No episódio de hoje, vamos conversar com o Hilton Sousa.O Hilton escreve há 4 anos no Paleodiário, que é um dos blogs sobre alimentação Paleo mais acessados no Brasil.
E hoje você vai conhecer a história do Hilton em detalhes, incluindo:
- como o Hilton saiu de uma “dieta de isopor” para uma dieta paleo low-carb,
- como foi lidar com as frustrações e piadas entre os colegas de trabalho,
- como conciliar sua dieta com a dieta da sua família,
- como ensinar alimentação saudável para crianças,
- qual o grande erro dos iniciantes com exercícios e dieta low-carb,
E muito mais!
Você pode ver novos posts do Hilton nos seguintes endereços:
- Blog Paleodiário: www.paleodiario.com
- Instagram: instagram.com/paleodiario
- Facebook: facebook.com/paleodiario
E pode conhecer mais sobre o trabalho do Hilton nos seguintes programas completos:
- Manual da dieta Paleo,
- Programa de Coaching em grupo AldeiaZAP
Ouça o podcast clicando no player abaixo:
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É uma maneira muito fácil de transformar sua ida ao trabalho (ou mesmo academia) em um momento de produtividade e lazer :)
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Transcrição Completa Do Podcast Com O Hilton
Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Eu sou o Guilherme.
Roney: E eu sou o Roney. E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
Guilherme: Olá, Tanquinho; olá, Tanquinha! Bem-vindos a mais um episódio aqui do nosso podcast e hoje nós estamos contando com a presença do ilustre Hilton Sousa.
O Hilton escreve já há quatro anos lá no Paleodiário. Ele tem uma jornada em que ele mesmo emagreceu 15 quilos, mais ou menos, depois de um tempo com uma alimentação não-adequada e aí começou a fazer o blog, escreve bastante artigo lá… Tudo bem, Hilton?
Hilton: Tranquilo, pessoal. É um prazer estar aqui com vocês. Vocês sabem que eu gostou “pouco” de falar. Então eu fico sempre muito agradecido pelas pessoas que me dão a chance de falar até babar.
Roney: Então você vai poder aproveitar, Hilton, porque as perguntas são rapidinhas, mas o tempo de resposta é todo seu.
Hilton: Tranquilo…
Roney: E para começar nós demos uma visão rápida sobre você, seus projetos… você acha que ficou faltando falar alguma coisa sobre você, Hilton?
Hilton: Ah, não – é isso mesmo. Esse é o resumo em 30 segundos desse trabalho que eu tenho desenvolvido ao longo dos últimos anos.
Roney: Tá certo. Bom, e para quem quiser saber mais a gente vai deixar todos os links, como de costume, na descrição para vocês acessarem todos os projetos do Hilton.
E, para começar, a gente gostaria de saber como, quando, por que você começou a se interessar por esse negócio de saúde, alimentação, o que você comia, etc.
Hilton: Por volta de 2010, mais ou menos, eu estava bem acima do peso. Eu estava com 15 quilos acima do que eu estou hoje. É engraçado porque se você pega pelas medidas convencionais, eu estava no meu peso ideal. Eu meço 1,76m e pesava 76 quilos, então teoricamente eu estava decente, mas com o percentual de gordura muito alto. Cerca de 27-28% de gordura.
E o que eu fiz na época? Procurei uma nutricionista para tentar emagrecer, do jeito convencional, não sabia nada de alimentação low-carb, nem Paleo e ela me tirou uma dieta da gaveta e me deu. A famosa dieta do isopor: você come tudo sem gosto, tudo light, tudo diet, tudo integral, sabe? Eu tentei seguir e não deu nem dois dias, mais ou menos.
Quer saber de uma coisa? Dane-se. Não vou fazer dieta porcaria nenhuma também não. Voltei para a minha vida.
E coincidentemente, em 2010 mesmo, um amigo meu mandou um e-mail e esse e-mail tinha um link para um artigo do Art de Vany e ele é um dos gurus da dieta Paleo aí fora, além de outras coisas, e eu li aquilo… Pô, para mim aquilo se encaixou muito bem, esse paradigma evolutivo.
