Todo dia, seria interessante a gente pensar e se colocar no lugar da ignorância. Porque se a gente senta no ego, no trono da soberba, achando que sabe de tudo, não tem espaço para aprender mais nada — não cabe mais nada de novo.”
A Paty Ayres é uma das nossas nutris favoritas de todas — e, após um bom tempo desde sua primeira aparição no nosso podcast, ela volta para mais um episódio recheado de conteúdo.
No episódio de hoje, a Paty vai mergulhar fundo com a gente em reflexões importantes sobre alimentação, inclusive falando sobre:
- o que mudou na sua perspectiva desde que ela se graduou em nutrição,
- como ouvir mais o corpo e combater a deseducação nutricional,
- o segredo alimentar das nossas bisavós,
- o que é uma dieta cetogênica — e por que você pode estar em uma sem nem mesmo saber,
- qual a diferença real entre a low-carb e a cetogênica,
- quem não pode fazer dieta cetogênica (condições de saúde importantes),
- o que você deveria acompanhar para fazer uma cetogênica bem feita (dica: não envolve picar seu dedo),
- o que acompanhar no lugar das cetonas,
- ganhar peso em dieta low-carb é possível? O que fazer a respeito,
- erros comuns nas dietas low-carb e cetogênica,
- vontade de jacar? Pode ser falta de nutrientes,
- como separar vontade de comer de compulsão alimentar,
- você conhece “a hora da bruxa”? Saiba como driblar este problema,
- por que musculação é igual escovar os dentes,
- a mensagem final da Paty para você,
e muito, muito mais.
Você pode ouvir a entrevista completa no player abaixo.
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E, ao compartilhar este episódio, o conhecimento aqui presente vai ser cada vez mais difundido.
Lembre-se de dizer à Paty que curtiu o episódio — mande um oi para ela no Instagram @patyayres.nutri (https://www.instagram.com/patyayres.nutri/).
A transcrição completa do episódio está disponível abaixo.
Conteúdo do post:
Transcrição Completa Do Podcast
Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Nós somos Guilherme e Roney, e aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
Antes de começarmos a entrevista em si, gostaríamos de agradecer à Eliana, da loja Tudo low-carb, por apoiar esta iniciativa do podcast.
Ficamos felizes em ter entre nossos apoiadores marcas e empresas que nós mesmos usamos e respeitamos.
E o que é a loja Tudo Low-Carb?
É um e-commerce onde todos os produtos que estão à venda são próprios para a sua dieta baixa em carboidratos.
Então é muito legal — porque eles têm ótimos preços, todos os produtos são baixos em carboidratos e é lá que a gente encontra os nossos próprios ingredientes. Lá tem:
- castanha do Pará,
- amêndoas,
- amendoim,
- nozes,
- queijos,
- chips de parmesão,
- adoçantes como eritritol e xilitol,
- lanchinhos práticos,
- macarrão konjac,
- cacau em pó,
e muito mais.
Este podcast também é oferecido pelo nosso programa completo Guia Dieta Cetogênica — nosso curso completo para te ajudar a emagrecer com saúde e prazer.
Dito isso, é hora do show.
Guilherme: Fala tanquinho, fala tanquinha, sejam muito bem-vindos e bem-vindas a mais um super episódio aqui do nosso podcast. E hoje, a nossa convidada é a nutri Paty Ayres. Tudo bem, Paty?
Paty Ayres: Tudo bom, gente. Tudo bem, pessoal?
Roney: Tudo bem por aqui também. Paty, é um prazer tê-la novamente com a gente. Para quem não lembra, a gente já gravou um podcast, ele saiu lá em março de 2018, com a Paty.
Nesse meio tempo, a Paty terminou a faculdade de nutrição e começou os atendimentos. Então, já vamos começar com uma pergunta nessa linha, Paty.
Mudou alguma coisa na forma que você vê e encara dieta e emagrecimento, depois de que você terminou a faculdade e começou a atender, começou a ver isso na prática com seus pacientes?
Online E Presencial: O Que Muda?
Paty Ayres: Ah, gente, primeiro quero agradecer: obrigado por vocês terem me chamado, porque tá uma delícia poder estar aqui de novo, depois desse tempo todo. Eu fico com muita saudade de vocês, viu!
Olha, uma coisa muito legal: eu sempre tive um relacionamento com as pessoas que frequentavam o blog do Dr. Souto, como moderadora, que frequentava a tribo, nos grupos de Facebook.
Então, com a moderação, esse relacionamento virtual era muito gostoso, né.
Então, era um relacionamento de pertinho, e são aí oito anos com
relacionamentos virtuais”. Mas sair disso para poder ir para o presencial é muito gostoso.
Poder olhar nos olhos dos meus pacientes, vibrar com eles, chorar com eles, vocês sabem que eu sou chorona, né. Vocês já me viram, várias vezes, e é muito bom isso do presencial.
Eu sempre achei que essa questão da individualização da dieta fosse algo importante, porque por mais que a gente consiga, virtualmente, ter algum convívio ou alguma intimidade, principalmente quando a gente frequentava mais esses grupos do face, é diferente.
Hoje, eu penso que essa questão da individualidade ela é bem mais importante do que eu achava que era. Talvez porque as pessoas buscam, as pessoas que buscam uma consulta personalizada, uma consulta, assim, elas já tiveram tantas tentativas frustradas, já sofreram tanto com dieta maluca, rígida, tenta manter o peso, engorda e emagrece.
Ou tenta melhorar quadros de doenças complicadíssimas e não conseguem, então muitas das vezes, eu recebo pessoas assim. Os meus pacientes são sofridos, sabe? São anos e anos com o intestino funcionando super mal, literalmente, assim, enfezados.
Não fazem ideia do que que é a fome, do que que é a saciedade, do que que é obedecer a sede, viver por esse monte de dogmas de tem que comer assim, tem que beber assado…
Parece que é coisa simples, mas eu acho que esses anos todos aí do que eu chamo de deseducação nutricional — cheia de regrinha doida, maluca, que não deixa ninguém entender se tem fome ou se tem sede, ou o que que gosta ou que que não gosta de comer.
É triste isso, as pessoas elas não se conhecem mais no básico que é o que seria fisiológico, que é que nem sono, vontade de dormir, vontade de ir ao banheiro. É triste isso, e eu posso dizer que eu tô cada vez mais apaixonada por ciência, pela ciência da nutrição, que parece que quanto mais a gente estuda, mais a gente vê que precisa estudar mais.
E esses dias até me perguntaram, assim, numa caixinha que eu coloquei no stories, “como é que você tem paciência para responder esse tanto de pergunta que é óbvia, e tal?”
