que são fermentáveis, o trigo, o milho e a soja, por exemplo) piora o refluxo.
Quando você troca isso por uma alimentação mais densa nutricionalmente, com menos industrializados, em que há um favorecimento das boas bactérias, você diminui a fermentação, você diminui esses gases, o seu intestino começa a funcionar melhor…
Porque a constipação é outra coisa que também pode causar o refluxo, pode piorar o refluxo.
Então quando você começa a tratar disso, normalmente quando você começa a comer uma comida melhor, uma comida de verdade, você está adotando um estilo de vida mais saudável, você também começa a dormir melhor, e com isso você começa a aumentar a produção de ácido, que vai digerir melhor a comida e portanto vai fermentar menos no intestino.
Então, são vários fatores que levam a uma melhora do refluxo.
Geralmente, quem tá fazendo uma dieta vai diminuir a ingesta de álcool, vai diminuir o uso de cigarro, que também piora o refluxo.
Então, assim, começa a adotar vários outros hábitos saudáveis que, em conjunto, vão diminuir os sintomas do refluxo.
O refluxo é tratável e controlável na grande maioria dos casos com a mudança dessas medidas comportamentais.”
A não ser que haja uma alteração na anatomia normal da pessoa — por exemplo, existem pessoas que tem a famosa hérnia de hiato, que é uma alteração anatômica. Quem tem hérnia de hiato é mais propenso a ter refluxo.
E, nesses casos, pode ser que só a medida comportamental não resolva o refluxo.
Mas, na grande maioria das vezes, quem muda esses comportamentos já apresenta uma melhora substancial da doença do refluxo gastroesofágico.
E uma coisa que eu sempre gosto de falar é a seguinte.
Existem pessoas, por exemplo, que são adeptas ao jejum intermitente, e que eles pulam o café da manhã, só fazem almoço e jantar.
Aí elas comem um volume muito grande de alimento à noite. Essa alimentação farta à noite não é favorável para quem já tem problema de refluxo.
Então, o ideal seria pular a janta e se alimentar melhor no café da manhã.
Outra coisa que pode melhorar muito é não ingerir bebidas (como a água), junto com a alimentação, junto com a comida, porque você vai distender mais o estômago, e com isso favorecer mais o refluxo.
Então quem tem refluxo deve evitar comer muito à noite, e evitar ingerir água junto com as refeições.
E existem alguns fitoterápicos que podem ajudar — por exemplo, o gengibre.
O gengibre é excelente para melhorar esse esvaziamento gástrico. E, se você temperar a comida com gengibre, você pode melhorar os sintomas do refluxo.
A hortelã também tem esse poder — você pode colocar na comida, ou pode fazer chás com hortelã.
Eles também auxiliam para quem tem sintomas de refluxo.
E, quando a pessoa está muito sintomática — é claro, eu não recomendo a ninguém fazer automedicação — o ideal é procurar um médico para poder ver, para ver a necessidade fazer endoscopia, para ver se tem alguma feridinha, algum machucado no esôfago.
Mas, para quem tem um refluxo leve, medida comportamental e dieta vêm antes de tentar fazer algum tratamento com remédio.
E o remédio pode ser avaliado em alguns casos, mas é preciso o médico avaliar, principalmente se houver ferimentos no esôfago, aí sim pode ser necessário entrar com o antiácido.
Mas no primeiro momento, com certeza, o tratamento ele deve ser por meio da dieta e das mudanças de alguns hábitos de vida.
Como Transformar Sua Cama Em Aliada Na Luta Contra O Refluxo
Roney: Perfeito, Ana. Ficou muito boa a explicação, muito completa.
E tem também uma outra medida simples que algumas pessoas já relataram, que é colocar calços nos pés traseiros da cama, por exemplo, na hora de dormir, para ficar levemente inclinada, e não na posição 100% horizontal. Realmente tem fundamento essa medida?
Dra. Ana Martha: Tem, isso seria o uso da gravidade ao nosso favor.
O pior período do refluxo é o período noturno, porque geralmente nós ficamos mais na horizontal.
Existe um mecanismo protetor que é o mecanismo salivar, por isso que quem tem muito refluxo pode acabar salivando muito.
Porque a saliva vai lavando o esôfago para poder limpar esse ácido que sobe.
Existe o refluxo que é normal, fisiológico, de subir um pouquinho de ácido: isso é normal. E o nosso mecanismo de defesa é essa produção de saliva.
E quando nós estamos dormindo, nós produzimos menos saliva. Então, favorece o ácido ficar mais tempo no esôfago. Por isso que, realmente, durante o período noturno, o refluxo é pior.
E uma das medidas é botar o calço. Aí no caso, é a cama que tem que ficar em uma inclinação de alguns graus.
Muita gente usa aquele travesseiro anti refluxo, mas o travesseiro não é tão eficaz quanto o uso de calço na cama — como a boa e velha rede que você fica meio inclinado. O principal, ao meu ver, é não fazer refeição farta a noite, porque como eu disse, o pior período do refluxo é o período noturno.
Dicas Extras Da Dra. Ana Martha Para A Saúde Do Seu Estômago
Roney: A gente já tá chegando na parte final do podcast, e queremos saber se você tem algum recado para o pessoal de como cuidar bem do estômago para evitar problemas relacionados a este órgão.
Você já falou bem, mas um resumo nunca é demais.
Dra. Ana Martha: Claro.
A principal coisa para cuidar bem do estômago é comer comida de verdade, evitar os produtos ultraprocessados e, na hora da refeição, você prestar muita atenção no que você está comendo.”