Eu tendo vindo de formação em ciência exata, a questão do método científico fala muito forte para mim e tudo o que o cara falava tinha muito sentido. Eu achei bonito, mas falei: “é legal, mas não vou fazer isso agora não.” e continuei vivendo a minha vidinha e quando chegou em 2013, eu estava aí no máximo do meu peso já, 77, quase 78 quilos…
E eu falei: “Pô, o que é que eu vou fazer agora?”, aí eu lembrei daquele e-mail lá de 2010, voltei nele, peguei, li, reli o artigo do Art de Vany e por algum, eu não me lembro como, eu fui cair no site do Mark Sisson, o Primal Blueprint, e aí foi um divisor de águas para mim. Na época eu não conhecia, por exemplo, o Blog do Doutor Souto, eu não conhecia o trabalho de vocês, nem do Caio Fleury, não conhecia o Rodrigo Polesso, então a minha referência foi o Mark Sisson desde o começo.
Então eu comecei a ler aquilo ali e a casa foi caindo. Você sabe como é: quando a gente começa a embarcar no negócio e fala: “Tudo o que eu sei tá errado, cara!”. Aí então eu fiz o seguinte o seguinte desafio: “Eu vou experimentar isso por 60 dias.”.
Eu morria de medo de comer um monte de gordura. “Vou fazer uns exames de sangue e vou fazer o teste por 60 dias. Daqui 60 dias eu faço o exame de novo.”. Meus exames estavam de normais para começando a se alterar. Apesar do peso extra, não estava tão ruim ainda não. O que me incomodava mesmo era o peso, cara.
Fiz os exames, beleza, 60 dias depois, quando eu fui fazer a segunda bateria de exames, eu já estava pesando oito quilos a menos e todos os meus marcadores melhoraram absurdamente. Só que aí o que aconteceu? Nesse meio tempo a minha família estava morrendo de medo, muito preocupada: “Pô, você vai ter um infarto, suas veias vão entupir, seu fígado, seu rim, seu pulmão, sua unha vai encravar…”, tudo o que você pensar que a galera quer empurrar para a dieta. Então por conta disso eu comecei a escrever o blog. Eu escrevi o blog até mesmo para tranquilizar a minha família.
Então postava artigos, com embasamento científico falando o porquê que eu estava escolhendo aquele caminho e à medida que os exames foram saindo, (no meu primeiro ano eu fiz exames de dois em dois meses) eu postava sempre os resultados dos exames para eles verem. E fui fazendo um monte de gráfico, para verem que o negócio não era um bicho de sete cabeças que eles estavam pensando que era.
E à partir daí o blog começou a tomar forma. Foi uma coisa totalmente impensada, vamos dizer assim, né? O objetivo era dar notícias minhas para a minha família. Só que depois de um tempo eu conheci o Doutor Souto, a gente trocou muita ideia na época e ele começou a fazer referências dentro do blog dele para o meu e aí as pessoas começaram a me enxergar mais, aí o blog tomou corpo de verdade.
“Então é nesse caminho que eu vou.” e comecei a investir no blog. Depois de um ano mais ou menos, eu decidi estudar nutrição.
Resolvi dar uma guinada na carreira, em computação eu tenho 20 anos de formado. Eu voltei para a faculdade de nutrição em 2014.
No momento eu ainda não me formei, tive que trancar a minha faculdade por causa de umas complicações da gravidez do meu segundo filho, mas um dia desses eu vou voltar, com certeza.
A gente engole muito sapo dentro da universidade, mas eu acho que devagarzinho a verdade vai se filtrando, ela vai surgindo.
Guilherme: Legal, Hilton. Então nós sabemos que você começou o blog com um projeto inicial de contar para a sua família e depois tomou proporções que você não esperava… E como que foi a aceitação da sua família com os fatos? Eles lidaram bem ou ignoraram os fatos? E como que é a rotina de você, numa família, num contexto familiar e social de você ter sucesso com a dieta ou explicar, ou mesmo conseguir a adesão de novas pessoas? Como que fica essa dinâmica entre o Hilton que queria seguir a dieta e as pessoas ao redor dele?
Hilton: No início, pelo menos dentro da minha família, foi um pouco conturbado. Minha irmã mais velha é nutricionista, então ela concordava plenamente com a redução do consumo de açúcar, do consumo de trigo, mas ela ficava grilada com o aumento do consumo de gordura, o consumo de gordura saturada.
Eu sou o mais novo de cinco irmãos, então os meus quatro irmãos mais velhos ficaram meio assim. Meu irmão mais velho é diabético, né, então quando eu começava a falar ficava todo mundo meio: “Pô, é o contrário do que o meu médico me fala. Isso não pode dar certo, não pode ser assim. Não é desse jeito.”.
Só que à medida que eu fui me ambientando, fui aplicando o conhecimento em mim, a coisa ficou fora de controle… Foi o que você falou: “Contra fato, não tem argumento.”. As pessoas viram que eu emagreci, viram que meus marcadores melhoraram e aí entra naquele povo da dissonância cognitiva. Você conseguir manter duas ideias contraditórias ao mesmo tempo.