E eu falei que eu acho que todo dia seria interessante a gente pensar e se colocar no lugar da ignorância, porque se a gente senta no ego, no trono da soberba, achando que sabe de tudo, enfim — não tem espaço para aprender mais nada, não cabe mais nada, não cabe mais nada de novo.
E isso eu não quero que aconteça nunca não. Poxa, gente, falei demais, será que eu respondi vocês?
Guilherme: Acho que respondeu, sim, Paty.
Até porque o que ficou aparente na sua mensagem é que você foi vendo as nuances e as individualidades de uma maneira mais pessoal, e até mais próxima — pela própria experiência, com cada vez menos dogma e vendo mais como as pessoas foram passando por esse processo de se deseducarem e agora terem de se reeducar e entender mais a individualidade das pessoas.
Você diria que é uma interpretação correta?
Paty Ayres: Diria sim, é isso mesmo. Super correto, gente.
Dieta Cetogênica E Individualidades — Combatendo A Deseducação Nutricional
Guilherme: Excelente, Paty. E, nesse aspecto de individualidade e de fugir dos dogmas, a gente sabe que muitas pessoas acabam procurando você por já conhecer seu trabalho nas redes, saberem que você gosta bastante de dietas mais baixas em carboidratos, e mesmo da dieta cetogênica.
Nesse aspecto, como a dieta cetogênica se encaixa nesse ponto de:
- fugir dos dogmas e, ao mesmo tempo,
- ser uma dieta que se diz por aí que “é muito restritiva”.
Como funciona essa interface entre os dois conceitos?
Paty Ayres: Então, o que parece é que hoje a gente não consegue imaginar uma alimentação que não seja com comida de verdade. O que era comum — eu falo isso com meus pacientes — se a gente for pensar nos nossos bisavós.
Não precisa ir lá nos nossos antepassados paleolíticos nem neolíticos, pensa nos nossos bisavós, nos nossos tataravós ali, né.
Quando eles tinham vontade de comer alguma coisa, eles não pensavam no corredor de biscoito que tem no supermercado, porque não tinha.
Eles não pensavam na torta de limão de cinco camadas, na coxinha empanada, porque não tinha isso. Então, eles comiam comida de verdade sim.
E eu acho que eles viviam assim, em low-carb, porque eles não tinham quinhentas refeições, não comiam de três em três horas.
Comiam quando tinham fome.
Era comum comer comida no café da manhã, pão não era uma coisa obrigatória, sabe.
Então, se a gente for pensar bem, essa deseducação nutricional veio justamente quando começou a indústria a mandar que você tem que comer biscoitinho, lanchinho de três em três horas e tal.
Assim, daí você vai se afastando daquilo que é natural, daquilo que seria mais fisiológico na natureza humana.
Então, eu acho que é meio que pensar um pouco na nossa realidade, como ela era mesmo antes disso tudo, antes de começar essa coisa toda.
Sua Bisavó Ia Ao Nutricionista?
Guilherme: Com certeza.
Esse assunto de lembrar dos nossos avós é muito interessante, só fazendo um parênteses — porque, quando esse podcast for ao ar, vai ter saído já a entrevista que a gente gravou com o doutor Senra — a gente falou um pouquinho sobre cirurgia bariátrica e tal.
Eu tava comentando com a minha mãe e ela conhece muitas pessoas — dezenas — da idade dela que fizeram bariátrica.
E a gente tava comentando como que, realmente, a geração dela foi a primeira em que tantas pessoas ficaram obesas, né.
Que na geração dos pais dela, dos meus avós, a gente não via tantas pessoas obesas, mesmo. E na dela foi a primeira, onde teve justamente essa maior presença da indústria, essa maior influência das diretrizes alimentares.
Essa superabundância de óleos vegetais, margarinas, de comida embalada.
Todo esse esquema de se fazer lanchinhos onde antes se tinha as refeições, café, almoço e jantar — e não se comia lanchinho “para não estragar as refeições”.
Então é muito interessante notar como esse exemplo que você deu de lembrar dos nossos avós — não precisa ir tão mais atrás do que isso — já pode dar algumas pistas de uma alimentação um pouco mais sensata, né.
Paty Ayres: Não é? Eu sempre falo para os meus pacientes, assim, a gente faz esse exercício: o que você for pensar em termos de nutrição, fazer assim — será que meu tataravô acharia isso normal?
Então, tipo assim, fala para o seu tataravô que hoje você estaria num consultório, de frente para uma pessoa que é especialista em te dizer o que que você tem que comer.
Ele ia achar a coisa mais doida do mundo — ia falar “como assim?”
Dieta Cetogênica — O Que É
Roney: Com certeza, é bem por aí mesmo. E, Paty, como Gui falou, muita gente conhece, pelo seu trabalho, pelas redes sociais, e sabem que você fala bastante na dieta cetogênica.
Só que nem todo mundo que está escutando a gente sabe o que é uma dieta cetogênica.
Tem gente que tá chegando aqui agora, que às vezes não leu nossos textos, não viu o seu Instagram…
Então, resumidamente, como a gente poderia falar que é uma alimentação cetogênica?
Paty Ayres: Eu vou falar primeiro, pelo que não é: Não é uma dieta da moda.
É algo que existe como prática terapêutica, para tratar doenças, a praticamente cem anos, né.
E, se a gente for pensar em termos de existência da humanidade, bom, meninos, nós só existimos hoje como espécie, como homo sapiens, porque nós temos a capacidade de usar a gordura como fonte de energia.
Porque, no final das contas, aquilo que a gente sempre fala: nunca existiu pé de pão, árvore de macarrão, plantação de biscoito, pé de suco de fruta também não tem, né.
Na dieta ocidental comum, a principal fonte de energia vem dos carboidratos, basta ver a pirâmide alimentar, a base dela é carboidratos.
Agora, numa dieta cetogênica, a principal fonte de energia, a gente pode dizer que vem das boas gorduras, que são transformadas em corpos cetônicos pelo fígado.
E essas gorduras vêm da nossa alimentação, que são as boas gorduras presentes, naturalmente, nos alimentos, na comida de verdade, nas carnes, nas frutas, e também nas nossas reservas de gorduras. Nos pneuzinhos, na barriguinha, essas coisas assim.
Então, uma dieta cetogênica seria isso, é uma dieta onde a principal fonte de energia vai vir das boas gorduras e, se tiver reserva no nosso corpo — sempre tem reserva no nosso corpo — a gente usa essas reservas também. Ficou claro, gente?
Low-Carb E Cetogênica — Qual A Diferença?
Roney: Ficou sim, ficou claríssimo, Paty. Muito boa, sucinta e objetiva a sua explicação. Agora, eu vou fazer uma perguntinha chata, mas que a gente recebe todo dia, e acho que nada melhor do que você para esclarecer para o pessoal. Qual é a bendita diferença entre low-carb e cetogênica?