A mastigação é fundamental, as pessoas não estão mastigando os seus alimentos, e com isso, já começa um processo da digestão de forma ineficaz.
Se você me permitir dar mais do que uma sugestão, dormir bem é fundamental para ter um trato digestivo eficaz.
É durante a noite, durante o sono, que a melatonina é produzida — a maior parte da melatonina é produzida a noite, e os maiores receptores da melatonina estão no nosso trato digestivo.
Então o sono é fundamental para esse reparo.
Durmam bem, comam bem e evitem hábitos tóxicos: o grande inimigo do trato digestivo, além da comida ultraprocessada, é o álcool.
Então, tenham muita moderação ao ingerir as bebidas alcoólicas.
Muitas pessoas hoje não conseguem se reunir com os amigos se não houver a presença da bebida alcoólica. E esse hábito precisa ser revisto.
Não é que você nunca mais vai beber — mas deixe para beber naquelas ocasiões especiais, com quem vale a pena, e beber algo que vale a pena. Não vai encher a cara de litrão.”
Então, diminuam a ingesta de bebida alcoólica e vivam com mais intensidade. Esse seria o meu recado.
Qualidade > Quantidade
Guilherme: Ótimas dicas! A gente vê essa mudança em direção da qualidade em detrimento da quantidade acontecendo em várias frentes: no álcool, na comida, no número de refeições.
É muito interessante ver como essa mudança pode acontecer em várias esferas da vida e melhorar a nossa saúde.
Mesmo o próprio exercício — você vê as pessoas se arrastando por aí, fazendo cardio crônico, por horas e horas…
Quando na verdade elas teriam mais resultado com menos sessões, mas com mais qualidade, mais intensas.
E faz total sentido pensar em “menos e melhor” — ainda mais nessas exceções que tem que realmente valer a pena, seja com comidas abaixo do ideal (para sair da dieta), seja com as bebidas.
Dra. Ana Martha: Exatamente, é o que eu falo, guarde para as coisas que valham a pena.
Não é que você nunca mais vai comer um pedaço de bolo, mas coma um bolo que valha a pena.
Vai beber um vinho, tome um vinho que valha a pena, na companhia de pessoas que valham a pena.
Então, acho que essa qualidade ela é fundamental até para dar um gostinho a mais na vida.
A gente precisa de qualidade, e isso que eu acho mais interessante.
E sobre o que Roney perguntou do trato digestivo: as mudanças principais para melhorar o trato digestivo não necessariamente estão só na comida.
Elas estão nos hábitos ao redor.
A questão do sono, a questão do exercício físico, a questão até da qualidade das pessoas com quem você convive, tudo isso interfere no seu trato digestivo.
Fica aí o recado: o trato digestivo não diz respeito só à comida, e sim ao ambiente que nós vivemos.
Não adianta você comer a melhor comida do mundo se as pessoas ao seu lado são tóxicas e o seu estresse, a sua carga de estresse tá muito alta.
Então não vai ser aquele ovo caipira, criado por galinhas soltas e ciscando que vai fazer a diferença para o seu trato digestivo, se as pessoas ao seu lado e seus outros hábitos não estão compatíveis.”
Se quer ter um trato digestivo legal, conviva com boas pessoas, tenha bons hábitos e seja feliz.
Roney: Perfeito, até porque a gente não é só um amontoado de células e um agrupado de órgãos.
A gente é uma pessoa como um todo, tem a parte física, tem a parte psicológica também, e o ideal é ter tudo isso em equilíbrio.
Tomar as decisões que valem a pena para todas essas questões, tanto para a saúde física, para os nossos órgãos, para o nosso estômago, quanto para a nossa saúde psicológica também, porque um vai refletir no outro.
Dra. Ana Martha: Exatamente.
Para Mais Dicas De Saúde, Siga A Dra. Ana Martha
Roney: Bom, Ana, eu acho que quem escutou a gente até agora, com certeza, vai querer te acompanhar nas mídias sociais.
Então, você agora pode falar como o pessoal pode te seguir nas mídias sociais, entrar em contato para marcar consultas, enfim.
Dra. Ana Martha: Ah, ótimo! Eu tô muito presente no instagram, acho que é a plataforma que é mais fácil de entrar em contato comigo é pelo Instagram, que é @anamarthamoreira, e sempre lá eu estou comentando sobre esses assuntos do trato digestivo.
E, mais uma vez, é um prazer estar aqui com vocês.
Espero retornar outras vezes para a gente falar mais, que toda vez a gente conversa muito. Então, sigam lá, @anamarthamoreira.
Guilherme: Com certeza, pessoal. Sigam a Ana Martha lá no instagram, sigam a gente também, @senhortanquinho e continuem seguindo o nosso podcast. Sempre tem profissionais bons.
A Ana Martha é mais uma desses profissionais excelentes que a gente traz aqui no podcast, para compartilhar conhecimento com vocês.
E, Ana, muito obrigado por mais esse super papo. Com certeza, quem ouviu até aqui curtiu muito e vai te seguir para pegar ainda mais dicas.
Dra. Ana Martha: Com certeza, foi um prazer, galera.
Roney: Então, é isso aí, muito obrigado mais uma vez, Ana. Também gostaria de agradecer a todos os tanquinhos e tanquinhas que nos escutaram até aqui, que são parte da nossa audiência.
Se você gostou desse episódio, mas ainda não segue a gente, é só começar a seguir no seu player de podcast favorito. A gente está por todos eles.
E a gente se vê num próximo episódio, lembrando que a gente solta episódios todas as segundas e sextas-feiras.
Um forte abraço,
— Guilherme e Roney, do Senhor Tanquinho.