A pessoa vê em você que funciona, vê o seu exame que melhorou, mas ainda assim ela não acredita. É estranho você ver um fato e não acreditar nele: “Eu vi o Hilton perder 15 quilos. Eu vi o triglicérides dele cair 70%, mas mesmo assim eu não acredito no que ele está fazendo.”. É estranho.
Por outro lado, dentro do ambiente de trabalho, começou uma coisa, no início foi bem chato, meus colegas me zoavam o tempo todo; aí quando eu saí do armário, vamos dizer assim “não vou mais comer trigo, não vou mais comer isso, não vou mais comer aquilo”, os caras faziam questão de vir com a pizza e soltar na minha cara: “Come aí, come aí” e eu terminava falando: “Não, valeu.”. E essa zoação durou aqueles dois meses que eu falei e eu consegui emagrecer os oito quilos: “Esse cara, tá fazendo alguma coisa estranha, né? Tem alguma coisa dando certo.”. Eu mostrei meus exames de sangue e era exatamente aquilo, os caras me zoando e tudo melhorou… e aí?
Nisso aí, cara, uns três ou quatro me procuraram: “Não, a gente quer aprender como é que faz. Vamos fazer também.” e aí foi se espalhando… Um colega meu perdeu 35 quilos, o cara era o maior gordão. Tá fininho agora. Várias pessoas… meu antigo gerente tinha problemas de joelho por causa do sobrepeso, problema de pressão também, o cara tá novo, ele deve estar na casa dos 55, 56 anos hoje e virou outra pessoa. Quem olha para ele hoje e conhecia o cara de antes, não reconhece. Ele emagreceu muito. Não sei nem te dizer quanto, não; mas muito, muito, muito. E assim foi com mais um monte de gente.
Aí depois de um tempo me chamaram para palestrar na empresa. Aí eu acho que foi um difusor bastante grande mesmo. Muita gente aderiu por minha influência direta.
Mas no final, acho que assim, quando as pessoas veem o fato acontecer, algumas até relutam, mas acho que a grande maioria se dobra. Se dobra ao fato. Não tem jeito de ficar negando.
Roney: Bom, Hilton, a gente sabe que você mora com a sua esposa, você tem dois filhos, um que nasceu mais recentemente e a gente queria saber como que fica para conciliar ou introduzir essa alimentação que é diferente, para a maioria das pessoas é uma coisa bem diferente… Como faz para conciliar isso no seu dia a dia em termos dos seus filhos e da sua esposa?
Hilton: Ah, olha só… aqui em casa quem faz a comida sou eu, basicamente. Eu sou o cozinheiro da casa. Então as comidas que eu preparo são sempre comida de verdade. Faço questão disso. Então na minha casa eu nunca preparo macarrão ou coisas com trigo, por exemplo.
Por outro lado, tanto minha esposa, quanto a minha filha principalmente, não seguem a dieta à risca. A minha esposa por opção própria e a minha filha porque enquanto ela estava conhecendo o que era comida, eu ainda não seguia a dieta Paleo. Então quando eu adotei a dieta em 2013, isso ela já tinha seus cinco aninhos, quase quatro, na verdade, de forma que ela aprendeu a comer um monte de coisa que não era comida de verdade. Eu tenho isso, essa mágoa, de ter perdido esse tempo, mas não tem problema com isso. Não fico remoendo também não.
Mas assim, dentro de casa tudo é Paleo, mas às vezes a minha filha fala: “Papai, eu queria comer um biscoito recheado”. Eu fiquei num dilema durante muito tempo, sabe? Só que o que que eu percebi: se eu não mando, já que ela tinha desenvolvido esse gosto, se eu não mando biscoito recheado para ela, ela iria pedir para a colega, provavelmente.
Então eu comecei a fazer um trabalho de redução de danos. Então, por exemplo, dentro da minha casa o almoço, o jantar e os lanches são sempre comida de verdade, mas quando ela vai numa festinha de aniversário, eu deixo ela comer o que ela quiser.
Eu fico tentando contrabalancear a minha vontade de que ela coma só coisas boas, com a minha preocupação de que ela fique traumatizada de alguma forma. Isso eu não quero de jeito nenhum.
“Meu pai não me deixava comer nada, agora eu vou comer tudo então!”.
Eu não quero que chegue nesse ponto. Então, por exemplo, se ela quer biscoito recheado hoje, eu deixo ela comer um, dois biscoitinhos recheados, para ela matar a vontade dela.