Paty Ayres: Toda dieta cetogênica é low-carb, mas nem toda low-carb é cetogênica.
Então, explicando melhor isso: é basicamente a quantidade dos net carbs, as pessoas geralmente elas usam os net carbs, que são os carboidratos líquidos, que são os carboidratos que são digeríveis.
A gente pega os carboidratos totais, e subtrai as fibras.
Então, por definição, vamos dizer assim, uma dieta low-carb, ela tem alí até 130 gramas — o Mark Sisson fala em até 150 gramas de carboidratos por dia.
E numa dieta cetogênica, são menos de 50 gramas de carboidrato por dia.
E é interessante porque, você sabe que, muitas vezes, a pessoa fala “faz low-carb, faz low-carb” — isso acontecia muito, assim, nos grupos que a gente frequentava no Face, que a pessoa ela falava que fazia low-carb — aí um belo dia ela resolveu colocar no FatSecret, porque a gente também nunca estimulou muito as pessoas a ficarem nessa neura de ter que contar carboidratos e tudo.
(FatSecret é um aplicativo para celular para ajudar a controlar a ingestão de carboidratos — ensinamos a configurar neste vídeo aqui.)
Começa primeiro pelo básico, pelo simples.
Aí, um dia a pessoa resolveu contabilizar, quando foi ver ela tava fazendo, era cetogênica, não era low-carb e tava tranquilo, tudo ok, tudo lindo, sem problema nenhum.
Então, às vezes, se prender demais é ruim — é o que você falou, nos benditos conceitos: pessoas sempre querem saber de números, etc, etc, mas esquecem de começar pelo básico.
Hoje, aliás, eu falei sobre isso, assim, meio brava, num dos meus stories sobre essa questão.
A pessoa fala “vou começar fazendo carnívora”.
Não! Começa do básico, vai comer comida de verdade primeiro.
Vai passo a passo que vai ser menos sofrido e, de repente, naturalmente, você já vai diminuindo a quantidade de carboidrato sem nem precisar se estressar.
Guilherme: Com certeza, Paty. Eu acho que as pessoas têm graus de preocupação, também, que são muitas vezes fora de lugar.
Muitas vezes a pessoa quer começar, igual você deu o exemplo, com a dieta carnívora.
Mas aí você pergunta para a pessoa, “mas você se imagina comendo carne todo dia, só carne? Carne, vísceras, ovos…” E aí a pessoa diz “não”.
Aí eu falo, “então para que você quer fazer a carnívora? Em vez disso, você consegue parar de comer açúcar? Tirar os óleos vegetais?”
A pessoa fala, “ah, consigo”. Então é por aí que se começa.
Depois disso, talvez, ela tire mais coisas.
E ainda depois talvez — quando ela já estiver acostumada, se quiser experimentar a carnívora — ela já tá se preparando para isso aos poucos, não é uma transição absurda para algo que ela nem consegue imaginar.
Paty Ayres: Então, sabe o que acho, meninos, é ainda aquela coisa da pessoa ter esperança de ter a pílula mágica. “Ai, é a carnívora que vai emagrecer”.
Então vai lá e espera uma mágica. E não é assim, a gente precisa ter um pouco mais de sensatez, porque não dá para brincar com a saúde desse jeito. Não pode.
Dieta Cetogênica E Saúde — Benefícios E Preocupações
Roney: E é bom que você tocou nesse ponto de que é importante não brincar com a saúde — por que alguém iria querer fazer uma dieta cetogênica?
Quais são os benefícios e, por outro lado, quem não deveria fazer dieta cetogênica?
Existem alguns grupos de pessoas específicos que não deveriam fazer essa dieta, ou não começar com essa dieta, pelo menos?
Paty Ayres: Então, meninos, igual eu tava falando, isso é muito relativo viu.
Porque é aquilo que eu disse, tem muita gente que faz low-carb e faz cetogênica sem saber.
E tá tudo bem, a pessoa não tá focada em número nem em controle, porque para emagrecimento isso é completamente desnecessário.
Outro dia mesmo eu tava falando com a Jojo, o que eu disse para vocês.
A gente ouve isso demais nos grupos, a pessoa fazendo cetogênica de boa, a pessoa começou do básico e na hora que viu, tava lá em 30 ou 40 netcarbs sem estresse, fazendo a cetogênica.
Então, assim, não acho nem que é porque eu sou suspeita, (tá, eu sou suspeita, eu sei que eu sou).
Mas, assim, eu não consigo ver a cetogênica como uma coisa restrita. Vocês já tentaram colocar 50 gramas de carboidrato em forma de vegetal de baixo amido no prato?
Gente, é muita coisa! As pessoas não entendem isso, é muita coisa! Você não dá conta de comer… entendeu? É muita coisa, muita coisa.
Agora, quem não deveria fazer cetogênica, tem pouquíssimas contraindicações — são doenças raras, muito específicas. Porfiria é uma delas.
E tem algumas condições metabólicas bem raras, que geralmente são diagnosticadas na infância, que são algumas deficiências de enzimas que não deixam o corpo produzir os corpos cetônicos ou metabolizar a gordura de forma adequada.
Mas, assim, como eu disse, são doenças que são diagnosticadas precocemente, então a pessoa não ia estar ouvindo “ah, vou fazer cetogênica”, entendeu?
Ela já teria sido avisada disso, digamos assim.
Devo Acompanhar Minha Cetose?
Guilherme: Entendi, Paty. Então, tem muita gente que está fazendo cetogênica sem nem saber, porque come carne com salada, ovo, vegetal de baixo amido, aqui e ali, um pouquinho de morango, de vez em quando, e tá fazendo cetogênica sem nem saber.
Então, tem gente que faz a cetogênica e nem sabe. Tá fazendo a cetogênica descomplicada. É o que a gente, pessoalmente, pelo menos eu faço, acho que o Roney também, a maior parte do tempo.
Como a base da dieta são vários alimentos de origem animal, e aí tem uma salada aqui, ou um legume ali: num dia frio, umas coisas mais cozidas, num dia quente, uma salada mais fria.
E, por outro lado, tem gente que é obcecada com medições, medições, medições.
Seja da quantidade de net carbs, seja das calorias, tem gente que tira medida de tudo, inclusive, dos corpos cetônicos.
E, porque a pessoa acha que, “ah, porque é cetogênica, eu tenho que estar em cetose“. Qual que é a verdade sobre isso?
A pessoa precisa ficar controlando a cetose, ela tem algum benefício adicional? Precisa medir os corpos cetônicos, basicamente, para fazer a cetogênica?
Paty Ayres: Eu já brinquei sobre isso lá nos meus stories, falando que corpos cetônicos não é pó de chifre de unicórnio rosa, que é só ter lá um monte na fitinha lá, acusando no sangue, que vai emagrecer.
Não é isso, não é isso. Então, assim, se a gente tá falando de resultado para emagrecimento, para hipertrofia, resultados estéticos? Não. Não precisa fazer essas medições não. Inclusive, tem lá o Luis Villasenor, o Menno Henselmans, do Keto Gains que são assim, pessoas respeitadíssimas no meio, fisiculturistas (e seguem uma dieta cetogênica mais alta em proteínas).
Eles têm uma frase que eu acho sensacional: “busca a cetose, não busque as cetonas“.
É isso, você tem que mirar na cetogênica, mas não precisa medir os corpos cetônicos.
Agora, tem o que vocês falaram, tem as pessoas que gostam, tudo bem.
Sabendo que, por exemplo, as pessoas que treinam muito, né, como esses caras aí do Keto Gains, eles já mostraram isso. Antes de treinar, uns níveis de corpos cetônicos altíssimos, depois do treino, o nível baixinho.
Por quê? Como assim?
Era para ter aumentado, o que que aconteceu e por quê? Porque o corpo dele é super eficiente em usar a gordura, o cara quase não tem nada de gordura para usar, e ele tava ali no treino, queimou super rápido, então deu ele baixinho naquele momento.
Significa que ele não está em cetose?
Não, significa que ele é super eficiente em usar a gordura do próprio corpo, entendeu?
E ainda tem isso, a medida que a gente vai… eu já tenho aí uns cinco anos de cetogênica, já fiz milhares e milhares de hackeamentos, de medidas, eu adoro fazer essas coisas — mas como estudiosa, como ciência para mim.
E a gente vê que a gente vai ficando mais eficiente em metabolizar os corpos cetônicos, em usar a gordura do corpo.
Então, não é uma coisa para ficar maluco, não é.
Agora, para quem faz uma cetogênica terapêutica, que tá tratando doenças como a epilepsia, etc.
Hoje a gente tem também o tratamento metabólico do câncer. A doutora Janaína fez um podcast com vocês que é uma coisa apaixonante, eu já ouvi trezentas milhões de vezes, delicioso de ouvir.
Aí sim é diferente.
Mas, não é para como a gente fala lá em Minas, levar o negócio de orelha.
Quando a gente vai fazer essas medições todas e tal, quando é para terapia, a gente tá ali lado a lado de médicos, de profissionais de saúde que sabem o que estão fazendo, o que precisa ser feito, então é por aí, não tem que ficar maluco por medição.
Meça O Que Importa
Guilherme: Uma coisa legal é que, se você tem um objetivo, e você quer atingir o objetivo, seria legal medir as coisas relacionadas a esse objetivo.
Então, se o seu objetivo é emagrecer, é interessante acompanhar coisas como, possivelmente, o peso e as medidas corporais.
Se o seu objetivo é ganhar massa muscular e ganhar força, é interessante acompanhar o seu progresso nos treinos.
Se o seu objetivo é ficar em cetose, simplesmente, nesse caso, é interessante observar a cetose.
Mas, se o seu objetivo é emagrecer, não necessariamente é interessante acompanhar a cetose: você tem que medir aquilo que você quer utilizar. Não adianta medir um monte de coisa que não relação.
Paty Ayres: E, assim, sobre medições, até queria comentar um pouco sobre isso.
Que vocês falaram até que tem gente que adora fazer essas medições e tal.
Vocês sabem que eu tenho recebido muitos pacientes machucados com isso, porque a gente não é número.
E muitas vezes eu acho que vocês também já devem ter percebido isso com esses anos todos aí, em low-carb e em cetogênica: às vezes a pessoa emagrece um ou dois quilos, mas de medida, no espelho, parece que foram cinco.
Tem muito paciente que é assim, então a pessoa me pergunta… “Paty, você faz bioimpedância, faz isso, faz aquilo?”
Eu falo, gente, olha, a questão não é nem fazer ou não fazer. Quando precisa, eu peço um DEXA e tal, para a pessoa que gosta muito dessas coisas. Mas não tem nada melhor do que fita métrica e espelho.
Guilherme: Isso é muito verdade! Tem um aluno nosso, do guia dieta cetogênica, que também é nosso amigo, e ele recentemente falou, “nossa, mas o peso não abaixa”.
E eu falei, mas olha essa foto aqui, de quinze dias atrás. Você emagreceu muito e está visivelmente mais forte.
E ele, “mas o peso não abaixou”.
E aí eu falei, mas você está andando por aí com um número tatuado na sua testa? Ninguém sabe quanto você pesa.
As pessoas estão olhando para você e vendo claramente a sua evolução.
Não tem um número, ninguém sabe quanto tá na balança.
Então, a gente fica tão bitolado na balança, que é um instrumento tão fácil que as pessoas usam — como se pudesse só reduzir a saúde da pessoa àquela número. E a gente foi tão bitolado naquilo que parece que todo mundo se importa com o peso, sem pensar em todas as outras coisas que estão envolvidas nisso.
Paty Ayres: Exatamente. Eu acho muito triste. A gente volta de novo para aquela deseducação nutricional.
Quando é que as pessoas pararam de se perceber, de se olhar no espelho, de ver que as roupas estão mais largas ou mais apertadas. Poxa vida, é triste isso gente.
Roney: Então, nesse caso, se você for medir os corpos cetônicos, do mesmo jeito que se você for medir o peso, você tem que saber utilizar essas medidas.
Tem que contextualizar essas medidas. É que nem uma pessoa que faz academia tá ganhando peso, achar que tá engordando, porque não acompanhou as medidas ou o mesmo está emagrecendo, só que aparece nas medidas mas não aparece na balança.
Então, é importante a gente ter o contexto e pensar no todo quando for acompanhar qualquer tipo de medida, para não interpretar da maneira errada.
Paty Ayres: É. E para emagrecimento, eu acho completamente desnecessário, totalmente desnecessário essas… inclusive balança, eu acho bem desnecessário. Eu gosto… não sei se alguém já falou sobre isso com vocês, toda mulher, pelo menos, ela tem uma calça medida, ou uma bermuda medida de quando tinha o corpo magro.
Aquilo, gente, nunca jogue fora, tenha sempre ela. Aquilo ali é um parâmetro sensacional, porque roupa não mente. Não vale ser de lycra! Tem que ser normal, de roupa normal, ela não mente.
Agora, controlar de pertinho os corpos cetônicos é mesmo para quem tem autoimune, câncer, Alzheimer, Parkinson, para controle de dor, que a cetogênica hoje também ela está sendo bem usada.
Para quem está usando os corpos cetônicos como metabólito antiinflamatório.
Para esses casos sim seria interessante fazer medidas.