Vai em festa de aniversário? Come o que quiser e eu percebo que esse “comer o que quiser” ela não come muito.
Eu me comparo com ela quando eu era criança, eu nadava em guaraná e me sufocava em brigadeiro (e não era brigadeiro low-carb não!) quando eu ia em festa de criança.
Ela não faz isso. Eu acho que aos pouquinhos as coisas vão se filtrando.
Já o meu filho mais novo, eu estou tendo a chance de começar a coisa direito. Ele é bebê ainda, está comendo só papinha, por enquanto e as papinhas são sempre comida de verdade. Então eu não coloquei nada de macarrão, por exemplo, na papinha dele. Nem pretendo.
Não sei como é que vai ser quando ele for para o mundo porque uma criança de dois, três, quatro anos, ela já come tudo o que um adulto come, ela é capaz de comer, mas não tem discernimento ainda. Então fatalmente se for para a casa do vovô, da vovó, do titio, da titia, pode aparecer uma vontade dele comer lá e eu não vou estar presente para pegar.
Eu vou depender um pouco da orientação que eu dou para os outros, para os adultos presentes. Mas ao mesmo tempo eu acho que com a orientação que eu estou tendo com a alimentação dele agora, eu acho que vai ser um caso de sucesso bacana.
Até porque a gente sempre tem tempo de mudar. Eu me arrependo, eu me arrependo não, eu não posso nem chamar isso de arrependimento, mas eu fico muito triste por eu não ter conhecido isso antes. Então, longos anos da minha vida eu perdi. Eu estou com 40 anos agora e meu o porte e o preparo físico são de um homem de18, atestado na esteira e tudo mais. E se eu tivesse começado quando eu tinha 18? Eu ia ter idade de 5 anos de idade agora? [Risos.]
Eu acho muito triste, às vezes, de ver as gerações mais novas, por desinformação mesmo. Não sabe que existe outro mundo. Ele não sabe que aquilo que ele está comendo, vai fazer mal. Pode não ser agora, mas vai fazer mal. Muitas vezes quando você fala, todo mundo já fica: “Você tá louco.”. É a realidade deles.
Guilherme: Com certeza, mas se quiser a minha opinião, eu não sou pai, nem entendo nada de criança, mas acho que você fazendo uma base com os seus filhos em casa, não importa o que eles comem em festinha de aniversário porque isso vai ser uma porcentagem muito pequena do tempo. Vai ser bem raro.
Hilton: Exatamente isso. É por isso que eu não fico tão preocupado. Foi o que eu falei: eu meço por mim. Cara, desde que eu me entendia por gente, até eu fazer, foi antes de eu ter adotado a dieta Paleo, eu já tinha melhorado a minha alimentação. Vamos colocar aí, dos cinco até os 18, 19, 20, eu só comia porcaria. Só comia porcaria. Não comia vegetal nenhum. Só comia pizza, hambúrguer, batata frita, refrigerante e chocolate e cerveja. Muita cerveja [risos].
Aí por volta dos 20 anos eu mudei um pouco isso, comecei a praticar capoeira e não dava para ficar mantendo aquele monte de cerveja e pizza com a prática da atividade. Então eu passei a comer coisas “saudáveis”. Aí fui comer saladinha, comer arrozinho integral… ajudou, mas não resolveu.
Até porque as grandes fontes de carboidrato que eram chocolate, pizza, cerveja, batata frita e macarrão, eu tirei, mas eu troquei por outras fontes de carbo. Troquei por arroz integral, por macarrão integral. Paciência, paciência…
Guilherme: Com certeza, pelo menos eu, pessoalmente, passei a grande parte da minha vida, desde criança, sendo uma criança gordinha e não podia comer refrigerante e doce, mas comia um monte de arroz integral, macarrão integral, refrigerante diet e suco de caixinha.
E essa é uma dúvida muito comum de quem está começando: você entender o que, como o que antes podia agora não pode. É uma dúvida que a gente vê bastante. E qual dúvida que você mais vê em quem começa a dieta Paleo, quem segue lá no Paleodiário?
Hilton: Cara, para as pessoas é muito difícil, primeiro, é entender que trigo e açúcar e farinha são a mesma coisa. A pessoa fala: “Eu não como açúcar”, aí você fala: “Não, mas seu café da manhã é o que?”, aí ele fala: “Eu como uma granola com mel e aí depois eu como a tapioca, ou eu como um pãozinho integral.”, aí, cara, no final das contas, tudo bem, tapioca não tem glúten e tudo mais, mas no final das contas vai tudo virar glicose do mesmo jeito.