Eu trato de uma paciente que ela tem dor crônica, eu já fiz até tabelinhas para ela, assim, diárias de acompanhamento de corpos cetônicos, níveis de dor, e daí para comparar também com o intestino, com o funcionamento intestinal, para a gente fazer todos esses parâmetros.
Aí sim, você tem que trackear a pessoa de pertinho. Mas, fora isso, não. E não é a maioria dos casos. A maioria dos casos, mesmo, é questão mais de emagrecimento, são problemas menos complicados, tratar uma esteatose hepática, uma resistência à insulina. Mesmo a diabetes, não tem que ficar preocupando com corpos cetônicos.
Ganhar Peso Em Dieta Low-Carb Ou Cetogênica?
Roney: Até porque estar em cetose não necessariamente implica estar emagrecendo — inclusive é possível ganhar peso, seja massa muscular ou não, mesmo estando numa dieta cetogênica, não é verdade?
Paty Ayres: Pessoas acham que é difícil ganhar peso em low-carb ou em cetogênica. É muito fácil.
Gente, gordura é uma coisa viciosa, é muito palatável, o queijo gordo, doce low-carb, bolo, todas essas sobremesas.
Farinha de amêndoa, tem muita gordura.
Então, assim, é super fácil ganhar peso em cetose.
Crianças epilépticas, por exemplo, que têm que viver em cetose profunda.
Como é que a gente faz o superávit calórico? Como é que essa criança vai crescer?
Ela precisa de muitas calorias! Então é com gordura, docinho, sorvetinho, tudo cheio de gordura, é uma delícia. É uma delícia, e ganha peso fácil, muito fácil.
Guilherme: Exato, e para quem gosta de queijo, é uma perdição.
Coloca uns cinco ou seis tipos diferentes numa tábua, para você ter aquele efeito buffet, de ter a variedade da comida e comer mais, vai facinho.
E também é claro, a questão do livro de receitas, é muito importante explicar para as pessoas que as receitas não são todas iguais.
Então, tem uma coisa que é uma omelete de forno, e é basicamente o ovo com carne moída, recheada… isso praticamente não é receita.
Enquanto outras receitas são muito mais palatáveis, especialmente as de doces, então, tem, mesmo dentre as receitas tem uma escala.
A pessoa não pode ter uma reação binária ‘é low-carb, não é low-carb' para todos os alimentos.
Precisa ter um bom senso e uma calibração, assim, que vem com o tempo, também, dela fazer a dieta e perceber e aprender mais sobre essa alimentação.
Sobre Low-Carb / Cetogênica E Ouvir O Corpo
Paty Ayres: Meninos, vocês viram que, novamente, a gente volta na questão da deseducação nutricional, de não ouvir o corpo, de não entender o que que é fome real, o que que é sede.
De novo, não adianta a gente só trocar de dieta, colocar a alimentação com comida de verdade, seja ela low-carb, seja cetogênica, seja carnívora, seja o que for — se você não resolver, no fundo mesmo, a sua relação com o alimento.
Isso precisa ser resolvido. A gente precisa voltar a ouvir o corpo da gente, a gente precisa voltar nisso.
Roney: Isso me lembrou que muitas vezes as pessoas, às vezes, falam assim, quem acabou de conhecer a gente ou a dieta fala, “ah, mas então low-carb também tem que ter controle de calorias, não é só eu sair comendo o que eu quiser e o quanto eu quiser”.
É muito engraçado, as pessoas comentam isso sem ler, sem entender o que é.
Paty Ayres: É aquilo, né, eu digo assim, você tem algumas formas de fazer dieta.
Para mim, a mais fácil, eu acho que é muito fácil a pessoa fazer uma dieta onde ela vai ter sabor, onde ela vai ter prazer em se alimentar e onde vai ficar fácil fácil identificar o que é fome e o que que é vontade de comer.
Agora, em qualquer dieta, se ela não resolver esse problema de comer só quando ela tiver realmente com fome, fome orgânica, não vai dar certo.
Guilherme: Totalmente, Paty, você tem toda a razão. E o que eu acho legal da low-carb nesse aspecto que, na minha opinião, a diferencia das outras, e que é mais fácil você perceber quando está com fome e quando não está.
Eu, bom, fiz dieta a vida toda: tenho lembranças de com 11 aninhos, 12 aninhos ir na nutricionista e levar bronca porque tava seguindo a dieta que ela pediu, mas tava comendo em muita quantidade.
Mas eu tinha fome! Então, tinha que passar aquela meia fatia de pão integral com um filme, assim, transparente de geleia por cima e tal, a cada três horas.
E era muito chato, porque tinha que contar as quantidades e tal, e aí, quando eu comecei a fazer a low-carb, quando eu como, basicamente, bichos e plantas, ovos, carne, não tem essa preocupação toda: dá para manter o peso, dá para ficar bem, dá para saber quando tá com fome ou não.
De a pessoa oferecer uma coisa e eu falar não, eu tô satisfeito, então eu não preciso desse lanche.
Sendo que, esse é um grande diferencial, na minha opinião.
Paty Ayres: Demais, e assim, eu não sei se eu já falei, eu não me lembro se na última vez que a gente conversou eu falei sobre isso, mas eu já fiz trocentos milhões de dietas, já fui obesa, já emagreci mais de trinta quilos, já fiz todos esses… Meta Real, opa, não pode falar o nome gente? Pode falar, não é? Não tem problema não. Já fiz tudo quanto é tipo…
Guilherme: Pode falar, aqui não tem censura não, pode falar: Vigilantes do peso, Meta Real, pode falar.
Paty Ayres: Vigilantes do peso, Meta Real, vegetariana, já fui crudívora, já fui vegana, contei pontinho, tudo, que nem você, já fiz essas dietas todas.
Meia fatia de queijo… eu fico até com uma pirraça quando alguém chama queijo branco, essa coisa insossa, horrorosa, de queijo minas.
Não é queijo minas, tá gente. Queijo minas é gordinho… Também já passei por isso e, assim, morria de fome, morria de fome. Mas, por quê?
Porque essas dietas não têm densidade nutricional, sabe?
Não tem isso, então, vai ficar com fome.
E fora a quantidade de glicose, fazendo um monte de pico glicêmico, te deixando com mais vontade de comer açúcar de novo.
Então eu acho muito engraçado, às vezes, no consultório, chega uma pessoa e diz, “mas é fruta! Eu gosto muito de fruta“. Ah, é, que fruta você gosta? “Ah, eu gosto de melão, de caqui…”
Eu falo, ah é, então você gosta de açúcar, gosta de açúcar!
É tudo açúcar, são muito doces. A pessoa está viciada no açúcar sem saber que é.
Erros Comuns Na Low-Carb Cetogênica
Roney: E, Paty, já que você começou a apontar um dos errinhos que as pessoas cometem quando estão migrando para uma alimentação low-carb, cetogênica, mais baixa em carboidratos, no geral.
Assim, na sua prática, seja no consultório ou, como você falou, nos grupos de facebook, nos comentários do blog do doutor Souto, qual você acha que são os erros e dúvidas mais comuns de quem começa a fazer uma dieta cetogênica?
E uma variação nessa pergunta: quais os erros de quem chega achando que tá sabendo tudo de cetogênica — que também, às vezes têm uns errinhos que a pessoa está cometendo.
Paty Ayres: Quando é questão de emagrecimento, não somente em cetogênica, mas em low-carb, em qualquer outra dieta, é o que eu tava falando.
As pessoas acham que densidade nutricional não importa, e daí elas colocam as calorias todas no mesmo balaio. E calorias não são todas iguais.
Calorias importam muito. Sem déficit calórico, não tem emagrecimento, gente. Mas, isso não significa que tem que contar calorias, também.”
Que é aquilo que a gente tava conversando: na grande maioria das vezes, quando a pessoa passa por uma dieta só com uma comida de verdade, uma dieta low-carb, não precisa contar: ela vai tranquila.
Na maioria dos casos é assim.
Vontade De Jacar? Pode Ser Falta De Nutrientes
Mas, essa questão da densidade nutricional, olha, as pessoas chegam no consultório e falam, nossa, eu como super direitinho. É? É sim, olha, um monte de salada e um bifinho pequeno assim.
Meu deus do céu! Cadê a densidade nutricional da alimentação? Não tem, né.
Não tem, a dieta dela tá super pobre de nutrientes. E aí vai morrer de fome, vai morrer de vontade de comer coisa que não deve, e achando que isso é uma compulsão que ela não consegue controlar, quando, na verdade, o corpo está desnutrido, está faminto.
E, assim, é complicado, porque hoje a gente tem esse monte de oferta de coisa gostosa, mas é aquilo que a gente tava falando.
Nossos antepassados lá, quando tinham fome, eles não pensavam em torta de limão, em empadinha, em coxinha e brigadeiro.
Eles pensavam em comida, em comida. Bicho, planta, água, era isso. Comia e bebia o que tinha.
Mas hoje, com essa oferta todo, as pessoas não pensam que essa tal dessa vontade de comer, “ah, é compulsão, aí chega de noite eu tô morta de fome, eu quero comer de tudo”, porque não teve uma densidade nutricional adequada durante o dia todo. Falta nutriente.
Guilherme: Exato, exato. Não tem meio pão integral com geleiazinha que resolva essa questão de nutriente.
Fome E Vontade De Comer
Paty Ayres: É, eu falo assim com meus pacientes, gente, na hora que bater vontade de comer doce, dessas coisas todas assim, pensa no ovo cozido sem sal, num prato de alface, sem tempero, sem nada, nada.
Salivou, é fome, vai comer comida.
Não salivou, bebe água, faz aquele drinkzinho lá que eu ensino, o água com limão, coloca um salzinho e tal, e veja se não vai passar.
(Veja uma versão deste drink aqui.)
Porque na maioria das vezes, é isso.
É falta de sal, falta de eletrólitos, sede. Mas, “ah, não, não consigo mais, tô enjoada de comer ovo no café da manhã“. Gente, então não é fome, fome não é seletiva. Vamos começar a aprender a identificar isso.
Guilherme: Exatamente, se a pessoa tá com fome de torta, não é fome. Não existe fome de torta.
Paty Ayres: Não é fome.
Guilherme: Nosso corpo, como diz o Ted Neiman, tem três necessidades para se nutrir: precisa de energia, precisa de nutrientes e, aí tem uma terceira necessidade que é a necessidade de prazer com a comida.
E a torta não tem nada de especial em termos de energia e nutrientes — nada que você não obteria com o ovo cozido ou a alface sem graça.
Você tá, realmente, só querendo satisfazer essa vontade hedônica. E não tem nada de errado em comer para ter prazer.
Paty Ayres: Não tem.
Guilherme: Mas é bom reconhecer isso e não ficar escravo disso.
Paty Ayres: Exatamente, eu acho que é muito bom fazer sempre esse teste na hora que tem essas vontades.
E as pessoas estão confundindo, às vezes falam, “ah, eu tô compulsiva”. Não é assim, compulsão é uma coisa muito séria, não surge, assim, do nada. Não é bem assim.
Então, faz esse teste antes para se conhecer bem. Pensa numa coisa que não gostaria muito de comer — que come mas não é muito fã. Se salivar, pensando nisso, é fome sim. Agora se não, não é fome. Faz esse teste, é o que você falou, não precisa ficar só no campo hedônico dos sentimentos, né.
Costume Ou Compulsão? Não Seja Uma Vítima
Guilherme: Com certeza, Paty. Essa questão também é muito de costume, que a gente acaba ficando viciado em alguns costumes, algumas coisas são difíceis de largar como hábito, e a pessoa já chama de compulsão.
Um exemplo simples, é que eu ganhei, num sorteio, um bolo de cenoura com chocolate — e um bolo cheio de farinha e açúcar, não um bolo low-carb e tal, porcaria mesmo, mas era muito bom.
Aí, no primeiro dia, eu comi e tal, legal: comi um pedacinho depois do almoço, beleza.
No segundo dia, também. No terceiro dia eu acordei e já estava pensando no bolo. Mas foi compulsão? Não foi compulsão, mas criou uma vontade nisso.
Mas, por estar também nessa jornada há tantos anos, eu sei reconhecer e falei “ah, é o fato de eu ter comido esse doce nos últimos dias que me deixou com vontade de doce”.
Na minha dieta, no dia a dia, eu não tenho vontade de doce. Eu nem lembro que doce existe.
Mas, por ter comido, eu fiquei com essa vontade. É compulsão? Não, não é: a pessoa tem o costume de comer um doce e chama de compulsão, é como se a pessoa acorda meio triste e fala que tá com depressão. Ela tá de certa forma exagerando uma condição.
Paty Ayres: A gente tá melancólico, isso é normal, isso é normal, tem dias que você não tá muito bem.
Guilherme: Exatamente: uma é uma condição muito grave e outra é uma coisa normal, ter uma vontade aqui e ali é normal. Ficar triste aqui e ali, é normal. Ter depressão, ou ter uma compulsão, um transtorno de compulsão alimentar, isso não é normal.
É uma coisa que tem que ser tratada com uma equipe multidisciplinar, então é importante também as pessoas terem cuidado com as palavras que elas escolhem.
Paty Ayres: O doutor Rodrigo Bomeny fala uma coisa, o doutor Rodrigo tem dicas sensacionais nessa questão de comportamento, e tudo.