Você ACHA que não come açúcar, mas você está comendo um monte. Você não está comendo açúcar refinado, não come açúcar branco… “Ah, mas eu coloco demerara, coloca açúcar mascavo…”, mas dá no mesmo! Se você fizer açúcar de limão, vai ser açúcar do mesmo jeito. A gente vê aí o pessoal comendo açúcar de coco, achando que é mais saudável… mas o seu pâncreas não quer saber de onde o açúcar veio não. Açúcar é açúcar.
E outra dúvida que surge sempre é a galera com medo de comer gordura. São os dois pilares: “Carboidrato faz bem, gordura faz mal”. É difícil demais quebrar esse paradigma: “Como assim o óleo de cártamo faz mal? Como assim a margarina que tem o selinho de ‘amigo do coração’? A televisão falou para mim que ela faz bem.”. Pois é, meu irmão, a televisão fala uma coisa… O papel e as ondas de radiodifusão aceitam tudo, você pode falar qualquer coisa. Pode falar que o Papai Noel vem entregar o meu presente de Natal na Páscoa. Ele não vai não.
Guilherme: É verdade. Sempre foi o que a gente falou.
Hilton: A diferença entre o falar e fazer é muito grande.
Guilherme: Com certeza.
Hilton: Ah, e tem mais uma dúvida também! Compõe também mais um pilar: todo mundo acha que dá para compensar dieta malhando.
Guilherme: Essa é bem comum.
Hilton: Cara, não dá, não tem jeito. É impossível. Vou pegar o melhor e o pior caso. Digamos que você continue bebendo a sua Coca-Cola, a Coca-Cola do jeitinho que ela vem, na latinha vermelha, Coca-Cola com açúcar. Aí você vai querer compensar essa Coca-Cola malhando. Tá. Uma latinha de Coca-Cola vai te custar mais ou menos duas horas na esteira. Você vai correr duas horas a cada latinha que você toma? Você vai na festa e toma quantas latinhas? Cinco, seis? Você vai correr 12 horas na esteira depois? Não vai.
É impossível queimar as calorias todas que você comeu, extra, só malhando. Dá tilt, o cara fica meio, “Meu amigo corre, é magrinho; meu amigo nada, é magrinho; meu amigo pedala, é magrinho”, eu falo: “Sempre que ele para de pedalar, de correr e de nadar, ele engorda, não é?”, “É”. Então se ele está ficando magro a custa de exercício, está errado.
Guilherme: Não é sustentável.
Hilton: Não é todo mundo que consegue malhar 15 horas por semana, 20 horas por semana. Isso é um problema. E depois, malhar 20 horas por semana não é um histórico normal dos seres humanos. A gente não foi feito para isso.
Guilherme: É verdade… é porque eu acho que está tão enraizado nas pessoas o paradigma das calorias que pensam que você pode comer mais lixo, se você tiver um gasto calórico compensatório depois. E a pessoa não pensa que se ela correr 12 horas igual nesse exemplo, o que vai acontecer depois dessas 12 horas é que ela vai estar morrendo de fome e não vai levantar do sofá por três dias porque ela vai estar exausta.
Então também tem os mecanismos de regulação nossos, para gastar menos calorias quando a gente gastou muito e para comer mais quando a gente gastou muito. Não dá para enganar a natureza.
Hilton: O que eu achei muito bacana, que eu li um pouco a umas duas semanas atrás, um post do Felipe Piacesi, que é um personal trainer de Brasília e ele falava da questão do exercício aeróbico não queimar gordura. O desenvolvimento do raciocínio é muito bacana.
Porque quando você faz uma atividade qualquer, o seu corpo tende a compensar aquilo. Então se você faz uma atividade que queima gordura (aeróbico, por exemplo) o seu corpo tende a repor aquela gordura. Se você faz atividade que queima glicogênio, musculação pesada, exercício anaeróbio, o seu corpo vai perder e repor o glicogênio.
A questão é que para repor o seu glicogênio, ele precisa queimar gordura e aí a coisa muda de figura: “Mas por que eu tenho que puxar ferro pesado, não fazer aeróbico, emagrece?”. Por isso! Porque puxando ferro você vai estar queimando glicogênio muscular e para repor isso aí você vai ter que queimar seu estoque de gordura.
E é por isso que o exercício HIIT, o treino intervalado de alta intensidade funciona tão bem.
E esse tipo de conhecimento não se filtra para as pessoas por aí porque a academia está defasada, o conhecimento dentro da academia… as pessoas não aprendem isso. O mais engraçado é que esse conhecimento, ele está nos livros, mas por algum motivo não é ensinado, ou se ensina de passagem.
Por exemplo, sabe-se que, para você conseguir sintetizar triglicérides, você precisa ter glicose. Aí quando a pessoa está com seu triglicérides elevado, o médico manda cortar a gordura. Pô, o negócio não é feito de gordura! Até leva ácido graxo, mas sem glicose, não vai. O triglicérides precisa de glicerol. Glicerol é meia molécula de glicose. Se não tem glicerol, não vai ter triglicérides alto.
Tanto que é a primeira coisa que cai quando você começa a dieta com menos carboidrato. O triglicérides despenca. O meu caiu 70%. Aí as pessoas ficam: “Como assim você come esse monte de picanha e bacon e seu triglicérides é 35?”. É 35 e parado há três anos. Não sobe.
Guilherme: Então dentre essas dúvidas comuns (e acho que você tocou em pontos bem importantes, que são vários pontos que as pessoas têm que internalizar para ter sucesso na dieta), mas se você pudesse resumir em um conselho, para quem está começando a dieta e quer ter sucesso, qual seria esse conselho?
Hilton: Cara, eu acho que o conselho maior é: estude. Porque você vai ser bombardeado o tempo todo pelas informações que vão circulando no mundo e o que está circulando no mundo, no entanto, na sua grande maioria é conhecimento convencional. É conhecimento de 40, 50 anos atrás. É a de que a pirâmide nutricional funciona, de que para emagrecer eu tenho que reduzir as calorias…
Esse tipo de coisa é muito forte.
A pressão social disso é muito grande. Então, se uma pessoa quer emagrecer efetivamente e em paz, principalmente, ponto 1: tem que comer menos carboidrato. Esse é o recado. Obviamente tem que comer mais gordura.
Mas para você suportar o bombardeio você vai ter que ter algum conhecimento teórico porque senão a pressão fica muito grande. Você tem que saber porque que a gente ganha peso. Qual é a influência que a alta de insulina tem no ganho de peso.
Você não precisa ser expert. Você não precisa virar médico, nem nutricionista. É só saber como é que a coisa funciona. Entender o que que é um carboidrato e onde que eles estão presentes e aí você se liberta da questão de ficar escolhendo a comida, de fazer escolhas erradas, principalmente, para você saber o que você pode comer. Não tem muito jeito. Tem que ler. Ler ou, pelo menos, assistir podcasts, assistir vídeos… É aprender com quem sabe.
Roney: Nesse contexto de alimentação Paleo, comida de verdade, desde que você começou isso até mesmo durante a faculdade de nutrição, ou mesmo no blog, no Paleodiário; qual você acha que é a maior dificuldade que você viveu e qual que seria a maior alegria que você vive?
Hilton: A maior dificuldade? Deixa eu pensar… É porque assim, eu tenho uma característica, desde que eu me entendo por gente, que para mim nunca foi um sofrimento muito grande mudar a minha dieta. Então, a partir do momento que eu entendi que aquilo me fazia mal, para mim foi fácil mudar. Eu não sentia falta do açúcar, eu não senti falta do macarrão, nem do pão, desde o dia zero. Eu nunca tive essas compulsões, de comer esse tipo de coisa.
Eu entendo que se eu comer, eu provavelmente vou escorregar muito, mas ainda assim, a compulsão não me ataca.
Eu acho que talvez o que tenha sido difícil para mim, no início, e depois eu acabei remediando… Nos meus primeiros seis, sete meses, como eu seguia muito o Mark Sisson, e de quebra segui o Loren Cordain, eu por exemplo, deixei de comer tubérculos por um tempo.
Batata inglesa eu fiquei muito tempo sem comer. Mandioca, inhame, cará, batata doce, eu demorei menos tempo para voltar. Um, dois meses depois eu já tinha voltado a comer, mas fiquei muito tempo sem comer batata inglesa e eu adoro batata inglesa. É claro que hoje em dia eu não como nem perto da quantidade que eu comia antes, mas eu gosto.
Outra coisa que me doeu um pouco também, não foi tanto, eu achei que fosse doer muito mais, foi abandonar a cerveja, cara. Desde que eu aprendi a beber, eu sempre fui um grande bebedor e chegou num tempo que meu peso estacionou e eu estava fazendo a dieta direitinho e eu comecei a analisar onde estavam as minhas grandes fontes de carboidrato e eu vi que estava sobrando cerveja.