E eu acho que quando as pessoas começam a nomear tudo, tudo como doença, elas se colocam no lugar de vítima.
Então, ah, eu sou compulsiva, eu tenho compulsão, ah eu tenho…
Gente, de forma alguma, que fique claro que eu tô dizendo que as pessoas que realmente têm esse tipo de problema, tá, eu atendo pessoas assim e eu sei o quanto isso é sério, o quanto é complicado, o quanto é difícil, eu me solidarizo com essas pessoas.
Mas tem muita gente que não faz ideia do que que é, não tem um diagnóstico e fala que, eu tô assim, é compulsão… toma cuidado com isso, não se coloque no lugar de vítima da situação, porque a vítima ela não faz, ela não age, a vítima ela é coitada.
Se a gente não se coloca como responsável, a gente não vai conseguir andar na vida.”
Roney: Com certeza, Paty, a gente tem que sempre perceber que a gente está no controle da situação.
Ainda mais quando relacionado ao que a gente coloca na nossa boca ou não, que é o caso da dieta.
Como A Paty Adequa A Dieta Ao Paciente
Por outro lado, também é complicado quando o paciente chega cheio de hábitos ruins e cheio de comfort foods, que ele gosta e que fazem bem para ele — só que, por outro lado, isso leva a um estado crítico que tá levando ele ao seu consultório.
Às vezes, problema de saúde, às vezes, problemas com a forma física, auto-estima, enfim. E, nesse ponto, como que você faz para adequar, digamos assim, a dieta ao paciente, num primeiro momento.
Como que faz para ele conseguir deixar esses hábitos ruins e esses desejos, essas comidinhas que fazem mal para ele, para adotar essa dieta que é mais baseada em carnes, ovos e salada, também tem o seu docinho, — mas que o doce, apesar de ser low-carb, também não vai ser liberado para ele.
Paty Ayres: Então, eu vejo que é aquilo que a gente conversando desde o começo.
Anos e anos de deseducação, o paciente chega perdido até mesmo em relação ao que ele realmente gosta.
É uma coisa impressionante isso, tá. Por quê? São cinquenta anos das pessoas habituadas a outras pessoas escolherem, determinando quantidade de tudo, o quanto vai beber, o quanto vai comer, o que vai comer, o tempo que vai dormir, tudo, tudo, tudo.
Então, assim, eu começo mesmo trazendo o paciente para um olhar carinhoso para si.
O que que você realmente gosta? Gosta de alface? “Ah, gosto…”. Sabe aquele ‘gosto', assim. Ou então fala, “ah, eu como”.
Então eu falo assim, isso não é gosto, isso não é gostar. Porque não precisa gostar, não tem que gostar de alface, tem uma gama de outros milhões de folhas que pode comer. “Ah, não, Paty, então alface eu não gosto”, ótimo, então não coma mais alface, come outra folha que você gosta, qual é a outra coisa? “A couve eu adoro”.
Pronto, aí tá vendo, isso você realmente gosta, porque um você fala ‘como', e o outro você fala ‘adoro', então esse você gosta, coma esse.
Não vai estar também, satisfazendo uma parte, de comer aquilo que te dá prazer?
Olha que legal, pode ter comida que te dá prazer e que é super legal, então, assim, eu começo trazendo o paciente para isso, sabe, para ele olhar para si de uma forma muito carinhosa e de perceber que ele pode comer o que ele gosta, e tem um universo de coisas que ele gosta que é super legal para a saúde dele, sabe?
Guilherme: Sim, Paty, com certeza. Não tem porque sofrer, né, não tem porque comer comida que você não gosta quando tem comidas que você gosta e que podem te dar os resultados de saúde e de emagrecimento que você está buscando.
Você Conhece “A Hora Da Bruxa”?
Paty Ayres: Uma outra coisa que vocês falaram, gente, que eu achei super legal, sobre comfort food, né.
Então, eu brinco com meus pacientes, que parece que tem horário, das 16 e 17 horas que eu falo que é uma hora que é uma bruxa, que passa em volta da Terra e joga alguma coisa assim que todo mundo quer comer doce nessa hora.
As mulheres então, já é uma coisa impressionante, é uma coisa impressionante, aquele horário do comfort food, assim, sabe. E daí, as pessoas viram para mim e dizem, mas eu não vou poder comer nada nesse horário?
Eu falo, então, se o que você quer é um conforto, você tem que fazer desse horário um conforto. Então, separa lá um quadradinho do seu chocolate amargo, ou um docinho pequeno, low-carb, um pedaço pequeno, faz um chá, faz um cafezinho, senta num lugar tranquilo, larga o celular, não vai ver TV, vai ouvir uma música, vai curtir o seu momento de comfort food.
Se for para comer andando, em pé, não faça, porque isso não é conforto. Isso você não está satisfazendo o seu comfort food, desse jeito.
Então, essas coisas, a gente precisa ressignificar as coisas de uma forma que a pessoa consiga levar isso para a vida, sabe, e assim, às vezes detalhes pequenininhos podem fazer uma diferença muito grande na vida da pessoa, sabe? Dá um novo rumo, um novo significado para isso.
Guilherme: Sim, Paty, ótimos pontos. E engraçado você ter mencionado a hora da bruxa aí, porque eu tava em casa aqui, às 17 horas, e eu ouvi essa exata expressão, agora pouco, achei o máximo! Caramba! [risos]
Paty Ayres: Mas não é?!
Guilherme: É isso mesmo. E, Paty, a gente falou bastante até agora sobre alimentação.
Mas uma coisa que os nossos ouvintes adoram saber, são quais são outros hábitos saudáveis dos nossos entrevistados. Então, se você puder contar mais alguns dos seus, a gente vai adorar ouvir.
Os Hábitos Saudáveis Da Paty Ayres
Paty Ayres: Eu faço musculação e incentivo todos os meus pacientes a fazer.
Eu falo que musculação é que nem escovar o dente. Ninguém pensa, “nossa, que delícia, vou escovar o dente agora, hmmmm”.
Não, tem que fazer, é para a saúde, tem que fazer, é uma coisa que precisa fazer.
Faz um treino rápido, curto, não tem problema, mas faça. Faça musculação.
Eu tento dormir cedo, o mais cedo que eu posso.
O sono para mim é uma coisa muito importante. Às vezes, quando eu não consigo ter um bom tempo de sono, eu sinto no outro dia.
Eu adoro estudar, eu amo estudar.
Eu levo muito a sério a questão do lazer. E isso às vezes as pessoas pensam que é lazer, é só sair de casa, passear, viajar, não…
Eu, olha, eu tenho pacientes, por exemplo, que eu acho sensacional. O lazer para elas é sentar com aqueles livrinhos de pintar, de colorir, aquilo ali é um lazer, ouvir uma música gostosa, ler um livro que gosta, conversar com os amigos.