Eu já tinha cortado trigo, já tinha cortado pão, cortado macarrão e a cerveja estava lá e aí eu falei: “Vamos fazer um teste. Vou ficar um tempo sem tomar cerveja e vou passar a tomar vinho ou só bebida destilada” e, por incrível que pareça, não doeu tanto. Não doeu nada, talvez.
[Curiosidade: Hilton é o autor do livro Low-Carb On The Rocks.]
A decisão de parar foi muito mais difícil do que o ato de parar. Eu posso dizer que já faz três anos que eu não tomo cerveja e não sinto mais falta. Não sinto mais falta mesmo.
Ahn, bem, em termo de alegrias… é claro que ver de volta o peso, que no meu caso era o peso de quando eu tinha 18 anos de idade.
E agora eu estou com 40 (e tinha 37 anos quando eu comecei).
E ver aquele peso de volta, aquela saúde de volta… meu condicionamento inclusive está melhor que aos 18 – e a aparência também, definição muscular e tudo mais.
Mas o que eu costumo falar para as outras pessoas que me seguem é que mesmo que eu não tivesse perdido nem um grama de peso, ainda assim eu teria feito a mudança porque a quantidade de outras coisas que mudou… o fato de nunca mais ter tido azia… até eu começar a dieta Paleo eu tinha azia todo dia. Todo dia. Eu chegava em casa, às vezes no lanche da tarde eu comia um pão de queijo, comia um açaí com granola, chegava em casa a noite: arroz com feijão, carne e salada. Batata. Comia isso, começava a ter azia.
E desde que eu mudei minha alimentação, cara, a partir do dia zero, nunca mais eu tive azia. Só isso aí já foi um salto enorme na minha vida, mas além disso nunca mais eu tive acne. Nunca mais é exagero, mas é muito, muito, muito raro aparecer espinhas no meu rosto.
O que mais? Os meus cotovelos eram sempre ressecados. Sumiu também, aquela casca desapareceu. Os meus pés também rachavam muito, também pararam de rachar. Nunca mais tive sinal disso.
E, ah, eu fui diagnosticado com fibromialgia em 2002. Em 2013 eu comecei a fazer a dieta e eu tratava a fibromialgia com relaxante muscular, com relaxante leve, mas era um relaxante muscular. Isso sempre me deixava um pouco grogue, eu sempre percebi isso, mas na capoeira eu caía de tomar o remédio. Eu não tomava sempre, mas sempre que eu tinha crise eu tomava.
E o que eu percebi? A minha fibromialgia não sumiu. Ela não desapareceu não, mas ela melhorou muito, muito. Eu posso contar nos dedos as vezes que eu tive crise de 2013 para cá. Só isso já teria compensado muito. Só esse fato.
Eu acho que isso. Para mim foi isso. Essas foram as grandes alegrias.
Guilherme: Acho que foi uma boa introdução para o pessoal conhecer você e a gente recomenda e todo mundo confira o Paleodiário e antes de você passar aqui todos os seus links, mídias sociais, sobre o Paleodiário e qualquer projeto que você prefira, qual pergunta que você sente que faltou a gente fazer ou que você gostaria de responder? Isso é, um momento de você deixar sua mensagem agora para quem está ouvindo a gente e deseja ter sucesso nesse estilo de vida.
Hilton: Eu acho que a mensagem que eu gosto sempre de deixar para as pessoas é você se dar o benefício da dúvida. Porque tem aquela coisa: você está ouvindo, desde que você se entende por gente, que gordura faz mal, que tem que reduzir calorias, que carboidrato é gostoso e faz bem, que aveia é bom para o seu intestino, que trigo integral é bom e que você tem que correr na esteira uma hora por dia, todo dia da sua vida.
E ao mesmo tempo, as pessoas têm feito cada vez mais isso. Só que não está funcionando. As pessoas estão cada vez mais obesas. O volume de gente que vai para a academia aumentou exponencialmente da década de 70 para cá.
Eu só queria começar falando esse tipo de coisa, que ao mesmo tempo que você percebe que isso não está dando certo, no seu coração, na sua barriga, você sente que não está dando certo. “Eu corro, corro, corro, corro e a minha barriga continua enorme.”
E aí você vê um outro grupo de pessoas que está indo na contramão da coisa, falando: “Cara, não é assim. A ciência entendeu errado. A ciência está sendo revista.”. Isso é muito importante. Eu não estou tirando da nossa cabeça. Não é o Hilton que está falando. É um laboratório de pesquisa gigante. Tudo bem que ele é um (e não é só um, são vários) falando contra muitos mais. “Contra fato, não tem argumento.”. Tem a ver com o que eu falei antes.
Eu, na minha cabeça – e tudo bem que eu fui formado em ciência exata e isso influencia… Mas na minha opinião, quando eu vejo um fato que contraria claramente, com provas, aquilo que eu acredito. Você deve ter a humildade de falar: “Eu estou errado. Vou mudar de opinião.”.
Roney: Perfeito, Hilton, a gente também acredita muito nisso… A nossa função aqui é realmente deixar essa pulga atrás da orelha das pessoas para elas mesmas pesquisarem cada vez mais, poderem discutir com seus respectivos profissionais da saúde e, se for o caso, procurar outros profissionais para indicar o melhor para elas, sempre pesquisando o máximo que der.
E para finalizar, deixa seus contatos, mídias sociais, o seu manual… fala um pouquinho do seu manual também para o pessoal, que acho que é interessante.
Hilton: Então, como meu blog cresceu muito, né, hoje ele tem meio milhão de acessos mensais, eu recebo uma enxurrada de e-mail todo dia. Um monte de gente querendo saber coisas, perguntando, perguntando e eu decidi, com o tempo, compilar isso aí, compilar o conhecimento que eu tinha em um manual para ajudar essas pessoas a terem menos dúvidas, a se iniciarem na jornada.
Então esse manual é composto por:
- quatro livros que vão destrinchar aí teoria e prática, para uma pessoa que quer se ambientar na dieta Paleo,
- uma palestra completa,
- e mais dois diagramas.
São diagramas em PDF, você pode imprimir em tamanho grande, colar na geladeira, colar na parede…
Esses diagramas vão te ensinar, basicamente, quais alimentos você deve escolher para fazer uma alimentação bacana.
E o segundo diagrama te ensina, enquanto você não tem isso no seu coração “o que eu posso comer e o que eu não posso comer”, ele vai te guiar com uma série de perguntas: “Tal alimento é assim? Sim ou não?” e respondendo perguntas do tipo “Sim ou Não” vai te falar se esse alimento cabe numa dieta Paleo ou não e a decisão de comer ou não cabe a você.
Então é isso, são esses quatro livros, dois diagramas e uma palestra que eu fiz em 2015, uma palestra de mais ou menos três horas onde de novo eu destrincho a teoria, então para quem não gosta de ler e quer entender como é que a coisa funciona por baixo do capô do carro e entender como que é o motor da dieta Paleo, o que faz a gente ganhar saúde e perder peso. Então vai essa palestra aí também.
Vocês podem deixar o link aí para quem se interessar pelo manual e os meus contatos, né?
No Instagram eu sou @paleodiario mesmo, sem acento e meu blog é www.paleodiario.com.
Estou lá e tento publicar artigos três vezes por semana, incluindo meus próprios artigos, artigos de convidados, artigos que eu traduzo de fontes que eu confio e casos de sucesso.
Porque, à medida que o tempo passou as pessoas foram começando a me retornar as informações que eu passava para elas sobre forma de depoimento e isso é muito bacana também, você conhecer uma pessoa falando que emagreceu 50 quilos sem fazer cirurgia e sem tomar remédio. É muito gratificante você ver uma coisa dessa. É o impacto real que a gente faz na vida das pessoas. É o que faz o trabalho continuar. É o que dá vontade de fazer a coisa acontecer todo dia.
Guilherme: Falou tudo, Hilton! E é isso que motiva a gente a escrever também e a fazer entrevistas como essa que está acabando agora para as pessoas terem mais acesso e mais fontes boas de informação.
Então a gente queria agradecer aqui pelo seu tempo, pela presença aqui no podcast e a gente tem certeza que o pessoal gostou bastante e vai pedir uma segunda rodada aí com mais perguntas, mais específica, agora que eles já conhecem você.
Hilton: Eu estou sempre à disposição e eu adoro falar mesmo. Se deixar eu vou falar até amanhã. Então assim, precisando que eu venha de novo, é só chamar. Eu estou à disposição sempre.
Guilherme: Perfeito. Obrigadão.
Hilton: Tá bom então, moçada. Um grande abraço para vocês.
Guilherme: Um grande abraço para você também e para todo mundo que ouviu a gente.
A gente se vê no próximo episódio do podcast.
Roney: Um forte abraço do Senhor Tanquinho.
Guilherme: Você acabou de ouvir mais um episódio do podcast do Senhor Tanquinho.
Roney: Não deixe de se inscrever para não perder nenhum episódio com os maiores especialistas para a sua saúde.