Eu adoro dançar, eu faço flamenco, amo dançar. Um beijo para a minha profe, que vai me ouvir, eu tenho certeza, a Roberta, professora linda. Então, eu acho que é isso, né meninos.
Roney: Show, ótimo, Paty. São realmente ótimos hábitos. Além dos seus hábitos saudáveis, a outra parte que o pessoal gosta muito é a mensagem final, se bem que eu acho que já ficaram diversas mensagens deixadas ao longo do podcast, mas tem alguma mensagem final que você gostaria de deixar para os tanquinhos e tanquinhas?
A Mensagem Final Da Paty Para Você
Paty Ayres: Bom, eu comecei agradecendo, eu vou finalizar agradecendo também, por mais essa oportunidade de contato com vocês e com o público de vocês, que é maravilhoso.
Muito obrigada, eu falei isso para vocês antes e vou repetir aqui, eu amo a forma com a qual vocês conduzem esses podcasts.
Sério, meninos, vocês são demais, vocês são lindos.
E agradecer o livro que vocês me deram, que amei, amei muito. Recomendo, gente, um livro muito lindo das receitas low-carb.
E, assim, se tem uma mensagem que eu acho que é super válida para quem tá começando, para quem já tem algum tempo em low-carb e cetogênica, qualquer outra dieta, tenha calma, tenha paciência.
Nenhum emagrecimento é linear e contínuo.
O peso vai oscilar, vai ter um monte de platôs, mas tudo bem, gente, tá tudo bem. Só continuem.
Não se prende ao que a gente tava falando, a número de balança, não se prende nisso. Tira foto para acompanhar o progresso, é a melhor forma que tem. Esquece balança, esquece essa coisa, foca na saúde.
Esquece estética, olha a sua pele como tá melhor, olha seus hábitos mudando, a liberdade de comer o que você gosta.
Quando tem fome, né, não é obrigado a comer o pãozinho com a geleia com o fiapinho de queijo, não, não tem que comer de três em três horas.
A disposição para fazer as coisas, a ausência do cansaço, da fadiga.
O sono melhorando, a facilidade de preparar a refeição, que é muito prático.
Eu acho que isso é muito importante, e assim, ajustar as expectativas sempre.
Ninguém ganhou peso, todo o peso que precisa perder, em dois, três meses, Por que emagrecer teria que ser rápido, e teria que ser descomplicado e fácil? Não vai ser assim: é um caminho.”
E olha, assim, eu vejo muita gente que às vezes precisa perder uma quantidade grande de peso e vai desanimando pelo meio do caminho, mas é porque ela tá olhando quanto falta. Olha o tanto que já caminhou!
E olha todas as outras coisas que já mudaram até aqui, é uma coisa que eu sempre faço nas minhas consultas, né.
Nos seguimentos, principalmente, é perguntar para a pessoa, o que que ela percebeu de diferente. E muitas vezes, se eu não pergunto, a pessoa não tinha nem notado.
Mas como eu faço uma anamnese muito detalhada, eu vou buscando cada coisa que ela falou comigo que ela reclamou, que ela falou que tava ruim, e vou retomando aquilo. Ela fala “olha, é mesmo; olha não tenho mais isso; olha, a celulite não apareceu mais; olha, o refluxo acabou; olha, a cândida nunca mais apareceu…”.
Sabe, então, as pessoas têm a tendência a serem negativas e olharem só a coisa que tá faltando, que tá difícil, que tá complicado, mas elas não pontuam e não ressaltam as conquistas, e isso precisa ser feito, sabe?
Guilherme: Excelente mensagem para encerrar essa nossa entrevista.
E, acho que pontua e combina muito bem com tudo o que a gente falou ao longo dessa entrevista.
Então, Paty, eu queria gradecer você demais por ter separado essa horinha para falar com a gente.
Você, nossa, ensinou muitas e muitas coisas para quem escutou a gente até aqui.
E esse negócio da foto que você falou, um aluno nosso, do guia dieta cetogênica, fez uma coisa muito bacana.
Todo dia, ele tirava foto sem camisa no espelho. Ele, olhando assim, dia após dia, não via diferença no espelho.
Mas aí ele botou todas num programinha de fazer gif, e aí é muito bacana, porque ele tirava na mesma posição, e aí dava para ver uma evolução ao longo do tempo. Ficou muito, muito legal. Acho que é uma dica final, assim, que eu deixaria para quem gosta de foto.
Paty Ayres: Muito legal, eu gosto, eu falo para meus pacientes tirarem uma vez na semana, pelo menos, e assim, é nítido, quando eles trazem as fotos, não tem como não ver a diferença.
Roney: Perfeito, Paty, então queria agradecer muito, como o Guilherme agradeceu.
Agradecer muito pela sua segunda entrevista aqui com a gente, pelo seu tempo e por ter dado tanto conteúdo de qualidade para a gente, muito obrigado mesmo.
Paty Ayres: Imagina, eu que agradeço. Muito obrigada, e já tô com saudade de falar com vocês de novo. Manda um beijo para a mãe mais linda, viu?
Guilherme: Obrigada, Paty. Só para contextualizar, para quem não sabe, minha mãe procurou alguma nutri para ser atendida aqui em São Paulo, e eu não hesitei em recomendar o trabalho da Paty.
Então, para quem quiser uma nutri também em São Paulo, eu não sei se a Paty tá atendendo novos pacientes, eu vou deixar aqui o contato do Instagram dela patyayres.nutri, que lá você consegue achar como marcar consulta, o whatsapp e tudo.
Mas só para deixar claro que eu confio a saúde da minha mãe nas mãos da Paty — então, tá super endossada.
Paty Ayres: Muita honra a minha, viu, muita honra ter atendido a mamãe, que é uma linda. É uma maravilhosa.
Roney: Então vamos deixar o contato da Paty aqui em baixo. Muito obrigado, Paty.
E também queria agradecer a todos os tanquinhos e tanquinhas que nos escutaram até aqui, muito obrigado pela sua audiência, muito obrigado por nos acompanhar.
Se você gosta dos nossos podcasts, então se inscreva. A gente tá aí por todos os players de podcasts que existem: google podcast, deezer, itunes, soudcloud, spotify, enfim, onde você escutar música, você também vai achar o nosso podcast.
É só digitar Senhor Tanquinho que você nos encontra.
Aí é só se inscrever e curtir os nossos episódios.
A gente solta episódios novos todas as segundas e sextas-feiras, sendo nas segundas-feiras episódios um pouquinho mais longos, às vezes entrevistas, e às sextas, episódios rápidos, curtos e direto ao ponto (excertos de áudios do nosso canal do Telegram). Certo, então a gente se vê num próximo episódio. Um forte abraço do senhor tanquinho.